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2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA

2.2.1 Evolução histórica

2.2.1.3 Administração Pública Gerencial

A Administração Pública Gerencial (APG) surgiu num momento em que predominava a insatisfação em relação ao modelo burocrático, expressadas pelo crescimento e mudanças nas necessidades e exigências da população. Dessa forma, a APG se apresentou como corretor para esses sintomas emblemáticos da burocracia, priorizando a qualidade dos serviços e redução dos custos. Além disso, caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações, orientada para resultados e, também, para possibilitar que o Estado melhor

gerencie a oferta dos seus serviços, por meio da efetividade e eficiência (PINTO, SILVA, 2015; SILVA, 2013).

A esse respeito, Bresser Pereira (2006, p. 242) defende que:

O Estado se transformou num Grande Estado Social e Econômico, assumindo um número crescente de serviços sociais – educação, saúde, cultura, previdência e assistência social, pesquisa científica – e de papéis econômicos – regulação do sistema econômico interno e das relações econômicas internacionais, estabilidade da moeda e do sistema financeiro, provisão de serviços públicos e de infra-estrutura –, nesse momento, o problema da eficiência tornou-se essencial.

Para o autor, “a explicação é simples: os cidadãos estão se tornando cada vez mais conscientes de que a administração pública burocrática não corresponde às demandas que a sociedade civil apresenta no mundo contemporâneo” (BRESSER, 2006, p. 242). O que fez com que os cidadãos exigissem do Estado muito mais do que Ele podia oferecer; de um lado a sociedade pressiona por mais e melhores serviços e questiona as formas de ação e a legitimidade dos entes públicos; do outro lado, a administração pública vai redefinindo o seu papel e impondo reestuturações organizacionais (RO)20 (LIMA; QUEIROZ, 2003).

No entanto, o gerencialismo apoia-se na burocracia, conservando os seus princípios básicos. A APG surgiu quando as empresas tiveram que buscar novas formas de se manter competitivas, mas não só a iniciativa privada foi requisitada nesse processo, o setor público também sentiu essas transformações e buscou adaptar-se à esse contexto (PINTO, SILVA, 2015; PALUDO, 2010).

Para Guimarães (2000), um dos principais desafios para a APG foi o de transformar estruturas burocráticas, hierarquizadas em organizações flexíveis, ágeis e empreendedoras. Visto que, de acordo com Bergue (2007, 2010), de maneira geral, o esforço orientado para a institucionalização de um modelo gerencialista na administração pública encontra resistência nos fortes traços consolidados e enraizados na sociedade há várias gerações.

Já para Silva (2014, p. 6), buscou-se trazer, para a esfera pública, “conceitos inerentes às esfera privada, capitalista, como se a lógica liberal21, pautada na livre concorrência, e na busca incessante pelo lucro e acumulação devesse também ser incorporada pela esfera

20 A expressão "reestruturação organizacional" significa não apenas mudanças na estrutura, mas uma transformação muito mais profunda no contexto da organização, que deve envolver tanto questões formais e instrumentais como aspectos psicológicos e comportamentais (LIMA; QUEIROZ, 2003).

21 A ideia central do liberalismo econômico é a defesa da emancipação da economia de qualquer dogma externo

a ela mesma, eliminando custos, aumentando a produtividade e visando o acúmulo do capital. Tendo Adam Smith como principal defensor.

pública, direcionando suas ações em detrimento da qualidade do serviço prestado ao usuário- cidadão”. Em face disso, prioriza-se a terceirização da mão-de-obra e a flexibilidade para o funcionalismo público.

Ainda de acordo com Silva (2014, p. 7) :

Ora, os serviços oferecidos pelo Estado aos seus cidadãos como educação e saúde não podem estar submetidos a esta lógica que sacrifica a qualidade em nome de melhoria nos processos e na gestão, e por isso mesmo são atribuições do estado – por não serem intrinsicamente competitivos dentro da lógica capitalista de produção. Estes serviços devem ser oferecidos pelo estado dentro de uma lógica diversa do mercado, com foco em uma qualidade cada vez maior dos serviços oferecidos, e não na redução de gastos ou no aumento da produtividade característicos do mercado capitalista.

Nesse novo contexto, a restruturação organizacional modifica as formas de gestão do trabalho no serviço público. Essas mudanças implicam, para os servidores, a necessidade de terem flexibilidade e resiliência22 para adaptar-se à lógica de um ambiente em plena transformação e, também, novas tecnologias, novos paradigmas e novos hábitos de vida; ultrapassando as fronteiras da rotina, dos processos e envolvendo aspectos comportamentais e psicológicos dos envolvidos (SILVA, FRITZEN, 2012; LIMA, QUEIROZ, 2003).

Sob essa perspectiva, segundo Lima e Queiroz (2003, p. 89) decorrem dos processos de reestruturação organizacional a exigência de “um novo perfil de trabalhador, flexível, sujeito da reestruturação do trabalho, que, ao experimentar essas transformações, tem sua vida significativamente alterada por elas”. Ainda de acordo com os autores, são transformações que trazem implicações aos modos de viver e subjetivar; percebe-se, também, uma clara relação entre as demandas que essa reestruturação impõe às organizações e as exigências que as organizaçóes impõem aos seus servidores.

Diante dessa dualidade, está o servidor público que precisou se adaptar à lógica produtivista e às mutações decorrentes dela. As transformações no mundo do trabalho vêm afetando significativamente, no decorrer do tempo, o bem-estar físico, psíquico e social desses indivíduos que vêem no trabalho a garantia de seu sustento financeiro e de preservação da sua dignidade. Corroborando com Oliveira (2006, p. 110), “faz-se necessário buscar a integração

22 Flexibilidade e resiliência são termos que envolvem a habilidade de adaptação que o indivíduo tem diante das

mudanças que ocorrem em suas vidas. Pode ser também a capacidade de evoluir ao se deparar com as adversidades do dia a dia, obtendo aprendizado com todas as experiências, por mais difíceis que elas sejam.

do trabalhador com o homem, o ser humano dignificado e satisfeito com a sua atividade, que tem vida dentro e fora do ambiente de trabalho, que pretende, enfim, qualidade de vida.”