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ADAPTAÇÕES PARA A TELEDRAMATURGIA Dos nove romances escritos por Nelson

No documento NELSON RODRIGUES E A LITERATURA DE MASSA (páginas 132-138)

Rodrigues, três foram adaptados para a televisão: O

homem proibido, Meu destino é pecar e Asfalto selvagem. Os

romances rodrigueanos prestam-se muito bem ao formato televisivo de dramaturgia, porque foram produzidos para serem veiculados em série, capítulo a capítulo, como ocorre com as telenovelas e minisséries.

A primeira adaptação de um romance rodrigueano foi feita em 1982, por Teixeira Filho para a Rede Globo de Televisão. A telenovela O homem proibido foi produzida com base na obra homônima de Nelson, e a produção

(...) enfrentou problemas com a censura da época, afinal o autor era uma escolha, no mínimo, inusitada para inspirar uma novela que iria ao ar no horário das 18 horas. Os censores queriam garantir que os diálogos ácidos e amorais característicos de Nelson, suas habituais ideias aberrantes, temas promíscuos e polêmicos – como incesto, traição, bigamia e qualquer outro tipo de ação considerada “perversa” – não fossem veiculados em um horário

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destinado à família (CALLARI, 2012, p. 146).

A estreia da novela só aconteceu um dia depois do previsto, depois que a censura “liberou” a exibição. O primeiro capítulo foi exibido em 02 de março de 1982, e o folhetim estendeu-se até 20 de agosto do mesmo ano, somando 146 capítulos. O elenco era composto por nomes como Lídia Brondi, Elizabeth Savalla, Leonardo Villar, Lilian Lemmertz, Stepan Nercessian, Mira Palheta e Edson Celulari.

A segunda adaptação de um romance de Nelson Rodrigues para a teledramaturgia foi executada por Euclydes Marinho dois anos depois, em 1984. A minissérie Meu destino é pecar, baseada no romance homônimo do autor, foi exibida em 35 capítulos, de 21 de maio a 20 de julho, no horário das 22h.

O famoso triângulo amoroso entre Leninha, Paulo e Maurício era interpretado brilhantemente por Lucélia Santos, Tarcísio Meira e Marcos Paulo, respectivamente. Faziam parte do elenco atores como Nathália Timberg, Nicette Bruno, Osmar Prado e Dionísio Azevedo. Meu destino é pecar foi a nona minissérie exibida pela Rede Globo.

Cinco meses antes da estreia de Meu destino é pecar na Rede Globo, o jornal Última Hora já anunciava a produção, e fazia questão de enfatizar que se tratava de uma adaptação da obra de Nelson.

“Meu Destino é Pecar”, de Suzana Flag – leia-se Nelson Rodrigues – poderá dar sequência à programação de novelas globais, no horário das 10 horas. Mais novela: a adaptação do trabalho de Nelson é de Walter George Durst (ÚLTIMA HORA, 30/12/1983).

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O Última Hora errou apenas no nome do responsável pela obra: não foi Walter George Durst quem adaptou Meu Destino é Pecar para a televisão, mas Euclydes Marinho.

Onze anos se passaram sem que fosse feita uma adaptação para a televisão da obra romanesca de Nelson Rodrigues. Mas em 1995 o “anjo pornográfico” voltou às telas, dessa vez numa adaptação do romance Asfalto

selvagem, levada a cabo por Leopoldo Serran, com

colaboração de Carlos Gerbase. O folhetim possibilitou a produção da minissérie Engraçadinha... Seus amores e seus

pecados, uma das melhores obras televisivas já veiculadas

pela emissora. Contada em duas fases, a minissérie alavancou a carreira das atrizes Alessandra Negrini e Cláudia Raia, que representaram a personagem Engraçadinha na adolescência e na fase adulta, respectivamente.

A obra teve 18 capítulos e o elenco contava com a presença de um corpo de atores que trazia Cláudio Corrêa e Castro, Paulo Betti, Pedro Paulo Rangel, Nicette Bruno, Maria Luísa Mendonça, Hugo Carvana, Mylla Christie e Eliane Giardini. Foi exibida entre 25 de abril e 26 de maio de 1995, no horário das 22h30.

Algumas cenas da história de Engraçadinha precisaram ser cortadas para a exibição na TV, mas a carga de sensualidade inerente ao enredo é muito forte e não faltaram cenas picantes.

Para adaptar a técnica narrativa de Nelson Rodrigues ao formato televisivo, foi introduzido um narrador para descrever o estado interior dos personagens, no modelo de introspecção que Nelson utilizava em seus folhetins. O narrador falava em terceira pessoa, sempre na sua onisciência, o que é próprio da

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obra folhetinesca rodrigueana. A mesma técnica já havia sido utilizada para a minissérie Meu destino é pecar, em 1984. Nesta última, a narração era feita pelo ator Paulo César Pereio; em Engraçadinha, a narração ficou por conta de Paulo Betti – que também atuou na minissérie. A narração para o telespectador já havia sido utilizada em A morta sem espelho (1963), novela escrita e narrada pelo próprio Nelson.

O sucesso de Engraçadinha levou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, n’O Livro do Boni, a incluí-la entre as dez melhores minisséries da Rede Globo de todos os tempos. Na lista, a produção aparece na quinta posição, perdendo apenas para Anos Dourados, Anos rebeldes, O

tempo e o vento e Anarquistas, graças a Deus. Eis o

comentário do autor acerca da minissérie do “anjo”: O Carlos Manga, na época, era o responsável pela área de minisséries e me propôs realizar a Engraçadinha. Disse a ele: “Não dá, Manga, Nelson Rodrigues não dá. Ou vai ficar mutilado ou vamos ter problemas”. Mas ele insistiu: “Eu garanto. Faço forte, mas dentro de limites. Cada cena que eu tiver receio, trago para você ver”. E assim foi feito. Sem qualquer problema. Entre os testes apresentados pelo Manga, escolhi a Alessandra Negrini para fazer a “Engraçadinha” jovem. O elenco, encabeçado pela Cláudia Raia, esteve perfeito, e a direção de Denise Saraceni e Johnny Jardim, com produção e supervisão de Carlos Manga, conseguiu dar a todo o elenco um tom sóbrio e firme que deu profundidade à interpretação (OLIVEIRA SOBRINHO, 2011, p. 360-361).

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Seja como for, em qualquer formato – telenovela ou minissérie –, as obras rodrigueanas rendem excelentes adaptações para a TV. Os diálogos vivos e a descrição de situações e ambientes utilizados pelo autor aproximam-se bastante do modelo teledramatúrgico de contar histórias. As produções rodrigueanas – escritas diretamente para a televisão ou adaptadas para ela – carregam o mesmo grau de expressividade de suas obras escritas. O fato é que, por sua singularidade, por seu estilo inconfundível de fazer literatura, Nelson Rodrigues merecerá sempre um lugar especial no panorama de nossa cultura.

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No documento NELSON RODRIGUES E A LITERATURA DE MASSA (páginas 132-138)