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2.2 DIVERSIDADE DOS MICRORGANISMOS DO SOLO

2.2.2 Actinomicetos

Os actinomicetos são bactérias gran-positivas que constituem um grupo de microrganismos com características intermediárias entre fungos e bactérias. A maioria deles tem seu nicho ecológico na zona aeróbica do solo (superfície e horizontes inferiores, composto, lama fluvial e fundo de lago) e, especialmente,em ambientes de pH altos; são da classe Schyzomycetes, juntamente com as bactérias. Assim, o termo actinomiceto não tem significado taxonômico e, por isso, eles são classificados como bactéria da Ordem

produzirem um fino micélio ramificado que se fragmenta formando esporos assexuais - os conidiosporos (PELCZAR et al., 1980).

Os actinomicetos também são muito diversos morfologiamente, variando de micrococus, bastões pleomórficos, filamentos ramificados e ciclos de vida que combinam ou não com estas formas. Apresentam-se nos solos em forma filamentosa com hifas finas de 0,5 –1,32 μ de diâmetro. Como produz substâncias voláteis com cheiro rançoso característico, é fácil detectar sua presença no solo quando são mexidos. Os esporos podem apresentar-se sob diversos tipos, como os artrosporos (Streptomyces), zoosporos (Spirillospora,

Actinoplanes) e endosporos (Thermoactinomyces), sendo produzidos nas hifas,

esporângios e vesículas (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002). As hifas ou filamentos assemelham-se morfologicamente às hifas dos fungos, mas de diâmetro muito reduzido, isto é, 0,5 a 2,0 μm (SIQUEIRA; FRANCO, 1988). Em relação à biomassa microbiana total, os actinomicetos contribuem de forma similar às bactérias. As transformações bioquímicas no solo são menores que as dos fungos e das demais bactérias (ALEXANDER,1980). Esses microrganismos aparecem no solo numa densidade populacional de 104 a 108 unidades g-¹ de solo, sendo inferiores somente às bactérias (SIQUEIRA; FRANCO,1988).

As hifas dos actinomicetos podem variar de curtas e rudimentares até bastante ramificadas, podendo penetrar no substrato ou viver aereamente. A reprodução é feita por fragmentação de hifas ou esporos (endo ou exo). Esses esporos são de vários tipos, como os artrosporos, zoosporos, esporângios e vesículas. Alguns gêneros possuem micélios aéreos e são procarióticos. Como ocorre com os fungos, nos actinomicetos superiores, o micélio se ramifica de forma extensa, e diversas espécies possuem micélio aéreo e conídio, além disso, em cultura líquida não é turvo como acontece com as bactérias, mas em aglomerados (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).

Os subgrupos de actinomicetos importantes que podem ser encontrados no solo, segundo The Prokariotes (1991), citado por Moreira e Siqueira (2002) são:

a) Nocardiaceae: decompositores da matéria orgânica e patógenos; b) Frankiaceae: formadores de nódulos radiculares;

c) Micromonosporaceae: são esporos formados em micélio no substrato, o seu crescimento ocorre entre 20°C-40°C;

d) Streptomicetaceae: crescem bem em entre 25°C e 35°C, produzem pigmentos e/ou antibióticos e são encontrados de forma abundante no solo; e) Thermosporaceae: o seu crescimento ideal é na faixa de 37°C-50°C,

aparecem em estercos, compostos e folhas apodrecidas e excretam diversas enzimas extracelulares termoestáveis;

f) Cellulomonadaceae: degradam a celulose;

g) Arthrobacter: ocorrem em temperatura de 25°C a 30°C, são abundantes no solo, versáteis nutricionalmente, pois degradam herbicidas, pesticidas e outras moléculas sintéticas, sendo que algumas moléculas geram fitohormônios

A maior parte dos actinomicetos é heterotrófica e, por isso, dependem de nutrientes orgânicos, ou seja, fontes de carbono orgânico. Segundo Siqueira e Franco (1988) este carbono é encontrado nas moléculas simples e complexas de ácidos orgânicos, polissacarídeos, lipídeos, proteínas e carbonos alifáticos, como a quitina. Enquanto que, Alexander (1980) relata que as populações de fungos e bactérias diminuem no solo por ocasião da escassez de nutrientes e materiais orgânicos, pois são fracos competidores.

