Apresentamos desde o primeiro capítulo desta investigação a nossa tese de que a sinonímia por encapsulamento anafórico apresenta um ponto de vista, um modo de compreensão, de interpretação construída inferencialmente em uma interação social, e que este ponto de vista pode ser chamado de sentido. Ressalvamos o que já dissemos em capítulos anteriores: que não concebemos o sentido por meio de uma correspondência instituída arbitrariamente a um termo, mas como o modo de pensarmos os nomes e as coisas do mundo, o modo pelo qual construímos e interagimos com os objetos de discurso, que é elevado ao nível conceitual por intermédio das expressões da língua.
Sem dúvida, é possível dizermos que o sentido que atribuímos às coisas relacionase com o indivíduo e o modo como este compreende e interpreta o mundo, construindo as diversas possibilidades conceituais designadas, pelas palavras, em vivências sociais. Por tal razão escrevemos no item 1.4, do primeiro capítulo, que são importantes os estudos que abordam a intencionalidade, a fim de que o sentido possa ser observado como uma porta de entrada para a compreensão (Husserl).
A intencionalidade em si não é o foco de nosso trabalho, nós já o dissemos anteriormente. Todavia, nós abordaremos neste capítulo perspectivas teóricas que não deixam de falar a respeito da intencionalidade, mas, sobre o ângulo da construção de possibilidades conceituais, no qual o sentido construído no encapsulamento anafórico, que é definido como um ponto de vista assumido quando interpretamos a relação existente entre a âncora referencial e o conceito Z 49 inferido, é resultado de opiniões e de valores axiológicos. Pois cada ato de opinar apresenta apenas um ponto de vista provisório (Husserl). Por isso nós dissemos que os sintagmas nominais encapsuladores podem ser modificados de acordo com as opiniões formadas pelos leitores ou produtores do texto.
As perspectivas teóricas que trabalharemos são: a Teoria da Fenomenologia (Husserl) a partir de Klaus Held (1995), a Teoria da Relevância (Sperber e Wilson, 1986) a partir de Silveira e Feltes (1997) e a Teoria dos Frames por Atributos e Valores (Barsalou,1992) 50 .
Estas teorias foram escolhidas pelo fato de serem aquelas as quais melhor julgamos poder visualizar a sinonímia por encapsulamento anafórico e o acesso ao sentido construído. Outros autores que trabalham o processamento das inferências intencionais, cálculos e projeções de sentido como Fauconnier (1997), Fauconnier e Turner (2002) e também o que é saliente no acesso à significação lexical como Giora (2002; 2003) mereceriam ser estudados na perspectiva desta nossa investigação, mas em um outro momento. As teorias selecionadas já nos dão condições de explicarmos a sinonímia por encapsulamento anafórico como uma atividade sóciocognitiva situada. Iniciemos as nossas discussões pelo filósofo Husserl.
4.1 O Acesso ao Sentido pela Teor ia da Fenomenologia de Husser l
Husserl, na obra A crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental. Uma introdução na filosofia Fenomenológica (1954), 51 postula que ao apresentarmos um ponto de vista abrimos uma perspectiva interpretativa que é provisória por sempre apresentar condições de ser revisada, e esta condição pertence ao ato de opinar.
O artigo de Klaus Held (1995) intitulado Fenomenologia transcendental: evidência e responsabilidade, publicado em alemão e traduzido para o português, faz uma profunda abordagem da obra de Husserl e diz que para este filósofo, do ponto de vista da episteme, ou seja, da ciência, a característica básica da opinião é sua _
49
Já abordamos o conceito Z no segundo capítulo, no final do item 2.1.
50
Trabalharemos Husserl a partir de K. Held (1995) em virtude da complexidade que é a fenomenologia de Husserl. Held nos traz um olhar bastante crítico e aprofundado desta obra. Também trabalharemos Sperber e Wilson através do olhar de Silveira e Feltes pelo fato destes autores trazerem com clareza o forte componente cognitivo contido nos processos inferenciais e na noção de relevância de Sperber e Wilson, o que foi inovador na época da publicação do ensaio de Silveira e Feltes (1997) intitulado Pragmática e Cognição: A textualidade pela relevância.
