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2 ATIVIDADE ESPACIAL NO BRASIL – VEÍCULOS LANÇADORES

3.3 ACORDOS E TRATADOS ENTRE O BRASIL E A UCRÂNIA

A cooperação espacial com a Ucrânia iniciou-se em 1995, com a vinda ao Brasil do presidente ucraniano Leonid Kutchma. Pouco depois, começou a se estudar a utilização do CLA para lançamentos de cargas-úteis brasileiras,

ucranianas e de outros países. Desde então foram assinados acordos e tratados com vista a consolidar a ideia inicial.

Em 15 de novembro de 1999, o Brasil assina com o Governo da Ucrânia o Acordo sobre Cooperação Científica e Tecnológica31, aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo 199/2001 e promulgado pelo Decreto 7041/2009.

Este acordo visava promover o desenvolvimento da cooperação nos campos da ciência e tecnologia entre ambos os países, com base na igualdade e vantagens mútuas. As formas de cooperação poderiam ser: o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica, com eventual intercâmbio de equipamento e materiais de pesquisa; o intercâmbio de cientistas, pesquisadores, peritos e técnicos para o desenvolvimento de programas, projetos e outras atividades de cooperação científica e tecnológica; a organização e realização de seminários conjuntos e outros encontros de caráter científico e tecnológico; o intercâmbio de informações científicas e tecnológicas; ou qualquer outra forma de cooperação científica e tecnológica a ser acordada entre as Partes Contratantes.

As Partes Contratantes estabeleceriam uma Comissão Mista para Cooperação Científica e Tecnológica, cujos objetivos eram: examinar e aprovar recomendações para promover a cooperação, como prevista no presente Acordo;

elaborar propostas em áreas prioritárias da cooperação científica e tecnológica; e avaliar as atividades de cooperação em curso, com vistas a aumentar sua eficiência, e propor novas áreas de cooperação.

Infelizmente, até o momento este acordo não gerou nenhum resultado.

Não se tem notícias da Comissão Mista e nos dois últimos seminários, realizados em agosto de 2012 e dezembro de 2013, pouco se avançou. O primeiro32 teve como objetivo buscar novas oportunidades de cooperação, mas limitou-se a possíveis parcerias em desenvolvimento de uma plataforma de sondagem para estudos meteorológicos, de microgravidade e, também, para operar como foguete de treinamento dos centros nacionais de lançamento. No segundo33, entre os temas apresentados estavam o desenvolvimento de veículos lançadores, complexos de

31 A íntegra do Acordo está disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7041.htm>. Acesso: 14 ago. 2014.

32 Notícia sobre o seminário está disponível em:<http://www.aeb.gov.br/brasil-e-ucrania-avaliam-novas-oportunidades-de-cooperacao-na-area-espacial/>. Acesso: 14 ago. 2014.

33 Notícia sobre o seminário está disponível em:< http://www.aeb.gov.br/empresa-ucraniana-promove-seminario-sobre-a-area-espacial-em-sao-paulo/>. Acesso: 14 ago. 2014.

lançamento e satélites. Porém, como ação somente a instalação de um escritório de representação da empresa ucraniana Yuzhnoye no Parque Tecnológico de São José dos Campos.

Em 16 de janeiro de 2002, o Brasil assina com o Governo da Ucrânia o acordo sobre Salvaguardas Tecnológicas Relacionadas à Participação da Ucrânia em Lançamentos a partir do CLA34, aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo 766/ 2003 e promulgado pelo Decreto 5266/04.

O objetivo deste Acordo é evitar o acesso não autorizado de tecnologias relacionadas com o lançamento de Veículos de Lançamento, de Espaçonaves, por meio de Veículos de Lançamento Espaciais ou Veículos de Lançamento, e Cargas Úteis por meio de Veículos de Lançamento a partir do Centro de Lançamento de Alcântara e a transferência não autorizada dessas tecnologias. O Acordo não permite e o Governo da Ucrânia proíbe que os Participantes Ucranianos prestem qualquer assistência aos Representantes Brasileiros no concernente ao projeto e desenvolvimento de Veículos de Lançamento, Equipamentos da Plataforma de Lançamentos, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins, a menos que tal assistência seja autorizada pelo Governo da Ucrânia.

