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Intervenção psicoterapêutica em adultos com o distúrbio de stresse pós-traumático

CAPÍTULO III – ACTIVAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO E O

2. Intervenção psicoterapêutica em adultos com o distúrbio de stresse pós-traumático

O processo de psicoterapia potencia a activação do desenvolvimento psicológico, visto permitir ao indivíduo a mudança de comportamentos, crenças e atitudes que, tendo em conta a sua situação de vida, são inadequadas e pouco adaptativas. Desta forma, através dos vários métodos psicoterapêuticos, o indivíduo adquire/mantém condutas de vida mais eficazes que lhe permitem alcançar o equilíbrio psicológico duma forma mais célere.

O tratamento do distúrbio de stresse pós-traumático pode ser psicofarmacológico, psicoterapêutico ou misto. No presente trabalho abordar-se-ão apenas os vários métodos e técnicas de intervenção psicoterapêuticos.

O objectivo principal das intervenções psicoterapêuticas é focalizar a atenção da vítima na situação traumática, auxiliá-la a superar as emoções negativas e a reestruturar a sua existência (Vaz Serra, 2003).

Segundo Yehuda (2002), durante a década passada foram desenvolvidas e avaliadas diversas formas de intervenção psicológica para o distúrbio de stresse pós-traumático. O modelo de intervenção congitivo-comportamental foi o que revelou um maior interesse a nível de investigação pelos resultados apresentados em termos de eficácia. Contudo, existem outros modelos de intervenção que também são eficazes no tratamento deste distúrbio.

No que diz respeito à terapia cognitivo – comportamental serão apresentados de uma forma resumida o método de exposição, o treino do manejo da ansiedade, o treino de distracção, a técnica de auto-afirmação e a técnica de paragem do pensamento.

O método de exposição tem como objectivo auxiliar o indivíduo a confrontar objectos, memórias, situações e imagens que estão ligadas a situação traumática e que passaram a evocar um medo intenso e irreal. A exposição pode ser efectuada de duas formas: in vivo ou em imaginação. Se o indivíduo estiver muito traumatizado, relatando pesadelos e pensamentos intrusivos relacionados com o acontecimento traumático, este método pode não ser o mais aconselhável, pelos níveis de stresse que induz (Vaz Serra, 2003).

As técnicas do treino de manejo da ansiedade têm como objectivo ensinar ao indivíduo estratégias específicas para usar quando se encontrar ansioso. Este treino realiza- se ao longo de cinco a oito sessões, onde o sujeito aprende a controlar o seu estado emocional através do relaxamento ou de outras técnicas acessórias. Com este método o indivíduo é capaz de identificar os primeiros sintomas fisiológicos e cognitivos do início da ansiedade. Ao longo das sessões experimenta um aumento no controlo do seu estado e, posteriormente, é capaz de aplicar os seus conhecimentos a acontecimentos da vida real (Vaz Serra, 2003).

A técnica de distracção tem como objectivo treinar o sujeito na identificação dos indícios da sua ansiedade de modo que quando ocorram essas situações, ele desenvolva actividades que o auxiliem na distracção daquilo que está a sentir. Estas actividades devem-se manter até que ocorra uma diminuição do nível de tensão emocional. Desta forma, a ansiedade não adquire proporções desorganizadoras do comportamento do indivíduo (Vaz Serra, 2003).

O treino da auto-afirmação faz com que o indivíduo evite acontecimentos desagradáveis em que se pode sentir ansioso. Como é possível verificar não tem como objectivo principal lidar directamente com a ansiedade. Este treino é útil quando o sujeito se sente pouco capaz de expressar as emoções, desejos e opiniões junto de outros (Vaz Serra, 2003).

A técnica de paragem do pensamento tem como finalidade suprimir os pensamentos irrealistas, não produtivos e/ou invocadores de ansiedade. Estes impedem a execução de um comportamento ambicionado ou principiam uma sucessão de comportamentos disfuncionais.

A terapia cognitiva, segundo Howes e Vallis (1996, cit in Vaz Serra, 2003), é uma abordagem fenomenológica que dá importância não só ao que ocorre na sessão terapêutica,

mas também às actividades que decorrem nos intervalos destas. É uma forma de psicoterapia breve, o psicoterapeuta é directivo e activo e a relação terapêutica progride através da cooperação empírica que é possível constituir.

