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Introdução

A infância e a adolescência nem sempre foram consideradas períodos especiais na vida do ser humano, como o são actualmente. A adolescência, tal como hoje é entendida, é um fenómeno recente. O termo adolescência tem origem na palavra latina adolescĕre, que quer dizer crescer para adulto. Sempre se cresceu para adulto. Mas nem sempre foi dado a este crescimento um tempo de vida tão alargado como nos tempos vigentes.

Nos dias de hoje, a adolescência é um período alongado, que se estende até à terceira década de vida, em que o adolescente vive com os pais. Para este facto são apontadas várias causas: culturais, como a maior liberalização, aceitação e tolerância dos costumes; sociais, onde se destaca o prolongamento dos estudos que leva consequentemente a uma maior dependência; e económicas, como o desemprego ou trabalho precário (Braconnier & Marcelli, 2000).

Uma das questões que ao longo da curta história da adolescência se tem sistematicamente levantado, é a da turbulência e instabilidade que o jovem vive nesta fase da sua vida. Apesar de estarem um pouco de lado as perspectivas de “storm and stress”, continuam-se a estudar os problemas da adolescência porque eles são reais e trazem consigo mal-estar e novas dificuldades. No entanto, existem hoje noções diferentes em relação a estes problemas que permitem ver a adolescência de outro modo. Sabe-se hoje, que alguns jovens encontram na adolescência dificuldades, mas que tal não é verdade para todos. Sabe-se também, que quando existem dificuldades, estes problemas não se generalizam a todas áreas de funcionamento do jovem ou atingem necessariamente graves proporções. Sabe-se ainda, que muitos dos problemas da adolescência surgem como forma de adaptação do adolescente aos novos desafios que se lhe colocam (Sprinthall & Collins, 1999).

E são múltiplos os desafios a vencer: a adaptação a toda uma nova condição biológica, a conquista de uma nova autonomia, o estabelecimento de novas relações interpessoais próximas e duradouras, a progressão académica, entre outros. E como se isto não bastasse, o adolescente precisa ainda, tal como todo o ser humano, de sentir-se valorizado como pessoa, estabelecer um lugar num grupo produtivo, sentir-se útil para os outros, dispor de sistemas de suporte e saber usá-los, fazer escolhas informadas e acreditar num futuro com oportunidades reais. Ultrapassar estes desafios e preencher estas necessidades tornam-se requisitos necessários para que os adolescentes se tornem adultos saudáveis e produtivos (Carnegie Corporation of New York, 1995).

Um Pouco da História da Adolescência

A adolescência, tal como hoje se concebe, é uma fase da vida relativamente recente. Ariés (1973) refere que a adolescência se encontrou absorvida pela infância até ao século XVIII, não se verificando, no entanto, mesmo após esta época, uma preocupação em considerar a adolescência como um período desenvolvimental diferenciado que impunha um olhar especial. (Ariés, 1973)

Pode-se no entanto traçar um percurso um pouco mais distante no tempo para o surgimento deste período. Segundo Lutte (1988), a adolescência surgiu no decurso do século II a.C., na sociedade romana, como consequência de profundas alterações do sistema económico-social. No século II a.C. o senado aprovou duas leis, a “lex plaetoria” e a “lex Villia annalis”. A primeira correspondia ao nascimento de um novo grupo social, instituindo uma acção penal contra quem abusasse da inexperiência de um jovem com idade inferior a 25 anos. A segunda limitava a participação dos jovens em cargos públicos. A juventude ou adolescência surge assim como uma fase de protecção e simultaneamente de limitação dos direitos e recursos. (Lutte, 1988)

Durante a Idade Média e a época pré-industrial, a juventude situava-se entre a dependência da infância e a independência relativa da idade adulta, que por sua vez se caracterizava pelo casamento e herança dos bens. Este período, entre a infância e a idade adulta, situava-se aproximadamente entre os 7-10 anos até aos 25-30 anos (Lutte, 1988). Agra (1986) refere a existência na Idade Média de palavras como «pueritia» (puerícia), «adolescentia» (adolescência) e «juvenes»

(jovens), mas salienta que não apresentavam qualquer correspondência com a existência de etapas de vida ou estatuto, tal como hoje se concebem. (Agra, 1986; Lutte, 1988)

Até ao século XVIII e durante este século, era prática frequente os jovens, na altura da puberdade, deixarem a casa dos seus pais para irem para a casa de outras famílias, por vezes em locais bastante afastados do lar. Aqui, rapazes e raparigas eram colocados na situação de aprendizes ou criados. O controlo dos pais torna-se assim mais reduzido, o que constitui um processo facilitador da sua autonomia e responsabilização (Claes, 1985).

