A construção da sinonímia por encapsulamento anafórico: uma perspectiva sóciocongnitiva
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(2) Melo, Cinthya Torres A construção da sinonímia por encapsulamento anafórico: uma perspectiva sóciocongnitiva / Cinthya Torres Melo. Recife: O Autor, 2008. 130 folhas. Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Letras, 2008. Inclui bibliografia. 1. Lingüística. 2. Sinonímia. 3. Encapsulamento anafórico. 4. Cognição. 5. Significação (Filosofia). 6. Pragmática. 7. Semântica (Filosofia). I. Título. 801 410 . CDU (2.ed.) CDD (21.ed.) . UFPE CAC2008 55.
(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMRUCO CENTRO DE ARTES E CO~WNICACAO PROGRAMA DE POS-GRADUACAO EM LETRAS E LINGUISTICA. A construqIo da sinonimia por encaps~~larnento anafbrico: uma perspectiva s6cio-cognitiva. Cinthya Torres Melo Banca Examinadora: Profa. Dra. Elizabeth Marcuschi (UFPE). A y hI. ~. J. L. L-. Profa. Dra. M6n Profa. Dra. Judith ~ r o f a l ~ rRosane a. N~~C$~'(UFRPE). Tese apresentada ao Programa de Pos-graduaqzo em Letras da Universidade Federal de Pernambuco conio requisito parcial para obtenqgo do Grau de Doutora em Lingiiistica. RECIFE Julho dc 2008.
(4) 3 . Dedico este trabalho ao Professor Doutor Luiz Antônio Marcuschi (UFPE), meu mestre e mentor acadêmico, que me ensinou a amar a lingüística e a enxergar nos processos de referenciação anafórica o mais belo campo de investigação científica para o estudo dos processos de textualização. Esta obra é fruto das lições que você me ensinou!.
(5) 4 . AGRADECIMENTOS . A Deus, pela dádiva da vida plena pela qual posso pensar e construir todos os meus objetivos; A todos os amigos da Fraternidade Espírita Morada do Sol, por me sustentarem e me guiarem nos árduos momentos de escrita deste trabalho, principalmente aos amigos Dr. Adamastor, Elionel Grawost e Moisés pela compreensão e pelo apoio que me deram durante todo este último ano de escrita; À minha mãe Margarida Martins, por me apoiar, me incentivar e dedicar horas de cuidados às minhas filhas para que eu pudesse me recolher e trabalhar sossegadamente; Ao meu esposo Márcio Saraiva e às minhas filhas Gabriela (7 anos) e Maiara (4 anos), por tanta compreensão nas minhas inúmeras horas de ausência familiar; A meu sogro Márcio J osé Valença Saraiva de Melo e minha sogra Therezinha Saraiva de Melo, pelo apoio constante e irrestrito que me dedicaram; À minha cunhada Tânia Pinheiro (UFC), pela força e pelo incentivo de irmã espiritual; À minha amiga Vera Lúcia Maciel, pela constante presença amorosa e pelo incentivo desmedido para que este trabalho não parasse pela metade e chegasse ao fim; À Karina Falcone, companheira de doutorado, pela amizade e pelo conforto em todos os momentos difíceis vividos durante o meu doutorado; Ao amigo doutorando Leonardo Mozdzenski, por ter compartilhado comigo o dia da apresentação deste trabalho; À Coordenação da PósGraduação em Letras e Lingüística da UFPE, na pessoa da Coordenadora e Professora Doutora Angela Dionísio, por ter reconduzido a minha vida acadêmica após o afastamento, por doença, do meu orientador Luiz Antônio Marcuschi;.
