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Articulação escola/família face à educação sexual

A família e a escola são dois importantes ambientes sociais que proporcionam à criança estímulos, ambientes e modelos fundamentais que servirão de referência para as suas condutas, sendo, ao mesmo tempo, instituições vitais no crescimento da criança.

No plano legal, o envolvimento das famílias nas escolas remonta a 1976, ano em que, através da Constituição da República Portuguesa, se consagra a necessidade e cooperação entre o Estado e as famílias, tendo em vista a educação das crianças e dos jovens. Segundo Diogo (1998), o Decreto-Lei nº769-A/76 foi o motor de uma política relativamente à participação dos pais e encarregados de educação em meio escolar. Com este Decreto, foi possível a participação dos pais e encarregados de educação nos conselhos de turma. No entanto, esta participação era apenas de natureza disciplinar. Foram necessários dez anos para que fosse dado um novo protagonismo das famílias na vida escolar dos seus educandos, através da entrada em vigor da Lei de Bases do Sistema Educativo. O envolvimento das famílias nas escolas passou, então, a ser mais notório, embora, para o autor supracitado, muito ainda poderá ser feito.

Como se depreenderá, a finalidade principal da interacção entre os pais e/ou encarregados de educação e os professores é a socialização da criança, bem como a sua iniciação na vida em sociedade, não esquecendo também a sua preparação para o futuro. Urge, por isso, ter consciência de que a partilha entre estas duas instituições (a escola e a família) são uma mais-valia para a criança.

Considerando, então, que a família e a escola são os dois contextos sociais que mais contribuem para a educação da criança, é importante que haja uma relação estreita entre os dois; e, no que se refere às particularidades da educação sexual, este princípio deve ser ainda mais reforçado, uma vez que a falta de articulação entre escola e as famílias poderá coibir a continuidade de actividades pondo em causa a sua qualidade (Marques, 2002).

Esta perspectiva é sublinhada por Paiva e Paiva (2002, p.36), ao afirmarem que “a participação dos pais é vital e não é novidade nenhuma que a educação para a sexualidade deve ser por excelência feita na família”. Contudo, adiantam ainda que há

52 a necessidade de a escola ter em conta todas as crianças, principalmente aquelas em que as famílias não são capazes de proporcionar educação a esse nível.

Nas palavras de Marques (2002, p.31), no que concerne ao princípio básico e orientador, a educação sexual “deve ser assumida como um direito das crianças e os pais devem ser encarados como elementos inevitáveis envolvidos nesse processo, e não como uma obstrução”; este autor adianta ainda que, deste modo, as iniciativas terão mais sucesso e serão mais e melhor adaptadas às necessidades das crianças e interesses da família e da comunidade, em geral.

De acordo com Marques (2002), não deverá, de forma alguma, haver qualquer tipo de competição entre a escola e a família e os papéis que cada uma destas instituições desempenha, pois dificilmente uma é substituta da outra. É certo que a família tem primazia sobre todos os agentes, pelo papel que naturalmente desempenha em relação à criança; contudo, não menos certo é o facto de que pode e deve existir uma conjugação com o papel atribuído às escolas no âmbito da educação sexual, pois estas contribuem consideravelmente para o desenvolvimento das competências básicas para o exercício da cidadania.

Ainda segundo Marques (2002), os docentes são frequentemente solicitados pelos pais/encarregados de educação, de forma a obterem algum apoio e orientação no que diz respeito à educação sexual. Logo, não há que temer qualquer tipo de conflito, desde que exista uma comunicação estreita entre a escola e as famílias, e desde que estas entendam as intenções e práticas docentes. No entanto, para que tal aconteça, o professor deve clarificar o que é, realmente, a educação sexual, utilizando princípios éticos, divulgando as actividades em curso, bem como os recursos pedagógicos a implementar. Só assim “será mais fácil desvanecer as possíveis dúvidas ou anseios que, naturalmente, se geram quando este tema é posto em discussão, assim como se garantirá que as opiniões dos pais são baseadas no conhecimento pleno do que se está a executar e não numa representação desfasada da realidade” (Marques, 2002, p.33).

Todavia, há ainda muitos profissionais que referem que os pais, apesar do interesse demonstrado, nem sempre aderem à participação directa em actividades direccionadas para eles. Há, pois, que recorrer a um vasto número de estratégias, que devem servir, em simultâneo, os interesses da escola e da família. “Provavelmente, esta dificuldade exigirá graus mais acentuados de criatividade, sustentados por uma reflexão crítica por parte dos profissionais (…) no sentido de encontrar formas de acção que, mesmo que lentamente, possam contribuir para alterar este cenário” (Marques, 2002, p.33).

53 Pelo exposto, parece-nos, então, pertinente concluir que a articulação entre a escola e a família é muito importante a todos os níveis, nomeadamente no que se refere à educação sexual. Esta comunicação favorece a vida familiar, sendo um excelente contributo para a promoção do diálogo em casa sobre os mais diversos temas — que, de outra forma, poderiam nunca ser abordados ou explicitados.

É com base nesta problemática que surge o nosso estudo empírico, o qual procura averiguar a percepção dos pais/encarregados de educação e dos professores, relativamente à educação sexual em meio escolar e verificar quais as principais diferenças a este nível.

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SEGUNDA PARTE

INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

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CAPÍTULO 3

METODOLOGIA

A conceptualização de qualquer investigação ajuda a organizar o pensamento num sistema de termos significativos ao qual nos podemos referir de maneira rigorosa e não ambígua. Neste sentido, pretende-se, delimitar, num primeiro momento, o problema de investigação a estudar, pois, tal como defendem Polit e Hungler (1995, p. 33), este é “o primeiro passo no processo científico”.

Assim, neste capítulo será enunciado o problema, formulados os objectivos e as hipóteses que estão na origem do estudo. Revelar-se-á ainda o tipo de investigação, bem como os instrumentos de recolha de dados. Uma vez caracterizadas a população alvo e a amostra de estudo, analisar-se-ão os resultados obtidos, com a posterior discussão.

Particular referência merece a noção de metodologia que, segundo Fortin (1999, p.79), é “o conjunto dos métodos e das técnicas que guiam a elaboração do processo de investigação científica”. Esta deve constituir um procedimento racional e sistemático que tem como objectivo proporcionar resposta ou solução aos problemas que são propostos utilizando processos científicos. A metodologia não procura soluções mas escolhe a maneira de as encontrar, integrando os conhecimentos actuais a respeito dos métodos em vigor nas diferentes áreas científicas.

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