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CAPÍTULO 2 A LEI PODE PROMOVER O EMPREENDEDORISMO?

2.5 POSSIBILIDADES DE AMPLIAÇÃO DO AMBIENTE JURÍDICO

3.1.2 O modelo de Portugal

Considerado exemplo de crescimento positivo durante a Golden Age (1950 e 1960), período que Portugal experimentou a estabilidade econômica. Segundo NEVES201, o fortalecimento da economia ocorreu pelo fato de os elementos institucionais do regime pós- guerra terem sido os mesmos determinados pelo regime oriundo da Revolução de 1926 – autoritário, mas pragmático – o que propiciou “grande unidade de finalidade e consistência na orientação”, porém com baixa flexibilidade e inovação, por conta de um forte protecionismo202.

A “idade de ouro” foi até meados da década de 1970 com as finanças públicas sob controlo, mas no início da década de 1980 Portugal possuía uma dívida pública acima dos 60% do produto interno bruto, fruto de duas fortes recessões nas décadas de 1970 e de 1980, que colocou o país numa trajetória de desenvolvimento abaixo da maior parte dos países europeus e da América do Norte, porém acima da África, Ásia, América do Sul e Oriente Médio203.

A década de 1980 marcou a entrada de Portugal para a Comunidade Econômica Europeia (CEE) em 1986, seguindo as orientações do bloco econômico, com aplicação de medidas que significavam a retomada das iniciativas privadas, reformas constitucionais que eliminaram a maior parte dos princípios coletivistas, privatizações, abertura ao capital externo

201 JOÃO L.CÉSAR DAS NEVES,O crescimento económico português no pós-guerra: um quadro global, Análise

Social, vol. XXIX (128), p.1005-1034, 1994.

202 Na Constituição de 1933, as leis que estruturam o “Estado Novo” definiram a doutrina corporativa que gerou

efeitos sobre o condicionamento industrial e o planeamento da economia, direcionado a uma estrutura de ampla intervenção estatal. Nos anos de 1950 emergiu uma estrutura industrial dualista, numa disputa entre os adeptos do livre comércio e os protecionistas.

203 Idem. A pesquisa de NEVES apud Nunes et al.mostra queas taxas de crescimento de Portugal tiveram forte

redução a partir da década de 1970. Entre 1966 e 1973, apresentado no Growth accounting global, o índice de crescimento do produto chegou a alcançar a marca de 7,24%, enquanto nos anos entre 1980 e 1991, o crescimento não passou de 2,46%. Ao observar a taxa de crescimento do produto no Growth accounting industrial, os resultados são ainda piores, com um índice de crescimento atingindo 9,25% entre os anos 1959 e 1965 e apenas de 1,10% entre os anos de 1980 e 1987.

59 e a estabilização das taxas de câmbio de acordo com o Sistema Monetário Europeu (SME). Todavia, as taxas de desemprego atingiram 8% no período de 1980 a 1991.

A partir da década de 1980 o empreendedorismo em Portugal começou a ser valorizado204, e as pessoas incentivadas a usarem as habilidades desenvolvidas ao longo da vida profissional, de modo a criarem seus próprios trabalhos, como saída para o desemprego crescente na época. Atualmente, Portugal privilegia a carga de incentivos e investimentos para o empreendedorismo com foco na inovação, entendendo que esse factor significa o elemento- chave no processo de competitividade e desenvolvimento econômico de qualquer nação.

O relatório de 2016 do GEM205 mostra que houve um crescimento da taxa de adultos envolvidos com o empreendedorismo em Portugal, de 4,4% em 2010 para 9,5% em 2015, reflexo do índice de desemprego, o que não impactou no aumento da taxa de empreendedorismo por necessidade, pois os portugueses são propensos a empreender por oportunidade. O empreendedorismo é visto como forma de “resolver os problemas de desemprego, promover a inovação e impulsionar o desenvolvimento das PME” 206.

Sobre o comportamento empreendedor em Portugal, comparando os anos de 2015 e 2016, a taxa de oportunidades percebidas subiu de 28,07% em 2015 para 29,53% em 2016, porém a taxa de capacidade para aproveitá-las caiu de 48,85% em 2015 para 42,35 em 2016, refletindo na taxa de empreendedorismo total, que foi de 9,49% em 2015 para 8,15 em 2016.

Para os portugueses, empreender tem estreita relação com a gerar empregos, elevando o índice desta expetativa de 17,10% em 2015, para 21% em 2016, e além disso, é valorizado socialmente, pois 63,40% (mantendo índices próximos aos 62,93% em 2015) dos entrevistados consideram um fator de status social e uma boa escolha de carreira para 68,80% contra 63,43% que pensavam o mesmo em 2015.

Conforme dados de 2017207, as micro e pequenas empresas em Portugal representavam 99,4% das empresas existentes no país, cerca de 1.250.000 (um milhão e 250 mil) empresas,

204 MARIA ISABEL RIBEIRO et al, Empreendedorismo, inovação e desenvolvimento local: as micro e pequenas

empresas do interior norte de Portugal, Revista de Empreendedorismo e Gestão de Micro e Pequenas Empresas,

v. 1, n. 3, p. 34-53, 2016.

205 GEM – Monitor de Empreendedorismo Global, Comportamento empreendedor e atitudes, Portugal, 2016,

Disponível em< https://www.gemconsortium.org/economy-profiles/portugal>Acesso em 14/05/2019.

206 Idem. Em Portugal, os incentivos incluem as micro, pequenas e médias empresas (PME).

207 PORDATA, Base de dados Portugal Contemporâneo, Pequenas e médias empresas: total e por dimensão.

Contém milhares de estatísticas sobre municípios, de Portugal e da Europa. Disponível em <https://www.pordata.pt/Portugal/Pequenas+e+m%C3%A9dias+empresas+total+e+por+dimens%C3%A3o- 2927-246760> Acesso em 19/05/2019.

60 porém destas, 1.212.000 são microempresas. As MPEs portuguesas empregam 2.529.272 trabalhadores e seu volume de negócios chegou a casa de 144 milhões de Euros.

Portugal, assim como o Brasil, é um dos poucos países a incluir em sua Constituição208 a regulação direcionada ao tratamento favorecido às pequenas empresas209, devendo o Estado incentivar a atividade empresarial desta categoria – em especial das empresas que desenvolvam atividades de interesse econômico – e fiscalizar o cumprimento das obrigações legais.

A formação da cultura brasileira está intrinsecamente ligada à matriz portuguesa, que de modo determinante contribuiu para a estrutura da composição do Brasil como nação. De forma mais profunda, segundo o modelo das dimensões culturais de Hofstede (2001)210 os países guardam características semelhantes, apresentando índices elevados quanto a aversão à incerteza, o que denotaria uma baixa propensão ao empreendedorismo, à inovação e ao lançamento de empresas. No entanto, Portugal investe em ações para estimular os novos negócios que seguem na contramão destes prognósticos. Observando o que este país está a construir, é possível que sirva como lição a ser aprendida e mais uma vez de inspiração para que outros instrumentos sejam implementados no Brasil.

3.2 OS INSTRUMENTOS DESTINADOS ÀS PEQUENAS EMPRESAS NOS ESTADOS