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1.8 Direitos não Reservados

1.8.11 Acréscimo Previsto no art 467 da CLT

Afirma o art. 467 da CLT que em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de 50% (cinqüenta por cento).

O empregado doméstico não conta com este direito, que está assente na CLT. O entendimento jurisprudencial segue neste sentido:

DA MULTA DO ART. 467 E 477 DA CLT. Inaplicáveis os artigos 467 e 477 da CLT, quando se trata de empregado doméstico. (Ac. da 2ª T. do TRT da 4ª R., RO 96.021221-3 / 1996, Rel. Juiz José Alceu Marconato, J. 17-2- 1998, DOE/RGS, 16-3-1998).

EMPREGADO DOMÉSTICO. EMENTA - O art. 7º, § único, da CF de 1988, ao estender à categoria dos empregados domésticos diversos direitos atribuídos aos trabalhadores em geral, não incluiu nenhuma disposição referente a percentuais in natura, dobra salários retidos ou multa por atraso no pagamento de verbas resilitórias, não se lhes aplicando, por conseqüência, os dispositivos correspondentes da CLT. (arts. 458, § 3º, 467 e 477). (Ac. da 3ª T. do TRT da 1ª R., RO 19477 / 1995, Rel. Juíza Nídia de Assunção Aguiar, J. 29-4-1998, DORJ, 4-6-1998).

2.1 Conceito

A Lei n. 5.859/72 não traz um conceito expresso de quem vem a ser empregador doméstico. Podemos deduzir a contrario sensu que empregador doméstico é a pessoa ou a família que recebe de empregado doméstico a prestação de serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa para o seu âmbito residencial.

O Decreto n. 71.885, de 9 de março 1973, que regulamenta a Lei n. 5.859/1972, no seu art. 3º, II, define empregador doméstico como a pessoa ou família que admita a seu serviço empregado doméstico.

A Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre a organização da Seguridade Sócia, traz no seu art. 15, II que empregador doméstico é a pessoa ou família que admite a seu serviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico.

O Decreto n. 3.048, de 6 de maio de 1999, que aprovou o Regulamento da Previdência Social, em seu art. 12, II, considera como empregador doméstico aquele que admite a seu serviço, mediante remuneração, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico.

2.2 Singularidades

O empregador doméstico tem algumas particularidades que o diferenciam dos demais empregadores:

Apenas a pessoa física pode ser empregador doméstico, não sendo possível à contratação de doméstico por pessoa jurídica, mesmo que o serviço venha a ser prestado para o âmbito residencial de um de seus sócios, diretor ou terceiros, sendo o trabalhador regido, neste caso, pela CLT.

Julgados neste sentido:

TRABALHO DOMÉSTICO. DESCARACTERIZAÇÃO. Só se qualifica como doméstico o trabalho realizado no âmbito residencial. A execução de funções semelhantes, ligadas aos serviços de copa, cozinha, faxina, quando desenvolvida em função de uma empresa dá ao empregado a qualificação dos demais. 2. Princípio da continuidade. Entendimento. Negado o vínculo, milita em favor do empregado, como decidido com acerto, a presunção do rompimento sem causa do contrato. (Ac. Da 8a T. do TRT da 2ª R., RO01 05103-2002-902-02-00-1/ 2002, Rel. Juiz José Carlos da Silva Arouca, J. 29-4-2002, DOE/SP, 14/5/2002).

