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2 ASPECTOS NORMATIVOS DA ADOÇÃO NO BRASIL

2.6 PROJETOS DE LEIS N° 1.212/2011 E N° 1.917/2011

O projeto de Lei n° 1.212 de 2011, de iniciativa do Deputado Federal Carlos Bezerra, destina-se a legitimar exceções para a obrigatoriedade da ordem no registro de crianças e adolescentes e também no de indivíduos interessados no instituto da adoção205.

O referido projeto objetiva permitir que crianças sejam adotadas, independentemente da ordem no registro e da existência, ou não, de um vinculo de afetividade e afinidade, por pessoas que tenham recebido a criança ou adolescente de forma expressa de seus genitores ou nos casos daqueles que acolheram o menor em situação de abandono ou perigo.

O projeto de 2011 almeja a inclusão do art. 50-A no Estatuto da Criança e do Adolescente, com a seguinte redação:

Art. 50-A. Serão adotados, independentemente da ordem no registro de criança e adolescentes em condições de serem adotadas ou no registro de pessoas interessadas na adoção, aqueles que, atendendo às demais condições legais, especialmente as previstas nos parágrafos do art. 28, no art. 29 e no art. 43:

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CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projetos de leis e outras proposições: pl n.° 1.212/11. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=500199>. Acesso em 06 mai. 2014.

I – tenham sido expressamente doados pelo genitor ou genitores conhecidos;

II – tenham sido acolhidos, em situação de perigo devido a abandono, por pessoas que venham a se interessar pela adoção.

No primeiro caso, quando a criança ou adolescente é entregue por seus pais aos cuidados de outros, a justificativa, para a exceção a ordem do cadastro, é que havendo essa adoção direta, existiria o consentimento dos pais ou representantes legais em relação a essa nova perfilhação.

O autor do projeto está se referindo, nesta situação, a adoção à brasileira. Que ocorre quando a criança ou adolescente é entregue para adoção, diretamente pelos seus genitores, a uma pessoa especifica. Para alguns, incluindo-se o Deputado, a adoção à brasileira deveria ser legalizada, uma vez que isso acarretaria a diminuição de entregas de menores por questões econômicas.

O segundo caso ocorre quando uma a é criança abandonada, e uma família, que não tinha nenhuma pretensão em adotar, passa a ter interesse no institutodepois de acolhê-la em seu lar.

Para o Deputado Carlos Bezerra, a obrigatoriedade da ordem dos cadastros é imprescindível. Entretanto, nas situações descritas no art. 50-A, a obediência à ordem dos cadastros traz prejuízo ao jovem. Assim, a aprovação do projeto traria inúmeros benefícios para a sociedade, dos quais, um deles é diminuir o número de crianças em instituições de acolhimento e outro é a possibilidade dos pais poderem entregar o seu filho para uma pessoa em quem confiam, sem que isso configure a adoção à brasileira.

A proposta foi analisada pelas Comissões da Seguridade Social e Família; da Constituição e Justiça e também pela de Cidadania, contudo, o projeto não foi aprovado, sendo rejeitado em março de 2014206.

Para a relatora da recusa, Carmem Zannoto, o instituto da adoção foi evoluindo ao logo dos anos, sendo aperfeiçoada pela Lei n° 12.010/09, que introduziu diversas mudanças ao Estatuto da Criança e do Adolescente, principalmente no que envolve a convivência familiar. Estas modificações, para a Deputada, não geraram mais morosidade para o procedimento da adoção e sim mais responsabilidade.

Desta forma, destaca-se a importância do Cadastro, uma vez que apesar de burocrático, o registro é muito fácil. Basta preencher os requisitos legais para se cadastrar.

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CÂMARA LEGILATIVA. Comissão de seguridade social e família. Disponível em:<http://www2.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=8C78B45552542835E21E827 F06E13DD7.node2?codteor=1235842&filename=Parecer-CSSF-13-03-2014>. Acesso em 06 mai. 2014.

Portanto, a utilização dele não desestimularia o instituto da adoção. Já a sua inobservância estimularia as adoções irregulares, como a brasileira, que é considerada crime pelo Código Penal.

Segundo a relatora, os indivíduos que não passam pelo acompanhamento necessário podem causar danos irreparáveis às crianças que forem adotadas sem o devido respeito ao cadastro, uma vez que não percorreram todas as etapas necessárias para formalizar o procedimento.

Ademais, para sustentar a recusa ao projeto, foi justificado que a entrega direta da criança pela mãe estimularia a exploração dos menores, tornando o um objeto de troca. E o acolhimento de crianças abandonadas só ocorre com recém-nascidos, portanto, se formalizados, desestimularia a adoção tardia e especial de crianças e adolescentes.

Em vista disso, o Projeto de Lei 1.212/11 foi recusado, alegando-se que a sua judicialização ocasionaria a quebra da ordem existente no Cadastro Nacional de Adoção.

Apensado ao Projeto de Lei n° 1.212 de 2011constava, entre outros, o Projeto de Lei n° 1.917/2011, de autoria do Deputado Federal Sabino Castelo Branco, que busca oficializar a participação da mãe biológica na escolha dos pais adotivos para o seu filho, quando não for possível a genitora fornecer os cuidados necessários para o menor207.

O Projeto visa à alteração do parágrafo único do art. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente, e o acréscimo de outros parágrafos. Com as modificações o texto do art. 13 ficaria da seguinte forma:

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

§1º As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude podendo, caso desejem, indicar pessoa que poderá adotar o menor. (NR)

§2º O indivíduo que encontrar ou auxiliar criança ou adolescente vítima de maus tratos ou abandono, nos termos do caput do presente artigo, poderá candidatar-se à adoção da mesma, passando a contar com prioridade na análise do processo de adoção.

§3º As hipóteses constantes dos parágrafos anteriores não isentam o interessado na adoção das determinantes previstas na Subseção IV da presente Lei.

O Deputado Sabino Castelo Branco, ressalta que o procedimento da adoção exige muita burocracia, e de mais a mais, utilizar a ordem do cadastro não garante que quem for

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CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projetos de leis e outras proposições: pl 1.917/11. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=513822>. Acesso em 06 mai. 2014.

adotar terá mais dedicação do que aquele que defendeu a criança ou adolescente que sofria de maus tratos ou abandono.

Para o Deputado Federal apesar de não ser priorizada a ordem do cadastro nessas situações, isso não significa que as pessoas que ajudaram o menor em um momento de dificuldade não precisam preencher todos os requisitos legais para que se efetive a adoção. Elas na verdade, somente terão preferência sobre as pessoas cadastradas.

Entretanto, assim como o Projeto 1.212/11 do Deputado Carlos Bezerra, o Projeto de Lei n° 1.917/11 também foi recusado pela Comissão de Seguridade Social e Família.