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O Movimento Mutualista existente em Portugal é suportado em ideais humanistas, socialmente dignos e responsáveis, garantido por mutualidades que rondam a centena (INE, 2016).

Salvo algumas honrosas exceções, diríamos que, quase todas as mutualidades apenas conseguem garantir uma projeção circunscrita, com alcance limitado e de influência local.

Desta forma, somos confrontados com realidades efetivamente diferentes onde a área de influência de cada uma é restrita, porque confinada à população local, não ultrapassando as dezenas, centenas ou poucos milhares de cidadãos.

O facto, de muitas destas instituições apresentarem um número reduzido de valências, vai limitar a sua ação junto das populações, assistindo-se à manutenção de modelos não evolutivos quer ao nível da gestão, quer ao nível de procedimentos.

A realidade, no terreno, mostra ser necessário renovação e inovação no que tange às valências disponibilizadas que, aliadas aos serviços prestados ditam o seu posicionamento relativo face às novas necessidades das populações.

Os apoios de proximidade são defendidos por Laville ao nível da Economia Social e Solidária:

(…) ao surgirem novas necessidades, novos serviços, e novas formas de atuar, onde os serviços personalizados são um campo onde a procura tem vindo a crescer para responder ao maior desenvolvimento social e demográfico (Laville, 2009, p. 232)

Esta revitalização pode ser conseguida, na nossa opinião, através de um conjunto de fatores diferenciadores, mas sobretudo de cariz integrador.

Acredita-se que a aposta se consubstancie, fundamentalmente, em cinco processos distintos que, apesar de aplicados em momentos e lugares diferentes, irão confluir nos resultados desejados – a adesão voluntária, de forma esclarecida às mutualidades. É, nossa opinião, que a aplicação destes processos possa garantir resultados animadores.

a) As mutualidades deverão, num futuro próximo, estar preparadas para disponibilizar um conjunto de modalidades simples, não demasiado alargado, mas distintas no seu propósito e objetivo, por forma poder contemplar todas as diferentes fases da vida do seu associado. Esta concretização deve ser comunicada de forma ajustada permitindo ser apreendida pela sociedade. É importante passar a mensagem do tipo “You’ll never walk alone“ ao permitir percecionar que “a Sua Associação estará sempre consigo” e que o acompanhará ao longo do seu percurso de vida.

b) No sentido de garantir a exequibilidade do ponto anterior, importa refletir na necessidade das mutualidades garantirem nos seus quadros equipas tecnicamente dotadas, quiçá

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multidisciplinares, por forma a poderem ser um parceiro eficiente de cada associado na escolha e no efetivo acompanhamento das suas opções mutualistas em cada fase da vida.

c) Ao partilhar um terreno e simultaneamente um mercado competitivo e concorrencial, será imperioso que as mutualidades garantam um nível de recursos e de ferramentas tecnicamente evoluídas que possam responder e ombrear com as melhores práticas dos concorrentes. Aspirarem, a ser a referência. Atualmente, esse tipo de comportamento, nomeadamente ao nível de práticas de sustentabilidade começam a ser muito valorizados pelos “stakeholders”. Disponibilizar, à sociedade, o Relatório de Sustentabilidade é um bom princípio.

d) Outro processo tem por objetivo a troca de conhecimento através de parcerias com a Academia, onde, numa primeira fase, um conjunto de professores sensibilizados para a área da Economia Social e Solidária assegurarão a manutenção de cursos superiores desta índole, sejam ao nível da licenciatura, pós-graduações ou doutoramentos. Por outro lado, nos antípodas formativos, sugere-se a visita a escolas primárias e secundárias, onde as mutualidades, nomeadamente aquelas com maior dinamismo e melhor dotadas, possam enveredar por apresentar mini programas junto dos mais jovens que visem a sensibilização para a poupança, previdência e que atentem para os problemas de saúde e outros tipos de riscos que o ser humano está sujeito nas diferentes etapas da sua vida.

e) Por último, as mutualidades devem garantir uma ligação próxima com as decisões que provêm das Instituições da Europa comunitária, nomeadamente provenientes do Parlamento Europeu e da Comissão Europeia. A AIM, considerada a entidade melhor dotada em termos técnicos, estará bem posicionada para prestar o apoio necessário às mutualidades de todo o Mundo, no sentido de garantir a partilha de um alargado conjunto de informações específicas. Todavia, existe um leque muito vasto de entidades nacionais e internacionais que prestam apoio incondicional ao nível do aprofundamento do conhecimento. São disso exemplo a CASES, o CIRIEC - Portugal e o CIRIEC Internacional.

