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CAPÍTULO 2 A LEI PODE PROMOVER O EMPREENDEDORISMO?

2.4 A LEI GERAL DA MICRO E PEQUENA EMPRESA

2.4.5 O acesso ao crédito

O estímulo ao empreendedorismo não pode prescendir de medidas que ampliem o acesso ao crédito às microempresas e empresas de pequeno porte. Reduzir os custos da transação, melhorar a aplicação dos recursos, fomentar a concorrência e garantir a portabilidade das informações cadastrais de crédito são previsões da Lei Geral, assegurando a criação de linhas de crédito especificamente destinadas às MPEs167.

não ocorreu, e a Lei Geral ordena o que for mais benéfico às MPEs. Seguindo este preceito, os Tribunais entendem que as pequenas empresas são dispensadas do controle da jornada, ainda que existam mais de 10 funcionários.

165 TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO (TST) - RR: 1737009220055030079 173700-92.2005.5.03.0079,

Relator: Antônio José de Barros Levenhagen, Data de Julgamento: 08/11/2006, 4ª Turma, Data de Publica ção: DJ 01/12/2006. “EMPREGADORA MICROEMPRESA -DISPENSA LEGAL DE CONTROLE DE JORNADA. ÔNUS DA PROVA DO RECLAMANTE.INTERVALO INTRAJORNADA.TEMPO DE PERCURSO.HORAS EXTRAS. Trata-se a empregadora de microempresa(…), convertida em empresa de pequeno porte (…) por força da Lei Complementar 123/2006 que regulamenta a atividade tanto de MEs como de EPPs (…) continua desobrigada do controle de jornada, o que torna a prova da dinâmica de labor ônus da parte que alega, conforme didaticamente traz decisão do Tribunal Superior do Trabalho: 1. Quando a Lei nº 9.841/99 instituiu o Estatuto da Microempresa, buscou fundamentalmente desburocratizar essa espécie de empreendimento, de modo a não dificultar o seu funcionamento, já que o excesso de exigências legais de cunho formal não se coadunam com a simplicidade dessas empresas. 2. Em matéria trabalhista, o art. 11 da referida lei dispensou as microempresas e empresas de pequeno porte das obrigações acessórias a que se referem os arts. 74, 135, § 2º, 360, 429 e 628, § 1º, da CLT.3.(…) a obrigação, que diz respeito à pré-constituição de prova da jornada de trabalho, é de natureza burocrática e pode ser dispensada em relação às microempresas e empresas de pequeno porte que eventualmente contem com número superior de empregados”.

166 Combatido por movimentos trabalhistas e por entidades de classe – CONLUTAS (Coordenação Nacional de

Lutas), CNTC (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio), CCT (Coordenação Confederativa dos Trabalhadores) e FST (Fórum Sindical dos Trabalhadores) – alegando verdeiro estímulo ao descumprimento das obrigações trabalhistas, devido ao reduzido número de fiscais em face da imensa quantidade de empresas beneficiadas pela Lei, o que torna difícil e demorada a primeira visita, sem prazo para a ocorrência da segunda visita, gerando imensa isegurança jurídica aos trabalhadores. De fato, percebe-se que a lei poderia aqui ser mais detalhada, com um rol mais alargado sobre o poder de autuação do fiscal logo que constatasse a irregularidade, considerando a gravidade caso a caso e principalmente, para a preservação do bem jurídico tutelado.

167 Linhas de crédito mantidas por bancos com carteira comercial (comerciais públicos e de economia mista), pela

50 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)168 é a empresa pública federal que realiza os empréstimos de forma indireta, através de uma rede de instituições financeiras credenciadas169, que são responsáveis pela análise do crédito, pela negociação de garantias com o pequeno empresário e por repassar os recursos.

Há outras formas de acesso ao crédito que não são mantidas pelo BNDES e para empresas que têm dificuldades de conseguir as linhas de créditos concedidas pelas instituições financeiras.

i) Microcrédito Produtivo Orientado (MPO)170

Programa criado para conceder crédito para financiamento de atividades produtivas, no âmbito do Ministério do Trabalho, é dirigido à empreendedores, nomeadamente de microempresas, cuja renda ou receita bruta anual seja igual ou inferior a R$ 200.000. Pode ser usado para capital de giro, compra de equipamentos, móveis, ferramentas e outros ítens necessários ao funcionamento da microempresa. Além dos empréstimos serem isentos de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) o pequeno empreendedor recebe orientação e acompanhamento enquanto estiver utilizando o crédito. O objetivo do programa é incentivar a geração de trabalho e renda, disponibilizar recursos à microempresa e oferecer suporte técnico às instituições de MPO, a fim de prestarem apoio aos pequenos negócios.

ii) A Empresa Simples de Crédito (ESC)171

Para fomentar as inciativas empreendedoras, a lei autoriza as pessoas físicas a atuarem com o fim exclusivo de realizar operações de empréstimo, de financiamento e desconto de

168 Segundo definição vista no site ofocial do BNDES, o banco de desenvolvimento é “o principal instrumento do

Governo Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia brasileira”, apoiando novos negócios e pessoas físicas. Oferece condições especiais a empresas com faturamento anual até R$ 300 milhões. Os financiamentos mais usados pelas MPE são: Finame Agrícola (compra de máquinas e equipamentos); Cartão BNDES(crédito rotativo pré-aprovado para aquisição de produtos credenciados – máquinas equipamentos, insumos, e serviços de crédito rotativo, com baixa taxa de juros,sem anuidade, prazos de pagamentos maiores.); BNDES Automático (construção, ampliação, reforma, máquinas, equipamentos novos e capital de giro para uso no projeto); BNDES Finame (aquisição de máquinas, equipamemtos, bens de informática e automaçáo, ônibus e caminhões novos, credenciados pelo Banco e fabricados no Brasil). Disponível em< https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/quem-somos>Acesso em 19/06/2019.

