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CONFLITO / OPOSIÇÃO

2.3 AGENDA-SETTING OU TEORIA DO AGENDAMENTO

A hipótese da agenda-setting sustenta que a mídia é eficaz na construção da imagem na realidade de cada indivíduo. Essa imagem que é simplesmente uma metáfora representativa da totalidade de toda a informação sobre o mundo, que cada indivíduo tratou, organizou e acumulou- pode ser pensada com um padrão em relação ao qual a informação nova é confrontada para dar-lhe o seu significado (WOLF, 2003, p.153).

McCombs (1972) propõe três modelos diferentes de efeitos: O primeiro – o modelo informativo – afirma que os usuários da mídia se tornam cientes de certos temas porque foram mencionados nos meios de comunicação de massa. Já o modelo enfático (agendamento de atributos) propõe que a ênfase em diferentes temas nas notícias influencia a importância atribuída a elas pelo público. Finalmente, o modelo prioritário assume que a ordem de importância atribuída aos diferentes problemas na mídia é refletida na ordem de importância do público.

Além desses modelos de agendamento, McCombs (2009, p.58-9) propõe quatro perspectivas para um foco mais detalhado da teoria. A primeira (Competição) está relacionada a um elenco de temas que competem entre si por posições na agenda. Esse tipo pode ser pensado em termos da capacidade que a cobertura noticiosa tem de

mobilizar um grupo de pessoas do público sobre um tema. Pondera-se que, nessa perspectiva, há a inclusão do gatekeeping (WHITE, 1955), enquadramento (GOFFMAN, 1974; ENTMAN, 1993; PORTO, 2001; GAMSON e MODGLIANI, 1989) e valores-notícia (BOND, 1959; GOMIS, 2002; WOLF, 2003; PEUCER, 2004; SILVA, 2005)

A segunda perspectiva (autômato) tem o foco na agenda plena de tópicos, mas altera seu foco à agenda de cada indivíduo. No entanto, quando indivíduos são solicitados a classificar uma série de questões, há pouca evidência sobre qualquer correspondência entre aquelas classificações individuais e a ênfase naqueles temas da mídia noticiosa (McCOMBS, 2009, p.59).

Para o agendamento ocorrer nessa situação, é necessário haver indivíduos suscetíveis de serem significativamente programados pelo mass media. Não há dúvida de que a mídia pode influenciar as imagens dos indivíduos no que se refere à saliência de alguns temas, mas raramente, ou quase nunca, a agenda plena dos indivíduos (Ibid, p. 59).

A terceira perspectiva que estreita o foco está no grau de correspondência entre a agenda da mídia e a agenda do público na saliência alternada de um único tema ao longo do tempo. Já a última etapa refere-se aos estudos de recepção, visto que faz alusão às experiências56 de que um único tema tem para um indivíduo é medida antes e

depois da exposição ao programa noticioso no qual a quantidade de exposição a vários assuntos é controlada (McCOMBS, 2009, p.59).

No presente estudo, a ênfase é dada à primeira perspectiva, que faz parte do agendamento de segunda dimensão ou agendamento de atributos57 que, às vezes pode se referir a um enquadramento particular da mídia, e, em outras vezes, processo de enquadramento, às origens do enquadramento ou a sua difusão desde os mass media ao público. Aplicada à agenda midiática, um enquadramento é a ideia central que organiza o conteúdo noticioso que, por sua vez, fornece um contexto e sugere sobre o que o

56 Os efeitos do agendamento são mais do que o resultado quão visível ou disponível um tópico está presente na mente do público. Muito embora a medida empírica mais usualmente utilizada para prever estes efeitos seja a quantidade de cobertura noticiosa para um tema na agenda da mídia, a saliência de um tema no público não é uma questão simples de sua disponibilidade cognitiva (McCOMBS, 2009. p 97-8). 57 A atribuição de status refere-se à saliência crescente de alguém que recebe uma atenção intensiva da mídia. Esta conceituação de celebridade identifica uma instância de primeira dimensão do agendamento. A estereotipia e a construção da imagem que envolvem a saliência de atributos são instâncias de segunda dimensão do agendamento (McCOMBS, 2009, p.135).

assunto trata através do uso de seleção, ênfase, exclusão e elaboração (McCOMBS, 2009, p.136-7).

Ao se estudar a teoria da agenda, deve-se diferenciá-la da hipótese do priming porque, ao ter um primeiro contato com esses estudos, parecem ser semelhantes58.

Logo, os estudantes costumam confundi-los ao terem contato com essas teorias de uma área da Comunicação chamada Media Effects ou Efeitos da Mídia.

McCombs (2009, p. 197) a conceitua como uma extensão significativa do agendamento, uma das rotas através da qual a mídia desempenha um papel central na formatação das atitudes e das opiniões. Às vezes, no entanto, estes efeitos do agendamento da mídia têm consequências muito diretas das atitudes e das opiniões.

Outra definição mais didática é a de que a hipótese do priming (sugestionamento) refere-se à continuação da teoria do agendamento, pois se trata de não discutir mais o que as pessoas pensam, mas de como determinados esquemas mentais são ativados pelos conteúdos das notícias e como isso afeta a avaliação que o público faz sobre candidatos políticos. Ou seja, ela vai além do processo simples e direto de conteúdos e tenta explicar os efeitos da comunicação jornalística em contato com a memória do público (CERVI, 2010, p.146).

No capítulo 3, faremos uma breve explicação de todo o processo que resultou no conclave e a apresentação do corpus, no qual estão inclusos um breve histórico dos veículos analisados e as linhas editoriais. Em seguida, no último capítulo, haverá a explanação da metodologia, a aplicação da tabela dos valores notícia e a análise detalhada do corpus.

58 A Teoria da Agenda é compatível com outras temáticas nas ciências sociais, como a atribuição de status, a estereotipia, a construção da imagem e do gatekeeping. Relaciona-se, inclusive com a espiral do silêncio (McCOMBS, 2009). Para saber mais sobre as duas hipóteses trabalhadas no campo da Comunicação, ver WHITE, David Manning. O Gatekeeper: Uma Análise de Caso na Selecção de Notícias. In: TRAQUINA, Nelson (Org.). Jornalismo: Questões, Teorias e Estórias. Lisboa: Vega, 1999. Mais informações sobre a hipótese da Espiral do Silêncio: NOELLE-NEUMAN, Elisabeth. The Spiral of Silence: A Theory of Public Opinion. Journal of Communication, 24-2 (1974) pp.43- 51.

3 A COBERTURA JORNALÍSTICA DO CONCLAVE NO BRASIL E NA