Confrontando os termos desse acordo com o PNAE 2005-2014 encontram-se diversos conflitos, entre os quais merece destaque o das orientações estratégicas do PNAE que não foram seguidas, pois o acordo Brasil-Ucrânia não prevê transferência de tecnologia e, portanto, não haverá domínio de tecnologia espacial, nem do centro de lançamento, nem do veículo, pois ambos são projetos ucranianos e, conforme Artigo 5º, parágrafo 1º, o Acordo não permite e o Governo da Ucrânia proibirá que os Participantes Ucranianos prestem qualquer assistência aos Representantes Brasileiros no concernente ao projeto e desenvolvimento de Veículos de Lançamento, Equipamentos da Plataforma de Lançamentos, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins. Logo, não aportarão no país tecnologias estratégicas por deferência de terceiros.

Em 21 de outubro de 2003, o Brasil estabelece com a Ucrânia o Tratado sobre Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos

34 A íntegra do Acordo está disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5266.htm>. Acesso: 14 ago. 2014.

Cyclone-4 no CLA35, aprovado pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo 776/2004 e promulgado pelo Decreto 5436/2005.

O objetivo do Tratado, Artigo 2º, é definir as condições para a cooperação de longo prazo entre as Partes sobre o desenvolvimento do Sítio de Lançamento do Cyclone-4 no Centro de Lançamento de Alcântara, e a prestação de serviços de lançamento para os programas nacionais espaciais das Partes, assim como para clientes comerciais.

Este último Tratado criou, Artigo 3º, a Alcântara Cyclone Space, uma joint venture binacional brasileiro-ucraniana, entidade internacional de natureza econômica e técnica, com sede em Brasília, responsável pela operação e pelos lançamentos do VLC-4 do CLA, regida por seu Estatuto.

A especificação dos deveres das partes, Artigo 5º, estabelece que o Brasil desenvolverá a infraestrutura geral do CLA, segundo as exigências técnicas em termos de infraestrutura geral necessárias para lançar o VLC-4, e que a Ucrânia desenvolverá o VLC-4, suas unidades e montagens, realizará seus testes integrados, desenvolverá capacidades de fabricação, e produzirá o modelo de injeção elétrica de combustível do Cyclone-4 para testes e o primeiro modelo de voo de qualificação.

O mesmo Artigo 5º estabelece que as partes manterão uma política coordenada em matéria de certificação de equipamento espacial, a fim de garantir a segurança e a qualidade dos lançamentos dos componentes mutuamente fornecidos do SLE Cyclone-4.

Da discussão anterior, e conforme pode ser constato da documentação apresentada, toda a cooperação entre o Brasil e a Ucrânia se resume ao empreendimento Cyclone-4, uma atividade puramente comercial, conforme reforçam os especialistas entrevistados (Anexos 1, 2, 3 e 4), na qual os parceiros Brasil e Ucrânia, possuindo, o primeiro uma localidade geograficamente privilegiada para lançamentos espaciais, e o segundo um projeto de veículo lançador de satélites com base em uma família de lançadores com histórico de sucesso, decidem formar uma empresa para explorar o pretenso rentável mercado internacional de lançamento de satélites.

35 A íntegra do Tratado está disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5436.htm>. Acesso: 14 ago. 2014.

Este empreendimento vai de encontro à maioria dos objetivos das políticas publicas brasileiras para o setor espacial e sangra os escassos recursos do PEB, causando impacto no desenvolvimento de lançadores nacionais alinhados ao PNDAE, política espacial e PND, conforme corroboram os especialistas entrevistados (Anexos 2, 3 e 4). O foguete Cyclone-4, ainda em desenvolvimento, enfrenta dificuldades de certificação junto Organismo Certificador Brasileiro (OCE) brasileiro, conforme determina o Regulamento Geral da Segurança Espacial36 da AEB, como já informado à AEB em diversos pareceres técnicos do OCE37, em função do, até o momento, desconhecido processo de certificação espacial ucraniano e do próprio acordo de salvaguarda que impede o acesso a informações técnicas do projeto Cyclone-4, embora este aspecto (certificação de propulsores a propelente líquido) seja um dos poucos pontos em que pode haver ganho para o Brasil, conforme afirmam os especialistas entrevistados (Anexos 1, 3 e 4).

O empreendimento Cyclone-4 impede ainda, a implementação das estratégias ENCTI e END, pois o sangramento dos recursos financeiros inviabilizam os meios de progressão dos projetos de lançadores nacionais, além de influenciar politicamente as implementações das estratégias.

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