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A sexualidade é um tema que deve ser tratado com muita atenção e cuidado, pois envolve valores, padrões éticos, morais, estéticos e políticos, que dizem respeito a cada um, em particular, e a todos, em geral. Tal como refere López (1999), as atitudes vão-se construindo ao longo da vida como consequência das experiências e dos comportamentos aprendidos, e são influenciadas por factores culturais. Logo, a socialização é um factor a ter em conta, pois este é um processo pelo qual adquirimos comportamentos, crenças, normas e valores, no contexto familiar e cultural.

Podemos afirmar, portanto, que as normas e valores assimilados no decorrer do processo de socialização pelo indivíduo são interiorizados através de contactos progressivos.

No domínio da sexualidade é essencial considerar o factor religioso, na medida em que este veicula valores morais, que regulam comportamentos sexuais (Reis, 2004). O discurso dominante que assenta em muito na ideia de pecado, tem um papel fundamental no sentimento individual que deve ser regulado na inter-relação social. Assim, com a ideia da sexualidade ligada ao pecado, e tendo como principal objectivo a reprodução, continua a ser ensinado um código sexual baseado no medo do corpo.

Ora, a sexualidade humana não deve ser considerada como uma matéria inacessível ou fechada, pois a ética referente a esta temática será diferente de acordo com as opções e alternativas sociais e de grupo.

Esta ideia, assim equacionada, leva a considerar que a ética e a sua dinâmica não são mais do que um conjunto de valores e normas que influenciam o indivíduo — que, por sua vez, possui também, segundo (Reis, 2004), uma ideologia pessoal a normalizar o comportamento humano — sendo, contudo, evidente que os valores não existem por si mesmos, nem de forma abstracta, uma vez que guiam e regulam a acção e comportamento humano em situações sociais muito definidas.

Na sequência deste raciocínio, podemos dizer que cada grupo condiciona um comportamento sexual, aprovando ou desaprovando e estabelecendo normas e valores. O resultado destas influências, a que se somam as experiências pessoais,

36 estrutura e molda o comportamento sexual. Assim sendo, o comportamento e os valores éticos modificam-se, assim como os regulamentos legais.

Já em relação à motivação ou impulso sexual, terão importância as aprendizagens da identidade e do comportamento sexual. Nesse sentido, muitos psicólogos estão em sintonia, ao afirmarem que o papel sexual individual é o mais destacado dos papéis sociais desenvolvidos por uma pessoa. Dentro desta temática, a socialização é trabalhada e vivida nos dias de hoje, pelos jovens, de uma forma diferente, pois vivemos numa época de mudanças sociais em que os papéis tradicionais estão progressivamente a modificar-se, dando lugar, cada vez mais, a papéis com funções equitativas.

Para além disso, complementarmente, cada sociedade estrutura os seus valores, sendo o desenvolvimento moral um processo complexo, daí a importância da educação sexual na formação integral dos jovens. E se isso é certo, não menos certo é o facto de que os princípios pedagógicos requerem uma certa liberdade de aprendizagem. Neste sentido, a pedagogia pode levar-nos a alcançar o progresso social (garantia da liberdade pessoal) e a abrir perspectivas para outras questões mais igualitárias. Na óptica de Félix (2002), o desenvolvimento moral é um processo de construção interna do qual não se pode descurar o controlo exterior traduzido pela restrição exercida pelos adultos em relação aos mais jovens. Se, por um lado, este controlo é essencial para o bom desenvolvimento moral, por outro, pode constituir um obstáculo à autonomia e ao desenvolvimento das crianças. Como refere Félix (2002), as crianças vão gradualmente adquirindo consciência de tudo o que os adultos esperam dela, o que se traduz, por sua vez, num maior controlo sobre os seus próprios comportamentos e atitudes.

Nesta ordem de ideias, convém sublinhar que, em todo o acto de educar, deverá estar presente uma vertente afectiva e, quando se trata da questão da sexualidade, este aspecto desperta, compreensivelmente, com uma maior intensidade. Mas há que ter também um outro aspecto em consideração: a relação afectiva que deverá existir entre o educador e o educando.

Tal como refere Andrade (1995), os afectos não são apenas fisiológicos; há que ter em atenção o olhar associado a um conjunto de sentimentos, onde se incluem, entre outros valores, a tolerância, a aceitação e a confiança. Contudo, “não é fácil a conquista de uma afectividade equilibrada e gratificante” (Dias, 2002, p.20). Logo, podemos afirmar que será importante sensibilizar e promover acções educativas que visem desenvolver a capacidade de distinguir as vivências emocionais e afectivas. Desta forma, será mais fácil interpretá-las e sobretudo integrá-las no processo de desenvolvimento pessoal.

37 Compete também ao educador conseguir empregar uma linguagem clara de afectos, tal como proporcionar um diálogo onde se destaque a confiança e a liberdade, envolvido por um clima de empatia. Assim, a aprendizagem torna-se mais motivante, uma vez que permitirá à criança colocar dúvidas e questões sem qualquer tipo de constrangimento ou receio. Tal como refere Dias (2002), a abordagem da educação sexual não se pode conceber sem um relacionamento entre professor e aluno baseado na confiança recíproca e no respeito pelas vivências pessoais de ambos — ideia, aliás, reforçada também por Balancho (1986), que nos assegura que é no primeiro contacto que o professor cria empatia e retém a boa vontade dos alunos, pois estes sentem uma necessidade especial de serem ouvidos, compreendidos e partilharem as suas aventuras e experiências.

Uma outra ideia merece, entretanto, ser sublinhada: apesar de todo o destaque dado aos afectos, não podemos descurar a importância da aquisição de conhecimentos. Contudo, estes (afectos) dependem das relações que se estabelecem entre as pessoas; e uma vez que o Homem é um ser de relação não pode deixar de estabelecer comunicação com os outros. Este facto permite que se realize tanto a nível pessoal, como social.

Não será por isso difícil concluir que, como base de todas as relações afectivas e naturalmente educativas, deve existir empatia, compreensão e respeito, atendendo também aos valores vividos e defendidos por cada um de nós.

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