• Nenhum resultado encontrado

5.1 Limitações

Uma limitação associada à maior parte dos estudos deste tipo é o viés de memória, dado que se está a inquirir sobre um período anterior. Para limitar esta influência o estudo foi conduzido relativamente ao período dos três meses antecedentes e não ao de seis ou doze meses, que é o mais comum questionar-se. Adicionalmente, pode ocorrer o facto da amostra em estudo não representar bem o todo e, portanto, ser difícil de generalizar. Apesar do tamanho da amostra ser relativamente pequeno foi considerado suficiente para assegurar a representatividade da população a que o questionário se dirigia. Poderá existir, ainda, influência da época do ano em que se realiza o questionário, daí a necessidade de mais estudos noutros períodos.

A existência de outras amostras, constituídas por outros cursos de saúde, por exemplo, teria sido interessante para comparar a percentagem de automedicação obtida em cada um deles. Sendo assim, não pode existir generalização para estudantes de outros cursos, mesmo que apresentem características socioculturais semelhantes às dos inquiridos neste estudo. Outra limitação está relacionada com o conhecimento por parte dos estudantes de que se tratava de um estudo científico e, sendo os inquiridos da área da saúde, poderão ter respondido o que é mais correto fazer e não o que realmente praticaram, contudo é algo que não se consegue controlar e está subjacente a este tipo de investigação.

5.2 Abordagens a realizar para melhorar a prática de

automedicação

A definição de estratégias e programas a realizar deve ter por base os fatores e determinantes que influenciam os jovens estudantes universitários a automedicarem-se, dado que esse é o cerne da questão para conseguir alterar comportamentos. Perceber quais as suas motivações e fatores que influenciam a realização dessa prática é essencial para determinar quais as abordagens que podem ser implementadas.

Tal como designado por Quintal et al.(33) na Acta Farmacêutica Portuguesa de 2015, é necessário conhecer o perfil dos utilizadores dos MNSRM, para que as campanhas a serem realizadas se adequem ao público-alvo. Dado que, para além de existirem maiores suscetibilidades de problemas em certos grupos populacionais, as suas dúvidas relativamente aos medicamentos também são diferentes (dependendo do nível de conhecimento que possuam na área da saúde), a adaptação é sempre essencial. Para que ocorra esta adaptação é necessário proceder ao estudo da implementação desta prática em diferentes grupos da sociedade (incluindo aqueles que são considerados mais vulneráveis/população de risco), o que tem vindo a ser realizado nos últimos anos.

59

A educação da população em geral fica, muitas vezes, a cargo dos profissionais de saúde e, portanto, estes devem participar ativamente no controlo da prática de automedicação, dado que este é um problema real que não pode, de todo, ser ignorado.(34) O acompanhamento do tratamento farmacoterapêutico dos utentes, por parte dos profissionais, diminui a incidência de automedicação, dado que estes estão mais alerta para a possível solicitação de outros medicamentos e conseguem intervir nesses casos.(36)

A consciencialização e educação acerca das implicações da automedicação, bem como, dos prós e contras associados, poderia proceder-se nas escolas/universidades para os estudantes (sendo que, para os futuros profissionais de saúde é imperativa esta instrução) e através da comunicação social para as várias faixas etárias.(12) Seria interessante ponderar a inserção da abordagem destes conceitos no plano de estudos de determinada unidade curricular, como considerado por Kanwal et al.(17) Tal pode até ocorrer, para que, mesmo os estudantes auxiliem na consciencialização desta prática entre a população (promovendo comportamentos de saúde e minimizando comportamentos de risco), de forma a que, no futuro, exista uma maior prática de automedicação responsável.(50) Pode ocorrer a adoção de políticas mais restritas em termos de cedência dos medicamentos, principalmente dos que necessitam de receita médica e que são vendidos de forma suspensa pela farmácia (dando ênfase à supervisão farmacêutica, para evitar situações de automedicação indevida), bem como, a avaliação de mais medicamentos, por forma, a realizar a reclassificação dos mesmos, caso exista essa necessidade. Alguns estudos sugerem uma regulamentação ainda mais apertada dos produtos de saúde(4) como, por exemplo, a passagem da tutela dos suplementos alimentares para autoridades que regulam os medicamentos e, mesmo, a adoção de políticas de saúde que orientem o uso racional de medicamentos.(36) A transmissão da importância da leitura do FI/RCM, o incentivo da mesma e, em caso de necessidade, procurar o aconselhamento profissional, pode ser um ponto de partida importante neste âmbito, como sugerido por Helal et al.(3)

