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I. Revisão da Literatura

3. A Doença Oncológica

3.1. Perspectiva Epidemiológica

As doenças oncológicas são uma preocupação da sociedade actual devido à elevada prevalência, morbilidade e mortalidade associada, na população mundial. De facto, segundo a OMS (1995-2000), as doenças do foro oncológico têm sofrido um

30 aumento substancial na sua prevalência e incidência, representando actualmente a segunda causa de morte na maioria dos países Ocidentais, sendo apenas suplantada pelas doenças do foro Cardiovascular (American Cancer Society, 2014).

Anualmente registam-se mais de catorze milhões de novos casos de cancro em todo o Mundo, estimando-se que actualmente mais de trinta e dois milhões de pessoas vivam com cancro (OMS, 2012). A mortalidade por neoplasia já ultrapassou a barreira dos oito milhões de vítimas anuais (OMS, 2012), sendo que nos Estados Unidos da América, uma em cada quatro mortes se deve ao cancro, sendo expectável que 1,665,540 indivíduos venham a desenvolver uma neoplasia no ano de 2014, dos quais 585,720 venham a falecer da doença (American Cancer Society, 2014).

Em Portugal, estima-se que são diagnosticados anualmente entre 40 a 45 mil novos casos de cancro, com um ligeiro predomínio nos doentes do sexo masculino (Pestana, Estevens, Conboy, 2007). Esta incidência de 400 novos casos por 100 mil habitantes por ano é semelhante à registada nos demais países da U. E. e tem vindo lentamente a aumentar, o que pode ser explicado pelo progressivo aumento da esperança média de vida da população (Pain Associates International Network, 2004; cit. in Pestana, Estevens & Conboy, 2007).

À semelhança do registado à escala mundial, também em Portugal se verifica que os tumores malignos representam a segunda maior causa de morte, sendo responsáveis por mais de 20 000 mortes por ano, imediatamente precedidos pelas doenças do foro cardiovascular (Pestana, Estevens, Conboy, 2007). Os dados epidemiológicos sugerem que a mortalidade é mais elevada no homem do que na mulher, sendo os cancros mais mortais os do pulmão, cólon, recto e estômago. Se nos homens portugueses as neoplasias mais frequentes são as do cólon e recto, próstata, pulmão e estômago, na mulher o cancro da mama é aquele que apresenta maior incidência, seguindo-se o do cólon e recto, estômago e útero (Direcção-Geral da Saúde, 2013). Comparando estes resultados com os da U. E., observamos que a taxa de incidência do cancro do estômago em Portugal é mais elevada do que aquela registada em qualquer outro país membro da U. E.

Se avaliarmos a distribuição dos índices de mortalidade por cancro pelos distritos portugueses, podemos constatar diferenças regionais significativas, verificando-se que o risco de morrer de cancro é mais elevado em distritos como Beja,

31 Lisboa, Porto ou Setúbal e menos elevado em distritos como Castelo Branco, Aveiro, Bragança ou Portalegre (Pestana, Estevens & Conboy, 2007).

Apesar do constante confronto com a realidade dos números, pouco se publica sobre os custos económicos, sociais, familiares e até mesmo culturais que esta patologia acarreta para o nosso país. Este desconhecimento sobre as implicações reais que o cancro tem na morbilidade dos doentes vem dificultar muito o combate à doença, não só ao nível do tratamento mas também da prevenção, impedindo que sejam delineadas estratégias de intervenção mais eficazes (Direcção-Geral da Saúde, 2013).

Tendo em consideração os conhecimentos adquiridos, sabe-se existirem alguns factores ambientais que podem estar na origem do desenvolvimento do cancro, como é o caso do tabaco (American Cancer Society, 2014); estes conhecimentos têm permitido desencadear todo um movimento que tenta alertar a população para a importância da prevenção através da adopção de estilos de vida saudáveis (Trindade & Teixeira, 2000), porém sabemos que a relação entre o meio ambiente e o comportamento é também fortemente influenciada e modelada pela personalidade de cada indivíduo, o que por vezes dificulta a mudança de comportamentos (Silva, 2002; cit. in Pestana, Estevens & Conboy, 2007). O estudo da personalidade de cada indivíduo adquire, assim, no campo da Oncologia um papel cada vez mais fecundo e promissor, pois tal como constata Holland (2002), existe uma relação entre alguns factores de personalidade e o surgimento e desenvolvimento de doenças como o cancro. Estas descobertas vieram revolucionar por completo a forma como olhamos para a doença e a saúde, embora muitos ainda não tenham consciência deste facto.

Apesar dos avanços notáveis que se registaram nas últimas décadas sobre a compreensão dos mecanismos biomoleculares que estão na base do desenvolvimento das neoplasias, ainda muito se encontra por desvendar. A comunidade científica afirma que o aparecimento, manutenção e remissão do cancro podem ser influenciados por uma série de factores que ultrapassam condições de índole meramente biomédica, sendo importante encarar esta condição com um carácter multifactorial, através de abordagens multidisciplinares. É importante neste sentido compreender que se por um lado o desenvolvimento e melhoria dos tratamentos actualmente disponíveis no combate ao cancro permitiram um aumento considerável das taxas de sobrevivência, pouco se sabe sobre as consequências psicológicas e sociais que o cancro e esses mesmos tratamentos provocam na qualidade de vida dos doentes, já de si fortemente abalados pelos efeitos

32 psicossociofisiológicos da doença (Ribeiro, 2002; cit. in Pestana, Estevens & Conboy, 2007); de facto começa-se finalmente a compreender que não é possível tratar a doença isoladamente sem considerar o meio sociocultural que envolve o paciente, as suas emoções e cognições pessoais sobre a saúde e a doença (Goleman, 2003, cit. in Pestana, Estevens & Conboy, 2007), existindo um esforço progressivamente maior por parte de alguns técnicos de saúde no sentido de fazerem com que o doente se sinta parte integrante do tratamento, contribuindo assim de forma activa para a sua cura.

Uma visão mais holística do Ser Humano sobre o que representa estar doente e a nova definição de saúde defendida pelo modelo Biopsicossocial vieram colocar novos desafios a todos aqueles que trabalham na área da Saúde (Haynal, Pasini, & Archinaro, 1998; cit. in Pestana, Estevens & Conboy, 2007), tornando-se a Psico-Oncologia um instrumento essencial no acompanhamento e tratamento do doente oncológico, sua família e prestadores de cuidados de saúde (Durá & Hernández, 2002). Embora represente uma área com cruciais contribuições para a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida do doente oncológico e da sua família, verifica-se ainda uma fraca integração da Psico-Oncologia nas unidades de Oncologia, como parte integrante do tratamento médico, correndo-se o risco de privar os doentes oncológicos dos melhores cuidados médicos possíveis (Holland, 2002).

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