(6) 5 . A todos os funcionários da PósGraduação em Letras e Lingüística da UFPE, em especial a J ozaías F. Santos e à Diva Albuquerque pela disposição e boa vontade constantes nos atendimentos burocráticos; A CAPES, pelos dois anos de bolsa de doutorado concedidos para esta pesquisa; À Professora Doutora Beth Marcuschi (UFPE), por ter acreditado que tudo isto era possível e feito inúmeros questionamentos sobre o conteúdo deste trabalho, possibilitando riquíssimas reflexões e reescritas em todos os capítulos; À Professora Doutora Dóris Cunha (UFPE), pelas ressalvas preciosas que fez a alguns pontos da tese e que me fizeram ter forças para reescrevêlos do início ao fim, após a qualificação; À Professora Doutora Mônica Cavalcante (UFC), por mais uma vez ter aceitado o convite para fazer parte da minha banca de defesa, tal como no mestrado, e ter contribuído imensamente para algumas reformulações finais; À Professora Doutora Rosane Alencar (UFRPE), por ter participado da minha banca de defesa e ter sugerido aspectos relevantes neste trabalho; Aos Professores Doutores Antônio Carlos Xavier (UFPE) e Francisco Alves Filho (UFPI), por terem se disponibilizado a ocupar a posição de suplentes na banca final; E em especial, aos dois grandes guerreiros desta minha empreitada: À minha segunda orientadora Professora Doutora J udith Hoffnagel, por ter permanecido ao meu lado e acreditado no meu trabalho, ultrapassando os limites de seus campos de pesquisa científica para se aventurar comigo em um trabalho anteriormente iniciado, me orientando com suas leituras e questionamentos; E ao meu primeiro orientador Professor Doutor Luiz Antônio Marcuschi, que desafiou as próprias limitações de sua convalescença para acompanhar a leitura das idéias gerais dos capítulos, participando assim deste trabalho..
(7) 6 . “Pensar em meio às ciências significa: passar ao lado delas, sem desprezálas.” Heidegger (1950) Caminhos do Campo.
(8) 7 . RESUMO . Este trabalho é uma investigação teórica sobre a sinonímia por encapsulamento anafórico. Este tema é novo e a expressão ‘sinonímia por encapsulamento anafórico’ foi criada por nós para explicar um outro olhar que temos do fenômeno lingüístico descrito por Conte (2003) como encapsulamento anafórico. A definição de encapsulamento dada por Conte (2003:117) diz que este é “um recurso coesivo pelo qual um sintagma nominal funciona como uma paráfrase resumitiva de uma porção precedente do texto”. Nossas análises indicam que este fenômeno também pode darse por uma sinonímia sócio cognitiva e não apenas por uma paráfrase resumitiva, como atestado por Conte. Para comprovar a nossa observação, partimos de um estudo semânticofilosófico sobre o que quer dizer significado e sentido aplicados às noções de sinonímia como igualdade de significado (Platão), como identidade de significado (Aristóteles) e por fim como equivalência de sentido, que é a forma pela qual nós concebemos este tipo de sinonímia. Em verdade, não negamos a existência das noções de igualdade e de identidade de significado na sinonímia, dentro do escopo de uma semântica formalista. Mas, apontamos que esta pode ser vista por um outro ângulo teórico. A perspectiva teórica escolhida para observarmos a sinonímia por encapsulamento anafórico é a perspectiva sóciocognitiva. Esta concebe a língua como uma ação social situada, onde os sujeitos constroem na interatividade discursiva os objetos de discurso e os sentidos, inseridos em contextos referenciais socialmente partilhados (Salomão,1999; Marcuschi,2003; Koch e CunhaLima,2004). Buscamos comprovar que esta sinonímia ocorre por uma relação de sentido construída por uma equivalência sóciocognitiva sobre as bases de um processo inferencial que se encontra apoiado em Frames (Barsalou, 1992) e Relevâncias (Sperber e Wilson, 1986). O sentido apresentase como um ponto de vista, um modo pelo qual compreendemos algo, uma possibilidade de interpretação (Husserl) que se estabelece por caminhos inferenciais (Frege,1978; Marcuschi,2000; 2003; 2007b) construídos em uma interação social. Para defesa desta hipótese, analisamos exemplos extraídos de autores discutidos ao longo deste trabalho. Nossas conclusões apontam este novo objeto lingüístico, chamado de sinonímia por encapsulamento anafórico, como um possível campo de estudo para as áreas da referenciação anafórica indireta e da sóciocognição. PalavrasChave: Sinonímia. Encapsulamento Anafórico. Sentido. SócioCognição. Referenciação. Anáfora Indireta. Inferenciação..
