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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.3. Considerações finais

O feijoeiro é cultivado no Brasil em diferentes épocas e nos mais variados sistemas de cultivo. Na época das águas, a umidade do solo e a temperatura do ar favorecem o desenvolvimento da cultura, proporcionando maiores rendimentos, já na época da seca o desenvolvimento geralmente é prejudicado pela escassez de precipitação pluvial.

Assim, a caracterização climática de uma região permite definir os períodos mais favoráveis para uma cultivar expressar plenamente seu potencial genético (MEIRELES et al., 2000). Para a cultivar Carioca Precoce, na fase de produção de sementes, observou-se variações nos parâmetros avaliados de acordo com a época de cultivo. Essas alterações, provavelmente, estão associadas principalmente às variações de temperatura e de precipitação pluvial entre os períodos de cultivo (Figuras 1 e 2). No período das águas, a quantidade de chuva foi menor no período vegetativo, durante o florescimento e no início da fase reprodutiva da cultura em relação ao período da seca, contudo, no final da fase reprodutiva ela foi maior no período das águas. As temperaturas no período das águas aumentaram durante o ciclo da cultura, sendo menor na fase vegetativa e maior na reprodutiva. Já no cultivo da seca, as temperaturas da fase vegetativa foram maiores àquelas observadas na fase reprodutiva. Assim, uma maior diferenciação entre as épocas de cultivo, principalmente na produtividade e na composição química das sementes, poderia ter sido observada se a semeadura do cultivo das águas fosse realizada mais tardiamente, quando a precipitasção pluvial e a temperatura fossem maiores, beneficiando principalmente o desenvolvimento vegetativo da cultura, parâmetro esse que afeta diretamente a sua produtividade. A menor precipitação pluvial na fase vegetativa pode também ter interferido na absorção de nutrientes, comprometendo a expressão do efeito da adubação fosfatada sobre a composição química das sementes. A máxima resposta do feijoeiro à aplicação de fósforo tem sido observada em condições hídricas adequadas (ROSOLEM, 1987 e OLIVEIRA et al., 1996). Essa cultivar apresenta ciclo curto e desenvolvimento inicial rápido intensificando ainda mais os efeitos das condições adversas em função do período reduzido para compensação do crescimento.

Em relação ao cultivar IAC Carioca Tybatã, também foram observadas alterações nos parâmetros avaliados em função da época de cultivo. As variações climáticas observadas durante os períodos de cultivo da cultivar IAC Carioca Tybatã (Figuras 1 e 2) foram os mesmos observados para a cultivar Carioca Precoce. Contudo, aquela cultivar apresenta maior ciclo fenológico e desenvolvimento inicial lento. Assim, apesar da menor precipitação pluvial durante a fase vegetativa no período das águas, o alongamento da fase vegetativa devido ao maior ciclo da cultura fez com que o florescimento coincidisse com o inicio das precipitações pluviais que mantiveram-se durante a fase reprodutiva. Entretanto, durante a fase vegetativa no período da seca, a precipitação pluvial não foi fator limitante,

porém, no florescimento e durante a fase reprodutiva a precipitação pluvial foi reduzida. A disponibilidade de água neste caso, mostra-se como principal fator responsável pelas variações observadas nos parâmetros avaliados, principalmente na composição química das sementes e na produtividade de sementes que ficou abaixo do potencial produtivo da cultivar, principalmente na época das águas.

As cultivares de feijão respondem diferentemente às alterações do meio ambiente, principalmente à temperatura do ar, umidade e características físico-químicas do solo (ZIMMERMAM et al., 1996). Assim, provavelmente, as cultivares apresentem respostas diferenciadas tanto dentro como entre as épocas de cultivo. Apesar das variações particularizadas, observa-se resposta do feijoeiro a adubação fosfatada, principalmente pelo incremento na produtividade e pelo aumento do teor de P nas sementes. Entretanto, as doses de P avaliadas foram baixas impedindo as cultivares de mostrar seu máximo potencial de resposta à adubação fosfatada, assim como para o teor de P nas sementes, à exceção da cultivar Carioca Precoce cultivada no período da seca. As produtividades acima da média da região, observadas na ausência de adubação fosfatada, e as respostas lineares da produtividade demonstram que as cultivares avaliadas são eficientes na absorção de P e responsivas à adubação fosfatada. Assim, respostas mais significativas, principalmente com relação à composição química e qualidade fisiológica das sementes, poderiam ter sido obtidas com a utilização de cultivares menos eficientes, porém, responsivas à aplicação de P. Entretanto, essas cultivares são novas no mecado não dispondo ainda de informações relacionadas a adubações específicas.

O maior desenvolvimento da cultura, em função da adubação fosfatada com maior produção massa de matéria seca, como observado na produtividade de sementes, pode também ser a causa das diferenças particularizadas que foram constatadas na composição química das sementes, principalmente em função do efeito de diluição comumente observado. Outro fator que pode ter interferido, principalmente na manutenção da qualidade fisiológica, é a estratégia de sobrevivência das plantas, priorizando a qualidade das sementes em detrimento da quantidade produzida. Embora a composição química tenha sido alterada em alguns casos, as modificações nos teores de nutrientes e nas porcentagens de proteína e açúcares não se refletiram na qualidade fisiológica avaliada após a colheita, contudo, os efeitos da nutrição das

plantas sobre a qualidade da semente são comumente observados após algum período de armazenamento.

