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6 ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA

6.1 A COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS DE ANÁLISE

O processo e os critérios de composição dos grupos de análise foram caracterizados na apresentação da metodologia desta tese (Capítulo 4), mas cabe relembrar que foram constituídos grupos homogêneos utilizando como critério de separação o tipo predominante de renda familiar. As rendas familiares foram classificadas em cinco categorias distintas, sendo elas: renda de aposentadoria, renda não agrícola, renda agrícola, outras rendas do trabalho e rendas de outras fontes. Cabe destacar que, em conformidade com os critérios, uma família poderia apresentar apenas uma modalidade de renda, sendo, nesse caso, essa a fonte predominante. Mas também poderia apresentar as cinco modalidades de renda, de forma combinada, em diferentes proporções, sendo considerada, nesses casos, a forma predominante aquela que, proporcionalmente, apresentava o maior valor em relação à renda total da família.

Considerando a modalidade predominante de renda como critério de distinção, no Gráfico 10 observa-se a configuração de três grupos de famílias assim conformados: renda de

aposentadoria (RAPOS); renda não agrícola (RnA); e renda agrícola (RA)16. Pode-se observar

o crescimento do número de casos nos grupos RAPOS e RnA, com maior expressividade no primeiro grupo, acompanhado da redução do número de casos no grupo RA. Considerando a totalidade dos casos, pode-se afirmar que as rendas de outras fontes (ROF) e outras rendas do trabalho (ORT) aparecem como formas de renda complementares, pois as rendas de aposentadoria, não agrícola e agrícola são, efetivamente, as modalidades mais importantes para o conjunto das famílias pesquisadas, sendo essa a razão que justifica a configuração destes três grupos de análise.

Gráfico 10 - Participação absoluta e relativa do número total de casos nos grupos de renda predominante em 2002 e 2017

Fonte: Pesquisa AFDLP (UFRGS; UFPel; CNPq, 2003) e pesquisa de campo 2018.

Em termos relativos observa-se que, em 2002, a maior concentração de famílias encontrava-se no grupo com predominância da renda agrícola, com 65,52% dos casos pesquisados, caindo para 43,10%, em 2017. Apesar dessa redução, este segue sendo o grupo que possui o maior número de famílias. A modalidade de renda com maior aumento do número de casos foi o grupo em que predomina a renda de aposentadoria, que dobrou de tamanho entre os anos pesquisados, passando a representar cerca de um terço do conjunto das famílias no segundo ano da pesquisa. O número de famílias no grupo de renda não agrícola aumentou seu

16 No ano 2002 houve um caso com predominância de “outras rendas do trabalho”. Entretanto, como se tratava de apenas uma família, optou-se por agrupá-la ao grupo de sua segunda maior fonte de renda, para tratá-la grupalmente e não individualmente na pesquisa. Em 2017 ocorreram dois casos semelhantes, com predominância da “renda de outras fontes” e foi adotado o mesmo procedimento anterior para não configurar um novo grupo com apenas dois casos. Optou-se, dessa forma, por não considerar como um grupo de análise as modalidades de renda que apresentavam apenas um ou dois casos nos dois anos da pesquisa.

2002 2017

Renda não agrícola 10 13

Renda de aposentadoria 10 20 Renda agrícola 38 25 65,52% 43,10% 17,24% 34,48% 17,24% 22,41%

tamanho em 30%, mas foi o grupo minoritário no segundo ano da pesquisa, representando cerca de um quinto dos casos estudados.

O sentido do termo “trajetória” está fortemente associado à ideia de movimento e é utilizado de forma recorrente por diversas ciências. No caso da física, a trajetória se refere ao caminho percorrido por determinado corpo em movimento, desde seu ponto de partida até o de chegada. No campo das ciências sociais este termo incorpora fortemente uma dimensão histórica, de transformações ao longo do tempo, podendo referir-se a indivíduos e grupos sociais, ou mesmo espaços e instituições. Todavia, em que pese seu frequente uso acadêmico, ainda carece de uma definição mais precisa em termos conceituais, com seu uso adaptado em diversos campos do conhecimento e carregado de múltiplos sentidos.

No caso da presente tese, uma trajetória se define pelo movimento que uma família realiza ao longo do tempo para permanecer ou alterar sua posição de pertencimento a determinado grupo de renda predominante entre os dois anos da pesquisa. Sustenta-se que a trajetória resulta da capacidade de agência dos agricultores, que desenvolvem estratégias de uso e mobilização dos recursos disponíveis em contextos diversos, nos quais atuam forças externas que também incidem sobre as trajetórias familiares, podendo favorecer, estimular, cercear ou mesmo determinar certo caminho a ser seguido.

Quanto às trajetórias, tendo em conta que são três grupos de renda predominante em cada ano da pesqusia, teoricamente, existem nove caminhos possíveis de serem percorridos pelas famílias, totalizando nove possíveis trajetórias. As diferentes trajetórias foram classificadas em duas categorias distintas, sendo uma de permanência e a outra de troca de grupo de renda predominante ao longo do tempo. Do conjunto de trajetórias, três delas compõem trajetórias de continuidade, que são formadas por aqueles casos cujas famílias mantiveram-se no mesmo grupo de renda, tanto em 2002 como em 2017. Nas outras seis trajetórias as famílias não permaneceram no mesmo grupo de renda predominante nos dois anos da pesquisa, por isso foram consideradas trajetórias cambiantes.

Em termos objetivos, são as seguintes as possíveis trajetórias de continuidade: estar no grupo RAPOS em 2002 e nele permanecer em 2017; estar no grupo RnA em 2002 e nele permanecer em 2017; estar no grupo RA em 2002 e nele permanecer em 2017. As trajetórias cambiantes apresentam as seguintes possibilidades: saída do grupo RAPOS em direção aos grupos RnA ou RA; saída do grupo RnA em direção aos grupos RAPOS ou RA; saída do grupo RA em direção aos grupos RAPOS ou RnA.