(9) 8 . RESUMEN . Este trabajo es una investigación teórica sobre la sinonimia por encapsulamento anafórico. Este tema es nuevo y la expresión ‘sinonimia por encapsulamento anafórico’ fue creada por nosotros para explicar una otra forma de ver el fenómeno lingüístico descrito por Conte (2003) como encapsulamento anafórico. La definición de encapsulamento dada por Conte (2003:117) dice que este es “un recurso cohesivo por el cual un sintagma nominal funciona como una paráfrasis resumida de una porción precedente del texto”. Nuestros análisis indican que este fenômeno tambien puede se da por una sinonimia sociocognitiva y no solamente por una paráfrasis resumida, como atestado por Conte. Para comprobar nuestra observación, partimos de un estudio semánticofilosófico sobre lo que quiere decir significado y sentido aplicados a las nociones de sinonimia como igualdad de significado (Platón), como identidad de significado (Aristóteles) y por fin como equivalencia de sentido, que es la forma por la cual nosotros concebimos este tipo de sinonimia. En realidad, no negamos la existencia de las nociones de igualdad y de identidad de significado en la sinonimia, dentro del límite de la semântica formalista. Pero, apuntamos que esta puede ser vista por un otro ángulo teórico. La perspectiva teórica elegida para observarnos la sinonimia por encapsulamento anafórico es la perspectiva sociocognitiva. Esta concibe la lengua como una acción social ubicada, donde los sujetos construyen en la interactividad discursiva los objetos de discurso y los sentidos, inseridos en contextos referenciales socialmente compartidos (Salomão,1999; Marcuschi,2003; Koch e CunhaLima,2004). Buscamos comprobar que esta sinonimia ocurre por una relación de sentido construida por una equivalencia sociocognitiva sobre las bases de un proceso inferencial que se encuentra apoyado en Frames (Barsalou, 1992) y Relevancias (Sperber e Wilson, 1986). El sentido se presenta como un punto de vista, un modo por lo qual comprendemos algo, una posibilidad de interpretación (Husserl) que se establece por caminos inferenciales (Frege,1978; Marcuschi,2000; 2003; 2007b) construidos en una interacción social. Para defensa de esta hipótesis, analizamos ejemplos extraídos de autores discutidos a lo largo deste trabajo. Nuestras conclusiones apuntan este nuevo objeto lingüístico, llamado de sinonimia por encapsulamento anafórico, como un posible campo de estudio para las áreas de la referenciación anafórica indirecta y de la sociocognición. PalabrasClave: Sinonimia. Encapsulamento Anafórico. Sentido. SocioCognición. Referenciación. Anáfora Indirecta. Inferenciación..
(10) 9 . ABSTRACT . This thesis is a theoretical investigation of synonymy through anaphoric encapsulation. This theme is new and the expression “synonymy through anaphoric encapsulation” was created by us to explain another view of this linguistic phenomenon described by Conte (2003) as anaphoric encapsulation. The definition for encapsulation given by Conte (2003:117) tells us that this is “a cohesive resource by which a noun phrase functions as a short paraphrase of a preceding portion of text”. Our analysis indicates that this phenomenon also comes about through a sociocognitive synonymy and not only by a short paraphrase as attested by Conte. To prove our observation, we begin with a semanticphilosophical study of meaning and sense applied to the notions of synonymy as equality of meaning (Plato), as identity of meaning (Aristotle) and finally as the equivalence of sense, which is the way we conceive this kind of synonymy within the scope of a formal semantics. But we point out that this could be seen from another theoretical angle. The theoretical perspective chosen to observe synonymy through anaphoric encapsulation is the social cognitive perspective, which conceives language as a situated social action, where the subjects construct in discursive interactivity the objects of discourse and the senses, inserted in socially shared referential contexts (Salomão,1999;Marcuschi, 2003; Koch e CunhaLima,2004). Our objective is to show that this synonymy occurs through a relation of senses constructed by a sociocognitive equivalence based on an inferential process, that find their support in Frames (Brasalou, 1992) and Relevance (Sperber and Wilson, 1986). Sense is presented as a point of view, a way in which we understand something, a possibility of interpretation (Husserl) that is established by inferential means (Frege,1978; Marcuschi,2000;2003;2007b) built through social interaction. To defend this hypothesis, we analyzed examples extracted from authors discussed throughout this thesis. Our conclusions point towards this new linguistic object, called synonymy through anaphoric encapsulation, as a possible field of study for the areas of indirect anaphoric reference and social cognition. Keywords: Synonymy. Anaphoric Encapsulation. Sense. Social Cognition. Reference. Indirect anaphora. Inference..
