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Aerodispersóides e problemas respiratórios

No documento Análise do trabalho em granja de suínos (páginas 36-40)

1. CAPÍTULO I

1.6 Aerodispersóides e problemas respiratórios

Em ambientes rurais, um fator importante na avaliação das condições de trabalho é o ambiente aéreo. Este influencia na saúde do trabalhador e nas suas condições laborais.

Estudos mostram a ocorrência da diminuição da função pulmonar em trabalhadores de granjas de suínos expostos à alta concentração de NH3 (amônia) (Chang et al., 2001).

Robertson (1992) medindo o teor de NH3 em granjas de suínos verificou que 21% (6/29)

dos trabalhadores relataram dor de cabeça, sendo que a concentração de gás encontrava-se abaixo de 25ppm. Sainsbury (1981), apud Miragliota (2005) afirma que até 50 ppm de amônia considera-se seguro para a saúde do trabalhador. De 50 a 100 ppm, a amônia pode ser inalada sem grandes consequências. De 100 a 200 ppm, a amônia induz sonolência, salivação e inapetência.

Gustafsson (1997) descreve que a alta concentração de NH3 causa irritação no

sistema respiratório e nos olhos; que o H2S (gás sulfídrico), principalmente nas instalações

que usa fosso para armazenamento dos dejetos por certo período, trazem maiores preocupações, pois acima de 200 ppm, pode ser letal ao ser humano, porém removidos os dejetos, esta concentração normalmente fica abaixo de 0,5 ppm.

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A exposição a esterco de animais pode apresentar riscos de se adquirir infecções diversas. Os trabalhadores que recolhem esterco nos estábulos ou o manipulam no processo de adubação podem estar sujeitos a adquirirem doenças. Esses gases quando inalados e em ambientes mal ventilados, podem representar sérios riscos à saúde do trabalhador agrícola (Fleming, 2003).

Estudos realizados em granjas de suínos na Europa mostram que 27% dos trabalhadores apresentavam problemas respiratórios e ainda concluem que os trabalhadores têm um alto risco de apresentar problemas respiratórios (Randon et al., 1999). Em estudo de caso realizado por Silveira et al. (2006) concluiu-se que a exposição prolongada a ambientes aéreos insalubres de trabalho podem levar ao aparecimento de alterações na função pulmonar, principalmente com componente obstrutivo. Por meio da análise estatística foi demonstrado que, quanto mais tempo de trabalho na suinocultura, pior é a avaliação respiratória, o que comprova que os trabalhadores não estão garantindo sua segurança e saúde.

Segundo Randon et al. (1999) os fazendeiros se encontram na faixa de elevado desenvolvimento da doença ocupacional aérea. Em estudos realizados com fazendeiros europeus, onde 35 fazendas foram selecionadas aleatoriamente, constatou-se que trabalhadores de fazendas de suínos na Dinamarca e Alemanha, trabalhadores de fazendas de aves domésticas na Suíça e trabalhadores de estufa na Espanha estavam na faixa de risco mais elevado para sintomas respiratórios relacionados ao trabalho. A inalação de grandes concentrações de gases nocivos, emitidos pelo esterco animal, tem provocado a morte de pessoas e animais, Nader et al. (2002). O processo de contaminação por poluentes aéreos pode ser exemplificado da seguinte forma: o ar que se inala penetra através das cavidades nasais, faringe, traqueia, brônquio e bronquíolos em suas diversas ramificações até atingir o órgão alvo que é o pulmão, ou mais especificamente os alvéolos, e nestes se processa a absorção para a corrente sanguínea do oxigênio juntamente com a eliminação do gás carbônico (Tietboehl Filho, 2003). Segundo o autor, graças a uma série de mecanismos de defesa como a ação do tapete mucociliar da mucosa brônquica e a atividade fagocitária dos macrófagos alveolares, as partículas inaladas podem ser capturadas e eliminadas. Entretanto, quando a contaminação por líquido e por gases e vapores em níveis de concentração são elevados o esforço desses mecanismos de defesa para garantirem uma

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qualidade adequada ao ar inalado é suplantado. Assim, as partículas de diâmetro aerodinâmico equivalente ou menor que 10 μm e os gases provenientes do ambiente penetram profundamente e se depositam nas vias aéreas e pulmão provocando reações teciduais por meio de mecanismos irritativos, alérgicos, tóxicos ou mesmo carcinogênicos. Ressalta-se que o aparelho respiratório mantém a maior área do corpo humano em contato com o meio externo, com uma superfície alveolar de aproximadamente 70 m2 (Castro et al., 1994).

Wathes et al. (1997) afirmam que as altas concentrações de poluentes aéreos nas instalações para produção animal são de interesse científico por duas razões: existem evidências epidemiológicas de que a saúde dos trabalhadores possa ser afetada pela exposição diária aos diversos poluentes, e que a saúde animal pode ser comprometida pela exposição continua a estes poluentes, com infecções potencializadas e doenças respiratórias causadas por agentes oportunistas; e segundo, porque as instalações para a produção animal são as maiores emissoras de amônia (NH3), óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e dióxido

de carbono (CO2) na atmosfera, contribuindo para a acidificação do solo e o aquecimento

global.

