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Em Portugal existem farmacêuticos desde 1449, sendo inicialmente conhecidos como boticários; as suas funções centravam-se na preparação oficinal de medicamentos ou substâncias medicamentosas, motivo pelo qual as farmácias eram denominadas Farmácias de Oficina. Progressivamente, a atividade do farmacêutico começou a centrar-se cada vez mais no cidadão, passando a designar-se por Farmácia Comunitária (OF, 2018).

Os farmacêuticos comunitários desenvolveram elevadas competências em farmacoterapia, o que lhes permite desempenhar um papel na promoção do uso responsável do medicamento. Estão empenhados em disponibilizar cada vez mais serviços essenciais à saúde do utente, quer na vertente terapêutica, quer na vertente preventiva, nomeadamente, pela prevenção da doença e suas complicações, através da identificação de fatores de risco e referenciação atempada para cuidados médicos especializados e adequados à situação em causa. Em muitas zonas do território nacional, as farmácias são, inclusive, a única estrutura de saúde próxima disponível, pelo que o farmacêutico é o único profissional capaz de evitar deslocações desnecessárias a outros serviços de saúde, perante problemas de saúde menores, através da dispensa e aconselhamento sobre a utilização de MNSRM. Na farmácia comunitária é também efetuada, desde 2007, a vacinação contra a gripe e outras doenças em grupos de risco. Muitos cidadãos preferem ser vacinados na farmácia devido ao menor tempo de espera e à sua grande confiança no farmacêutico (OF, 2018).

Apesar de os farmacêuticos, técnicos e auxiliares de farmácia desempenharem um papel útil na saúde humana, não é igualmente certo que o possam fazer relativamente à saúde animal, o que é referido por médicos veterinários e pelos próprios profissionais de farmácia. Esta situação parece resultar principalmente da falta de formação, por um lado, a nível académico e, por outro lado, ao facto de não ser habitual a formação após a graduação, por exemplo, através de ações dinamizadas pelos laboratórios de produtos e medicamentos de uso

veterinário (Santos, comunicação pessoal, novembro 7, 2017).

Foi descrito em estudos anteriores que os farmacêuticos podem estar a realizar práticas médico-veterinárias ao efetuarem diagnóstico e prescrição ao balcão da farmácia (Jones, 1966). Muitos médicos veterinários mostram desagrado pelo papel desempenhado pelos profissionais de farmácia, em relação aos animais de companhia, devido ao incorreto aconselhamento a nível da saúde animal, ao facto de algumas farmácias venderem MSRMV sem solicitarem a apresentação de receita médico-veterinária quando esta é obrigatória e, ainda, por considerarem que os profissionais de farmácia são os principais responsáveis pela maioria das intoxicações devidas à exposição inadequada de cães e gatos quer a MUHs, quer a MUVs. Por vezes a terapêutica é realizada com recurso a um MUH partindo do pressuposto que há proximidade entre a terapêutica do Homem e dos animais, contudo nem todos os MUHs podem ser administrados aos animais e, caso possam, os profissionais de farmácia podem desconhecer as doses adequadas. Além disso, a terapêutica inadequada pode conduzir a atraso no início do tratamento adequado, podendo levar ao agravamento do quadro clínico inicial e a mascarar sintomas, o que dificulta o diagnóstico. Consequentemente, muitas vezes, os proprietários acabam por despender mais dinheiro do que se optassem por consultar logo de início o médico veterinário (Pinto, 2012).

Uma vez que na saúde humana é frequente o recurso ao aconselhamento farmacêutico muitos proprietários, desconhecendo a falta de formação dos profissionais de farmácia em farmacoterapia animal, procuram a farmácia como primeira abordagem para o aconselhamento terapêutico quando detetam um problema no seu animal.

No estudo de Pinto (2012), efetuado em Portugal, a 254 médicos veterinários a exercer atividade clínica em animais de companhia, constatou-se que 10% dos médicos veterinários consultam com muita frequência animais que já foram medicados pelos proprietários sem aconselhamento médico-veterinário, 40% frequentemente, 45% ocasionalmente e, apenas, 5% raramente. Segundo os médicos veterinários, 43% dos proprietários assumem sozinhos que “automedicaram” o seu animal, 55% após o médico veterinário insistir na questão e 2% não admitem. Após os proprietários admitirem que automedicaram o seu animal as principais justificações indicadas foram o facto de o medicamente administrado ser eficaz no Homem (61%) ou o mesmo ter sido recomendado na farmácia (59%). Os médicos veterinários participantes referiram o défice de preparação técnica e científica dos profissionais de farmácia no que respeita à saúde animal, considerando fundamental que estes recebam formação nesta área. Segundo os médicos veterinários, os grupos farmacoterapêuticos mais administrados foram os anti-inflamatórios, os analgésicos e os antipiréticos, seguidos dos antidiarreicos, dos calmantes e dos xaropes para a tosse. Ainda neste estudo, 76% dos médicos veterinários referiram que já se depararam, pelo menos uma vez, com situações de agravamento da condição inicial resultantes desta prática, sendo os gatos os animais nos quais estas ocorrem com maior frequência (69%). A maioria dos casos de intoxicação com

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agravamento do estado clínico do animal, uma vez administrado o tratamento adequado, resultou em cura, com ou sem sequelas (46% e 31%, respetivamente) (Pinto, 2012).

Nesse mesmo estudo, foram obtidas respostas de 978 proprietários de animais de companhia, no qual apenas 11% dos inquiridos assumiram já ter medicado os seus animais sem aconselhamento médico-veterinário, sendo que os medicamentos que os proprietários mais referiram ter administrado foram Ben-u-ron®/Panadol® (paracetamol), Ultralevur® (Saccharomyces boulardii), Brufen®/Nurofen® (ibuprofeno) e antibióticos (Pinto, 2012).

6. Dispensa de medicamentos de uso humano e de medicamentos e produtos de uso