Além disso, a junção da regulação da publicidade aos medicamentos (com a tentativa de restrição ou, pelo menos, evitar o incentivo ao consumo sem necessidade) com o adequado aconselhamento e a educação sobre saúde pública, pode trazer benefícios significativos. Deverá, também, promover-se a notificação espontânea de reações adversas sentidas aquando da realização de automedicação, demarcando a relação que existe entre utente-médico- farmacêutico, para que exista confiança por parte dos utentes para falar abertamente com qualquer um dos profissionais acerca destas questões ou serem eles mesmos a reportar. A capacidade de interação e transmissão da informação entre o médico e os profissionais da farmácia é uma mais valia no sistema de saúde, permitindo que o contributo de todos auxilie da melhor forma a saúde dos utentes. Assim, o desenvolvimento da comunicação entre os profissionais é uma abordagem que deve continuar a ser construída de forma a maximizar os benefícios e minimizar os riscos associados à utilização dos medicamentos.

60

5.3 Conclusões

Esta secção destina-se a sintetizar os pontos mais importantes obtidos no estudo realizado sobre a prática de automedicação dos estudantes de Ciências Farmacêuticas. O instrumento utilizado para alcançar o objetivo do estudo foi um inquérito online de autopreenchimento. A amostra obtida pode considerar-se representativa dos alunos inscritos no curso de Ciências Farmacêuticas no ano letivo de 2018/2019 podendo, assim, extrapolar-se os dados para os estudantes desta área de formação.

A investigação foi então constituída por 385 participantes, com o principal objetivo de obter a prevalência da prática de automedicação nesta parcela da população universitária e no período prévio de três meses, tendo sido obtido o valor de 70,1%. Foi verificado que existe influência do ano de curso na prática de automedicação, sendo que os alunos inscritos no início e no final do curso revelaram percentagens mais elevadas (78,7% e 83,3%, respetivamente) comparativamente ao segundo, terceiro e quarto anos. Interessante foi também perceber a diferença nas fontes de informação a que recorrem os estudantes dos diversos anos, por exemplo, o aconselhamento com familiares e amigos apresentou uma tendência decrescente com o aumento do nível académico e uma tendência crescente foi verificada no uso do conhecimento próprio. Para além do estudo da automedicação, um ponto importante foi a perceção dos princípios ativos mais utilizados pelos estudantes de forma a ter uma ideia da adequabilidade dos mesmos neste tipo de prática.

Como a tendência desta prática tem vindo a aumentar em diversos países, este género de estudos contribui para o aumento do conhecimento acerca da prevalência desta prática em vários pontos do globo, permitindo a realização de comparações e tornando-se preponderante na concretização de intervenções efetivas.

A investigação realizada contribuiu para perceção do enorme trabalho que há ainda por realizar em Portugal acerca deste tema, sobretudo em futuros profissionais de saúde, sendo imperativo a intervenção o mais precocemente possível. Tal, ocorre com vista a que, após receberem formação sob a forma correta de agir, a transmitam aos utentes com quem tenham contacto no futuro. Os farmacêuticos, sendo dos profissionais de saúde mais próximos da comunidade, apresentam capacidades para transmitir informação científica correta, bem como as formas adequadas de agir perante cada situação, incentivando a procura de um profissional especializado caso se adeque.

Em estudos futuros, poderá ocorrer a exploração deste tema noutras áreas das ciências da saúde ou com outros cursos que estejam a formar profissionais de saúde ficando, assim, abertas as possibilidades de novas investigações nesta área, dado que, apenas procurando o conhecimento se consegue intervir para melhorar a saúde das comunidades.

61