No entanto, apenas no séc. XIX surge a adolescência, tal como é concebida nas sociedades contemporâneas. Nos meados do século XIX, o termo utilizado frequentemente era jovem, apenas ocasionalmente se encontra referência ao termo adolescência. No final do século XIX, o termo começa a aparecer com maior frequência. Apesar do termo ainda não ser frequente, já existiam ideias muito precisas em relação a esta fase da vida. A adolescência era vista como um período de transição, de desenvolvimento individual, que envolvia grandes mudanças a nível físico, sexual, comportamental e profissional (Moran & Vinovskis, 1994).

A “repartição da vida” em mais uma etapa, a adolescência, coincidiu com um período histórico: a revolução industrial. Lutte (1988) refere que a industrialização conduziu a mudanças radicais na estrutura cultural, escolar, familiar. E estas mudanças reflectiram-se na “construção” desta “nova” etapa da vida. Factores como o declínio da aprendizagem das profissões devido ao processo de industrialização (Claes, 1985), extensão progressiva e obrigatoriedade da escolaridade (Claes, 1985; Sprinthall & Collins, 1999), foram determinantes no surgimento do estatuto de adolescente. Mas, sem dúvida que um factor bastante forte neste processo construtivo, foi a evolução da concepção de família. É a partir dos meados do século XIX que surge a mudança no seio da família: cada vez mais o adolescente permanece junto da sua família, deixando-a apenas para constituir a sua própria família. A família, anteriormente patriarcal, transforma-se em família nuclear, constituída por pais e filhos que permanecem juntos coabitando no mesmo espaço. Assim, a adolescência decorre entre a puberdade e o acesso ao estatuto adulto. Este longo período da vida dos indivíduos, vivido sob tutela parental, coincide com o nascimento da família moderna (Claes, 1985). Esta nova concepção de família orienta as suas energias para a vida privada, para a troca afectiva, para a promoção do bem-estar dos seus filhos, para a passagem de valores, dando assim

um enfoque privilegiado às tarefas educativas. É em torno destes objectivos que vive a família moderna (Claes, 1985).

As Grandes Mudanças na Adolescência

A adolescência é um tempo de crescimento, de desenvolvimento de uma progressiva maturidade a nível biológico, cognitivo, social e emocional. Nas sociedades modernas não existe um acontecimento único que marque o fim da infância ou o início da adolescência3. Esta transição envolve um conjunto de mudanças graduais em múltiplas esferas da condição humana, que ocorrem durante um período mais ou menos alargado, e que preenchem toda a adolescência (V. Fonseca, 1986; Steinberg, 1998).

Um dos temas centrais da adolescência continua a ser a forma como se ultrapassam estas mudanças, transições, desafios, crises, necessidades ou o que quer que se lhe chame. Encontram-se sempre dois lados da questão: o pessimismo e o optimismo. Para uns a adolescência é um período de mudanças dramáticas a nível familiar, a nível escolar, ao nível das amizades, a nível profissional. É um período de confusão, de sentimentos paradoxais, excitação e ansiedade, felicidade e tristeza, certezas e incertezas. E como se não bastasse, estas dúvidas não se limitam ao jovem, mas alastram aos outros que com ele privam, nomeadamente pais, professores e amigos que vivem também os seus próprios problemas (Lerner & Galambos, 1998). Para outros, a maioria dos jovens está preparada para lidar com as mudanças biológicas, cognitivas, emocionais e sociais da adolescência e ultrapassá-las com sucesso (Steinberg, 1998). De acordo com esta perspectiva, parte dos problemas que surgem na adolescência não têm consequências graves ou a longo prazo. Devem pois ser equacionados como fazendo parte do desenvolvimento normal, como formas exploratórias necessárias ao desenvolvimento, ou como reflexo de um desfasamento entre a maturidade biológica e a maturidade social (Baumerind, 1987; Irwin, 1987; Moffitt & Caspi, 2000).

