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4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.2. Adubação e qualidade de sementes

A obtenção de semente de qualidade depende de técnicas de controle na lavoura, de procedimentos específicos no processamento, de adequadas condições de

armazenagem e de testes de laboratório para aferir seus atributos. As normas e padrões de campo e de laboratório para obtenção de sementes de qualidade são estabelecidos pelos órgãos fiscalizadores. Entretanto, o estado fisiológico da semente não é melhorado após ter sido produzida, processada e armazenada. Sua qualidade é reflexo dos cuidados adotados desde a escolha da área, da época de semeadura mais adequada e da tecnologia aplicada durante todo o processo produtivo (VIEIRA et al. 2000).

Dentre os fatores que afetam a qualidade das sementes se destacam a origem da semente, a adubação, as condições climáticas na fase da maturação e colheita, o tipo de colheita, a secagem, as condições de armazenamento. Contudo, segundo Sá (1994), até então poucas pesquisas haviam sido realizadas visando verificar as relações existentes entre fertilidade do solo, nutrientes fornecidos às plantas e qualidade das sementes produzidas.

Conforme Toledo & Marcos Filho (1977), a qualidade das sementes depende, em parte, do vigor de seus ascendentes, motivo pelo qual as terras cultivadas com a finalidade de produção de sementes devem possuir alta fertilidade, além de receberem adubações equilibradas. Relatam, ainda, que o uso de fertilizantes em áreas de produção de sementes é mais comum do que nas lavouras para produção de grãos, embora o número de experimentos relacionados especificamente com este aspecto seja muito restrito. Assim, o emprego de fertilizantes na produção de sementes é realizado com base nos resultados obtidos para as respectivas culturas de consumo alimentar e industrial.

Plantas adubadas adequada e equibradamente apresentam condições de produzir maior quantidade de sementes, aliada a melhor qualidade, por resistirem mais facilmente às adversidades durante o período de produção. O aspecto nutricional das plantas afeta o tamanho, massa e vigor das sementes, sendo que em muitos casos estes efeitos estão ligados à permeabilidade e integridade das membranas dos tecidos, onde os nutrientes atuam como ativadores enzimáticos ou são constituintes dessas membranas (SÁ, 1994).

Após a fertilização, fotossintatos elaborados no sistema foliar passam a ser translocados para a semente, nela se depositando de maneira a permitir sua formação e o desenvolvimento de sua capacidade de germinação e vigor. Assim, quanto maior for a reserva de nutrientes na semente, maior será o vigor da plântula dela resultante, bem como seu potencial de sobrevivência. Portanto, os fatores que afetam o desenvolvimento da semente e o acúmulo de reservas, afetarão também o seu vigor. Dentre eles destacam-se: a temperatura, o

suprimento de água, os nutrientes, a intensidade luminosa e a duração do fotoperíodo (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000).

As sementes durante seu desenvolvimento acumulam compostos nitrogenados, carbohidratos, lipídios e minerais (LOTT, 1984). Contudo, à semelhança dos demais orgãos da planta, apresentam composição química bastante variável por se tratar de um órgão que se forma no final do ciclo da planta.

A planta bem nutrida está em condições de produzir uma quantidade maior de sementes bem formadas. A exigência nutricional, para a maioria das espécies, torna- se mais intensa com o início da fase reprodutiva, sendo mais crítica por ocasião da formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes, como o fósforo e o nitrogênio, é para elas translocada. Esta maior exigência deve se ao fato dos nutrientes serem necessários para a formação e o desenvolvimento de novos órgãos, e como materiais de reserva a serem ali acumulados. A disponibilidade de nutrientes influi na formação do embrião e do órgão de reserva da semente, bem como em sua composição química e, conseqüentemente, no metabolismo, na germinação e no vigor da mesma (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000).

O nitrogênio, o fósforo, o cálcio, o magnésio, o boro e o zinco destacam-se dentre os nutrientes com respostas positivas na qualidade das sementes (SÁ, 1994). Entretanto, de acordo com Carvalho e Nakagawa (2000) não apenas o elemento em si, mas também a época de aplicação e a dose fornecida às plantas podem influenciar na qualidade das sementes.

Segundo Delouche (1980), as plantas desenvolveram uma extraordinária capacidade de ajustar a produção de sementes aos recursos disponíveis. A resposta típica de plantas à baixa fertilidade do solo ou à falta de água é a redução na quantidade de sementes produzidas antes que em sua qualidade. As poucas sementes produzidas sob condições marginais são usualmente tão viáveis e vigorosas como as produzidas sob as mais favoráveis situações. Do ponto de vista evolucionário, o ajustamento da produção de sementes aos recursos disponíveis tem um alto valor para a sobrevivência. As poucas sementes de alta qualidade teriam igual ou maior chance de germinar e desenvolver-se em condições adversas.

A fertilidade do solo em que a planta se desenvolve influencia a composição química das plantas e das sementes em desenvolvimento. Os nutrientes armazenados na semente irão suprir os elementos necessários para o estabelecimento da plântula, em seus estágios iniciais. Em leguminosas, os cotilédones são a principal fonte de energia para as plântulas durante as primeiras duas semanas após a germinação, daí a importância de se produzir sementes utilizando uma adubação equilibrada para o bom desenvolvimento das plantas e a obtenção de sementes de alta qualidade. Sementes produzidas em solo com altos teores de nutrientes originam plântulas mais vigorosas e essa vantagem é mantida durante o desenvolvimento das planta (SÁ, 1994). Entretanto, o grau com que esses elementos afetam o vigor da semente depende também das condições a que as plântulas forem submetidas com relação ao suprimento de nutrientes no solo. Desse modo, se o solo possuir condições de suprir a necessidade de um determinado elemento, poderia, em parte, compensar tal necessidade mesmo que a semente tenha sido originada de uma planta não muito bem suprida. Por outro lado, com certas limitações, uma semente com alto conteúdo de um elemento originará uma plântula vigorosa, em um meio deficiente nesse elemento. Entretanto, nota-se que esse comportamento varia com o elemento, a espécie, a variedade e as condições ambientais em que as pesquisas são executadas (CARVALHO & NAKAGAWA, 2000).

Em alguns casos, especialmente para os micronutrientes, a reserva interna da semente é suficiente para que a planta originada desta possa crescer sem dependência externa. Para os macronutrientes, devido a maior necessidade quantitativa para o crescimento e desenvolvimento das plantas, é pouco provável que só a reserva interna da semente seja suficiente para a planta completar seu ciclo (JACOB NETO & ROSSETTO, 1998).

Sementes de feijão originadas de plantas não adubadas mostraram qualidade inferior àquelas provenientes de plantas adubadas, em duas gerações de cultivo. As sementes não adubadas deram origem a menor população de plantas, porém a produtividade não foi afetada (VIEIRA et al. 1987).

Em condições de suprimento adequado de macro e micronutrientes é possível obter sementes maiores, mais uniformes, mais densas, com menor incidência de danos de pragas e doenças, menor número de sementes chochas, com maior potencial de

armazenamento, dentro dos limites da variedade e das condições climáticas predominantes (SÁ, 1994).