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AFETIVIDADE: MOLA PROPULSORA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

1 INTRODUÇÃO

5.4 AFETIVIDADE: MOLA PROPULSORA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

Pode-se afirmar que o ser humano é um ser afetivo e cognitivo, e necessita desses fatores para se desenvolver. Pesquisas recentes em Neurociência, Psicologia e Ciências Cognitivas têm provado que afetividade está agregada a cognição, assumindo relevante função no que cerne a educação. Como por exemplo, a memorização, criatividade e decisão. Logo, é nas interações educacionais que se pode também ampliar conhecimento.

Segundo Wallon (2007), as relações afetivas que são estabelecidas no meio familiar e no contexto educacional, são determinantes na construção da identidade e do caráter. Então, para se constituir a consciência são necessárias às interferências do meio social no meio orgânico.

Nesse viés, a afetividade, a cultura e linguagem proporcionam ao pensamento os instrumentos fundamentais para a evolução do ser humano e isso é possível por meio do diálogo nas interações sociais.

As interações sociais se iniciam desde o nascimento, e se transformam no decorrer da vida, de acordo com as estruturas dos contextos, orientados pelos valores que os constituem, tais como éticos, morais, estéticos, econômicos e políticos.

Nessa visãoVygotsky (1994), confirma que o ser humano é essencialmente social e é por meio da interação com o próximo que incorpora e internaliza a aprendizagem e consequentemente concebe a construção do conhecimento.

À vista disso, entende-se nesse estudo que a afetividade é a mola que promove e impulsiona a aquisição do conhecimento. Além de tornar a convivência mais harmônica entre os pares produzindo autoestima no sujeito envolvido no processo educacional e ainda favorece para o reconhecimento da importância do professor e do aluno na escola.

Abordar a questão da afetividade no processo de construção do conhecimento e da aprendizagem apesar de representar um desafio a ser desvelado neste presente estudo implica em revisar alguns conceitos fundamentais defendidos por estudiosos no assunto.

afetividade, refere-se “[...] a capacidade, a disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo\interno, por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis”. É considerado também sentimento único que traz no seu núcleo um outro, também complexo e profundo. Todavia, ao explicar a relação vincular entre a afetividade e o processo ensino- aprendizagem Almeida, (1993, p. 31), destaca que “[...] a afetividade e o desejo pouco têm sido teorizados na sua vinculação com o processo de aprendizagem”, porque tanto a pedagogia tradicional, quanto algumas teorias psicológicas, alicerçadas numa visão racionalista e dualista do homem, consideram a aprendizagem como um processo exclusivamente consciente e produto da inteligência e descartam o valor implícito nos fatores interacional e afetivos implicados no ato de ensinar e aprender.

Contrapondo essa visão, pretende-se buscar subsídios teóricos que explicitam a relação ensino-aprendizagem como uma ação consciente e inconsciente do ser aprendente e ensinante e “[...] a afetividade como elemento inseparável e irredutível das estruturas da inteligência”. (ALMEIDA, 1993, p. 31).

Essa afirmação de Almeida (1993) vai ao encontro com o entendimento da própria autora e de vários estudiosos renomados como Piaget (1996), Rogers (1987), Vygotsky (1997), Wallon (1978) e Freire (1992), já que compreendemos o afeto como um princípio norteador do desenvolvimento intelectual do ser humano e, ainda, consiste numa força motriz que mobiliza o processo de construção do conhecimento e atua no sentido da singularizarão e significação do conhecimento.

Ao explicar as considerações sobre o tema desenvolvimento afetivos e a importância atribuída à afetividade para o desenvolvimento psicológico no âmbito da epistemologia genética, Piaget (1969), buscou explicitar a relação entre inteligência e o afeto, ao afirmar que a afetividade motiva a inteligência e desencadeia a autoestima, podendo tanto estimular quanto diminuir o interesse e a necessidade do aluno porque mantém uma relação intrínseca com a motivação e o desejo do aluno em aprender. Essa opinião é corroborada por Masseto (1996), quando ressaltou que o sucesso (ou não) da aprendizagem está fundamentado essencialmente na forte relação afetiva existente entre alunos e professores, alunos e alunos e professores e professores.

