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1.3 DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE HUMANA

1.4.5 Adolescência e o comportamento de risco

Embora a maioria das pesquisas de desenvolvimento sobre o funcionamento cognitivo e psicossocial durante a adolescência envolva estudos psicológicos, estudos em neurociência esclarecem os fundamentos neurais do desenvolvimento durante a adolescência e a idade adulta. Nesse sentido, surge uma nova perspectiva sobre comportamentos de riscos durante a adolescência (CASEY et al., 2017; COHEN; CASEY, 2014; STEINBERG, 2008). O comportamento de risco nesse período da vida é produto da interação entre as mudanças de dois sistemas neurobiológicos distintos: o sistema socioemocional, localizado em áreas límbicas e paralímbicas do cérebro, incluindo a amígdala, o estriado ventral, o córtex orbitofrontal, CPF medial e sulco temporal superior; e outro, o sistema de controle cognitivo, que é composto principalmente pelos córtices pré-frontal e parietal lateral, e córtex cingulado anterior ao qual estão interligadas (STEINBERG, 2008).

De acordo com estes modelos “dual-systems”, o risco na adolescentes é estimulada por um aumento rápido e dramático da atividade dopaminérgica no sistema socioemocional no período da puberdade, levando a aumentos na busca de recompensas. No entanto, esse aumento na busca de recompensas precede a maturação estrutural do sistema de controle cognitivo e suas conexões a áreas do sistema socioemocional. É um processo maturacional que é gradual e se desenrola ao longo da adolescência, permitindo auto-regulação e controle de impulsos (STEINBERG, 2010). O intervalo temporal entre a excitação do sistema socio- emocional, que é desenvolvido precocemente no adolescente, e a maturação completa do sistema de controle cognitivo, que ocorre mais tardiamente, cria um período de maior vulnerabilidade à tomada de risco durante a adolescência (STEINBERG; MONAHAN, 2007). Estudos com roedores, mas com implicações para o desenvolvimento humano, indica que essa remodelação do sistema dopaminérgico dentro da rede socioemocional envolve um aumento pós-natal inicial e, a partir da pré-adolescência, uma redução subseqüente da densidade do receptor de dopamina no estriado e córtex pré-frontal. Esse padrão é mais pronunciado entre os homens do que as mulheres (SISK; ZEHR, 2005). Como resultado desta remodelação, a atividade dopaminérgica no CPF aumenta significativamente no início da adolescência e é maior durante esse período do que antes ou depois. Como a dopamina desempenha um papel crítico na via de recompensa do cérebro, o aumento, redução e redistribuição da concentração de receptores de dopamina em torno da puberdade, especialmente nas projeções do sistema límbico para a área pré-frontal, provavelmente aumentará o comportamento de busca de recompensas e, consequentemente, busca de sensações.

A via de recompensa está associada a comportamentos com sensação de prazer (p.ex. comer, beber, fazer sexo) que funciona como reforço positivo para que o comportamento seja repetido. Esses comportamentos são essenciais para a sobrevivência da nossa espécie. Entretanto, outros estímulos também ativam a via de recompensa (p.ex. drogas, a admiração dos nossos pares, um comportamento arriscado bem sucedido, etc.) mesmo quando associados com o risco de consequências negativas (HASLER; CLARK, 2013).

Nesse sentido, os pares também podem influenciar os adolescentes para praticarem comportamentos perigosos. A necessidade de aceitação e aprovação por seus pares é especialmente importante durante a adolescência (SILVA; CHEIN; STEINBERG, 2016). Quando rejeitado por seus pares, é mais provável que um adolescente se envolva em comportamentos de risco para se adequar a um grupo. Essas situações podem prejudicar o

julgamento e podem atrair um adolescente para se envolver em comportamentos, incluindo atividades ilegais. Ao contrário dos adultos, a maioria das infrações penais entre adolescentes ocorre em grupos. Estudo mostra a influência de pares nas decisões e ações de adolescentes e adultos. Os adolescentes, mas não os adultos, tomam decisões mais arriscadas e apresentam maior atividade em circuitos límbicos relacionados à recompensa, na presença de pares (CHEIN et al., 2011).

No estudo de Silva, Chein e Steinberg (2016) os resultados mostram que os adolescentes assumem mais riscos e expressam uma maior preferência por recompensas imediatas quando estão em grupos da mesma idade do que quando estam sozinhos. Entretanto, quando um membro do grupo era substituído por um adulto, a tomada de decisão e o processamento de recompensas dos adolescentes se assemelhavam ao observado quando os adolescentes eram testados sozinhos. Dessa forma, adicionar um adulto a uma equipe de trabalho de adolescentes pode melhorar a tomada de decisão em grupo.

Nesse sentido, a resistência à influência dos pares aumenta entre a adolescência e a idade adulta, à medida que os indivíduos começam a formar um senso de auto-independência e desenvolver uma maior capacidade de tomada de decisão autônoma. As melhorias nesta capacidade podem estar ligadas ao desenvolvimento de maior conectividade entre regiões corticais e subcorticais (GROSBRAS et al., 2007).

Por fim, em relação as diferenças de sexo nas trajetórias de desenvolvimento de controle de impulsos e busca de sensações, Shulman et al. (2015) descobriram que os homens exibem níveis mais altos de percepção de sensação e menores níveis de controle de impulso do que as mulheres. As diferenças também surgiram nas formas das trajetórias de desenvolvimento. As mulheres atingem os níveis máximos de sensação mais precoce do que os homens (consistente com a ideia de que a busca de sensações está ligada ao desenvolvimento da puberdade) e declínio na busca sensacional mais rápido após esse período da vida. Além disso, os homens aumentam no controle de impulsos mais gradualmente do que as mulheres. Consequentemente, as diferenças de sexo tanto no controle de impulsos quanto na busca de sensações aumentam com a idade. Esses achados sugerem que a janela de maior vulnerabilidade à tomada de riscos durante a adolescência pode ser maior em magnitude e mais prolongada para os homens do que para as mulheres.