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Acessibilidade à farmácia

2 ACESSO AOS MEDICAMENTOS EM PORTUGAL

2.4 Acessibilidade à farmácia

Em Portugal, são dispensados nas farmácias comunitárias os medicamentos sujeitos a receita médica, que não de dispensa exclusiva em meio hospitalar, e os MNSRM. Desde 2005 os MSNRM podem ser também dispensados em locais devidamente autorizados para o efeito. A acessibilidade física às farmácias está condicionada, entre outros factores, pela distância geográfica a que os utentes se encontram e pelo horário de funcionamento das mesmas. Nesta

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área, a intervenção do Estado traduziu-se, essencialmente, em alterações nas condições de abertura de novas farmácias, nos horários de funcionamento e na possibilidade de aquisição através da Internet, com dispensa dos medicamentos ao domicílio43,44.

Em Portugal, a abertura de farmácias é efectuada através de concurso público e está condicionada ao número de habitantes assim como à distância relativamente a outra farmácia ou estabelecimento de saúde. Em locais onde o número de habitantes é reduzido e onde não exista uma farmácia a menos de 2 km em linha recta podem ser introduzidos postos farmacêuticos móveis, os quais têm como objectivo atenuar a distância física no acesso aos medicamentos.

Pela análise da Tabela 2.3 constata-se um aumento ligeiro do número de farmácias mas um decréscimo dos postos de medicamentos. Paralelamente, observa-se um aumento no número de locais autorizados para a venda de MNSRM.

Tabela 2.3 - Evolução dos locais de dispensa de medicamentos

Fonte: Estatística do Medicamento, INFARMED, I.P.

A acessibilidade à farmácia é frequentemente avaliada pela densidade de farmácias por número de habitantes. Em 2011 (Tabela 2.4), verifica-se que em Braga existia uma farmácia por 4660 habitantes enquanto em Portalegre existia uma farmácia por 2632 habitantes. Estes dados revelam alguma assimetria geográfica. Contudo, este indicador, per se, pode não reflectir adequadamente a acessibilidade física às farmácias. Por exemplo, em regiões com menor densidade populacional mas com uma grande área geográfica, como o Alentejo, o indicador relativo ao número de farmácias por habitantes é positivo, mas a distância geográfica para aceder à farmácia pode ser elevada, o que implica um maior custo de deslocação. A existência de postos avançados de medicamentos pretende assegurar o fornecimento em regiões com menor densidade populacional, mas salienta-se que estes funcionam apenas em dias e horários específicos. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Farmácias 2.470 2.478 2.605 2.663 2.670 2 666 2 666 2 664 2.693 2768 2789 Postos 302 301 262 247 239 240 241 241 221 154 152 Locais Autorizados de Venda MNSRM - - - 346 598 745 838 915 926

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A questão do acesso às farmácias não tinha suscitado até à implementação do Memorando de Entendimento45 uma discussão entre os intervenientes do sector. O estudo coordenado por

Villaverde Cabral46 corroborava esta percepção ao concluir que a cobertura farmacêutica é

equitativa, pois mais de 70% dos portugueses inquiridos distavam no máximo 10 minutos de uma farmácia, e, entre estes, 35,9% demorava até 6 minutos a chegar a uma farmácia. Desde 2011 acentuaram-se as preocupações no que concerne à sustentabilidade das farmácias e à consequente permanência no mercado, devido quer à quebra de preços quer à redução das margens de comercialização. O encerramento de farmácias a acontecer em meios com menor oferta pode aumentar os custos de deslocação dos utentes e reduzir assim o acesso aos medicamentos.

Tabela 2.4 - Número de habitantes por local de dispensa de medicamentos (2011)

Distrito Farmácias Locais Autorizados de Venda MNSRM

Aveiro 3.779 12.105 Beja 2.727 8.984 Braga 4.660 11.780 Bragança 3.323 15.139 Castelo Branco 3.115 11.545 Coimbra 2.829 9.772 Évora 2.733 16.671 Faro 3.922 5.934 Guarda 2.728 13.410 Leiria 3.488 10.237 Lisboa 3.405 11.366 Portalegre 2.632 19.741 Porto 4.197 11.955 Santarém 3.086 8.101 Setúbal 4.235 11.989 Viana do Castelo 3.767 9.417 Vila Real 2.952 15.897 Viseu 3.313 8.991

Fonte: Estatística do Medicamento 2011, INFARMED, I.P.

Já no que se refere aos locais autorizados de venda de MNSRM, Portalegre é o distrito com menor número de locais por habitante. Ao invés, Faro é o que apresenta um maior número deste tipo de locais, facilitando assim o acesso da população aos MNSRM.

Para além da distância física, existem outras características que podem influenciar a acessibilidade à farmácia, como o horário de funcionamento. Nesta área, a legislação evoluiu no sentido de promover a acessibilidade através do alargamento do horário de funcionamento43.

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Em 2007 foram também introduzidas algumas inovações nos meios de distribuição de medicamentos com o objectivo de melhorar a acessibilidade física ao medicamento. Passou a ser possível dispensar medicamentos através da Internet e ao domicílio por parte das farmácias e, no caso MNSRM, também pelos locais de venda destes medicamentos47. As condições e os requisitos da dispensa determinam que o pedido de dispensa de medicamentos para entrega ao domicílio possa ser feito nas farmácias ou nos locais de venda de medicamentos não sujeitos a receita médica, através do site electrónico da farmácia, por correio electrónico, telefone ou fax48. De realçar que a entrega ao domicílio de MSRM requer a obrigatoriedade de apresentação

de receita médica. Estes novos meios de distribuição tiveram como objectivo melhorar a acessibilidade física ao medicamento, embora possa ser a custos acrescidos. É também provável que sejam as famílias de nível socioeconómico superior a usufruir da maior acessibilidade, proporcionada pelos recursos electrónicos, facto que pode gerar desigualdades na utilização. Estes factores podem contribuir para uma iniquidade em função do rendimento.

Em suma, conclui-se que o sector do medicamento tem sido sujeito a diversas alterações. Umas impostas pela legislação comunitária, outras, mais relacionadas com preços e comparticipações, da responsabilidade do Estado português, de acordo com o princípio da subsidariedade. Embora estas alterações visem assegurar o acesso aos medicamentos garantindo a sustentabilidade do sistema de saúde, podem em alguns casos aumentar a iniquidade entre grupos socioeconómicos ou geográficos. São exactamente estes factores que se pretendem identificar nas análises empíricas que constam desta tese.

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