Por outro lado, estamos em crer, que o futuro das mutualidades, nomeadamente aquelas que atuam na área da saúde, passará muito pela partilha de recursos dando corpo ao conceito de parceria, enquanto aquelas que atuam na área da previdência a existência de um produto comum gerido por uma única entidade iria permitir visibilidade e criar a chamada massa crítica.

Tal relacionamento pressupõe uma visão alargada da noção de rede. Em Portugal estamos a assistir a esta mudança de paradigma através da RedeMut.

Todavia, uma das vias para atrair a comunidade jovem para as mutualidades, contribuindo para o rejuvenescimento do movimento mutualista, passa por acompanhar as novas formas de comunicar assente nas novas tecnologias. É, nesse particular, que as Associações Mutualistas vão ter de se reinventar e a aposta assentará por estar presente nas diferentes plataformas digitais, o que significa, que a oferta tem de estar acessível através de um “smartphone”, computador portátil ou “tablet” ou num futuro novo veículo, necessariamente cativante, que venha a suportar a comunicação e a interação.

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Surge, pois, a indispensabilidade de olharmos em redor e dar atenção às necessidades da geração que emergiu nos finais do século passado – os “Millennials, também designados de geração Y e da Internet. Estes jovens, a quem desejamos chegar e seduzir, desenvolveram uma forte relação com as novas tecnologias e, apoderam-se do virtuosismo da internet como nenhuma geração anterior o tinha feito.

Para as mutualidades, é imperioso conhecer aprofundadamente o perfil desta nova vaga de consumidores que se “especializaram” em usar canais de informação distintos dos utilizados pelos progenitores, patenteando padrões de consumo muito diferenciados e contrários à fidelização institucional. Muito em breve, teremos de nos debruçar e estar atentos às novas necessidades da próxima geração Z, ainda mais viciados em tecnologia que os seus “irmãos millennials”.

Também os conteúdos terão de ser trabalhados de forma cuidada e dirigida no sentido de se tornarem inteligíveis e apelativos, o mesmo é dizer, aceites pela comunidade de jovens.

Este tipo de aposta apenas pode ser ganho se as instituições tiverem a coragem de se dotar de recursos humanos com espírito arrojado e audaz adequados, com capacidade inovadora e programas ajustados aos desafios apontados.

As mutualidades devem apresentar-se perante toda uma sociedade mas, no nosso ponto de vista, a aposta passa, na nossa opinião, por conseguir captar a atenção daqueles que, irão gerar recursos económicos no futuro.

A aposta em Programas de Ativação Associativa, atraentes e inovadores, suportados em parceiros credíveis e direcionados para estas faixas etárias, contendo iniciativas de âmbito cultural, de lazer, de bem-estar e qualidade de vida, acabam por ir ao encontro dos desejos dos jovens tornando-se, desta forma, polos de atratividade e sedução, como temos vindo a afirmar e a defender. Não sendo, é certo, a missão nuclear das mutualidades, no fundo, é aplicar no terreno e tornar tangível o constante no articulado do nº 2 do Artº2º Fins em Especial, dos Princípios fundamentais – Capítulo I, do Código das Associações Mutualistas.

O caminho passa, na nossa opinião, pelo ousar, pelo inovar, pelo apelo à cooperação e entreajuda mutualista entre entidades, e não apenas dentro da mesma família da Economia Social. No fundo, reinventar o tríplice “dar, receber e retribuir” que Marcel Mauss tão bem nos soube explicar.

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