• Nenhum resultado encontrado

1 O INSTITUTO DA ADOÇÃO

1.5 ADOÇÃO À BRASILEIRA

A Adoção à Brasileira é costume comum no Brasil, sendo definida, pela doutrina e jurisprudência, como a ação de registrar uma criança como sendo seu filho biológico, sem que isso corresponda com a realidade.

O fato de a adoção informal ser comumente realizada no País pode ser explicado pela facilidade com que uma criança pode ser registrada em um Cartório de Registro Civil das

94

COSTA, Tarcísio José Martins. Adoção Transnacional – um estudo sócio jurídico e comparativo da legislação atual. Belo Horizonte: Del Rey, 1998. p. 58

95

Pessoas Naturais. Pois de acordo com o art. 54 da Lei de Registros Públicos96, além das in- formações cadastrais, somente é necessário, para o registro de nascimento, uma declaração de nascido vivo, fornecida pelo hospital, ou quando nascido em casa, de um atestado do médico ou da parteira ou ainda o simples testemunho de duas pessoas que assistiram ao parto ou a- testem a gravidez97.

Muitos são os motivos que levam essas pessoas a irem até o Cartório de Registro Civil e afirmarem que são pais de uma criança, mesmo sabendo que não são os genitores bio- lógicos dela. Dentre eles, podem ser elencados como motivos: tentar se livrar da morosidade de um processo judicial, a obrigatoriedade da contratação de um advogado, o medo de perder a criança se a ação for proposta, uma vez que não foi respeitada a ordem do cadastro, e tam- bém o receio de que o menor descubra que é adotado98.

Assim, visando diminuir essa prática, a Lei n° 12010/2009, modificou o art. 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente, acrescentando o §5° que traz “serão criados e imple- mentados cadastros estaduais e nacionais de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção” 99

, dessa maneira, com o advento da referida lei, foi implantado o Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

O Cadastro foi elaborado com o intuito de preservar o melhor interesse do menor, sendo “uma ferramenta precisa e segura para auxiliar os juízes na condução dos procedimen- tos de adoção e atende aos anseios da sociedade no sentido de desburocratizar o processo”.100 Ou seja, o CNA busca desburocratizar o processo de adoção, facilitando assim a sua realiza- ção e privilegiando os que procuram os meios legais para adotar.

Contudo, apesar dessas modificações, muitas pessoas ainda acabam optando pela adoção à brasileira ao invés de uma adoção legal. Contudo, a adoção à brasileira não é consi- derada uma modalidade de adoção e, tampouco, é um instituto regulado pelo direito brasilei- ro. Tratando-se, na verdade, de uma prática ilegal de adoção101.

Por conseguinte, as pessoas que registram uma criança como se fosse seu filho bi-

96

BRASIL. Lei n° 6.015, de31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providên- cias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015.htm>. Acesso em: 19 mai. 2014.

97

MINISTÉRIO PÚBLICO RIO GRANDE DO SUL. Procedimentos. Disponível em <http://www.mprs.mp.br/infancia/pgn/id306.htm >. Acesso em 19 mai. 2014.

98

GRANATO, 2005, p. 130-131, passim.

99

BRASIL. Lei n° 12.010, de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm>. Acesso em: 05 mar. 2014.

100

CNJ. Cadastro Nacional de Adoção. Disponível em http://www.cnj.jus.br/images/programas/cadastro- adocao/guia-usuario-adocao.pdf. Acesso em 10 mar. 2014.

101

ológico, e não respeitam os procedimentos estabelecidos em lei, acabam sofrendo duras con- sequências. A primeira é que o registro é suscetível de anulação, a pedido dos pais biológicos, e, a segunda é que seu ato está previsto no ordenamento jurídico brasileiro como crime102.

Na opinião de Arthur Marques da Silva Filho:

Trata-se a adoção direta, também conhecida como “à brasileira”, daquela em que um casal registra, como sendo seu, filho de outrem. É de se ressaltar que podem “pais adotivos” ser penalmente responsabilizados, já que o art. 242 do CP reputa como crime “dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil”, cominando pena de reclusão, de dois a seis anos. É verdade que, de acordo com o parágrafo único do mesmo dispositivo, “se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza”, a pena passa a ser de detenção, de um a dois anos, podendo o Magistrado deixar de aplicá-la103.

Destarte, o ato de registrar um filho alheio como sendo próprio, é tipificado como crime contra o estado de filiação. Desse modo, de acordo com o artigo 242 do Código Penal Brasileiro: “dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar re- cém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil” é consi- derado crime, com pena de reclusão de 2 a 6 anos104.

Entretanto, segundo consta no parágrafo único do mesmo dispositivo, se o crime for praticado por motivo de reconhecida nobreza, a pena passa a ser de detenção, de um a dois anos, podendo o juiz até deixar de impô-la.

Além do que já foi analisado, configura-se também como adoção à brasileira, a- quele que mesmo sabendo que não é o pai biológico da criança, registra como sendo seu des- cendente o filho de sua parceira. Esse ato também é considerado crime, entretanto, devido à motivação afetiva que o envolve não gera condenações105.

Ocorre que, findo o vínculo afetivo dos pais e o convívio com filho, em muitas si- tuações o ex-companheiro ou ex-cônjuge, para não arcar com os alimentos devidos, requer, através de ação anulatória ou negatória de paternidade a desconstituição do registro de nasci- mento106.

Entretanto, a jurisprudência vem se posicionando, que aquele que promoveu à a- doção à brasileira, não pode, havendo formação da paternidade socioafetiva, simplesmente

102

BORDALLO, 2011, p. 256.

103

FILHO, Artur Marques da Silva. Adoção: regime jurídico, requisitos, efeitos, inexistência, anulação. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 115.

104

BRASIL. Código Penal. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso em: 05 mar. 2014.

105

RIZZARDO, 2011, p. 531-534, passim.

106

pleitear a anulação do ato, levantando a ilicitude da adoção, meramente para se eximir de suas obrigações107.