EMPREGADO DOMÉSTICO CONTRATADO POR PESSOA JURÍDICA. IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONDIÇÃO MAIS BENÉFICA. O empregado contratado por pessoa jurídica para trabalhar no âmbito residencial de pessoa física tem o contrato regido pelas disposições da CLT, em face da aplicação do princípio da condição mais benéfica. Além disso, não é possível que pessoas jurídicas contratem empregados domésticos. (Ac. da 10ª T. do TRT da 2ª R., RO 02496 / 2004, Rel. Juiz José Ruffolo, J. 13-2-2007, DOE/SP, 6/3/2007)

Há acórdão em sentido inverso:

VÍNCULO EMPREGATÍCIO DE NATUREZA DOMÉSTICA - ADMISSÃO COMO ZELADORA PELA EMPRESA - TRABALHO EM RESIDÊNCIA DO PROPRIETÁRIO DA RECLAMADA - CONFIGURAÇÃO. Tendo a reclamante sempre prestado serviços domésticos na residência do proprietário da reclamada, a qual inexistia finalidade lucrativa, não obstante ter sido a autora admitida pela empresa para trabalhar como zeladora, não há como negar a natureza doméstica à relação de emprego vivenciada pelas partes, ancorada no princípio da primazia da realidade, restando indevidas as horas extras pleiteadas. Sentença mantida por maioria (Ac. do TP do TRT da 24ª R., RO 1318 / 1996, Rel. Juiz David Balaniúc Júnior, J. 24-10-1996, DJ-MS, 2-12-1996, p. 52)

A lei, quando trata da família como um dos beneficiários diretos da prestação do serviço domestico, o faz num sentido amplo, compreendendo todas as pessoas que vivam na mesma residência, independente dos laços que as unam. Podem ser os cônjuges, filhos, netos, tio e sobrinhos ou irmão e primos, assim como um grupo de pessoas que partilhem de uma convivência em comum.

É o que ocorre numa residência ou apartamento ocupado por estudantes universitários (“república” de estudantes), que necessitam de uma pessoa que faça comida, lave roupas e cuide da casa. O mesmo ocorre em relação a pessoas que não tenham parentesco entre si, mas necessitem de alguém que faça os serviços domésticos. Apesar de o grupo não ser uma família, pois cada membro não tem parentesco com os demais integrantes do grupo, será considerado empregado doméstico o trabalhador que prestar serviços, até porque o serviço é prestado para pessoas, além de não deixar

de ser uma espécie de situação que envolve a reprodução da vida familiar.

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Qualquer membro da família pode ser o empregador e assinar o contrato de trabalho e não apenas a mulher, como é mais comum acontecer.

RELAÇÃO DE EMPREGO - DOMÉSTICA. O fato de residirem várias pessoas de uma mesma família no âmbito doméstico onde a empregada presta seus serviços não implica em que cada membro seja um empregador distinto, com distintos contratos de trabalho. O empregador, no caso, é único, ou seja, a família. A reclamação trabalhista, entretanto, deve ser ajuizada por quem, efetivamente, admitiu e assalariou a empregada, independentemente de outros familiares supervisionarem os serviços domésticos prestados. (Ac. 3ª T. do TRT da 3ª R., RO 20229 / 1999, Rel. Juíza Cristiana Maria Valadares Fenelon,j. 24-5-2000, DJMG, 20-6-2000, p. 14).

O que distingue o empregador doméstico dos demais empregadores é o fato da execução da atividade laboral pelo doméstico ser para o âmbito residencial, e a destinação dessa atividade não poder ter por intuito uma finalidade lucrativa. O entendimento que se deve ter por âmbito residencial, é extensivo, compreendendo também o sítio, a chácara, a casa de campo ou de praia da família, ou seja, todas as propriedades residenciais do empregador, mesmo que sua ocupação seja transitória.

RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO PRIMEIRO RECLAMADO. RELAÇÃO DE EMPREGO (EMPREGADO DOMÉSTICO). Os requisitos expressos no art. 1º da Lei nº 5.859/72 - prestação de serviço em âmbito doméstico e com finalidade não lucrativa ao empregador e família - devem ser demonstrados por prova robusta e cabal, em face ao caráter restritivo da referida norma. Recurso desprovido. (Ac. da 5ª T, do TRT da 4ª R., RO 00668-2006-012-04-00-9 / 2006, Rel. Juiz Berenice Messias Correa, j. 11- 10-2007, DOE/RGS, 23-10-2007)

O fato de o empregado doméstico realizar seu trabalho fora do âmbito residencial não descaracteriza essa situação [de doméstico], como ocorre com o motorista [cujo labor se desenvolve fora da residência], com a própria empregada doméstica que vai ao banco pagar contas do patrão ou vai à feira, ao supermercado, ao sapateiro etc. 64

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MARTINS, Sérgio Pinto. Manual do trabalho doméstico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 45.