A correção do solo, antes da instalação dos experimentos, pode também ter contribuído para minimizar os efeitos da adubação fosfatada por melhorar as condições do solo e, consequentemente, favorecer a disponibilização do P, possibilitando o desenvolvimento satisfatório da cultura mesmo em solo com baixo nível desse nutriente, como observado na análise de solo realizada antes da calagem.

Na avaliação do desempenho das sementes também foram observadas variações nos parâmetros avaliados em função da época de cultivo. A cv. Carioca Precoce resultou em maior TCC e maior produtividade de sementes na avaliação das sementes produzidas no período das águas, ou seja, quando o feijoeiro foi cultivado no período da seca, em relação a avaliação das sementes produzidas na épocas da seca e avaliada no cultivo das águas. Normalmente, o cultivo das águas favorece o desenvolvimento da cultura e proporciona maiores rendimentos em função da umidade do solo e da temperatura do ar. Neste caso, as menores TCC e produtividade na avaliação das sementes produzidas no período da seca possivelmente esteja relacionada às condições de temperatura que mostraram-se elevadas, principalmente na fase inicial de desenvolvimento da cultura (Figura 4). Segundo Meireles et al (2000) as condições ideais de temperatura diurna para o bom desenvolvimento da cultura situa-se entre 25 e 30ºC, contudo, foram constatadas temperaturas médias acima de 25ºC. Outro fator que pode ter contribuido para o maior desenvolvimento da cultura na avaliação das sementes produzidas no período das águas foi a maior precipitação pluvial ocorrida nas primeiras semanas após a semeadura, gerando um melhor desenvolvimento inicial da planta, com efeitos cumulativos no decorrer do ciclo. Para a cultivar IAC Carioca Tybatã, as variações na TCC e na produtividade não foram tão contrastantes em função da época de cultivo. A precipitação pluvial favoreceu a produtividade de sementes na avaliação das sementes produzidas no periodo da seca, pois como pode ser verificado na Figura 3, a mesma foi baixa, principalmente durante o período reprodutivo na avaliação das sementes produzidas no período das águas. As diferenças entre as cultivares estão associadas principalmente ao ciclo das mesmas e a diferença na data de semeadura na avaliação das sementes produzidas nas águas, pois em função do ciclo menor e da semeadura antecipada, a cultivar Carioca Precoce foi menos afetada pela precipitação pluvial.

Nas duas épocas de cultivo, principalmente para a cultivar Carioca Precoce, a adubação fosfatada promoveu aceleração do metabolismo vegetal, constatado por meio dos índices biométricos e fisiológicos, favorecendo a produção de folhas e a expansão foliar, porém antecipando a senescência das mesmas e, reduzindo o ciclo da planta.

Em função da necessidade da cultura, certamente a quantidade de P contida nas sementes não é suficiente para a planta de feijão concluir seu ciclo, contudo, em solos com baixa disponibilidade de P, as reservas da semente podem contribuir para o desenvolvimento inicial da planta. Assim, resultados diferentes poderiam ter sido obtidos com a avaliação do desempenho das sementes com diferentes teores de P em solos com menor disponibilidade deste nutriente, pois mesmo apresentando níveis baixos de P, a quantidade disponível foi suficiente para a planta se desenvolver e não demostrar os efeitos das reservas internas.

Vários trabalhos tem demonstrado os efeitos das reservas internas de P sobre o desenvolvimento da planta, contudo, além da disponibilidade inicial de P no solo deve-se considerar as diferenças genotípicas entre cultivares, os teores internos avaliados e a variação entre os mesmos. A não detecção dos efeitos do teor de P das sementes neste estudo pode estar relacionada ao teor de P das sementes, que mesmo no nível considerado baixo foi suficiente para o estabelecimento inicial da planta, pois não foram estabelecidos, ainda, os limites críticos de acúmulo de nutrientes nas sementes. O período decorrido da semeadura até a primeira amostragem (10 DAE) também pode ter contribuido para a não observação dos efeitos das reservas de P na semente, pois em virtude da disponibilidade inicial de P no solo, nesse período pode ter ocorrido compensação no desenvolvimento das plantas provenientes de sementes com menor teor de P.

Deve-se considerar ainda, que a maioria dos trabalhos realizados utilizaram-se da adubação foliar para incrementar o teor de P nas sementes, onde o P é aplicado na fase de formação e enchimento das vagens, favorecendo o direcionamento do nutriente para as vagens e não para o crescimento vegetativo, o que possibilita a obtenção de teores mais elevados de P na semente. Entretanto, neste estudo, em função das respostas lineares na produtividade e na acumulação de P nas sementes, a aplicação de doses maiores de P no solo na fase de produção talvez possibilitasse a obtenção de sementes com teores maiores de P para essas cultivares.