3 Segundo Baumerind (1987), a adolescência engloba o período que vai dos 10 anos aos 25 anos. Este período é geralmente repartido em três fases: fase inicial da adolescência (early adolescence), entre os 10 aos 15 anos; fase intermédia da adolescência (middle adolescence), entre os 15 e os 18 anos; e a fase final da adolescência (late adolescence) que envolve o período desde o final do ensino secundário até à entrada em um ou mais papéis adultos.

Mudanças Biológicas

As mudanças biológicas que ocorrem no início da adolescência constituem os sinais mais evidentes de que uma nova época chegou. Entrou-se na adolescência. Esta entrada poderá ser mais ou menos “aceite”, pelo próprio e pelos outros.

Steinberg (1998) refere que um factor talvez mais importante que a entrada em si, é o momento em termos cronológicos desta transição. Segundo o autor, o impacto imediato da puberdade na auto-imagem e no humor do adolescente pode ser relativamente discreto, mas o timing da maturação física afecta o desenvolvimento social e emocional do jovem de formas importantes. Parece que uma maturação precoce está associada a aspectos mais positivos para os rapazes do que para as raparigas. Os rapazes que maturam mais cedo tendem a ser mais populares, a ter autoconceitos mais positivos e a ser mais autoconfiantes, comparativamente com os que maturam mais tarde. Por outro lado, as raparigas que maturam mais cedo podem sentir-se desconfortáveis e desajeitadas com a sua nova imagem. (Steinberg, 1998)

Encontram-se também referências que defendem que a maturação precoce pode constituir um factor de risco para o desenvolvimento de problemas de externalização, devido ao facto dos jovens que maturam mais cedo desenvolverem amizades com adolescentes mais velhos (Silbereisen, Petersen, Albrecht, & Kracke, 1989). No entanto, parece que este risco é sobretudo válido para os jovens que têm história de dificuldades anteriores à adolescência (Moffitt & Caspi, 2000; Moffitt, Caspi, Harrington, & Milne, 2002). Segundo Moffit e colaboradores, os problemas que se desenvolvem nesta fase são essencialmente devidos ao desfasamento entre a maturidade biológica e social. E este desfasamento ou fosso entre a puberdade e a maturidade psicossocial é maior nos tempos actuais. A puberdade ocorre mais cedo, os jovens prolongam mais os seus estudos e, como tal, adiam mais a entrada na vida activa, comparativamente com épocas passadas (Baumerind, 1987). Será este um prenúncio de cada vez mais problemas durante esta longa adolescência?

Mudanças Cognitivas

A adolescência é também um período de grandes mudanças a nível cognitivo. Muda-se a forma de pensar sobre as coisas. Com a entrada no período das operações formais, o pensamento torna-se mais complexo e mais eficiente. Steinberg (1998) refere alguns aspectos que caracterizam o pensamento adolescente para justificar esta complexidade. Primeiro, os adolescentes estão mais aptos para pensar sobre hipóteses. O raciocínio hipotético-dedutivo que se desenvolve na adolescência permite ultrapassar a barreira do concreto, sendo assim possível pensar acerca de ideias abstractas. Uma outra característica importante do pensamento do adolescente é capacidade de pensar sobre o processo de pensar, que se denomina de metacognição. Este processo de pensamento recursivo permite uma maior consciência de si, na medida em que trata como objectos de contemplação os seus pensamentos e os dos outros. Cada vez mais o pensamento tende a analisar múltiplos aspectos da vida e a vê-los como fruto de posições pessoais ou de critérios de avaliação. (Steinberg, 1998)

A teoria de Piaget trouxe uma contribuição fundamental para a compreensão do desenvolvimento cognitivo, facto que pode ser avaliado pelo lugar de destaque e atenção que ainda hoje se dá às suas formulações (Muuss, 1996). Piaget (1983) apresenta quatro estádios de desenvolvimento, sendo que o último estádio, estádio das operações formais, surge na adolescência. Este estádio inclui operações como pensamento proposicional, análise combinatória, raciocínio probabilístico, correlacional e abstracto, que tornam as operações mentais mais abstractas, complexas, lógicas e flexíveis. (Piaget, 1983)

Nos últimos anos, surgiram novas abordagens ao desenvolvimento cognitivo baseadas no processamento de informação. Segundo esta abordagem, o sistema de processamento de informação nos adolescentes aumenta a sua capacidade de processamento, sendo consequentemente mais sofisticado e complexo. Os defensores desta perspectiva argumentam, que a passagem do período das operações concretas para as operações formais depende precisamente desta evolução ao nível da capacidade do sistema de processamento de informação (Case, 1992; Flavell & Ross, 1981; Sternberg, 1992; Sternberg & Powell, 1983). Por detrás desta mudança estão três aspectos: aumento do conhecimento, maior

organização, planeamento e controlo na capacidade de pensar e processamento mais rápido e automático. Estas capacidades permitem a realização de várias tarefas cognitivas em simultâneo.