Uma das características dos actinomicetos é a produção de enzimas extracelulares que degradam macromoléculas complexas muito encontradas nos solos: caseína, amido, húmus, celulose e lignocelulose. Também é comum a síntese e excreção de milhares de metabólitos, como é o caso da geosmina, que é responsável pelo cheiro característico da terra molhada. Além destes, os actinomicetos produzem a estreptomicina e o antibiótico antibacteriano. A espécie do gênero Streptomyces é capaz de produzir antibióticos com inúmeras propriedades: anti-bacteriana, antifúngica, antiviral, antitumor, antiparasítica, inseticida e controladora de plantas daninhas (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).

A maioria dos actinomicetos possui o nicho ecológico na zona aeróbica do solo. A fixação biológica de N2 é mediada neste grupo pelo gênero Frankia, que faz simbiose com plantas de oito famílias botânicas (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002).

A acidez do solo (pH) ou da serapilheira é um fator limitante para a maioria dos actinomicetos. A faixa de pH considerada boa para a sua sobrevivência está entre 6,5 a 8,0, sendo 5,5 o pH limitante (TSAI; ROSSETTO, 1992). Mas há também aqueles adaptados a solos ácidos, ou seja, pH 3,5 (KHAN; WILLIAMS, 1975).

Considerando a profundidade, são mais numerosos no horizonte A. Á medida que se aprofunda no perfil do solo ocorre redução da população, mas podem ser encontrados em grandes profundidades. Por outro lado, em alguns solos, os actinomicetos aumentam com a profundidade, o que se pode supor é que tenha havido carreamento de conídios pela água ou a um efeito diferencial de O2 ou CO2 sobre eles. No horizonte C, as contagens podem variar de 104 a 105 UFC g-¹ de solo (unidade formadora de colônia por grama de solo). Solos úmidos e bem arejados são propriedades que levam os actinomicetos a se desenvolverem melhor. Tornam-se mais ativos em períodos de seca, numa escala em que as bactérias dificilmente conseguem atingir (BRADY, 1983).

As transformações no solo pelos actinomicetos são: degradação de substâncias em geral não decompostas por fungos e bactérias, como fenóis, quitina e parafinas, ou seja, decomposição dos resíduos resistentes de animais e vegetais; degradação da celulose e proteínas com pequena imobilização de nitrogênio, formação de húmus pela decomposição da matéria orgânica nos compostos da fração orgânica do solo; decomposição em alta temperatura de composto, esterco; produção de antibióticos atuando no equilíbrio microbiano; fixação do nitrogênio pela simbiose com vegetais superiores como a Casuarina,

Alnus e Myrica. Também há indícios de que 75% dos actinomicetos do gênero Streptomyces isolados do solo produzem antibióticos, fazendo com que sejam

agentes de controle biológico de fungos e bactérias fitopatogênicos (FREIRE, 1975) .

As populações de actinomicetos cultivadas em ágar são de fácil reconhecimento após incubação longa, o que não acontece quando ainda são jovens. O crescimento em cultura líquida não se torna turvo como nas bactérias, entretanto formam aglomerados (MOREIRA; SIQUEIRA, 2002). Antes de esporularem constitui-se apenas de um organismo, um micélio derivado de uma

única unidade propagativa. Sobre cultivos de ágar, alguns apresentam populações firmes e aderentes. No caso de solos, quando isolados, é comum ocorrerem populações opacas e logo abaixo da superfície, ao emergir, são muito parecidos com as comunidades bacterianas, porque se apresentam lisas e brilhantes, mas, logo a seguir, tornam-se pulverulentas e pigmentadas, quando são produzidos os esporos aéreos (FREIRE, 1975).