Logo, pode-se afirmar que tanto a motivação, a aprendizagem quanto a disciplina se consolida quando o professor consegue estabelecer dialeticamente o vínculo afetivo e cognitivo do seu aluno, isto porque o interesse destes por seus alunos pode gerar motivação e autonomia na relação com aprendizagem, influenciando inclusive, sua continuidade nos estudos.

Piaget (1962) descreve que o desenvolvimento das funções da inteligência não acontece de forma compartimentalizada, mas, em um processo indissociável e complementar e, portanto, o indivíduo só age quando experimenta uma necessidade ou um desequilíbrio, mesmo que momentâneo, entre o meio e o organismo e, essa ação surge na tentativa de levar o organismo a reestabelecer o equilíbrio, ativando, simultaneamente, o funcionamento dos aspectos afetivos e cognitivos.

E ainda, a inteligência e a afetividade são indissociáveis, porque podem envolver duas significações bastante diferentes, ou seja, tanto a afetividade pode intervir nas operações da inteligência, que ela as estimulou ou as perturba, podendo ser a causa de aceleração ou de atraso no desenvolvimento intelectual, como pode provocar mudanças nas estruturas da inteligência enquanto tais, assim como pode ser vista como um elemento intervém nas estruturas da inteligência, por ser fonte de conhecimento e de operações cognitivas originais.

Corroborando com esse pensamento, Almeida (1993) afirma que é importante no processo de ensino e aprendizagem, levar em consideração a afetividade do aluno como uma dimensão importante e que não se deve subestimar ou superestimar a afetividade do aluno e ignorar o desenvolvimento natural e psíquico do ser humano. Portanto, as ações e reações do indivíduo são orientadas tanto pelo lógico e emocional.

Rogers (1987) defende essa relação quando reconheceu que não existe aprendizagem sem vínculo afetivo entre o professor e o aluno. Assim, se não houver a aceitação e a empatia do aluno pelo seu professor maior será o obstáculo deste em interessar- se pelo processo pedagógico a ser desencadeado, pois, o prazer de descobrir e de responder a desafios é constitutivo da perspectiva do educando implícitos nessa relação de alteridade. No entanto, embora muitos professores não se preocupem em estabelecer esse vínculo com seu aluno, esse mesmo autor afirma que uma das condições desencadeadora da aprendizagem é a qualidade da atitude que é assumida por esse professor com seus alunos, pois, segundo ele, este deve assumir o papel de facilitador e a relação deve ser de igualdade entre ambos, pois se almeja formar cidadãos capazes de viver, construtivamente, no presente mundo em mudanças caleidoscópicas, tem-se que facilitar seu crescimento, permitindo-os que sejam aprendizes autoestimulados e autoiniciados, pois assim ele se desenvolverá melhor.

Outra questão fundamental nessa discussão é quanto à atenção ao clima, pois, o aluno precisa sentir-se acolhido para despir-se do medo, receios, emitir suas opiniões e explorar sua bagagem cultural trazida para a escola para socializar com seus pares.

Vygotsky (1993), por sua vez, ao expressar seu pensamento sobre a unidade cognitiva e afetiva, afirma que pensamento e motivação são dependentes, pois um não pode

existir sem o outro por estarem dialeticamente relacionadas e ainda afirma que a afetividade é construída culturalmente.

Nessa perspectiva, defende que a vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de modo geral, pois, à medida que a dimensão conceitual e o processo cognitivo se desenvolvem graças ao crescente domínio de instrumentos culturais, a qualidade das emoções vai se transformando, ou melhor, distanciando de sua origem instintiva, biológica e constituindo-se como fenômeno histórico- cultural e, consequentemente, permite ao indivíduo alcançar a auto-regulação, ou seja, a capacidade de controle dos impulsos e das emoções mais primitivas.

Desse modo, a linguagem assume um espaço importante em que a cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade e as interações sociais, mediadas por instrumentos, signos e símbolos, tornam-se fundamentais para o desenvolvimento pleno dos indivíduos, pois estes operam com base em conceitos culturalmente construídos que constituem, operam, representam e expressam suas emoções e pensamentos.

Nessa ótica, os estudos realizados por Oliveira e Rego (2003), revelam que os homens interagem entre si, mediados pelos significados e situações sociais, descartando assim a hipótese da relação dos traços emocionais do sujeito a fatores inatos, tendo em vista que esse processo não se concretiza de forma homogênea, em face da singularidade de cada sujeito que elabora e lida de modo peculiar com as mesmas determinações e influências sociais.