Mudanças Emocionais

A par das alterações biológicas e cognitivas, ocorrem as alterações emocionais. Estas alterações envolvem mudanças na forma como os indivíduos se vêem a eles próprios e na sua capacidade para funcionar independentemente. Com a entrada na adolescência aumenta a consciência do próprio, pelo que os adolescentes estão cada vez mais capazes de empregar autocaracterizações complexas, abstractas e psicológicas (Baumerind, 1987). A pesquisa e estabelecimento de uma definição de si, isto é, de uma identidade pessoal constituem uma das tarefas chave da adolescência. No entanto outros desafios importantes se colocam. Segundo Steinberg (1998), estabelecer um sentido de autonomia e independência é uma parte tão importante da transição emocional como o estabelecimento da identidade. (Steinberg, 1998)

A Procura de uma Identidade

O conceito de identidade foi “popularizado” por Erikson. Segundo a teoria epigenética, o desenvolvimento processa-se por etapas ou estádios psicossociais, nos quais os indivíduos são confrontados com desafios ou crises que necessitam de ser resolvidas de forma adequada para enfrentar os desafios seguintes.

Segundo Erikson (1968, 1982), a adolescência é a fase da vida em que os indivíduos devem estabelecer um sentido de identidade pessoal. Este desafio da construção da identidade, mais conhecido por crise da identidade, é fruto do desenvolvimento biológico, de expectativas culturais e pressões sociais. A identidade não surge espontaneamente com a maturação, tem de ser procurada e estabelecida através de um esforço pessoal. Para Erikson, a identidade só pode ser encontrada através da interacção com os outros significativos. E nesta fase da vida assumem uma importância especial, os amigos e os grupos de pares. As relações que se estabelecem a este nível são fundamentais no encontro da sua identidade pessoal, na medida em que dão oportunidade de experimentar papéis e oferecem

em simultâneo uma apreciação do desempenho. O adolescente passa assim, por um período de uma maior necessidade de reconhecimento pelo grupo de pares e por um envolvimento quase compulsivo com este grupo (Muuss, 1996). Esta ligação forte com os pares cria uma nova dependência que vem substituir a dependência dos pais. Tal como a anterior, esta nova dependência precisa de ser quebrada para que o jovem se encontre a si próprio e atinja uma identidade madura. A aquisição de uma identidade pessoal permite ao jovem adulto ter autonomia, iniciativa e confiança nas suas decisões. Por outro lado, a não resolução deste desafio, ou uma má resolução, leva à construção de uma identidade difusa, incoerente, ou a uma má "consciência do eu". Segundo Erikson, muitos dos problemas de comportamento que os jovens apresentam poderão ser nada mais do que reflexos de uma identidade mal resolvida. (Erickson, 1968, , 1982),

Marcia (1980) expandiu a teoria original de Erikson, concretamente através de um enfoque especial e alargamento de alguns aspectos relacionados com o estádio "identidade versus confusão da identidade". De acordo com Marcia, o critério para atingir uma identidade madura é baseado em duas variáveis essenciais, que Erikson identificou como crise/exploração e comprometimento. A crise/exploração refere-se ao tempo em que o adolescente analisa e coloca em causa os objectivos e valores definidos pelos pais, e começa a procurar alternativas ajustadas a si próprio em termos de valores, crenças e opções futuras. O comprometimento diz respeito ao envolvimento pessoal e afirmação dos objectivos, valores, crenças e opções que elegeu. Combinando estes critérios, surgem quatro modos distintos de conceptualizar as questões da identidade na adolescência: 1) identidade difusa ou confusa, o adolescente ainda não explorou hipóteses, nem se comprometeu com alternativas possíveis. As questões da identidade ainda não surgiram como significativas ou não foram ainda resolvidas; 2) comprometimento precoce, o adolescente ainda não explorou hipóteses, mas já se comprometeu com valores e objectivos que surgem duma identificação com os pais ou outros significativos. Como tal, a identidade não resulta de um investimento pessoal de procura de alternativas; 3) moratória, que é uma fase de exploração activa em que o adolescente experimenta diferentes papéis no sentido de encontrar a sua verdadeira identidade. No entanto, ainda não se comprometeu definitivamente com nenhuma das alternativas possíveis; 4) aquisição da identidade, o adolescente passou por um processo de exploração de hipóteses bem sucedido. Como resultado, construiu uma identidade madura com comprometimento pessoal em termos de ocupação, crenças e valores. Marcia refere que cada um destes