(11) 10 . SUMÁRIO . INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1 DO SIGNIFICADO AO SENTIDO NA SINONÍMIA: UMA VISÃO SEMÂNTICO FILOSÓFICA ..................................................................................... 20 1.1 . O Uso dos Termos Significado e Sentido................................................................ 24 . 1.2 . O Significado na Semântica Filosófica Clássica: a noção de igualdade na sinonímia .... 32 . 1.3 . Do Significado ao Sentido em Aristóteles: a noção de identidade na sinonímia............. 39 . 1.4 . O Sentido na Semântica Moderna: a noção de sentido na sinonímia ........................... 48 . CAPÍTULO 2 O SENTIDO COMO UM CRITÉRIO VÁLIDO NA RELAÇÃO DE SINONÍMIA: UMA ABORDAGEM BASEADA NA LÓGICA MODERNA.............. 52 2.1 . Sentido e Referência na Sinonímia ........................................................................ 54 . 2.2 . O Valor Cognitivo na Relação de Igualdade para Frege ........................................... 61 . 2.3 . O Sentido como uma Relação de Inferência ............................................................ 63 . CAPÍTULO 3 A CONSTRUÇÃO DA SINONÍMIA POR ENCAPSULAMENTO ANAFÓRICO: UMA PERSPECTIVA SÓCIOCOGNITIVA ..................................... 68 3.1 . A Perspectiva da Sinonímia na chamada Paráfrase Resumitiva ................................. 69 . 3.2 . O Sentido na Posição de Sintagma Nominal Encapsulador ....................................... 74 . 3.3 . A Sinonímia por Encapsulamento Anafórico como uma Ação Social ......................... 81 . CAPÍTULO 4 O ACESSO AO SENTIDO NA SINONÍMIA POR ENCAPSULAMENTO ANAFÓRICO.............................................................................................................. 88 4.1 . O Acesso ao Sentido pela Teoria da Fenomenologia de Husserl................................. 89 . 4.2 . O Acesso ao Sentido pela Teoria da Relevância: o modelo ostensivoinferencial de Sperber e Wilson ................................................................................................ 98 . 4.3 . O Acesso ao Sentido pela Construção de Frames: a teoria de atributos e valores de Barsalou.......................................................................................................... 111 . CONCLUSÃO ............................................................................................................... 120 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 125.
(12) 11 . INTRODUÇÃO . Este trabalho trata da descrição de um tipo de sinonímia que até então não é vista em nenhuma literatura lingüística de nosso conhecimento. Tratase daquilo que nós ‘batizamos’ de sinonímia por encapsulamento anafórico. Para a construção teórica desta sinonímia mergulhamos em discussões que estão nas bases teóricas da semântica filosófica, da semântica formalista e analítica, da semântica pragmaticista e da lingüística textual, cognitiva e sóciocognitiva. Através dessas discussões buscamos mostrar que há, nestes campos teóricos, pequenas brechas por onde nós podemos enxergar os caminhos que nos levam a situar este tipo de sinonímia na perspectiva sócio cognitiva e as razões que nos conduzem a isto. O leitor pode estranhar não iniciarmos esta investigação abordando a perspectiva sóciocognitiva. Contudo, o nosso argumento é que como se trata de uma investigação essencialmente teórica, de um tema sem nenhum precedente científico no qual pudéssemos no apoiar, nós optamos por não desconsiderar o que a tradição dos estudos lingüísticos nos legou sobre a sinonímia tal como nós a conhecemos: sobre as bases de uma semântica filosófica formal e de uma semântica pragmática. Optamos por pinçar destas teorias aquilo que refletidamente pudemos, de alguma forma, correlacionar com a essência da perspectiva sóciocognitiva que é: 1) língua como ação social; 2) estudo do léxico como uma rede de relações conjunta que envolve aspectos sociais, culturais e cognitivos para a produção de sentido socialmente situado; 3) atividade referencial como uma atividade inferencial situada em processos enunciativos que ocorrem em atividades de textualização; e 4) processamento da informação através de cálculos cognitivos inferenciais guiados por contextos socialmente partilhados. Em geral, estes quatro itens já abarcam grandes discussões, por isso não nos sentimos comprometidos em apresentar e discutir outros pontos. Como dissemos o tema é novo, mas ao mesmo tempo conhecido porque se trata de apresentar o encapsulamento anafórico, só que sob a perspectiva da sinonímia e não apenas da paráfrase resumitiva como defende e define Conte (2003). Esta idéia.