51
O título original é Die Krisis der europäischen Wissenschaften und die transzendentale Phänomenologie. Eine Einleitung in die phänomenologische Philosophie.
parcialidade em pontos de vistas unilaterais. E isto ocorre porque as pessoas sempre estão fixadas naquilo que lhes é de maior interesse no momento.
De acordo com Held (1995), Husserl postula que o interesse estreita as perspectivas para as possibilidades de julgar e de agir, e que há uma imensidão de incalculáveis possibilidades de fazermos julgamentos e construirmos ações. Isto ocorre em virtude das pessoas viverem sempre em mundos específicos do único mundo, como o mundo da criança, do trabalhador, do estudante, do filósofo etc. Ou seja, esses mundos específicos são recortes de um único mundo universal que criam possibilidades interpretativas, condicionadas a interesses. Esta perspectiva nos ajuda a mostrarmos que a sinonímia por encapsulamento anafórico, através do sentido, constrói um ponto de vista, uma possibilidade interpretativa que diz respeito a um horizonte limitado, a mundos específicos nos quais vivem os indivíduos.
Segundo Held, o que é interessante em Husserl é a concepção que ele tinha do ato de julgar e agir na linguagem. Cada mundo específico ou horizonte limitado gera um espaço de possibilidades de julgamento e ação que permite ao homem ver aquilo que ocorre, em termos de acontecimento, no interior desse mundo particular. Pois Husserl postula que o que pode ser visto no espaço de possibilidades de julgamento e ação é a manifestação da opinião.
Na linha de discussão desta investigação, a tese de que a sinonímia apresenta um ponto de vista, um modo de interpretação construído em uma interação social, e que este ponto de vista pode ser chamado de sentido, também pode ser explicada por esta perspectiva husserliana que vai nos dar embasamento para compreendermos que o acesso ao sentido dá se por aquilo que o leitor ou produtor de um texto vê em seu mundo particular, que é um mundo também de coletividade, pois não estamos falando sobre o mundo interior de um indivíduo, mas sobre um mundo particular inserido em uma coletividade, como o mundo ou universo dos lingüístas, dos recifences, dos pernambucanos, dos brasileiros etc.
Nós nos inserimos na mesma perspectiva de Husserl de que aquilo que se vê em um mundo particular é um recorte realizado à luz de interesses, isto é, o olhar do leitor ou produtor na construção da sinonímia por encapsulamento anafórico não se mantém, necessariamente, naquilo que é dito ou escrito em si. Este olhar vai
imediatamente além do dito ou escrito, direcionase para aquilo ao qual é familiar e útil no universo de interesses dos interlocutores. Consideremos tudo isso no exemplo 52 a seguir:
(5) ...o sistema imunológico dos pacientes reconheceu os anticorpos do rato e os rejeitou. Isto significa que eles não permanecem no sistema por tempo suficiente para se tornarem completamente eficazes. A segunda geração de anticorpos agora em desenvolvimento é uma tentativa de contornar este pr oblema através da “humanização” dos anticorpos do rato, usando uma técnica desenvolvida por...
De acordo com as nossas análises, o sintagma nominal este problema constitui a sinonímia por encapsulamento anafórico que apresenta um sentido construído pelos conceitos existentes na âncora referencial (o sistema imunológico dos pacientes reconheceu os anticorpos do rato e os rejeitou) e na parte conceitual que diz respeito à âncora (Isto significa que eles não permanecem no sistema por tempo suficiente para tornarem completamente eficazes.).
O sintagma nominal encapsulador este problema expressa uma opinião, um ponto de vista inserido em um mundo particular, mas também coletivo, de quem o escreveu. O sintagma nominal encapsulador abre, portanto, uma perspectiva diante das outras possibilidades que podem ser geradas pelo campo de diversidades de julgamento e de ação os quais nós podemos proferir. Por isso afirmamos ser possível haver outras possibilidades de preenchimento do espaço do sintagma nominal encapsulador. Vejamos isto então no exemplo (5):
(5A) A segunda geração de anticorpos agora em desenvolvimento é uma tentativa de contornar esta falha através da “humanização” dos anticorpos do rato, usando uma técnica desenvolvida por...