169 DATA SEBRAE. Segundo o relatório do SEBRAE, Financiamento das MPE no Brasil, 2017, o BNDES realiza

cerca 98% das operações com os pequenos negócios de forma indireta, através da rede de instituições financeiras credenciadas. Em agosto de 2017, eram 56 instituições financeiras credenciadas. Disponível em<https://datasebrae.com.br/wp-content/uploads/2018/09/RELAT%C3%93RIO-ESPECIAL-Financiamento- das-MPE-2017-Final.pdf> Acesso em 25/05/2019.

170 LEI N.º 13.636, de 20 de março de 2018, dispõe sobre o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo

Orientado (PNMPO, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2018.

171 LEI COMPLEMENTAR N.º 167, de 24 de abril de 2019, Dispõe sobre a Empresa Simples de Crédito, Presidência

da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2019. Proibidas de captar recursos em nome próprio ou de terceiros na qualidade de credora com entidades que integram a Administração Pública.Os valores totais de operações de empréstimos, não poderão ser maiores que o capital realizado pela ESC.

51 títulos de crédito, com resursos próprios, desde que abram empresas em suas cidades para emprestar dinheiro à micro e pequenas empresas locais ou em municípios limítrofes. A ESC conta com o SEBRAE para sua constituição e desenvolvimento. Os empréstimos podem ser feitos até R$ 4.800.000, valor máximo permitido como capital da empresa de crédito.

iii) O Investidor Anjo172

Outra forma de investimento de risco e um grande impulso ao empreendedorismo é o aporte feito pelo investidor anjo, a promover a inovação e os investimentos lucrativos. Por esta modalidade, é permitido a aplicação de valores – por pessoa física, jurídica e fundos de investimento – sem integrar o capital social da empresa.

Degennaro e Dwyer (2014), citados por RIBEIRO E BORGES173,definemo investidor-anjo como um capitalista de risco, empregando capital em empresas iniciantes, em especial startups, apostando no potencial de crescimento acelerado e na perspetiva de retorno elevado do aporte. A Organização “Anjos do Brasil”, descreve como ex-empresários ou empreendedores, a investir experiência e recursos em atividades que, além de retorno financeiro, causem “grande impacto positivo para a sociedade”174.

Com o aumento de capital financeiro sobrevém o fornecimento de: capital intelectual, conhecimento técnico, administrativo, gestão, benchmarking de práticas bem-sucedidas e networking.

Para estimular os investimentos nesta modalidade, a lei assegura que o investidor-anjo não responderá por dívidas da sociedade, preservando seu patrimônio particular dos riscos do negócio. Além disso, goza da garantia de vir a tornar-se sócio regular, caso a empresa esteja à venda, com direito de preferência na aquisição e direito de venda conjunta da titularidade em iguais termos e condições oferecidas aos sócios regulares. Ainda, a fim de ter capacidade de

172 Cf. LC 155/2016 que incluiu a modalidade na LC 123/2006 em seu artigo 61-A e parágrafos. O investidor-anjo

não será considerado sócio, tampouco terá direito a gerência ou voto. Deverá ser remunerado por seus aportes, observadas as condições estipuladas no contrato de participação, com prazo máximo de 5(cinco) anos; fará jus a remuneração sobre os resultados distribuídos até 50% dos lucros da sociedade; poderá exercer o direito de resgate dos aportes feitos após 2(dois) anos no mínimo, ou em prazo superior estipulado no contratto de participação, sendo restituído de acordo com o montante efetivamente investido, devidamente corrigido ou, havendo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à época do resgate.

173 PRISCILA C.RIBIRO e LUIZ BORGE, Análise dos impactos gerados por um investimento anjo via indicadores de

competitividade em uma startup brasileira do setor de educação. Disponível em <

http://www.inovarse.org/sites/default/files/T16_305.pdf> Acesso em 8/06/2019.

174 ANJOS DO BRASIL, O que é um investidor-anjo, Disponível em <http://www.anjosdobrasil.net/o-que-eacute-

um-investidor-anjo.html> acesso em 28/04/2019. O investidor-anjo pode ser um ex-executivo, com uma carreira bem sucedida, que busca fazer a diferença na geração de trabalho e renda. Atua como mentor e conselheiro, apoiando a pequena empresa como um consultor especializado de alto valor, capaz de abrir oportunidades inestimáveis em suas redes de contatos: pessoas com expertises complementares, empresas parceiras, outros investidores-anjo, conquista de mais clientes, de novos mercados, e etc.

52 mobilidade de seus créditos e de maximização de seus aportes, possui prerrogativa de ceder a titularidade de seus investimentos a terceiros, mesmo sendo pessoa estranha à sociedade (com anuência dos sócios regulares).

A análise dos impactos do investidor-anjo carece de tempo, pois ainda é cedo para avaliar os efeitos da norma no cenário econômico brasileiro, mas configura-se como um mecanismo que gera dinamismo ao crédito e ao investimento em pequenas empresas.