Já Wallon (1978), traz a dimensão afetiva como ponto fundamental em sua teoria psicogenética, em que a emoção tem papel preponderante no desenvolvimento da pessoa. É por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades, reconhecendo-a como o primeiro e mais forte vínculo entre os seres.

Para esse autor, a afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano e de construção da identidade, por envolver uma gama maior de manifestações, englobando sentimentos e emoções que surgem, com a presença dos elementos simbólicos na interação do indivíduo com o meio. Assim, como afirma Dantas (1992, p. 85-86) “[...] a atividade emocional realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social”.

Logo, a primeira manifestação da consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida orgânica, pois, o vínculo imediato que se instaura com o ambiente social, assegura o acesso ao universo simbólico da cultura, elaborado e acumulado pelos

homens ao longo do seu contexto histórico e possibilitará a tomada de posse dos instrumentos com os quais trabalha a atividade cognitiva.

Também, sua proposta educacional põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura humanizada, ao acreditar que o desenvolvimento intelectual enquanto um processo contínuo envolve muito mais do que um simples cérebro.

Por fim, Freire (1992) reflete sobre afetividade entre o professor e alunos no sentido de que a afetividade se constitui uma responsabilidade a mais para o professor. Logo, é necessário cuidado para não utiliza-la como falsificação do afetivo, e não se torne em chantagem sentimental, mas que se viva afetivamente.

Numa acepção mais fidedigna, viver de forma afetiva implica uma relação de trocas afetivas, da paixão, da doação de afeto, pois, como bem assevera Chalita (2002), não há como dissociar a arte de ensinar, desse sentimento grandioso que move o mundo e nos impulsiona em direção à criação, à descoberta e às grandes realizações humanas, tendo em vista que educar é um ato de cumplicidade, de troca, de amor, de coragem e de afeto.

Essas concepções teóricas apresentadas produzem um novo olhar para as práticas pedagógicas, trazendo a reflexão para o campo da educação profissional sobre como ensinar, possibilitando uma nova leitura das dimensões afetivas e cognitivas, tendo em vista que entendemos que as relações entre ensino e aprendizagem são movidas pelo desejo e pela paixão e que o afeto é elemento indispensável na atividade de ensinar. Portanto, no mundo globalizado, para que o professor consiga cumprir o seu compromisso, de preparar de forma ampla para a vida, cada um dos seus alunos da educação profissional, é preciso ter em mente mais do que um bom projeto pedagógico, um bom aparato didático - é indispensável ter coragem e dar afeto (CHALITA, 2003).

Com base nesse pressuposto, o professor deve identificar e prever condições afetivas favoráveis que se constitua num clima propício à aprendizagem na escola, transformando-a em um espaço de conhecimento, de aprendizagem, de fortalecimento das interações afetivas, de incentivo, de sonhos, como ressaltou MARTÍN BRIS; MARTÍNEZ, 2008) quando alertaram para que a escola fosse vista como um lugar seguro para aprender, tanto em termos da integridade física quanto psicológica dos alunos e dos professores. Desse modo, ressaltaram que a construção na escola de relações positivas obteve maior envolvimento do aluno quando há apoio do professor ao ensino e aprendizagem e às relações com os seus alunos, sem contar na constatação da relação que há entre o progresso acadêmico do aluno e o interesse que o professor mostra por ele.

com seus alunos, tendo expectativas altas em relação aos mesmos para promoverem uma conduta social positiva e resolutiva de problema.

Somente dessa forma, os processos interativos entre professores e alunos da educação profissional podem ser considerados um dos fatores de favorecimento de competências profissionais com crescente grau de autonomia dos alunos e da formação de cidadãos críticos, criativos e atuantes.

Dessa maneira, a conduta do professor deve ser afetiva, pois é preponderante para construção do conhecimento. Mas ao refletir o processo ensino e a aprendizagem percebe-se a necessidade de um código que viabilize as interações. Consequentemente, faz-se necessário compreender o sistema de comunicação que há entre eles.

Nesse viés, considera-se que a palavra é significativa para mediar esse contato entre seres e o mundo. Pois é um artefato social e pode possibilitar a comunicação e, por conseguinte, melhorar o entendimento e a aproximação com o outro. Seguindo nessa reflexão propõe-se o diálogo como possibilidade dessa interação.