• Nenhum resultado encontrado

LISTA DE TABELAS

2. SISTEMAS LACUSTRES VULCÂNICOS

2.3. Lagos Vulcânicos dos Açores

2.3.1. Actividade Vulcânica Associada a Lagos nos Açores

A génese dos lagos no Arquipélago dos Açores está associada à actividade vulcano-tectónica que deu origem à formação das ilhas. A este respeito, Santos (1989) refere “…embora por todo o lado se constate a existência de crateras, a que

localmente se dá o nome de «caldeiras» (as maiores são designadas de «caldeirões»). Na sua quase totalidade, encontram-se gastas pela erosão e entupidas, estando algumas ocupadas, desde há muito, por lagoas.”

Os lagos associados a crateras de explosão são os mais representativos nos Açores, uma vez que estão em maior número e, de uma forma geral, apresentam as maiores áreas e profundidades comparativamente aos que devem a sua formação a acidentes de origem tectónica ou que se formaram em depressões do terreno e que encerram pequenos volumes de água.

Como foi referido anteriormente, desde a descoberta e povoamento das ilhas registaram-se 19 erupções vulcânicas nas ilhas de São Miguel, da Terceira, de São Jorge, do Pico e do Faial. Apesar da maioria dos registos existentes serem meramente descritivos, não compreendidos pelo povo e, principalmente, associados à esfera do divino, existem relatos que localizam estes eventos em áreas onde existiam lagos ou que devido às erupções originaram estas massas de água.

Estes fenómenos foram unicamente alvo de descrições empíricas elaboradas por habitantes destas ilhas, portadores de um espírito mais observador e atento aos fenómenos naturais, os quais ultrapassavam a possibilidade de serem compreendidos pelo homem comum, sendo, por isso, sentidos como algo transcendente.

Tabela 2.4. Características de alguns lagos do Arquipélago dos Açores (adaptado de DROTRH-INAG (2001).

Declive Escoamento Volume

BH Plano de da BH superficial Class. máx. med. Class. de água Floresta Pastagem Pastagem Culturas (km2) água (k m2) (º) (m3) DQA (m) (m) DQA (103 m3) produção Intensiva Entensiva diversas Azul 15,35 3,59 36 10524 610 m 24,1 11,1 P 39764 193 410 461 0 26 34 Verde 3,01 0,86 51 2064 260 M 20,3 9,3 P 7996 117 56 39 0 1 0 Santiago 0,8 0,25 548 530 M 29,0 13,3 P Canário 0,16 0,02 99 750 M 3,6 1,6 PP 19 12 1 0 0 0 0 Empadadas (Norte) 0,09 0,02 62 740 M 6,8 3,1 P 37 7 0 0 0 0 0 Empadadas (Sul) 0,07 <0,01 48 750 M 3,0 1,4 PP 5 7 0 0 0 0 0 Caldeirão da V. Grande 0,12 0,01 82 720 M 2,5 1,2 PP 12 1 0 0 0 0 0 Rasa (Serra devassa) 0,11 0,03 75 765 M 0,8 0,4 PP

Rasa (Sete Cidades) 0,17 0,04 117 544 M 4,0 1,8 PP

São Brás 0,33 0,06 226 360 M 2,5 1,1 PP 56 12 0 13 0 0 0 Fogo 5,06 1,43 48 3469 574 M 29,9 13,7 P 18041 61 283 0 0 0 0 Congro 0,24 0,04 165 420 M 18,9 8,7 P 281 5 3 5 0 0 0 Furnas 12,45 1,86 20 8535 280 M 15,0 6,9 P 13592 373 162 462 0 6 0 Capitão 0,18 0,03 11 790 M 4,5 2,1 PP 43 0 3 0 12 0 0 Caiado 0,19 0,05 16 118 810 G 4,8 2,2 PP 90 1 2 0 8 0 0 Negra 0,11 530 M 10,8 5,0 P Comprida 0,48 0,05 12 1270 550 M 18,0 8,3 P 378 0 42 0 0 0 0 Branc a 0,05 530 M 15,9 7,3 P Rasa 0,27 0,10 14 370 530 M 17,5 8,1 P 754 0 16 0 0 0 0 Lomba 0,10 0,02 16 137 650 M 16 7,4 P 143 1 0 0 5 0 0

