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Adaptação Mental à Doença Oncológica

I. Revisão da Literatura

3. A Doença Oncológica

3.2. Saúde Mental e Psico-Oncologia

3.2.3. Adaptação Mental à Doença Oncológica

Segundo Greer, Moorey e Watson (1989), a adaptação mental ao cancro pode ser definida como a resposta cognitiva e comportamental dada pelo indivíduo perante o diagnóstico de cancro, isto é, como as pessoas doentes percebem as implicações do cancro e as reacções que se seguem, nomeadamente o que o indivíduo pensa e faz para reduzir a ameaça transmitida pela doença. Nordin e Glimelius (1998, cit. in Sá, 2001)

39 salienta a importância da resposta emocional para além da comportamental e cognitiva que a pessoa demonstra perante o diagnóstico e tratamento.

Lazarus e Folkman (1984) defendem que o adjustment a uma situação stressante é influenciada pelas características da situação juntamente com atributos do indivíduo, nomeadamente a avaliação cognitiva pessoal da situação e as estratégias de coping que usa para lidar com a mesma.

Greer, Morris & Pettingale (1979; cit. in Sá, 2001) publicaram um trabalho onde relacionavam a resposta psicológica três meses depois da cirurgia de cancro da mama em 57 mulheres e a sua situação clínica aos 5 anos. As mulheres foram inquiridas sobre como sentiam a natureza e gravidade da doença, e como a sua vida foi por ela afectada; as respostas foram depois categorizadas de acordo com o que foi verbalizado, identificando-se deste modo quatro tipos de estilos de coping: 1) Negação, 2) Espírito de luta, 3) Aceitação estóica e 4) Sentimento de desespero.

A definição de adaptação/ajustamento mental ao cancro difere pelo menos num aspecto da definição de coping de Lazarus e Folkman (1984). O coping é o esforço intencional cognitivo e de comportamento em constante mudança, para manejar uma exigência externa ou interna, que é avaliada como excedendo os recursos do indíviduo, como defende Lazarus (1993; cit. in Sá, 2001); o ajustamento mental pode também incluir reacções emocionais involuntárias a eventos ameaçadores, isto é, a apreciação cognitiva de uma situação que se impõe não é distinta da reacção resultante, como refere McCaul, Sandgren, O´Donnel e Foreman (1999) e Nordin, Berglund, Terje e Glimelius (1999); cit. in Sá, 2001.

Greer e os seus colaboradores adaptaram a entrevista estruturada acima mencionada num questionário de auto-preenchimento chamado Mental Adjustment of

Cancer – MAC – (Greer & Watson, 1987; cit. in Sá, 2001), tendo sido aplicado a 235

doentes em ambulatório com 25 tipos diferentes de cancro, com a condição de estarem informados do diagnóstico, em dois hospitais distintos em Londres. Watson et al. (1988) compilou o processo de avaliação da situação e as respostas de coping num único constructo chamado “Mental Adjustment” que pode ser usado para abordar o perfil das respostas de coping dos doentes com cancro, medindo as respostas cognitivas e comportamentais ao diagnóstico, tendo em conta não todas as respostas mas amplas categorias de estilo de coping previamente identificadas nos estudos de Greer et al.

40 (1979), Pettingale, Morris, Greer e Haybittle (1985), Watson, Pettingale e Greer (1984) e Greer et al. (1989, cit. in Sá, 2001). A escala tem em conta a complexidade das reacções dos doentes, permitindo a atribuição de um valor em cada resposta, bem como a identificação da resposta predominante da pessoa doente, distribuída por cinco categorias:

a) Espírito de Luta – descrito como uma atitude optimista com resposta de coping de confronto, em que a doença pode ser encarada com um desafio e crença de algum controlo sobre o percurso da doença;

b) Desespero – em que o pessimismo do doente é a nota dominante, encarando a doença como uma perda e aguardando um prognóstico inevitavelmente negativo, sem quaisquer possibilidades de controlo sobre a doença, baseando-se numa ausência de estratégias de combate activo da doença; c) Preocupação ansiosa – marcada por ansiedade persistente, por vezes

acompanhada de depressão. O indivíduo nestes casos procura informação de forma compulsiva como resposta comportamental ao cancro, mas tende a interpretá-la de uma forma pessimista. Sendo o diagnóstico a maior ameaça, o prognóstico é incerto, bem como a capacidade de controlar a doença; d) Fatalismo – a pessoa doente vê o diagnóstico como uma ameaça menor com

atitudes de confronto ausentes e serenidade sobre os resultados, verificando- se aceitação passiva;

e) Evitamento – entendido como a recusa do diagnóstico, da palavra cancro, ou admissão do diagnóstico mas negando a gravidade, com visão positiva do prognóstico em que a questão do controlo é irrelevante.

A forte associação encontrada entre controlo emocional e uma atitude de Fatalismo perante a doença, e menor entre controlo da cólera, ansiedade e desamparo, levou Watson, Greer, Rowden, Robertson, Bliss e Tunmore (1991; cit. in Sá, 2001) a defender uma ligação entre controlo emocional, sob a forma de supressão da resposta emocional, particularmente emoções negativas, como uma componente importante do padrão de comportamento tipo C, Fatalismo e desespero e morbilidade psicológica, determinando ainda que uma atitude de Espírito de Luta está associada com uma diminuição da ansiedade e depressão. Outros investigadores encontraram associação entre Espírito de Luta e bem estar emocional, em oposição a atitudes de Desespero e preocupação Ansiosa (Watson et al., 1991; Ferrero, Barreto & Toledo, 1994; Lampic et

41 al., 1994; Nordin & Glimelius, 1998; cit. in Sá, 2001). Nordin e Glimelius (1998) verificaram também que uma atitude de maior confrontação com o diagnostico está associada a maior bem estar emocional, enquanto o evitamento dos aspectos que lembram a doença ou pensamentos intrusos estão assocados a mais distress. Watson et al. (1999) num estudo em pessoas doentes com cancro da mama em estádio inicial, verificaram a existência de um risco aumentado de recaída ou morte nas mulheres com elevada pontuação na dimensão Desespero em comparação com as de baixa pontuação nesta categoria, contudo não encontraram resultados significativos na categoria de espírito de Luta.

Confirmando-se a facilidade de aplicação da escala, os oncologistas poderão identificar características de coping que estão associadas com vulnerabilidade psicológica e distúrbios psiquiátricos particularmente depressivos influenciando a história natural da doença e o tratamento, como sugerido por Ayres et al. (1994), Lampic et al. (1994), Nordin e Glimelius (1998) e Watson et al. (1991, cit. in Sá, 2001).

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