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3.3 A BUSCA PELA DEFINIÇÃO DE SUAS FRONTEIRAS MARÍTIMAS

3.3.4 Um acordo inovador

A Comissão fez a primeira convocação em janeiro de 2017182, para explorar as posições de ambos os países em relação a definição da fronteira marítima no Mar de Timor.

Em 30 de agosto de 2017183, durante as reuniões de conciliação em Copenhagen, o Timor-Leste e a Austrália alcançaram um acordo inovador. Esta data

181 COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em

<https://pcacases.com/web/sendAttach/1868>. Acesso em 13.01.2019

182 COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em

<https://pcacases.com/web/sendAttach/2049>. Acesso em 13.01.2019. COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-

Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em <https://pcacases.com/web/sendAttach/2053>.

Acesso em 13.01.2019.

183 COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em

tem significado histórico para o Timor-Leste, uma vez que marcou o 18º aniversário do referendo que levou à decisão de independência do Timor-Leste.

Além de delimitar a fronteira marítima permanente, o acordo de Copenhagen iniciou negociações sobre campo de gás do Greater Sunrise, visando o estabelecimento de um Regime especial para o desenvolvimento do empreendimento, abrindo um novo caminho para o desenvolvimento dos recursos e arranjos para compartilhamento das receitas resultantes da exploração.

Na sequência, Timor-Leste e Austrália continuaram a negociar ao longo de setembro e outubro para redigir as disposições do novo Tratado, o que refletiria no Tratado de Copenhagen, chegando a um Acordo em 30 de agosto de 2017. Em data de 13 de outubro de 2017184, os Agentes de ambos os Estados rubricaram o texto final do Tratado em Haia.

Paralelamente às negociações do Tratado, Timor-Leste e Austrália começaram as negociações com as empresas internacionais no Greater Sunrise Joint Aventure sobre o desenvolvimento do Greater Sunrise.

Foram seis rodadas de negociações trilaterais que ocorreram de novembro de 2017 a fevereiro 2018185, até conclusão final do acordo com o estabelecimento de um Regime Especial a exploração do campo de gás Greater Sunrise e de um caminho para o desenvolvimento e partilha da receita dele proveniente entre os governos de Timor-Leste e Austrália, sendo que os dois governos acordaram, ainda, a assinatura do novo acordo em Nova Iorque, na presença do Secretário Geral da ONU186, o que ocorreu no dia 6 de março de 2018187.

184 COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em

<https://pcacases.com/web/sendAttach/2242>. Acesso em 13.01.2019.

185 Histórico extraído de <http://www.gfm.tl/wp-content/uploads/2018/03/16383-MBO-Factsheet-

March-2018_v2.pdf>.

186 COUR PERMANENTE D'ARBITRAGE. NOTA DE IMPRENSA. Conciliação entre a República Democrática de Timor-Leste e a Comunidade da Austrália. Disponível em

<https://pcacases.com/web/sendAttach/2296>. Acesso em 13.01.2019.

187 GABINETE DAS FRONTEIRAS MARÍTIMAS. Tratado sobre Fronteiras Marítimas entre Timor- Leste e a Austrália. Disponivel em <http://www.gfm.tl/wp-content/uploads/2018/03/16383-MBO-

Figura 27 - Mapa do Mar de Timor – Fonte: Gabinete de Fronteiras 188.

No entanto, até a presente data, o referido tratado ainda não foi efetivamente ratificado pelos países signatários. Em 06 de março de 2018, a Austrália apresentou o tratado de fronteiras marítimas perante seu parlamento para iniciar o processo de ratificação, através da Ministra de Negócios Estrangeiros189.

Em Timor-Leste, no entanto, a despeito de estar previsto na Constituição da RDTL190 de que é igualmente necessária a ratificação para que um acordo bilateral seja recepcionado e tenha validade na ordem jurídica interna do país, não se conseguiu elementos concretos que autorizem a conclusão de que o Governo tenha sequer começado este processo.

Isso porque, a conclusão do acordo deu-se em meio a uma conturbada crise política que culminou com a dissolução do Parlamento e convocação de novas eleições, causando uma desestrutura ainda mais sensível nas relações de poder no

188 Vide: http://www.gfm.tl/learn/maps/?lang=pt

189 DIÁRIO DE NOTÍCIAS. Governo australiano leva tratado de fronteiras com Timor ao parlamento para ratificação. Disponível em <https://www.dn.pt/lusa/interior/governo-australiano-

leva-tratado-de-fronteiras-com-timor-ao-parlamento-para-ratificacao-9221798.html>. Acesso em 13.02.2019.

190 XIMENES, Cláudio. Constituição da República Democrática de Timor-Leste. 2010. Disponível

âmbito doméstico, não tendo sido possível, até o momento, uma definição interna das bases para o novo Governo.

Além disso, a condição de oposição política entre a Presidência da República e o Governo – estimulada, em especial por Xanana Gusmão, que foi o negociador chefe por Timor-Leste no processo que culminou com o referido acordo – torna ainda mais sensível e crítico seu debate no âmbito do Parlamento Nacional.

Neste contexto, até o momento atual, o acordo firmado ainda não foi internalizado em nenhum dos países parte do processo, não tendo por hora eficácia e validade no âmbito dos sistemas domésticos.

4 ANÁLISE DAS CONSEQUÊNCIAS POLÍTICAS INTERNAS E INTERNACIONAIS DO ACORDO CELEBRADO

O caso em análise tornou-se emblemático por ser o único, até agora, de conciliação obrigatória entre Estados na história da CPA, configurando assim um marco na história da referida Corte, um paradigma de ampliação dos métodos de soluções pacíficas de conflitos em casos complexos.

Contudo, considerando as diferentes condições políticas e econômicas entre os países, remanescem sem resposta algumas importantes perguntas: por que a Austrália aceitou realizar a conciliação com o Timor-Leste, apesar de sua consolidada hegemonia na região? Por que o processo de conciliação durou tão pouco tempo, considerando que os demais acordos sobre fronteiras marítimas se arrastam por anos em busca de uma conclusão, especialmente se o caso envolve interesses econômicos ou fatores políticos sensíveis?191

Este capítulo empreenderá uma tentativa de analisar o contexto político em que o acordo foi adotado, considerando as discrepâncias de poder entre os países envolvidos, assim como o impacto que a exploração do petróleo poderá produzir na jovem nação do Timor-Leste.