Profundidade Classificação do solo nas zonas envolventes

Matos Urbanas

Dimensão Lagoa

Altitude (m)

2. SISTEMAS LACUSTRES VULCÂNICOS

O primeiro registo histórico de uma erupção vulcânica nos Açores relaciona-se com a descoberta e povoamento das ilhas. No regresso à ilha de São Miguel, após o reconhecimento da mesma por volta do ano de 1443, com os primeiros colonos, a tripulação não reconheceu a ilha devido à inexistência de um dos picos que tinha sido fixado como referência, o vulcão das Sete Cidades. Aquando da aproximação, também relataram que observaram à superfície da água muita pedra-pomes, madeira, alguma queimada, e que caía na altura cinza (Frutuoso, 1583a); Cordeyro, 1981; Chagas, 1989; Santos 1989).

Após a ocupação da ilha de São Miguel e terem relacionado o desaparecimento do referido pico com a actividade vulcânica, os mesmos navegadores observaram no interior da cratera das Sete Cidades “um vasto deposito d’agua, que

necessariamente iria augmentando pela frequência das chuvas e disposição do terreno, até tornar-se a majestosa lagoa que hoje admiramos” (in Arquivo dos

Açores, Vol. VII).

Estudos recentes, designadamente de Queiroz et al., (1995), relacionam as descrições de uma erupção aquando do povoamento da ilha de São Miguel com o evento que ocorreu no Pico do Gaspar (Caldeira das Furnas) datado por volta de 1439 e 1443. Deste modo, subsiste a dúvida se a subsidência do vulcão das Sete Cidade se deveu a um evento independente ou se ocorreu devido ao tremor vulcânico, originado pela erupção ocorrida no Pico do Gaspar (Madeira, 1998).

Na ilha do Pico, a erupção de 1562 ocorreu junto a uma lagoa e, apesar do escasso relato relativamente à proximidade da lagoa em questão, é interessante o apontamento de Diez et al. (1562): “…y todo al redor de la laguna está lleno de

bocas de fuego…”.

A erupção de 25 de Junho de 1563, no vulcão do Fogo, em São Miguel, ocorreu na Lagoa do Fogo, que se localizava no designado Pico das Berlengas (Alverne, 1961), zona onde existiam, além de duas lagoas, algumas manifestações hidrotermais como se depreende pela descrição efectuado pelo padre José Pereira Bayão: “... A causa deste tremor era que estava um pico muito grande e alto que se

chamava o pico da lagoinha, que tomou este nome por causa de haver no corôa deste pico uma alagoa pequena, e na fralda deste pico está outra alagoa muito

grande; a terra della seria de quatro moios em semeadura. (...) Tinha mais este pico, da banda dònde nasce o sol, uns lameiros pequenos os quaes continuamente lançavam fumo, e se achava enxofre.”

Este evento ocorreu de forma muito violenta, tendo sido observado pela população que habitava as ilhas do Grupo Central, ao qual não é alheio, o facto de ter ocorrido a interacção água-magma, aumentando, deste modo, a explosividade do evento como uma maior fragmentação dos produtos emitidos.

Segundo Frutuoso (1583b), o resultado da erupção, que ocorreu no interior da cratera e foi responsável pelo desaparecimento da lagoa que existia no local, “…fez

um algar mais profundo do que dantes tinha d’altura; e esta é a cinza que ajuntando- se com a agoa da lagoa, que este pico tinha se tornou em polme e chovêo (…) causou os accidentes eclipses do sol e as negras obscuridades quando do dia se fazia noite.”. A 1 de Fevereiro de 1564 ocorre novo episódio, desta vez junto ao Pico

das Berlengas “…assim como dantes era uma grande alagoa, já está também

tornado alagoa muito maior, porque terá duas léguas de comprido e quase um quarto de légua de largo. E cada vez vai mais crescendo.”, sendo evidente que as

erupções contribuíram para o aumento da área actual da Lagoa do Fogo.