(13) 12 . surgiu como uma possibilidade investigatória em uma das aulas de Lingüística de Texto, ministrada na UFPE, durante o primeiro ano de doutorado. O projeto desenvolvido para ser a tese de doutorado tinha como foco a sinonímia na produção textual, mas este foi redirecionado para unirse com o encapsulamento anafórico em virtude de enxergarmos que no encapsulamento anafórico apresentado por Conte (2003) havia uma brecha pela qual podíamos desenvolver um estudo sinonímico que se realizava por uma relação de sentidos construídos por uma inferência de natureza sóciocognitiva. Ao invés de apresentarmos um processo de sinonímia onde o sujeito é excluído de seu papel de criador, manipulador e reformulador de sentidos construídos socialmente, nós apresentamos uma sinonímia que considera a presença de um sujeito cognitivo cuja bagagem sóciohistóricacultural é elemento cocriador dos sentidos construídos na interatividade da língua, reunindo pensamento, linguagem e mundo em uma dimensão que os vê como “operadores da conceptualização socialmente localizada através da atuação de um sujeito cognitivo, em situação comunicativa real, que produz significados como construções mentais, a serem sancionadas no fluxo interativo”, conforme expõe Salomão (1999:64). A hipótese sóciocognitiva, assim chamada por Margarida Salomão e sua equipe de pesquisadores, busca um equilíbrio entre fontes de conhecimento como gramática, esquemas conceptuais e molduras comunicativas que proporcionam um caminho promissor para as questões que envolvem procedimentos de produção de sentido em discursos cotidianos (Marcuschi, 2004). Por esta razão a escolhemos para ser a perspectiva teórica sobre a qual nos debruçamos para investigar a construção e o funcionamento da sinonímia por encapsulamento anafórico. Pois estudar este fenômeno é estudar processos de significação (referência + sentido) ligados diretamente ao contexto sóciodiscursivo da língua em atividades de textualização interativas, como já dissemos. A nossa proposta de trabalho parte de algumas concepções que são importantes serem apontadas neste momento: 1 Partimos de uma visão de língua nãoformalista, que concebe a linguagem como ação social (Clark,1996; Marcuschi,2003, 2003a; Koch e CunhaLima,2004;.
(14) 13 . Koch,2005; Salomão,1999; Mondada e Dubois,2003; Mondada, 1994;1997; e outros) cujos indivíduos são atuantes no processo de categorização e recategorização dos sentidos construídos em ações interativas comunicativas cujas vivências sociais, históricas e culturais somamse para a produção de sentidos situados. “A língua é uma forma de representação simbólica geralmente opaca, nãotransparente e indeterminada sintática e semanticamente” (Marcuschi, 2003a:3). 2 Em todo o processo analítico do funcionamento da língua em atividades interativas, a cognição é o elo que liga todos os modos de construção da compreensão, da interpretação, sob uma perspectiva nãorepresentacionista da língua (Marcuschi, 2004). A língua “não providencia uma semântica a priore para o léxico, não estamos dizendo que as palavras são vazias de sentido, mas que o sentido por nós efetivamente atribuído às palavras em cada uso é providenciado pela atividade cognitiva situada” (Marcuschi, 2003a:7). 3 As expressões significado e significação possuem entendimentos diversos em contextos teóricos específicos e por isto não podem ser usadas indistintamente, e muitas vezes como sinônimas (Marcuschi,1999;2000). Consideramos que o significado, inicialmente nos estudos semânticofilosóficos formais, diz respeito apenas à relação entre os nomes e as coisas do mundo sob uma perspectiva referencialista da língua. Depois, o significado passa a agregar uma outra noção além da noção de referência vericondicional entre nomes e coisas: a noção de sentido (Frege,1978). O estudo do sentido associado à referência indireta e intencional estudada por Frege (1978), aos nossos olhos, abre caminhos para mostramos que podemos estudar o sentido como um objeto lingüístico “essencialmente sóciocognitivo de resolução textualdiscursiva e não semântica do léxico no funcionamento contextual de uso da língua (Marcuschi,2004). Por esta razão, consideramos que a significação, estudo da referência associada ao sentido compartilhado e situado em atividades comunicativas interativas, é diferente do estudo do significado que contempla a referência como uma propriedade da língua e não como uma “ação praticada pelos falantes com a língua” (Marcuschi,2003a:4)..
