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Capítulo II Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária

9. Aconselhamento e dispensa de outros produtos de saúde

A farmácia para além de ter como objetivo promover a saúde e prevenir a doença, permite também a manutenção do bem-estar dos utentes e, portanto, a população procura uma variedade de produtos para satisfazer as mais diversas necessidades que apresenta. Para ir ao encontro dessas precisões existem, assim, disponíveis na FT uma multiplicidade de produtos, entre os quais se encontram os referenciados de seguida.

9.1. Produtos de dermocosmética e higiene

Esta é, de facto, uma área com uma panóplia enorme de marcas, gamas e especificações e, por isso mesmo, numa das quais senti mais dificuldades. Contudo, a possibilidade de contactar com diversos produtos de várias marcas durante o período de estágio e de esclarecer eventuais dúvidas que pudesse ter principalmente com a Dra. Ana Filomena e com a Dra. Ana Rita, bem como as formações a que tive oportunidade de assistir, permitiram-me aprender mais sobre estes produtos de forma a conseguir aconselhá-los no futuro.

Um produto cosmético é “qualquer substância ou mistura destinada a ser posta em contacto com as partes externas do corpo humano (epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos) ou com os dentes e as mucosas bucais, tendo em vista, exclusiva ou principalmente, limpá-los, perfumá-los, modificar-lhes o aspeto, protegê-los, mantê-los em bom estado ou corrigir os odores corporais.” Não incluindo, portanto, produtos destinados a serem ingeridos, inalados, injetados ou implantados no corpo humano.(25)

As marcas disponíveis na FT são Caudalie®, Darphin®, La Roche Posay®, Avène®, Filorga®, Lierac®, Vichy®, Uriage®, A-Derma®, ISDIN®, Phyto®, René Furterer®, Klorane®, Mustela®, podendo verificar-se a existência de uma panóplia alargada de produtos com diferentes indicações tanto para a pele, como couro cabeludo e cabelo para adulto, bem como cosmética de criança e bebé. Cada marca tem gamas direcionadas para diferentes tipos de problemas que podem surgir, como acne, rosácea, eczema, hiperpigmentação, pele atópica, psoríase, dermatite seborreica, tendo em conta os tipos de couro cabeludo, cabelo e fototipo, proteção solar, entre outros. Até mesmo desodorizantes, pastas dentífricas, vernizes, maquilhagem e tintas para o cabelo. Os produtos de higiene íntima também são muito solicitados, tendo sempre em conta o pH adequado para cada tipo de situação e as gamas específicas para crianças.

9.2. Produtos dietéticos para alimentação especial

Integram uma categoria de géneros alimentícios, sujeitos a um processamento ou formulação especial, com vista a satisfazer as necessidades nutricionais especiais dos pacientes e para consumo sob supervisão médica. Destinam-se essencialmente a pacientes com condições fisiológicas com necessidades muito específicas (capacidade limitada, diminuída ou alterada em ingerir, digerir, absorver, metabolizar ou excretar géneros alimentícios).(26) Este tipo de

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produtos segue as mesmas regras de dispensa dos medicamentos, sendo que no caso da prescrição ser eletrónica materializada ou manual, têm de ser prescritos isoladamente. Existe uma lista(27) dos produtos dietéticos com caráter terapêutico, encontrando-se nesta um dos produtos que tive a oportunidade de ver dispensar, Fenilcetonúria - PKU 1, tendo em consideração que a fenilcetonúria se traduz na dificuldade de metabolização da fenilalanina e que o seu diagnóstico precoce e início de tratamento antes do primeiro mês de vida evita sequelas, é essencial a utilização destes produtos e a comparticipação associada a alguns deles, tendo em conta o local onde são prescritos e os protocolos associados.(28)

Embora na FT não exista um ampla gama destes produtos, esta consegue responder em tempo útil às solicitações dos mesmos pelos utentes. Os casos mais recorrentes foram para idosos, doentes oncológicos, perda de peso ou outras situações em que seja necessário recorrer a substitutos de refeição, procedendo-se à dispensa de produtos líquidos ou sólidos das marcas Resource® ou Fortimel®. Estes têm como finalidade satisfazer as necessidades dos indivíduos desnutridos ou em risco de desnutrição existindo, para isso, produtos hiperproteicos, hipercalóricos e específicos para doentes diabéticos.

9.3. Produtos dietéticos infantis

Como se encontra devidamente documentado e é sabido por toda a população, o leite materno constitui a melhor forma de nutrição para os bebés, dado que possui tudo o que estes necessitam nos primeiros meses de vida. Quando não é possível realizar a amamentação é necessário realizar a substituição com fórmulas específicas. Existe uma elevada requisição destes produtos para suprimir as necessidades nutricionais dos lactentes e bebés. As fórmulas para lactentes são “géneros alimentícios com indicações nutricionais específicas, destinados a lactentes durante os primeiros meses de vida que satisfaçam as necessidades nutricionais dos mesmos até à introdução de alimentação complementar adequada.” Relativamente às fórmulas de transição constituem o componente líquido principal, quando é introduzida uma alimentação complementar adequada de uma dieta progressivamente diversificada nesses lactentes.(29) Existem vários tipos de leite e especificações da sua utilização, nomeadamente “HA” – hipoalergénico, “AR” – antiregurgitante, “AO” – antiobstipante, números que correspondem aos meses de vida da criança e papas com introdução, primeiramente, das isentas de glúten. O farmacêutico e os restantes profissionais de saúde são essenciais para auxiliar a distinção dos diversos tipos e aconselhar o que corresponde às especificações e necessidades do lactente, muitas das vezes após aconselhamento médico. Esta era uma área que desconhecia quase por completo, contudo após me serem explicadas as diferentes categorias que existem o aconselhamento ficou mais facilitado.