Esta terapia tem em consideração três níveis de funcionamento cognitivo, segundo os autores acima referidos, designadamente o conteúdo cognitivo, os processos cognitivos e as estruturas cognitivas.

Como esta terapia parte do princípio de que não é a situação em si mas a interpretação que o sujeito faz dela que determina o seu estado emocional, tem como objectivo a correcção dos pensamentos disfuncionais subjacentes á perturbação psíquica.

A terapia cognitiva é outro método de intervenção terapêutica recomendado neste distúrbio quando o sujeito expressa sentimentos de culpabilidade, distanciamento dos outros, perda de interesse pelas situações de vida e anestesia afectiva. Contudo, segundo Barbara Rothbaum (2000, cit in Vaz Serra, 2003) este método deve ser considerado mais a nível complementar do que como um processo terapêutico auto-suficiente.

Outro tipo de intervenções psicoterapêuticas no distúrbio de stresse pós-traumático é o reprocessamento e dessensibilização pelos movimentos oculares (EMDR – eye movement dessensitation reprocesseing) e a hipnose.

O reprocessamento e a dessensibilização pelos movimentos oculares foram

desenvolvidas por Francine Shapiro (1995, cit in, Gouveia et al, 2003) e é uma das mais recentes propostas de intervenção terapêutica para o distúrbio de stresse pós-traumático. Com esta técnica procura-se que o sujeito relembre uma cena relacionada com uma situação traumática, focalizando a sua atenção na cognição que a acompanha e o estado de activação vegetativa que acarreta, enquanto o terapeuta move os seus dedos e pede ao paciente que siga os movimentos destes.

Esta série é repetida até que a ansiedade se atenue. Neste momento, é pedido ao sujeito que gere um pensamento positivo seleccionado anteriormente em relação à situação, enquanto volta a mais uma sessão de movimentos oculares.

A mudança de imagem, cognições, emoções, sons ou sensações relacionadas com a memória traumática são considerados indicadores favoráveis. Os movimentos sacádicos dos olhos têm como finalidade a abertura de todos os canais de associação de recordações que a imagem pode acarretar. O processo continua até não existirem novas associações,

emoções, imagens, sensações ou cognições e se observe que as unidades subjectivas de desconforto baixaram para zero.

No final de cada sessão o objectivo ideal é que o indivíduo tenha baixado para zero as unidades subjectivas de desconforto e tenha aumentado para sete a crença relativa à veracidade do pensamento positivo associado com a situação.

Em relação é eficácia desta técnica, Vaz Serra (2003) refere que existem algumas limitações teóricas neste método, mas os estudos empíricos confirmam resultados positivos com a aplicação desta técnica, revelando ser uma técnica prometedora.

No tratamento deste distúrbio tem sido utilizada a hipnose. Diversos estudos nesta área referem resultados favoráveis com a sua utilização. A utilização desta técnica facilita a recordação do acontecimento traumático, induzindo, ao mesmo tempo no sujeito um estado de relaxamento que auxilia a que a situação em causa seja vivenciada sem ansiedade, facilitando desta forma o processo de cura (Vaz Serra, 2003).

Ainda que hoje em dia se elejam os métodos da terapia cognitivo – comportamental como preferenciais para o tratamento deste distúrbio, a hipnose, especialmente nos casos em que o indivíduo desenvolve fenómenos dissociativos, é eficaz.

O tratamento psicofarmacológico é necessário quando o indivíduo, a nível da sua personalidade, manifesta traços marcados de desconfiança ou de dependência. Este tratamento num distúrbio de stress pós-traumático tem como finalidade a diminuição dos sintomas centrais, reduzir as incapacidades, promover a qualidade de vida do sujeito, ampliar a resistência ao stress e diminuir a comorbilidade (Ballenger et al., 2000, cit in, Vaz Serra, 2003). Quanto maior for a reactividade e o nível de perturbação que o sujeito expressa, mais aconselhável é a utilização deste tratamento. Quando se registar uma recuperação satisfatória, esta terapêutica pode ser diminuída ao longo do tempo, até à extinção total.

Capítulo IV - A sinistralidade rodoviária em Portugal como