(15) 14 . 4 Processos inferenciais não se restringem apenas às análises das condições de verdade ou falsidade das sentenças ou enunciados. Eles são resultantes, também, de uma variabilidade de fatores que envolvem coerência, progressão tópica, conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, conhecimento lingüístico, efeitos de sentido, estratégias cognitivas, construção de frames etc. Por isto, muitas produções de sentido estão fundamentadas em nossas experiências e raciocínios inferenciais, em uma relação com a língua no uso público (Marcuschi,2000;2004); 5 A sinonímia por encapsulamento anafórico é considerada neste trabalho como um processo sóciocognitivo que realiza operações de projeção de entidades ou atributos de entidades entre ambientes cognitivos, estabelecendo assim uma relação de equivalência sóciocognitiva entre os sentidos construídos; 6 A sinonímia por encapsulamento anafórico também é um processo de referenciação nãonominalista que concebe a língua como atividade sócio cognitiva que integra a cultura, a experiência e os aspectos situacionais e os considera como fatores de interferência na determinação referencial. Nesta perspectiva, a língua é social e cognitiva. Todas essas concepções formam a nossa base teórica para defendermos a tese de que: A sinonímia por encapsulamento anafórico é um processo de referenciação que ocorre por uma equivalência de sentido construída sóciocognitivamente. Nesta perspectiva, o sentido apresenta um ponto de vista; um modo pelo qual compreendemos algo; uma possibilidade de interpretação que se estabelece por um caminho inferencial construído em uma interação social. . A discussão desta idéia será exclusivamente teórica a fim de que possamos estabelecer a compreensão do que é a sinonímia por encapsulamento anafórico, como se dá o seu funcionamento discursivo e como temos acesso ao sentido construído por ela, cognitivamente..
(16) 15 . Por serem todos os capítulos teóricos, não reservamos a esta investigação uma análise de corpus propriamente dito. Trabalhamos essencialmente com exemplos retirados de Conte (2003) e Francis (2003), discutindoos e conduzindoos para a perspectiva sóciocognitiva da sinonímia por encapsulamento anafórico. Não buscamos constituir e nem analisar um corpus coletado por nós, investigando gêneros diversos, porque a nossa preocupação foi desenvolver uma teoria que fosse capaz de explicar o fenômeno da sinonímia por encapsulamento e tornálo visível aos olhos dos leitores deste trabalho, chegandose a comprovação de sua existência lingüística. Depois disto sim, será possível, em outro trabalho, abrir o campo de investigação para vermos o seu funcionamento em diversos gêneros textuais. Por tal razão, não temos um capítulo metodológico dedicado a um corpus. Mas ressaltamos que os exemplos de Conte (2003) e de Francis (2003) são exemplos retirados do domínio jornalístico: em Conte, os exemplos originais em italiano foram tirados do jornal Corriere della Sera e os exemplos originais em inglês foram tirados da revista Newsweek. Francis (2003) tirou exemplos da coleção de corpora do Bank Of . English, mantido em Cobuild, Birmingham, e em particular, do corpus de edições completas do The Times. Entendemos que os exemplos trabalhados por estes autores formam um corpus natural, o que já nos oferece a possibilidade de verificarmos o fenômeno da sinonímia por encapsulamento em ações comunicativas públicas. Nosso objetivo geral é teorizar o estudo da sinonímia para além dos limites já instituídos pela semântica formal e pela semântica pragmática, inserindoa, também, no campo teórico da sóciocognição, nas investigações de fenômenos de textualização e estudo do léxico. Os objetivos específicos são dois: 1) mostrar, teoricamente, que a sinonímia por encapsulamento pode ser considerada como objeto de investigação lingüística; e 2) que o sentido é o critério válido para sua construção. A relevância investigativa deste estudo é oportunizar uma revisão teórica sobre o funcionamento da sinonímia nos processos de textualização e nos processos de seleção lexical sobre as bases de teorias sóciocognitivas. A metodologia de trabalho escolhida por nós é de caráter essencialmente analítico, teórico e interpretativo a partir de uma reunião de teorias selecionadas e.
