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Actos indiciadores praticados por grupos terroristas

Capítulo II: Intenção

II. 3. Actos indiciadores praticados por grupos terroristas

Analisadas as intenções dos terroristas, vamos agora debruçarmo-nos sobre os seus actos. Existem indícios ou provas de que alguns grupos terroristas tenham, de facto, tentado adquirir ou utilizar armas nucleares?

II.3.1. Aum Shinrikyo

O líder desta seita religiosa, Shoko Asahara, tinha um verdadeiro fascínio pelas armas nucleares e considerava que uma 3ª guerra mundial era inevitável e estava próxima, a ocorrer entre 1997 e 2001. Numa primeira fase considerava a guerra nuclear como o Apocalipse, mas posteriormente evoluiu para uma visão da guerra nuclear como apenas o elemento desencadeador do Apocalipse. Tentou comprar ogivas nucleares na Rússia em 1992, quando o país se encontrava no caos pós- soviético, mas a tentativa falhou. A opção foi então a de fabricar a bomba directamente, recrutando para o efeito dois cientistas nucleares, um da Universidade de Moscovo e o outro do Instituto Kurchatov de Moscovo. Apesar de não haver qualquer evidência de que estes membros da seita tenham alguma vez colaborado no fabrico de tais armas, o esforço em recrutar cientistas russos associados ao fabrico de armas nucleares, químicas e biológicas foi provado posteriormente. A Aum Shinrikyo possuía um departamento científico com engenheiros, médicos e cientistas que foram empenhados no fabrico deste tipo de armas. Através do conjunto de empresas detidas pela seita, que forneciam uma rede comercial e um disfarce adequado ao tráfico de materiais e equipamentos sensíveis, comprou um sistema de laser industrial e uma mesa para isolamento de vibrações, equipamentos que se destinavam a ser usados para proceder às medições muito precisas do plutónio necessário para a produção de uma ogiva nuclear. Em 1993 a seita comprou um rancho para criação de ovelhas no deserto australiano, onde se dedicou à prospecção e extracção de urânio, numa região bastante rica neste minério. Uma pequena quantidade não especificada de 238U foi

extraída, mas perante as suspeitas levantadas por diversas actividades da seita, as autoridades australianas foram-nas controlando cada vez mais, levando ao abandono do rancho cerca de um ano depois. Porém, antes da partida, a seita ainda teve oportunidade de testar o gás sarin que produzia e que utilizou posteriormente em diversos ataques de índole criminosa e terrorista. Após o ataque com gás sarin no metro de Tóquio em 1995, a polícia encontrou na documentação apreendida diversas referências, projectos de fabrico e planos para compra de armas nucleares (com um orçamento previsto de 15 milhões de dólares), que demonstram a intenção obstinada de adquirir este tipo de armas (Jenkins, 2008: 71 a 77, Lifton, 1999: 193 a 201 e https://en.wikipedia.org/wiki/Banjawarn_Station, acedido em 12 de Janeiro de 2018).

II.3.2 Guerrilheiros tchetchenos

Conforme já referido em II.2.2.1, os guerrilheiros tchetchenos, encabeçados pelo General Dudayev, demonstraram uma intenção persistente e esclarecida de adquirir e utilizar armas nucleares contra a Rússia. Contrariamente à seita Aum Shinrikyo, este grupo dispunha de um conjunto de ex-militares soviéticos com elevados conhecimentos técnicos, científicos e tácticos relativamente ao fabrico, manutenção e utilização de armas nucleares, além dum conhecimento profundo do funcionamento e organização de todo o dispositivo nuclear da ex-União Soviética. Estes conhecimentos eram sem dúvida uma vantagem muito grande.

II.3.3 Al Qaeda

De acordo com Jenkins (2008: 84 a 96), no início da década de 90, Osama bin Laden começou a investigar de que forma poderia comprar uma arma nuclear ou o combustível nuclear necessário para a fabricar e em 1993 designou Mamdouh Mahmud Salim como o seu director do projecto nuclear. Com um orçamento de 1,5 milhões de dólares, Salim tentou comprar HEU mas o projecto falhou porque foi enganado e o que lhe venderam não passava de lixo radioactivo. Várias foram as tentativas da al Qaeda em comprar HEU, mas acabaram sempre da mesma maneira, devido à falta de conhecimentos técnicos e científicos dos seus quadros. Um documento da al Qaeda que se pensa ser de 1994 e capturado pelas tropas americanas no Afeganistão posteriormente, refere como possível fonte de armas nucleares e de combustível nuclear, os grupos criminosos russos. Em 1996, com bin Laden já no Afeganistão, os talibãs tentaram recrutar um cientista russo, mas as autoridades russas impediram a sua concretização. Mais tarde, numa entrevista para a al Jazeera e publicada em 11 de Janeiro de 1999 na revista Time, bin Laden, quando questionado acerca das acusações do governo norte americano de que a al Qaeda estava a tentar adquirir armas nucleares, declarou: “Como eu disse, numa altura em que Israel se encontra a armazenar centenas de ogivas nucleares e de bombas atómicas, e quando os cristãos controlam uma vasta proporção destas armas, isto não é uma acusação mas um facto” (Lawrence, 2008: 72). Em Agosto de 2001, um mês antes do 11 de Setembro, Sultan Bashiruddin Mahmood, engenheiro nuclear paquistanês e director da Divisão de Energia Nuclear da Comissão de Energia Atómica do Paquistão, reuniu-se com Osama bin Laden no Afeganistão onde discutiram pormenores acerca do

programa de armas nucleares da al Qaeda. Após a invasão do Afeganistão, documentos apreendidos pelos militares norte-americanos compreendiam manuais, esquemas, diagramas, registos de reuniões e dossiers de alvos que vieram comprovar aquilo que antes não passava de relatos e especulações: a al Qaeda tinha de facto a intenção de adquirir armas nucleares (Jenkins, 2008). Há, no entanto, que ter em atenção que uma coisa é a intenção e outra, a concretização da mesma. Se não restam dúvidas das intenções da al Qaeda em adquirir armas nucleares, não foi encontrada até hoje qualquer prova de que alguma vez o tenha conseguido.

II.3.4 Daesh

Em julho de 2014, quando os terroristas do Daesh conquistaram a cidade de Mossul, no Iraque, apoderaram-se de cerca de 40 kg de urânio e de outros materiais radioactivos que se encontravam guardados nos laboratórios da Universidade de Mossul. Até hoje, mesmo com a derrota militar do Daesh na Síria e no Iraque, ninguém sabe do paradeiro destes materiais (Fredrik Dahl. Seized nuclear material in Iraq "low grade" - UN agency. Reuters, 10 de Julho de 2014). Também a célula belga do Daesh que efectuou o ataque em Paris, na noite de 13 de Novembro de 2015, utilizou uma câmara de vídeo para vigiar um funcionário do centro de investigação nuclear SCK- CEN, próximo de Mol, e esta acção só foi descoberta meses depois, quando da investigação dos ataques de Paris. Os seus perpetradores, irmãos Ibrahim e Khalid el- Bakraoui, suicidaram-se no ataque de 22 de Março de 2016 ao aeroporto de Bruxelas (Rubin, A. e Schreuer, M., The New York Times de 25 de Março de 2016). O motivo da vigilância não é conhecido mas, uma vez mais, revela o interesse especial do Daesh pela área nuclear.

II.4. Outros factos relevantes