Ou ainda:
(5B) A segunda geração de anticorpos agora em desenvolvimento é uma tentativa de contornar esta janela imunológica através da “humanização” dos anticorpos do rato, usando uma técnica desenvolvida por...
_
52
A relação de inferência que se estabelece entre a âncora referencial e a parte conceitual em (5) constitui aquilo que chamamos de um caminho de acesso ao sentido construído, que resulta no sintagma nominal encapsulador este pr oblema ou esta falha ou ainda esta janela imunológica. O acesso se dá em virtude de construirmos a relação de inferência sobre evidências que nos são apontadas tanto por situações lógicas das sentenças em questão quanto por situações que vão além dessa lógica sentencial.
Percebamos que há uma gradação de sentido entre pr oblema, falha e janela imunológica, pois cada sintagma apresenta um aumento de informação e de conhecimento. Os três apresentam pontos de vista que evidenciam um outro modo de falar sobre os conteúdos da porção anaforizada que, por sua vez, nos direciona para outras informações. São novas inferências a constituir outros caminhos de acesso a outros sentidos.
As nossas análises indicam que o sintagma este pr oblema é acessado por uma inferência lógicoanalítica realizada a partir das sentenças anteriores cujos verbos rejeitou e não permanecem, no conjunto das pressuposições lógicas do que foi dito, evidenciam um problema que está se buscando resolver com pesquisas científicas. Já no sintagma esta falha, o acesso ao sentido construído vai além da lógica sentencial ao inferirmos, por exemplo, que a pesquisa terminada constatou ser possível usar anticorpos do rato para aumentar o sistema imunológico de pacientes, mas ao usálos houve uma falha inesperada no processo de aceitabilidade orgânica. Por último, em esta janela imunológica, o acesso ao sentido ocorre através de conhecimentos que possuímos sobre a ação da Aids no sistema imunológico dos seres humanos.
Todas essas inferências são possíveis de serem acessadas, quer seja por meio de uma lógica sentencial quer seja por intermédio de enquadr es de situações sociais que nos remetem para além dos conteúdos das sentenças analíticas, como ocorre, por exemplo, em esta falha e esta janela imunológica.
Os diferentes caminhos de acesso ao sentido construído na sinonímia por encapsulamento anafórico evidenciam uma forma de conhecimento que temos dos objetos do mundo, um modo de interpretar, de compreender esses objetos. E justamente por assim nos apresentarem os objetos é que estes evidenciam outras possibilidades de julgamentos e ações. Esta é a teoria da consciência intencional de Husserl.
De acordo com essa teoria, os nossos conhecimentos manifestam formas variadas de percepção dos objetos do mundo, estes têm sempre ângulos que podem nos remeter a outros conhecimentos. Por exemplo, se vemos uma casa a partir da rua, temos a consciência de que também poderíamos vêla a partir de outro ângulo, como, por exemplo, do jardim. Assim, a percepção da casa feita a partir da rua ou do jardim insere se em um contexto referencial de formas de manifestação do nosso olhar, abrindo um espaço que resulta em uma forma de ver as coisas através das nossas vivências (Husserl). Segundo Husserl, o mundo é o contexto referencial onde os objetos estão inseridos, o contexto referencia os objetos mudandolhes os ângulos de observação de acordo com os nossos olhares inseridos em mundos particulares e coletivos de vivências sociais.
Por esta razão, nós dissemos no nosso primeiro capítulo que a nossa visão de língua não é de um sistema de etiquetagem, conforme também asseveram, entre outros já citados, Mondada e Dubois (2003). Lembramos, oportunamente, as duas autoras porque para elas a visão de língua enquadra a concepção de que os sujeitos constroem, através de práticas discursivas e cognitivas social e culturalmente situadas, versões públicas do mundo.
Conforme afirmam Mondada e Dubois (2003:17), no resumo introdutório do texto Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação 53
,
Nesta segunda visão, as categorias e os objetos de discurso pelos quais os sujeitos compreendem o mundo não são nem preexistentes, nem dados, mas se elaboram no curso de suas atividades, transformandose a partir dos contextos. Neste caso, as categorias e os objetos de discurso são marcados por uma instabilidade constitutiva, observável através de operações cognitivas ancoradas nas práticas, nas atividades verbais e nãoverbais, nas negociações dentro da interação.