(17) 16 . discutidas no corpo desta investigação. Esclarecemos ao leitor que todas as nossas análises teóricas e interpretativas representam o nosso ponto de vista sobre o que ocorre no fenômeno chamado de encapsulamento anafórico. Pois todo ponto de vista, antes de tudo, é uma operação de categorização, recategorização e identificação de referentes efetuados por sujeitos falantes em contextos de interação, conforme defendem Apothéloz & ReichlerBéguelin (1995). Este trabalho está dividido em quatro capítulos, desconsiderando a introdução e a conclusão. O capítulo 1 traz uma visão panorâmica sobre a distinção entre significado e sentido, e uma discussão semânticofilosófica clássica sobre as noções de igualdade e de identidade de significado discutidas por Platão em O Crátilo e em Aristóteles em Dos argumentos sofísticos e Tópico I, cap. 5 e 7, até chegarmos à noção de sentido como o modo como pensamos os nomes das coisas e dos objetos do mundo; o modo como construímos e interagimos com os objetos dos nossos discursos elevado ao nível conceitual por intermédio das expressões de uma língua. O capítulo 2 discute o sentido como um critério válido para a construção da sinonímia por encapsulamento anafórico baseado nas discussões e interpretações que fazemos sobre alguns postulados de Frege em Sobre Sentido e Referência . Apresentamos, neste capítulo, como podemos relacionar o fator cognitivo e predicativo abordados nos estudos sobre sentido e referência com o fator cognitivo e predicativo que ocorre na sinonímia por encapsulamento anafórico mostrando porque é possível inserir este fenômeno nas atividades cognitivas de conceptualização. O foco deste capítulo é mostrar que através da concepção de referência indireta e intencional postulada por Frege (1978), nós podemos vislumbrar, mesmo que timidamente, a natureza essencialmente cognitiva da sinonímia por encapsulamento anafórico que é determinada por predicações e acarretamentos predicativos no uso da língua. O capítulo 3 apresenta o conceito de encapsulamento anafórico dado por Conte (2003) e discute os nossos pontos de concordância e discordância encontrados na sua definição, quando aplicados às nossas questões sobre a sinonímia por encapsulamento anafórico. Neste capítulo abordamos a importância e o funcionamento do sintagma nominal encapsulador que apresenta o sentido neste tipo de sinonímia. Também expomos as razões pelas quais enxergamos a sinonímia por encapsulamento como uma forma de ação social com a língua..
(18) 17 . Por fim, o capítulo 4 traz uma convergência de aspectos teóricos postulados por Husserl (1954), Moore (1953), Mondada e Dubois (2003), Sperber e Wilson (1986) e Barsalou (1992) quanto a construção de 3 caminhos de acesso ao sentido construídos na sinonímia por encapsulamento anafórico: 1) Acesso ao sentido por evidências lógicoanalíticas trabalhadas através da Teoria da Consciência Intencional de Husserl (1900), a partir dos estudos de Held (1995) que nos situa com clareza nos postulado de Husserl. Aqui damos ênfase à concepção de Husserl de que nossos conhecimentos manifestam formas variadas de percepção dos objetos do mundo, através de ângulos que podem nos remeter a outros conhecimentos; 2) Acesso ao sentido por inferências por evidências pragmáticocognitivas discutidas através da Teoria da Relevância de Sperber e Wilson (1986), a partir do olhar inovador trazido por Silveira e Feltes (1997) que apresentaram o aspecto cognitivo existente nos postulados da Teoria da Relevância. Enfatizamos a concepção de Sperber e Wilson sobre o fato dos indivíduos prestarem atenção apenas aos fenômenos que lhes são relevantes aos interesses e circunstâncias do momento; 3) Acesso ao sentido por inferências por evidências sóciocognitivas através da Teoria dos frames por Atributos e Valores de Barsalou (1992). A ênfase dada a esta teoria consiste na concepção de Barsalou de que os frames apresentam uma correlação de conceitos e um meio natural de dar conta da variabilidade contextual nas representações conceituais. Todos estes três acessos evidenciam uma forma de conhecimento, um modo de interpretar, de compreender os objetos discursivos, construindo múltiplas possibilidades de julgamentos e ações através de seleções lexicais que constituem um nível central ligado à produção de sentido. Em todos os capítulos são apresentados e discutidos exemplos para comprovação dos achados da nossa investigação. As conclusões são expostas gradativamente nestas discussões dispensando assim um capítulo longo dedicado a estas. O que apresentamos como conclusão é o fechamento de todas as nossas discussões e as diretrizes para a aplicabilidade deste trabalho e para futuras investigações..