Ainda durante esta crise, no dia 2 de Julho de 1563, ocorre uma erupção no Pico do Sapateiro, situado na costa Norte da ilha que, segundo Frutuoso “Houve grandes

estrondos por excluir o elemento água do seu lugar, em que estava, tantas braças como ainda hoje se vê em biscoitos”. No entanto, todo o acervo histórico consultado

e que referencía este evento, com excepção de Frutuoso, nenhum menciona a existência de água neste Pico, o que poderá resultar de uma imprecisão relativamente à lagoa da Lagoínha, situada acima da Lagoa do Fogo, antes de ocorrer esta crise, e dos inúmeros “lameiros” que existiam em redor do vulcão do Fogo.

Em 1630 ocorre nova erupção no vulcão da Furnas, que na época é designada como o cinzeiro devido ao carácter explosivo do evento (Nogueira, 1894), tendo a interação água-magma contribuído decididamente para o índice de explosividade relatado. Apesar do padre Júlio da Rosa (1976) localizar o centro eruptivo na Lagoa das Furna, os testemunhos da época e estudos mais recentes localizam este evento na designada Lagoa Seca, que se situava entre duas lagoas, a “Lagôa barrenta” e a

2. SISTEMAS LACUSTRES VULCÂNICOS

“obscura”, situadas próximo da Lagoa das Furnas e que desapareceram devido a esta ocorrência. No entanto, é notória a interacção que ocorreu entre o magma e a água das lagoas, não só pelos relatos das testemunhas que presenciaram as “…nuvens de fogo que sahiam das alagoas” (Purificação, 1630 in Arquivo dos Açores Vol. II), como pela descrição da coluna eruptiva, constituída por cinza e que era “…uma nuvem espantosa e negra, despedindo, afogueada, de si uns como

raios, relâmpagos e foguetes…”.

Esta erupção, possivelmente a mais violenta que ocorreu nos Açores desde o seu povoamento, teve grande intensidade nos danos ocorridos na ilha provocando à volta de 195 mortos. O tremor vulcânico que precedeu a erupção, com início no dia 2 de Setembro, provocou a destruição do património edificado nas localidades de Povoação e Ponta Garça e, parcialmente, em Vila Franca do Campo. Houve diversos deslizamentos de terra, inclusive na Freguesia da Povoação um deslizamento de terra de “…noventa braças [que] entrou no mar…” (Alverne, 1961).

É possível verificar nos acervos históricos que esta erupção provocou pelo menos um lahar primário que atingiu “O lugar do Fayal com as enchentes de agoa que tudo

arrasou está sem esperança de se poder habitar como dantes” (anónimo in Arquivo

dos Açores, Vol. II, 1980).

O volume de magma expelido pelo evento foi considerável “…eclypsou, e

obscurou tanto a luz do dia, que se não conheciam os homens uns aos outros como em noite escura, e com a muita obscuridão não atinavam com ruas, nem caminhos… era necessário levarem lanternas ao meio dia, como se fora meia noite… (Purificação, 1630 in Arquivo dos Açores, Vol. II, 1980). A cinza que

precipitava da coluna eruptiva caíu durante três dias, subterrando casas e formando espessos depósitos de cinza e pedra-pomes, inclusive por mar dentro, tendo atingido as ilhas das Flores e do Corvo.

Do levantamento histórico efectuado é possível verificar, apesar dos registos bibliográficos não focarem este tipo de eventos com grande rigor, que algumas erupções onde ocorreu o contacto entre a água e o magma se manifestaram com extrema explosividade, nomeadamente a erupção de 1563, na Lagoa do Fogo e a erupção de 1630, na Lagoa das Furnas. Também, para estes dois eventos, após as erupções, formaram-se novos lagos

Documentos relacionados