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CAPÍTULO 3 – MÉTODOS E TÉCNICAS

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

3.4.3 Survey

3.4.3.2 Adequação do instrumento

O teste piloto é, segundo Marconi e Lakatos (2003), fase necessária para averiguar e refinar os instrumentos de coleta de dados, visando prever dificuldades. Foi feito com uma porcentagem representativa da amostragem. Essa avaliação foi importante para a pesquisa, visto que as etapas do método quantitativo são formadas pela aplicação de ferramentas que foram usadas em outro contexto, investigando outro estudo de caso e, consequentemente, foi preciso verificar se os termos utilizados na construção do diferencial semântico e nas outras seções se adequavam à realidade desta investigação. Além disso, foi apresentado aos visitantes o questionário tal e qual proposto por FORREST (2014). A primeira versão abrangeu sessões referentes aos aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais da visita.

A partir dessa fase, surgiu a necessidade de reduzir o questionário, uma vez que o tempo médio de repostas a este inicialmente levava de 15 a 20 minutos, ocasionando entregas de questionários incompletos e desistências em participar. Sendo assim, ficou delimitado que esta pesquisa iria investigar os aspectos cognitivos e afetivos da visita, reduzindo o tamanho do questionário apresentado. Foi retirada uma seção que investiga aspectos afetivos da visita, haja vista estes estarem contemplados também em outra seção do mesmo questionário. Também foi retirada da investigação a seção correspondente a etapa de observação da visita. Além disso, foi detectado um grande número de recusas a participar do questionário quando os visitantes eram convidados a participar apenas ao término da visita, alegando falta de tempo. Sendo assim, viu-se a necessidade de mudar a abordagem e partir de então os visitantes do museu foram abordados no hall de entrada e informados sobre a pesquisa no início da visitação ao museu pelos monitores responsáveis pela mediação da exposição, bem como foram convidados a preencher o questionário ao término desta.

O foco desta pesquisa recaiu na inter-relação das características ambientais e de experiência de visita ao espaço interno do museu. Sendo assim, foram extraídas do instrumento proposto por Forrest (2014) as seções que respondem diretamente ao questionamento, desconsiderando, com isso, fontes secundárias de dados para fazer validação dos mesmos. As quatro seções selecionadas dizem respeito à caracterização do espaço físico, às escalas cognitivas da experiência, a 15 dimensões da experiência e os dados demográficos e de descrição da amostra.

A primeira seção, “Atmosfera percebida”, refere-se à percepção que os visitantes têm das características do ambiente de exposição. Assim, uma tabela (Figura 18) contendo termos antônimos complementares é utilizada, compondo uma técnica conhecida como “Escala de

Diferencial Semântico”27, que, segundo Martin e Hanington, “é uma ferramenta linguística projetada para medir as atitudes das pessoas em relação a um tópico, evento, objeto ou atividade, de modo que o seu significado conotativo mais profundo pode ser verificado” (2012, p. 350, tradução nossa). Essa técnica se mostrou adequada, pois permitiu revelar sentimentos a partir de experiências das pessoas e, com isso, cumpre com o objetivo desta pesquisa. A partir dessa fase, foi possível identificar os quatro fatores descritos por Forrest (2014): “Teatralidade”; “Ordem”; “Espacialidade” e “Vibração”.

Figura 18 - Atmosfera percebida

Fonte: Adaptada de Forrest (2014).

A segunda seção, “Escalas cognitivas”, teve o objetivo de medir o engajamento cognitivo do visitante (Figura 19), tendo sido construídas a partir de duas teorias, “Aprendizado por diversão28” (PACKER, 2006) e “Teoria da cognição ambiental29

(KAPLAN, 1987). Essas escalas permitem extrair dos visitantes sua impressão sobre sua própria visita, bem como sobre aspectos de coerência, legibilidade, complexidade, mistérios, mostrando como esses indivíduos percebem os appraisals e formam sentido sobre determinado ambiente. Segundo Forrest (2014), a partir dessas escalas é possível entender como os visitantes navegam fisicamente e conceitualmente pelo espaço de exposição.

A escala é formada por afirmações que permitem o julgamento numa hierarquia de sete pontos que vão de discordar fortemente a concordar fortemente, conhecida como escala Likert (MURATOVSKI, 2016).

27 A escala de diferencial semântico (SDS) foi lançada em 1957 por Charles Osgood, George Suci, e Percy Tannenbaume, publicada no livro The Measurement of Meaning.

28 Learning for fun (PACKER, 2006)

Figura 19 - Exemplo das afirmações das Escalas cognitivas no questionário

Fonte: Adaptado de Forrest (2014).

As afirmações estão agrupadas formando três grupos, i.e., engajamento cognitivo positivo, sobrecarga cognitiva e juízo de valor sobre a percepção de agradabilidade (Quadro 1).

Quadro 1 - Escalas cognitivas Grupo 1 – engajamento cognitivo positivo

O projeto dessa exposição ajuda a despertar o meu interesse. Descoberta/ fascinação e complexidade Este ambiente realmente me convida a explorá-lo. Mistério

Este ambiente envolve todos os meus sentidos. Apelo aos múltiplos sentidos Este projeto da exposição e layout me ajudam a compreender sobre

o tema da exposição. Legibilidade e coerência

Essa exposição oferece muitas opções para escolher. Disponibilidade de escolha

Minha atenção estava focada na exposição. Descoberta/ fascinação

Ás vezes me vi tão entretido que perdi a noção de tempo. Engajamento sem esforço

Grupo 2 – sobrecarga cognitiva

É preciso grande esforço para manter o foco na exposição. Engajamento sem esforço ( reverso) Quando olho em volta no ambiente dessa exposição, não tenho

certeza de por onde começar ou para onde e ir Legibilidade (reverso) É difícil se concentrar em objetos ou displays particulares, porque

há tanta coisa aqui. Complexidade sem coerência

Esta exposição é logicamente apresentada. Coerência

Grupo 3 - Juízo de valor sobre a percepção de agradabilidade

Eu tive uma experiência que valeu a pena nessa exposição. Juízo de valor sobre a percepção de agradabilidade

É agradável passar o tempo neste ambiente Juízo de valor sobre a percepção de agradabilidade

Já a terceira seção do questionário, “15 dimensões da experiência”, é composta por 75 adjetivos para a avaliação da experiência do visitante. Esta apresenta um checklist com um conjunto de termos que permitem múltiplas respostas (Figura 20). O entrevistado é convidado a ler uma afirmação e completá-la assinalando as opções no quadro (MURATOVSKI, 2016). Esse instrumento foi desenvolvido por Packer (2015) 30 e incorporado por Forrest (2014) para complementar a investigação mais atenta aos aspectos afetivos, cognitivos, físicos, espirituais e sociais da experiência de visita à exposição.

Figura 20 – Adjetivos da terceira fase do questionário

Fonte: Adaptada de Forrest (2014).

As 15 dimensões da experiência estão representadas por grupos de adjetivos e estão organizadas da seguinte forma (Figura 21):

30 FORREST(2014) utiliza na sua tese a referência de Packer(2013), um manual não publicado fornecido pela própria autora. Para efeito dessa pesquisa, foi utilizado a referência de Packer(2015) publicada em uma conferência em Chicago e disponibilizada pela autora via e-mail.

Figura 21 - 15 dimensões da experiência

Fonte: Packer (2015, tradução nossa).

Por fim, a quarta seção do questionário, “Dados demográficos e descritivos”, tem por objetivo coletar informações sobre os visitantes para caracterizar a amostra.