9.4. Fitoterapia e suplementos nutricionais

Existe uma variedade enorme relativamente a estes produtos disponibilizados nas farmácias. Tanto em termos de condições a que estão associados, bem como para cada uma destas existe

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uma panóplia enorme de variedades. A regulamentação dos mesmos ocorre através do Decreto- Lei n.º 118/2015 de 23 junho, que altera o Decreto-Lei n.º 136/2003 e a entidade responsável pela definição, execução e avaliação dos critérios a que estes têm de obedecer é a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), sendo a fiscalização assegurada pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).

“Os suplementos alimentares são considerados géneros alimentícios, ainda que apresentem algumas especificidades, como a forma doseada e destinarem-se a complementar ou suplementar uma alimentação normal. Não são medicamentos e, por isso, não podem alegar propriedades profiláticas, de prevenção ou cura de doenças, nem fazer referência a essas propriedades. Destinam-se a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal não devendo ser utilizados como substitutos de um regime alimentar variado. Podem conter um leque bastante variado de substâncias nutrientes e outros ingredientes, designadamente vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos gordos essenciais, fibras e várias plantas e extratos de ervas.”(30) De notar que os suplementos nutricionais são cada vez mais solicitados pelos utentes e aconselhados pelos médicos, algo que pude comprovar durante o período de estágio. É, por isso, imperativo que os profissionais de saúde tenham formações nesta área e que se mantenham continuamente atualizados, dada a importância de correlacionar os medicamentos que o doente já toma com estes suplementos e produtos naturais que poderão apresentar interações significativas, ao contrário do que os utentes pensam.

9.5. Medicamentos de uso veterinário

São “toda a substância ou associação de substâncias, apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em animais ou dos seus sintomas, ou que possa ser utilizada ou administrada no animal com vista a estabelecer um diagnóstico médico-veterinário ou, exercendo uma ação farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas”, de acordo com a alínea av) do Artigo 3º do Decreto-Lei n.º 314/2009, de 28 outubro.(31)

De acordo com o Artigo 72º do Decreto-lei n.º 148/2008, de 20 de julho(32), os medicamentos veterinários são classificados quanto à dispensa em: Medicamentos não sujeitos a receita médico-veterinária; Medicamentos sujeitos a receita médico-veterinária e Medicamentos de uso exclusivo por médicos veterinários.

Os principais produtos de uso veterinário dispensados na FT destinam-se à desparasitação interna ou externa de animais domésticos em diversas formulações (comprimidos, pastas orais, soluções para pulverização) bem como pipetas e coleiras, entre os quais se destacam algumas marcas como Advantix®, Frontline®, Scalibor®, Strongid®, Tenil Vet®. Também são solicitadas as pílulas anticoncecionais como Pilusoft® e ocorre a dispensa de Terramicina® para animais de maior porte. Também solicitada é a vacina para a prevenção da doença hemorrágica em coelhos. As questões a serem realizadas pelos profissionais prendem-se com o objetivo

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pretendido, a espécie, tamanho e peso do animal, tendo em conta quais são os medicamentos não sujeitos a receita médico-veterinária, dado que são esses que podem ser dispensados neste caso. A forma de utilização e conservação dos mesmos também deve ser indicada, bem como outras informações relevantes tendo em conta o tipo de produto dispensado.

9.6. Dispositivos médicos

É definido como “qualquer instrumento, aparelho, equipamento, software, material ou artigo utilizado isoladamente ou em combinação, incluindo o software destinado pelo seu fabricante a ser utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos e que seja necessário para o bom funcionamento do dispositivo médico, cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora a sua função possa ser apoiada por esses meios, destinado pelo fabricante a ser utilizado em seres humanos para fins de: i) Diagnóstico, prevenção, controlo, tratamento ou atenuação de uma doença; ii) Diagnóstico, controlo, tratamento, atenuação ou compensação de uma lesão ou de uma deficiência; iii) Estudo, substituição ou alteração da anatomia ou de um processo fisiológico; iv) Controlo da conceção”.

A classificação dos dispositivos médicos (classes I – baixo risco, IIa – baixo médio risco, IIb – alto médio risco e III - alto risco) é realizada tendo em conta os potenciais riscos associados à sua utilização e os possíveis incidentes dado o funcionamento, duração, invasão e anatomia afetada pelo contacto com o dispositivo.(33) Uma das formas de identificar os dispositivos médicos é através da marcação CE, considerando as exceções legisladas. A recorrente dispensa de dispositivos médicos em farmácia comunitária e a enorme variedade destes criou a necessidade de categorizar e listar os diferentes dispositivos.(34) Existiram introduções posteriores de dispositivos para diagnóstico in vitro, destinados aos testes rápidos de determinadas infeções, que não se encontram disponíveis na FT.

Os dispositivos para os quais verifiquei uma maior dispensa foram fraldas para incontinência, meias de compressão, pulsos e joelheiras elásticas, algodão hidrófilo, ligaduras, compressas, pensos, adesivos oclusivos, termómetros, testes de gravidez, tiras-teste para determinação da glicémia, lancetas, entre outros. Sempre que necessário acompanha-se a dispensa das indicações necessárias para a correta utilização destes dispositivos.

10. Outros cuidados de saúde prestados na