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4 METODOLOGIA E O MÉTODO DA PESQUISA

4.2 AFDLP – O PONTO DE PARTIDA

Para viabilizar a análise de trajetórias dos mesmos grupos familiares buscou-se bases de dados que permitissem identificar as famílias e que possuíssem a consistência e amplitude de informações para dar suporte a um estudo de trajetórias. Em função disso, chegou-se ao projeto de pesquisa Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local e Pluriatividade: a emergência de uma nova ruralidade no Rio Grande do Sul (AFDLP), que tinha como objetivo, em linhas gerais,

analisar comparativamente as dinâmicas da agricultura familiar gaúcha em quatro regiões, tendo sido executado entre os anos de 2002 e 2004. O projeto incorporou a ideia de dinâmicas territoriais de desenvolvimento como elemento mediador entre a produção familiar (unidade de análise) e os elementos do entorno, como espaço de sociabilidade mais amplo e de viabilização das dinâmicas sociais e produtivas dos agricultores familiares.

A pesquisa foi voltada ao estudo das estratégias de reprodução social da agricultura familiar, considerando as relações estabelecidas simultaneamente entre a unidade familiar e o ambiente social e econômico. O objeto de estudo foi realizar uma “[...] análise do modo de interação dos agricultores familiares com o sistema social capitalista e de que forma estes conseguem se reproduzir nos marcos desta condição social” (AFDLP, 2004, p. 15).

Esse projeto de pesquisa resultou da cooperação empreendida pelos professores Flávio Sacco dos Anjos, do Departamento de Ciências Sociais Agrárias (UFPel) e Sergio Schneider, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Nesse período, a agenda de pesquisa estava fortemente marcada pelos estudos relacionados à emergência de novas dinâmicas nos espaços rurais, marcadamente relacionadas à pluriatividade e o papel das atividades não agrícolas na emergência do novo rural brasileiro, impulsionadas, sobretudo por José Graziano da Silva, nos marcos do projeto “Rurbano9”, como também pelas conclusões

inovadoras dos estudos pioneiros de Schneider (1994) e Sacco dos Anjos (1995), sobre transformações em curso na agricultura do sul do Brasil.

Percebe-se, no conjunto dos trabalhos gerados e na dinâmica de funcionamento do projeto, a grande preocupação com a constituição de metodologias adequadas para fazer frente ao conjunto dos objetivos e questões levantadas pela pesquisa. Diversos encontros foram realizados, contando com a presença e/ou consulta de especialistas, além da elaboração de textos para discussão e aprimoramento da abordagem metodológica, geral e específica, na elaboração dos instrumentos de coleta, na definição dos procedimentos de organização e na análise dos dados.

Além de considerar dados secundários, o principal instrumento de coleta de dados foi um amplo questionário estruturado com diversas questões quantitativas e qualitativas, que resultou em, aproximadamente, 1.300 variáveis. O questionário foi montado a partir de uma matriz composta por sete eixos de questões fundamentais, quais sejam: caracterização da

9 Amplo projeto de pesquisa que envolveu vários pesquisadores de diversas regiões do Brasil durante a segunda metade dos anos 1990, tendo aportado importantes elementos para a compreensão de novas relações entre o rural e o urbano, bem como sobre as transformações no cenário rural brasileiro, especialmente em relação as ocupações agrícolas e não agrícolas.

família, dos fatores de produção terra, capital e trabalho, dos processos de produção, informações sobre o valor gerado, caracterização do território e do ambiente social e econômico local, além dos aspectos gerais sobre as relações com o Estado e as políticas públicas.

Esse questionário foi aplicado em uma amostra de 238 famílias de agricultores familiares de quatro microrregiões gaúchas (Pelotas: Sul do estado; Cerro Largo: Noroeste, fronteira com a Argentina; Frederico Westphalen: Alto Uruguai, divisa com Santa Catarina; e Caxias do Sul: na Serra gaúcha), conforme explicitado na Figura 2. O esforço do projeto foi de submeter à análise, desde um mesmo marco teórico e metodológico, a diversidade da agricultura familiar do Estado. Assim, a escolha dessas microrregiões deveu-se às distintas dinâmicas territoriais e históricas, bem como à diversidade social, cultural, geográfica e das condições ecológicas na qual se assenta a agricultura familiar nesses distintos espaços da geografia gaúcha.

Escolhidas as microrregiões, passou-se à escolha dos municípios, procurando contemplar os que representassem, em termos medianos, a diversidade social, econômica e cultural da trajetória da formação e desenvolvimento histórico da agricultura familiar em cada um dos territórios selecionados (Figura 3). Além disso, o processo de escolha considerou a similaridade no número de agricultores familiares de cada município, utilizando os dados do Censo Agropecuário (1995/1996) como uma proxy, resultando na escolha de Veranópolis (Serra), Três Palmeiras (Alto Uruguai), Morro Redondo (Sul) e Salvador das Missões (Missões). Optou-se por uma amostra não probabilística de 10 a 15% do total dos estabelecimentos agrícolas desses municípios, sendo aplicados os seguintes números de questionários: 59 tanto em Veranópolis como em Três Palmeiras; 62 em Morro Redondo; e 58 em Salvador das Missões.

Figura 3 - Localização das regiões e municípios de estudo do projeto AFDLP no RS

Fonte: Relatório Final do projeto AFDLP (2004).

Em Salvador das Missões os questionários foram aplicados entre os dias 30 de janeiro e 02 de fevereiro de 2003. Os dados coletados referem-se ao ano agrícola 2001-2002. Esse questionário cobriu 10% das propriedades do município, através de amostra sistemática por comunidade, garantindo assim a representatividade da amostra em relação ao conjunto da agricultura familiar do município.