(19) 18 . Os nossos conceitos chaves ligados à formulação da tese que buscamos defender neste trabalho são: · LÍNGUA: é ação social, é ação conjunta, é ação comunicativa que integra experiências sociais, culturais e históricas dos indivíduos (Clark,1996; Salomão,1999; Marcuschi,1999, 2000, 2003, 2003a e 2004; Koch, 2004, 2005; Koch e CunhaLima, 2004; Mondada, 1997; Mondada e Dubois, 2003); · SIGNIFICADO: diz respeito às questões de condições de verdade ou falsidade dos enunciados nos estudos sobre a referência, na perspectiva da semântica referencialista (Marcuschi, 1999, 2000, 2003, 2003a e 2004); · SIGNIFICAÇÃO: diz respeito às condições de uso de um enunciado associando os estudos da referência aos estudos da produção de sentido situado (Marcuschi, 1999, 2000, 2003, 2003a, 2004); · CONTEXTO: é tudo o que está envolvido em uma interação comunicativa situada em experiências sociais, históricas e culturais do mundo real e do mundo imaginário, construídas nas atividades sóciocognitivas dos indivíduos através de ações comunicativas que ocorrem por processos associativos de natureza diversa estudados nos escopos da cognição e da sóciocognição, e que vão além da semântica formal (Marcuschi, 2003, 2003a, 2004; Koch e CunhaLima, 2004); · SINONÍMIA: fenômeno essencialmente sóciocognitivo, de perspectiva textual e de resolução textualdiscursiva e não semântica (Marcuschi, 2003a); fenômeno de construção de sentido não referencialista e não representacionista da língua (Marcuschi, 2007a); · SENTIDO: um modo de compreender algo através de experiências compartilhadas em vivências sociais que são construídas numa rede de relações sociais, históricas e culturais (Salomão, 1999; Marcuschi, 2003, 2003a;); · SINONÍMIA POR ENCAPSULAMENTO ANAFÓRICO: um processo de referenciação que ocorre por uma equivalência de sentido construída sócio cognitivamente. Nesta perspectiva, o sentido apresenta um ponto de vista; um modo pelo qual compreendemos algo; uma possibilidade de interpretação que se estabelece por um caminho inferencial construído em uma interação social;.
(20) 19. · INFERÊNCIA: uma estratégia sóciocognitivatextual que integra um conjunto de saberes de natureza histórica, social e cultural. São cálculos cognitivos guiados por ações desencadeadas por contextos socialmente partilhados e que estão na base das categorias e dos conceitos (marcuschi, 2000; 2003); · EQUIVALÊNCIA COGNITIVA: relação inferencial em nível conceitual que opera com o sentido que atribuímos às palavras em cada uso, e que é providenciado por uma atividade cognitiva situada. Por fim, as nossas conclusões apontam que é possível considerarmos a sinonímia por encapsulamento anafórico como um objeto lingüístico. A explicação deste fenômeno pode ser vista em aspectos teóricos que foram pinçados da filosofia da linguagem, das semânticas formal e analítica, da semântica pragmaticista, da cognição e da sóciocognição e trabalhados ao longo dos quatro capítulos desenvolvidos. Consideramos ainda que o sentido na sinonímia por encapsulamento anafórico é um fenômeno lingüístico situado por evidenciar : · Finalidades (divertir, argumentar, ironizar, elogiar etc); · Objetivos dinâmicos e variavelmente flexíveis nas ações comunicativas; · E ser resultante da união de uma série de outras ações conjuntas mais simples..
(21) 20 . CAPÍTULO 1 . DO SIGNIFICADO AO SENTIDO NA SINONÍMIA: UMA VISÃO SEMÂNTICO FILOSÓFICA . Aqui cabe muito bem a pergunta que Carlos Alberto Faraco me propôs um dia, durante uma banca de Tese de Titular em Curitiba: “ o que você diria sobre a verdade desse enunciado: ‘A justiça é cega’?.” Creio que a resposta depende das condições em que empregamos esse enunciado que poderia ser pertinente simultaneamente com significações opostas. Sua verificação não depende de condições de verdade e sim de condições de uso. Aquele enunciado não refere um fato, mas a construção de um fato. Marcuschi (2007a:70) . A citação de Marcuschi nos põe de frente com o eixo do nosso trabalho que é estudar a sinonímia nas condições de uso sóciocognitivo 1 e não nas condições lógicas de verdade ou falsidade dos enunciados. A questão posta por Faraco pode parecer simples de ser respondida, mas não é. Não podemos pensar em língua como algo onde os contextos social, histórico e cultural não se integram para construção da compreensão do que dizemos e do que os outros dizem. Também não podemos pensar com a língua sem um sistema lógico de formas e conteúdos. Não dá para dissociar os dois aspectos quando pensamos com a língua. A posição teórica adotada neste trabalho é a mesma de Marcuschi, na sua resposta. Para compreendermos algo precisamos entender em quais condições de uso um enunciado é empregado para chegarmos as suas significações, que podem ser variadas. Para Marcuschi, o termo significação nos diz muito mais do que o termo significado, considerado por muitas teorias semânticas formalistas como não um termo que não é distinguido da referência sendo bastante usado dentro do contexto dos postulados de uma semântica referencialista (2007a)..
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