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Activação do desenvolvimento psicológico e a forma como se lida com o distúrbio de stresse pós-

CAPÍTULO III – ACTIVAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E O

1. Activação do desenvolvimento psicológico e a forma como se lida com o distúrbio de stresse pós-

Activar implica instigar e estimular o desenvolvimento humano nos seus diferentes estádios ou fases de desenvolvimento. Pretende-se, deste modo, fazer o sujeito reflectir sobre si mesmo, sobre as suas condutas, e sobre a sua intervenção na comunidade em que está inserido, tornando-se actor e autor consciente do seu próprio desenvolvimento.

Segundo Tavares (1993), o desenvolvimento psicológico constitui uma das dimensões do desenvolvimento humano que se constrói baseando-se no desenvolvimento físico, biológico, linguístico, social, entre outros. Apresenta-se como um processo e como um produto decorrente, por um lado, de um determinado património hereditário dos sujeitos envolvidos e, por outro, dum ambiente detentor (ou não) de oportunidades e recursos estimulantes. Nesta perspectiva, a construção do eu depende não só dos factores intrínsecos e extrínsecos, mas também da acção que o indivíduo exerce sobre estes mesmos factores.

Desta forma, fica evidente a complexidade do desenvolvimento humano, nomeadamente na sua dimensão psicológica caracterizada por aspectos de natureza cognitiva, afectiva e tomada de posição do eu.

A activação do desenvolvimento psicológico do indivíduo não pode ser separada da sua constituição biológica e física. Os estudos efectuados nestas áreas têm revelado conclusões muito interessantes, dado que reforçam que qualquer processo de activação de desenvolvimento psicológico deverá ter na sua base o ser humano na sua totalidade, um ser unitário (Buber, cit in, Tavares, 1995). Para que a activação seja mais eficaz é necessário um maior conhecimento da parte física e biológica do ser humano. Desta forma a qualidade de vida do sujeito começa a ser uma das preocupações dos políticos e representantes da comunidade mundial.

Os componentes de natureza psicológica no processo de activação do desenvolvimento psicológico são outro pressuposto primordial para o desenvolvimento do

ser humano. Nesta dimensão intervém a parte afectiva, a cognitiva e a vontade (querer) do sujeito. Cada uma destas partes pode intervir mais ou menos no processo de activação.

Na dimensão afectiva estão incluídas as emoções, paixões e sentimentos que fazem parte do ser humano. Em todas as suas actividades esta dimensão está sempre presente, podendo a sua influência ser positiva, negativa ou indiferente. No entanto os estados afectivos subentendem conhecimento, consciência de algo ou de alguém (Tavares, 1995).

As áreas da cognição e da metacognição são também muito importantes no comportamento humano. Segundo Tavares (1995), o conhecimento é uma actividade segundo a qual o indivíduo assimila, acomoda e equilibra o mundo que o envolve. Tendo na base este conhecimento, o sujeito resolve as situações problemáticas com que se depara e adapta-se à realidade da vida. Neste nível o sujeito está a trabalhar a nível cognitivo. A metacognição subentende uma reflexão do indivíduo sobre a sua actividade cognitiva, com o intuito de compreender e identificar o seu funcionamento quando está a conhecer.

A tomada de decisão é a expressão mais alta da actividade humana quando é efectuada de uma forma consciente, responsável, autónoma e livre (Tavares, 1995).

Nos componentes de natureza axiológica estão integradas distintas ordens de valores, tais como éticos, artísticos, políticos, científicos, pedagógicos, físicos, biológicos e psicológicos, entre outros. O desenvolvimento e a activação estão desta forma dependentes dos valores da pessoa em questão. O factor idade também influenciará esta dimensão, dado que as diversas etapas da vida se reflectem mais numa ou noutra dimensão desta área.

Os componentes de natureza social e contextual têm também, um papel muito importante no processo de activação do desenvolvimento psicológico. Segundo Ortega y Gasset (1995, cit in Tavares, 1995) o ser humano em particular deve ser considerado ele e as suas circunstâncias.

A dimensão linguística também deve de ser tida em conta em todo este processo, dado que o homem é um ser comunicador. A linguagem assume um papel significativo no processo de comunicação pois permite ao indivíduo exprimir a sua personalidade nas diversas dimensões (Tavares, 1995).

Assim, todo e qualquer processo de activação do desenvolvimento psicológico terá que abarcar, de uma forma ou de outra, todas as dimensões descritas anteriormente.

Tavares (1995) defende que o processo de activação do desenvolvimento psicológico tem quatro elementos principais: os indivíduos e os seus estádios de

desenvolvimento, as tarefas ou actividades a desenvolverem, os conhecimentos a obter e os contextos biológicos, psicossociais e físicos.

Como foi referido no capítulo 1, o desenvolvimento do ser humano adulto pode ser explicado com bases em diversas teorias. Uma delas defende o seu desenvolvimento através de estádios. Para que o processo de activação do desenvolvimento psicológico seja desencadeado de uma forma eficaz e eficiente é importante conhecer o papel que o sujeito desempenha em cada uma das fases ou etapas.

As actividades a realizar constituem outro dos pontos importantes na activação do desenvolvimento psicológico. As actividades podem ser percepcionadas como tarefas que o indivíduo tem de realizar, de solucionar para se adaptar à realidade e se desenvolver. As tarefas podem ser mais ou menos específicas e mais ou menos complexas. Para que o desenvolvimento se possa efectuar deve existir adequação entre o grau de dificuldade das tarefas e as capacidades do sujeito.

Assim, os conhecimentos são outro factor de activação, pois o indivíduo necessita de conhecimentos adequados para a execução de diversas tarefas. É importante ter noção de que conhecimentos e que nível de abstracção são necessários para efectuar determinada tarefa só assim o processo de activação do desenvolvimento psicológico estará facilitado.

Os contextos físicos, biológicos e psicossociais também desempenham um papel importante na activação do desenvolvimento psicológico. A atmosfera que envolve o processo de activação deve ser facilitadora da construção, da produção e desenvolvimento de conhecimentos bem como do desenvolvimento pessoal, social e profissional do indivíduo envolvido (Tavares et al, 1999).

Ao longo da vida, nas diferentes fases de desenvolvimento, o indivíduo é exposto a uma diversidade de experiências, que pela sua intensidade, se constituem como desafios de vida, activando as suas competências para a resolução das situações emergentes e, em especial, das potencialmente traumáticas.

Reconhecendo ao próprio indivíduo a capacidade de apreender e aprender com as suas vivências, é determinante a importância das crises e acontecimentos de vida enquanto promotores do desenvolvimento. O indivíduo é o próprio actor na construção da sua vivência, integrando as diferentes situações no seu self e potenciando as suas aprendizagens. Por exemplo, a vivência do luto (como uma consequência de um acidente

rodoviário ou de outra origem) é por si só uma experiência petrificadora, que desencadeia no indivíduo sentimentos até então incompreendidos. Porém este conflito quando devidamente resolvido activa o desenvolvimento do sujeito que o vive. Ao longo da vida, são diversos os acontecimentos, bem como os conflitos que experimentamos, porém é na sua resolução que encontramos as formas de vivência mais salutares.

Contudo, nem sempre o próprio indivíduo é capaz de integrar as suas experiências, mantendo-se em estagnação na crise ou conflito que vivência. Um exemplo disto é a manifestação do distúrbio de stress pós-traumático. São nestes casos determinantes os processos de ajuda específicos, com técnicos especializados que permitem ao sujeito ultrapassar as suas perturbações emocionais.