As doenças respiratórias que acometem os produtores rurais datam de 1700, mas foram necessários dois séculos para que a ciência iniciasse seus estudos relacionando os riscos da inalação de poeiras orgânicas sobre a saúde destes trabalhadores. O primeiro trabalho na Europa relatando os riscos a que se submetiam produtores de suínos foi publicado em 1977, o que deu inicio a uma serie de conferências, que atualmente discutem tópicos sobre riscos à saúde humana, os danos causados, definições de agentes e métodos de detecção, terminologia padronizada e a criação da comunidade científica dedicada a este assunto (Donham, 1999).

Um estudo de Dosman et al. (1997), no qual foram comparadas as condições de saúde dos sistemas respiratórios de trabalhadores de granjas de produção industrial de suínos, trabalhadores de produção de grãos e um grupo controle, demonstrou que os dois primeiros grupos, de produção de suínos e de grãos, apresentam os mais altos riscos de desenvolver doenças respiratórias crônicas que o grupo controle.

Os sintomas respiratórios nos trabalhadores rurais estão, em geral, associados às atividades realizadas em silos e no confinamento animal, e principalmente correlacionadas

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à poeira existente nestes ambientes de trabalho. Inúmeros problemas respiratórios surgem como asma, (asthma-like syndrome) e outros sintomas abrangem os problemas do “pulmão do fazendeiro” (farmer’s lung), ou o “distúrbio do operador do silo” (silo filler’s disease). Quadros pulmonares de hipersensibilidade que têm sido vinculados à inalação de esporos de fungos (Muthel e Donham, 1983).

A presença de poeira nas edificações para confinamento animal contribui para maior incidência de enfermidades respiratórias nos trabalhadores, agredindo os tecidos das vias aéreas (nariz, garganta e laringe), os pulmões e os olhos, provocando inflamação, asma, febre, entre outros sintomas, além de serem vetores de agentes biológicos patogênicos como protozoários, fungos, bactérias e vírus. Donham (1999) em estudo realizado com trabalhadores em confinamento de suínos de regiões temperadas, cita que 60% destes apresentam tosse seca, problemas na respiração, irritação no nariz, nos olhos, na garganta, sendo que alguns apresentavam enfermidades mais graves como febre, asma, entre outros sintomas.

Segundo Viegas (2000), são constatados aumentos significativos do risco de morbidade por problemas respiratórios em fazendeiros e trabalhadores rurais. Os agentes são os mais diversos: poeira inorgânica do solo, poeira orgânica contendo microorganismos, toxinas ou alérgenos, gases de decomposição, pesticidas que podem causar processos obstrutivos ou síndromes tóxicas. Uma alta incidência de bronquiectasias, bronquiolite obliterante e limitação crônica do fluxo aéreo, assim como rinite, vêm sendo detectadas nas populações de trabalhadores que cuidam de animais.

Desde 1932, quando foi publicado o primeiro artigo “Farmer’s Lung” (Campbell, 1932, apud Donham, 1999) até 1999, foram identificados os seguintes tópicos de interesse no estudo da presença de poeira nas instalações de produção animal que pode vir a prejudicar a saúde do trabalhador: (a) Ao menos 60% dos trabalhadores de granjas de produção confinada de suínos apresentam sintomas agudos ou subagudos do aparelho respiratório (tosse seca, dificuldades respiratórias, irritação de nariz e olhos, dentre outros); (b) Cerca de 25% destes trabalhadores apresentam periodicamente, sintomas de febre aguda, dor de cabeça, nos músculos, dificuldade respiratória e tosse que são denominadas atualmente como ODTS (Organic Dust Toxic Syndrome); (c) Cerca de 25% destes indivíduos apresentam bronquite crônica, asma não alergênica ocupacional, e sinusite

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crônica não infecciosa; sintomas crônicos tendem a ser potencializados se expostos a mais que duas horas por dia e mais que seis anos (Donham, 1999.)

Em pesquisa de Sampaio et al. (2007) desenvolvida em duas instalações para suínos nas fases de creche e terminação, em duas salas cada, em granjas localizadas no município de Salto, SP, com os objetivos de avaliar a concentração de amônia e poeira e a presença de fungos, além de estimar os riscos de exposição ocupacional a esses agentes ambientais, encontrou-se resultados que indicaram diferença significativa nas concentrações de amônia em relação aos horários, às instalações e aos períodos do dia. Estes também indicaram negligência para a questão da ventilação sanitária nas instalações de creche, com consequêntes teores mais altos de amônia, e que estes estavam vinculados à circulação de ar no interior das instalações, ao manejo dos dejetos e da cortina, à tipologia da construção e às condições de clima local, além da lotação e da densidade de suínos. A concentração de poeira total foi mais alta nos prédios de creche (0,84 - 9,16 mg/m3) do que nos de terminação (0,84 - 3,34g/ m3), enquanto que a poeira respirável foi mais alta na creche, ficando inferior a 3,67mg/m3 e dentro dos limites de salubridade para o trabalhador. Os fungos identificados nas instalações foram Aspergillus (28%), Neurospora (18%),

Penicillium (7%), Colletotrichum (5%), Fusarium (8%) e outros (34%). Dentro do gênero

Aspergillus, foram identificados: A. niger, A. parasiticus, A. candidus, A. flavus, A.

nidulans, A. fumigatus. A porcentagem de fungos do gênero Aspergillus identificados nos

filtros de poeira respirável e de poeira total foi de 34 e 45%, respectivamente, indicando que a poeira total é mais adequada para mostrar a presença desses microrganismos.

No documento Análise do trabalho em granja de suínos (páginas 36-40)

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