estatutos não é estático mas sim um processo em decurso. O indivíduo estabelece um sentido de identidade progredindo através destes quatro estatutos. No entanto, segundo o autor, apenas a moratória é essencial para aquisição da identidade, na medida em que é a etapa em que ocorre exploração, fundamental para o estabelecimento de um verdadeiro sentido de identidade pessoal.(Marcia, 1980)

A Conquista de uma Maior Autonomia

A autonomia é uma tarefa central na adolescência. A autonomia refere-se à medida em que o processo de socialização facilita o desenvolvimento de um sentido de identidade pessoal, eficácia e valor (Barber, 1997). Envolve uma mudança nas relações e na representação que o adolescente tem de si e dos outros. Entre estes outros, encontram-se os pais, elementos chave na tarefa da conquista da autonomia (Fleming, 1993). Neste período da vida, o adolescente é confrontado com duas necessidades paradoxais em relação aos pais: a separação e a dependência (Braconnier & Marcelli, 2000). A separação é inicialmente psicológica, traduz-se por um sentimento de desilusão em relação aos pais: os pais não escutam, não permitem o diálogo, não entendem. Os pais deixam pois de ser vistos como os mais sábios e poderosos. Muitas vezes, perante esta desilusão o jovem procura modelos no seu grupo de pares ou em outros adultos. Assim, os pais deixam de ser a sua única fonte primária de apoio e suporte. As preocupações, os aborrecimentos e as mais variadas necessidades podem agora ser partilhadas ou preenchidas por outros significativos, que não os pais. Os pais passam a ser vistos como pessoas e não apenas como pais (Steinberg, 1998). No entanto, a necessidade de dependência continua a existir. Esta necessidade é, segundo Braconnier e Marcelli (2000), escondida pelos adolescentes. A resistência a esta necessidade de dependência pode, segundo estes autores, estar na origem de muitos dos conflitos da adolescência. Contudo, é importante salientar que este desejo de separação, travado pela dependência, não implica uma perda da ligação afectiva que os adolescentes têm com os seus pais. Fleming (1993) salienta ainda que uma ligação segura aos pais é condição fundamental para uma autonomia.

Mas o que é ser autónomo para um adolescente? E como se conquista a autonomia? Fleming (1993) realizou um estudo com jovens entre 12 e os 19 anos que permite dar resposta a estas questões. Ser autónomo, para o adolescente, é poder decidir e agir de acordo com as suas ideias e opiniões numa série de

aspectos relevantes na sua vida como, por exemplo, saídas com amigos, fins-de- semana, férias, aparência pessoal, organização do seu espaço pessoal (quarto), gestão do dinheiro, relações afectivas, e resolução de assuntos pessoais. A conquista desta autonomia está relacionada com as percepções que os adolescentes têm das atitudes e do amor que os pais têm para consigo. Quanto maior a percepção de que os pais encorajam a autonomia, maior será esta capacidade. Também em relação ao amor, se verifica que os adolescentes que sentem que os pais têm amor para com eles são aqueles que manifestam maior capacidade de autonomia. De acordo com as conclusões do trabalho, um ambiente familiar de encorajamento contínuo da autonomia, de baixo ou moderado controlo parental sobretudo na fase intermédia e final da adolescência, são condições fundamentais para a autonomia comportamental nos adolescentes. (Fleming, 1993)

Uma Nova Moral

Também ao nível do desenvolvimento moral, o período da adolescência

No documento COMPORTAMENTOS DE RISCO NA ADOLESCÊNCIA (páginas 31-89)

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