TRABALHADOR DOMÉSTICO - MOTORISTA: É trabalhador doméstico o motorista que presta serviços ao contratante e a toda a família deste. Não se trata de pessoa inserida na empresa onde o contratante é o sócio. A expressão “no âmbito residencial destas”, usada pela lei, deve ser entendida em termos. Doméstico não é só a pessoa que faz serviços dentro da casa do contratante. (Ac. da 4ª T. do TRT da 2ª R., RO 01 02940251309 / 1994, Rel. Juiz José de Ribamar da Costa, J. 13-2-1996, DOE/SP, 1-3-1996).

2.3 Equiparação Jurisprudêncial

A jurisprudência tem equiparado ao empregador doméstico as “repúblicas” de estudantes e a sociedade de fato formada por moradores de uma rua, quando contrata um vigia noturno.

EMPREGADA DOMÉSTICA – REPÚBLICA DE ESTUDANTES - Responsabilidade Solidária. Restando demonstrado que todos os membros da república usufruíram da prestação de serviços da obreira, a responsabilidade é solidária, podendo a empregada se voltar contra qualquer um dos obrigados. (Ac. da 3ª T. do TRT da 3ª R., RO 2543 / 1999, Rel. Juiz José Eustáquio de Vasconcelos Rocha, j. 15-9-1999, GJMG, 9- 11-1999, p. 11).

VIGIA DE RESIDÊNCIAS. RELAÇÃO DE EMPREGO. O trabalho do guarda noturno que presta serviços a vários moradores de rua residencial reveste-se de natureza doméstica. (Ac. da 5ª T. do TST, RR 326953 / 1996, Rel. Juiz Convocado Darcy Carlos Mahle, j. 15-9-1999, DJ, 17-12- 1999, p. 379).

No entanto, também existe entendimento jurisprudencial em contrário:

ENQUADRAMENTO. VIGIA NOTURNO DE RUA. Os serviços de vigia noturno executados pelo autor mediante contratação com os moradores de uma rua não se enquadram na modalidade da relação de emprego doméstico. Trata-se de trabalho realizado em prol de um condomínio informal e, por esse motivo, o trabalhador deixa de ser doméstico e passa a figurar em um dos pólos da relação de emprego tutelada pela CLT, por aplicação analógica da Lei 2757, de 23 de abril de 1956, que incluiu na sua esfera normativa "os porteiros, zeladores, faxineiros e serventes de prédios de apartamentos residenciais, desde que a serviço da administração do edifício e não de cada condômino em particular. (Ac. da 2ª T do TRT da 3ª R. 00223 / 2004, RO Rel. Juíza Alice Monteiro de Barros, j. 22-6-2004, DJMG, 30-6-2004, p. 12).

A sucessão trabalhista na relação de emprego doméstico ocorrerá sempre que houver uma substituição do empregador sem a ruptura na continuidade da prestação do serviço pelo empregado.

Lembremos que o contrato de trabalho com o empregado pode ser firmado por qualquer membro da família, mas o empregador permanece sendo único, ou seja, a família. Dessa forma, não será necessário um novo contrato de trabalho, quando:

a) o contrato de trabalho que começa com a mãe, passa para a filha, morando as duas na mesma residência;

b) falecendo o empregador, o doméstico permaneça prestando serviços para os herdeiros que moravam na mesma casa;

Havendo dois empregadores diferentes, deve ser realizada a rescisão do contrato de trabalho para a formalização de um novo, como por exemplo, quando:

a. o contrato de trabalho que começa com a mãe, passa para a filha, morando as duas em residências distintas;

b. falecendo o empregador, o doméstico permanece prestando serviços para os herdeiros que não moravam na mesma casa;

c. o empregador doméstico sai da sua residência, vendendo-a para um terceiro, que fica com o seu empregado.