A base desse postulado de Mondada e Dubois, na perspectiva da nossa investigação, coincide com a teoria da consciência intencional de Husserl quanto à instabilidade da referência dos objetos no mundo, em virtude de haver um contexto _
53 Título original (1995): Construction des objets de discours et catégorisation: une approche des
processus de réferenciation. Apesar deste texto ser escrito em conjunto com Dubois, o conceito de objetos de discurso foi primeiramente exposto por Mondada (1994) em Verbalisation de léspace et
referencial que evidencia ângulos de um mesmo objeto, consolidando pontos de vista, julgamentos e ações variados. Pois para Husserl, os ângulos são os nossos olhares advindos de um mundo particular inserido em uma coletividade, como já dissemos.
Para Mondada e Dubois (2003:35),
As instabilidades não são simplesmente casos de variações individuais que poderiam ser remediadas e estabilizadas por uma aprendizagem convencional de “valores de verdade”; elas são ligadas à dimensão constitutivamente intersubjetiva das atividades cognitivas.
Por esta razão, os objetos aos quais nos referimos discursivamente são chamados de objetos de discur so, ao invés de objetos do discur so, a fim de desvinculálos da idéia de etiquetagem onde as palavras referemse aos objetos existentes no mundo, de forma direta.
Nossa reflexão nos leva a asseverar que Mondada (1994) e Mondada e Dubois (2003), na concepção de objetos de discurso, pensam da mesma forma que Husserl. De acordo com Held, o pensamento de Husserl era o de que (1995:113)
Nós só podemos lidar com objetos, enquanto eles eventualmente nos são dados em qualquer forma de manifestação e que cada forma de manifestação é apenas uma, de uma multiplicidade de possíveis possibilidades de manifestação, e que os objetos devem vir ao nosso encontro em formas de manifestação, para de fato estarem numa relação conosco, como sujeitos percipientes.
O que entendemos com essas três últimas citações é que a sinonímia por encapsulamento anafórico ao apresentar um objeto de discurso, por exemplo, este pr oblema, como um modo de interpretar o que está escrito na porção anaforizada oferecenos uma explicação indicativa, também chamada de definição ostensiva. Uma definição ostensiva evidencia o modo de interpretação dado à âncora referencial e a sua parte conceitual (porção textual anaforizada). Essas explicações indicativas ou definições ostensivas, para nós, constituem o sentido construído por um olhar , por uma per spectiva de observação.
A noção de explicação indicativa chamada de definição ostensiva, que mais tarde será vista como modelo ostensivoinferencial em Sperber e Wilson (1986), é _
tratada por um filósofo que merece ser citado aqui e que se chama George Edward Moore (1953), no artigo Some Main Problems of Philosophy.
Buscamos no artigo intitulado George Edward Moore: o que é análise conceitual, de W. Künne (1995), trazer uma discussão interessante sobre os postulados de Moore quanto à relação de sentido e a construção da sinonímia. Künne (1995:52) nos diz que em resposta ao que o filósofo americano Cooper Harold Langford chamou de Paradox of Analysis (1942:323), no seu artigo The Notion of Analysis in Moore’s Philosophy, Moore esclarece a sua compreensão sobre o que é analisar e fala explicitamente sobre a questão da sinonímia. No Paradox of Analysis Langford (apud Künne, 1995:52)diz que:
Se a expressão lingüística que propõe o Analysandum (expressão a ser analisada) tem o mesmo significado como a expressão lingüística que propõe o Analysans (expressão analisadora), então a análise afirma uma simples identidade e é trivial; mas, se ambas as expressões lingüísticas não têm o mesmo significado, então a análise não é correta.
