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CAPÍTULO 2 – DESIGN DE EXPOSIÇÕES

2.5 CENOGRAFIA, SONORIZAÇÃO E AUDIOVISUAL NA CONSTRUÇÃO DO

De acordo com Meliande:

Exposições temáticas reúnem objetos em torno de uma ótica. A exposição é avaliada pelo conjunto exposto mais do que por seus objetos individualmente. (...) O discurso deve ser assumido e por isso, esse tipo de exposição, costuma se utilizar de estratégias de ambientação que os fortaleça visualmente, raramente se valendo da estética do “cubo branco”, que simula uma neutralidade de discurso e de contexto (MELIANDE, 2013, p. 19). Na construção dessa narrativa tridimensional, vários recursos são utilizados para ajudar o visitante a criar as relações com o conteúdo. As exposições temáticas os utilizam

com liberdade, passeando por recursos de luz, som, imagem e cenografia, tendo em vista possibilitar a imersão. Para Scheiner (2003), a expografia deve se utilizar desses elementos comunicacionais como forma de promover a acessibilidade. Para ela, toda a “gama de experiências visuais, tácteis, aurais e emocionais impregnam o processo [...], permitindo maior grau de imersão no conjunto a ser comunicado”. De acordo com Howard:

Som e luz se tornaram os meios cenográficos que nos animam e nos guiam através dos espaços. Nossos sentidos visuais e auditivos são manipulados para se concentrarem nos objetos reais ou construídos, que carregam um significado metafórico no espaço além sua realidade. (HOWARD, 2002, p. 114, tradução nossa).

Sendo assim, os recursos de som e imagem integram os elementos de uma exposição e fornecem suporte para a narrativa e encoraja os visitantes a envolverem-se com o ambiente. Para Hughes (2010), tais recursos ganharam destaque com o trabalho de educadores e especialistas em exposições ao promoverem a diversidade de formas de aprendizado e implementando, assim, novas maneiras de interpretar informações para os visitantes. Conforme Barthelmes:

O som tem sido há tempos um dos instrumentos da cenografia – seja como um som ambiente para uma ambientação acústica de elementos e assuntos, ou como um elemento narrativo na forma de uma peça ou trechos de áudio. Mais que qualquer um de nossos sentidos, a audição, enquanto nível arcaico de recepção, controla a consciência do nosso entorno, e na forma de ruído, som e música, apela ao intuitivo, ao não-cognitivo a à nossa subconsciência. O texto falado é diretamente associado com a voz humana e tem uma afinidade natural com a curiosidade, o conhecimento e o intelecto. Todos os formatos acústicos, seja uma aplicação, instalação ou na cenografia, tem uma coisa em comum: eles são invisíveis, sito é, eles não provêm imagens, mas permitem que as imagens existentes na memória do ouvinte apareçam dentro da sua mente. O que é impressionante na cenografia é que, atualmente, ela integra formatos eletroacústicos como nunca antes. Isso é um sinal de um retorno às margens evocadas ao invés das imagens fornecidas (BARTHELMES, 2011 apud ABREU, 2014, p. 102).

Pesquisas em educação e psicologia mostram que o ser humano, em sua diversidade, tem formas diferenciadas de apreensão do conhecimento, de modo que muitos se sentem atraídos, primeiramente, por estímulos visuais; nesse caso, o uso de vídeos se configura como uma estratégia comum nos museus temáticos. No caso do audiovisual, Hughes (2010) destaca que tal recurso tem grande poder de atrair a atenção e direcionar para um tema ou ideia particular. Dessa maneira, o uso de imagens impactantes e em grande escala próximo ao

visitante criam diferentes sensações. O museu da Língua Portuguesa22 explorou de forma contundente, em duas de suas instalações, as possibilidades de sensações a serem despertadas através do áudio e do vídeo: a primeira é vista logo no início do percurso, na “Grande Galeria” (figura 11), que corresponde a um corredor com 36 telas de projeção que repetem 11 vídeos com temas ligados à narrativa. Já a segunda forma de imersão se apresenta no espaço fechado “Praça da Língua” (figura 12), na qual é apresentada uma projeção mapeada em todo o ambiente, contendo trechos de poesias e outros vídeos-arte.

Figura 11 - Grande Galeria - Museu da Língua Portuguesa

Fonte: Site da Fundação Roberto Marinho23.

Figura 12 - Praça da Língua - Museu da Língua Portuguesa

Fonte: Site da Fundação Roberto Marinho24.

22 Museu da Língua Portuguesa, um projeto da Fundação Roberto Marinho em parceria com o governo do Estado de São Paulo, foi inaugurado no ano de 2006 e trouxe um novo conceito museológico, aliado tecnologia e educação. Por meio de uma viajem sensorial os visitantes eram apresentados ao idioma fundador do nosso país. Um projeto de revitalização dos arquitetos Paulo e Pedro Mendes da Rocha, com curadoria de Isa Grinspum Ferraz, e direção artística de Marcello Dantas.

23 Disponível em: <http://www.frm.org.br/acoes/museu-da-lingua-portuguesa/>. Acesso em: 10 ago. 2016. 24 Disponível em: <http://www.frm.org.br/acoes/museu-da-lingua-portuguesa/>. Acesso em: 10 ago. 2016.

Além dos recursos audiovisuais, a cenografia tem papel fundamental na construção dessa atmosfera imersiva. Para Rossini (2012, p. 157) trata-se de “um recurso que se constrói no espaço para oferecer ao visitante uma experiência sensível do conteúdo escolhido por meio da cor, dos percursos e das imagens”. Ainda segundo o autor, esse termo está intimamente relacionado à arte teatral, mas ele destaca que este não pode existir sem uma conexão com a arquitetura e artes visuais. Sendo assim, apresenta o conceito de cenografia mais abrangente, que vai além da ligação com a representação da realidade, uma vez que, na cenografia, “a representação não está limitada à substituição de um original: ela é também um elemento narrativo, um auxiliar que permite situar espacial e temporalmente o tema abordado por um texto teatral ou por uma exposição” (ROSSINI, 2012, p. 157).