Martins (2002, p. 48) cita a hipótese de o empregado comum ser dispensado por seu empregador e logo em seguida ser admitido como doméstico para desempenhar as mesmas funções de motorista que exercia anteriormente na empresa, não só levando e buscando seu patrão, mas também fazendo serviços pertinentes a empresa. No caso, há fraude, pois o empregado está perdendo certos

direitos trabalhistas que o doméstico não possui, entre eles o FGTS – em caráter obrigatório. O contrato, in casu, será um só regido pela CLT. 65

1. CONTRATO DE TRABALHO. 2. CONTRATO DE TRABALHO COM EMPRESA, DE MOTORISTA QUE PRESTOU SERVIÇOS NA CASA DO SÓCIO. Sem prova de que a contratação se deu pelo sócio, diretamente e que o trabalhador tinha ciência de que seria empregado doméstico, prevalece o contrato com a empresa, pois não provada a simulação relativa com benefício para o empregado, sendo devidas às horas extras. (Ac. da 3ª T. do TRT da 2ª R., RO01 02950458674 / 1995, Rel. Juíza Maria de Fátima Zanetti Barbosa e Santos, J. 15-4-1997, DOE/SP, 29-4-1997)

2.5 Representação em Juízo

A representação do empregador doméstico em audiência deve ser, preferencialmente, por quem contratou o empregado, assinando a sua carteira de trabalho.

À luz da Súmula n° 377 do TST, havendo o ajuizamento de reclamação trabalhista e não sendo possível ao empregador comparecer a juízo, é possível sua substituição por qualquer pessoa da família.

Súmula n° 377. Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado. Inteligência do art. 843, § 1º da CLT.

A esse respeito encontramos os seguintes acórdãos:

PREPOSTO. EXIGÊNCIA DA QUALIDADE DE EMPREGADO. Exceto quanto à reclamação de empregado doméstico, o preposto deve ser necessariamente empregado do reclamado. Inteligência do art. 843, § 1º da CLT. Recurso de Revista de que não se conhece. (Ac. da 5ª T. do TST, RR 303848 / 1996, Rel. Ministro Gelson de Azevedo, j. 24-2-1999, DJ, 12- 3-1999, p.237).

PREPOSTO NÃO EMPREGADO. EFEITOS DA CONFISSÃO. A representação do reclamado por preposto não empregado, importa na confissão ficta do mesmo, já que o representante do empregador deve ser, necessariamente, empregado, salvo em se tratando de empregado doméstico, consoante a Orientação Jurisprudencial nº 99 da SDI do C. TST. (Ac. da 3ª T. do TRT da 15ª R., ROS 025654 / 2000, Rel. Juiz Domingos Spina, j. 3-9-2001, DOE/SP , 3-9-2001)

2.6 Dupla Atividade

Caso o trabalhador preste seus serviços, tanto no âmbito residencial do empregador como em empresa de propriedade deste, ficará descaracterizada a relação de trabalho doméstico, ou de acordo com as circunstâncias, caracterizada estará a existência de dois vínculos distintos de emprego.

EXISTÊNCIA DE DOIS CONTRATOS DE TRABALHO - A utilização dos serviços de empregado doméstico em benefício de empreendimento empresarial configura a existência de contratos de trabalho sucessivos e de natureza diversa, devendo, pois, as pessoas física e jurídica responderem, solidariamente, pela condenação imposta. Recurso a que se nega provimento. (Ac. da 3ª T. do TRT da 10ª R., RO 3041/2000, Rel. Juíza Cilene Ferreira Amaro Santos, J. 2-5-2001, DJU/DF, 1-6-2001, p. 59).

2.7 Isenção Fiscal

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