Segundo Künne, Moore responde ao pensamento de Langford especificando que ao se dizer que a sinonímia é uma questão de identidade entre termos, o que é chamado por Langford de uma simples identidade tr ivial, não há nenhuma informação diferente entre, por exemplo, ‘leoa’ e ‘leão feminino’; são sinônimos. Porém, segundo o que defende Moore quanto à perspectiva de observação das coisas do mundo, se ‘leoa’ e ‘leão feminino’ não se referirem a mesma coisa na frase Ser leoa é o mesmo que ser um leão feminino, então há valores pragmáticos 54 desiguais que desfazem a relação de sinonímia entre ‘leoa’ e ‘leão feminino’.
Nós podemos exemplificar o pensamento de Moore da seguinte forma: se alguém entende que ser leoa diz respeito à reação de uma pessoa frente a algumas situações da vida ou que ser leoa é uma atitude das mulheres em relação aos cuidados com a sua prole, então, ser leoa, não vai constituir um sinônimo de leão feminino porque a relação não é de ‘ser animal, ‘ser bicho’; a relação é de ‘postura comportamental’, de ‘atitude’, de ‘ação’. No postulado de Langford, a sinonímia vista _
Université de Lausanne, Thèse.
54
Valores pragmáticos, para Moore, têm a ver com o uso dos termos em situações de vivência diferenciada.
sob esses valores pragmáticos que acabamos de apresentar é incorreta, ou melhor, não existe.
Para resolver o Paradox of Analysis de Langford, Moore postula que ao lado da exigência de sinonímia, quanto ao significado da expressão lingüística através da constatação de uma identidade entre os termos, está a exigência, também, de uma equivalência cognitiva no uso dos termos, e que esta deve ser conhecida por aqueles que a usam.
De acordo com Künne (1995:54), para Moore, o fato de duas expressões se referirem uma à outra, ainda não é uma condição suficiente para a sinonímia. A condição necessária da sinonímia está no fato de se saber que algo é “A” porque se sabe que “A” é o mesmo que “BC”. O exemplo dado por Künne é: meio cheio e meio vazio (proposição BC) em uma primeira análise não constitui uma sinonímia. Cheio e vazio expressam uma idéia antagônica. Porém, um copo pela metade (proposição A) é sinônimo de um copo meio cheio e também de um copo meio vazio. Sendo assim, meio cheio emeio vazio são sinônimos quando atribuímos valores pragmáticos que constroem uma equivalência cognitiva entre meio cheio e meio vazio ao se tratar de um copo de água pela metade. Para Moore, equivalência cognitiva se explica quando os substitutos da proposição A, meio cheio e meio vazio, expressam dois modos distintos de compor a sinonímia do conteúdo da proposição A.
Isto nos faz lembrar Frege (1978:62), em Sobre o Sentido e a Referência, ao expressar que:
Sejam a, b, c as linhas que ligam os vértices de um triângulo com os pontos médios dos lados opostos. O ponto de interseção dea eb é, pois, o mesmo que o ponto de interseção de b e c. Temos, assim, diferentes designações para o mesmo ponto, e estes nomes ( “ponto de interseção de a e b” e “ponto de interseção de b e c” ) indicam, simultaneamente, o modo de apresentação e, em conseqüência, a sentença contém um conhecimento real.
Ao aplicarmos o pensamento de Frege ao exemplo dado por Künne, para explicar a equivalência cognitiva defendia por Moore, temos o seguinte raciocínio:
Sejam um copo pela metade (a), meio cheio (b) e meio vazio (c) as proposições que constroem uma relação sinonímica. O ponto de interseção de a e b (Um copo pela metade é um copo meio cheio) é,
pois, o mesmo que o ponto de interseção de b e c (Um copo meio cheio é um copo meio vazio).
Estas considerações só nos mostram que é possível a construção da sinonímia por encapsulamento anafórico ocorrer por uma equivalência sóciocognitiva. Por tais razões repetimos ao longo dos capítulos anteriores que a sinonímia vai além da construção de igualdade, de identidade e de equivalência semântica entre as expressões lingüísticas; ela vai, também, se constituir como uma relação de equivalência sócio cognitiva no uso dos termos.
A equivalência sóciocognitiva se aplica, por exemplo, quando consideramos como sinonímia os termos Congresso Nacional e pizza, ao ouvirmos ou lermos notícias que falem sobre os escândalos no nosso Congresso Nacional, em