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CONFLITO / OPOSIÇÃO

3 A COBERTURA JORNALÍSTICA DO CONCLAVE NO BRASIL E NA EUROPA

3.3 BLOGS JORNALÍSTICOS COMO AUXILIARES NA COBERTURA DO CONCLAVE

O termo weblog foi cunhado pela primeira vez por Joan Barger em dezembro de 1997, ao descrever uma lista de links que percorrem os caminhos da Internet, os quais o pesquisador considerava como um filtro pessoal (ORIHUELA, 2007; FOLETTO, 2011), comentários com links para outros sites web (LASICA, 2002).

Outros conceitos são o website, com entradas regulares comumente disponibilizados em ordem cronológica inversa, isto é, da postagem mais recente a mais antiga e com inúmeros links, que oferecem registros atualizados e detalhados da vida de seus autores, de notícias ou de um tema de seu interesse (BLOOD, 2003), home page pessoal em forma de diário (O’REILLY, 2005).

Percebe-se que o blog é um conceito bastante polissêmico. Há autores, como Escobar (2009. p 220), que emprega três sentidos para a palavra: blog-texto, blog- programa e blog-lugar. O primeiro é o conjunto do conteúdo produzido pelo blogueiro por meio de postagens, que podem ser imagens, áudios e vídeos. Tal denominação mostra que o texto não é apenas a mensagem divulgada por signos verbais. Quando se refere a blog como programa, o termo significa a ferramenta informática utilizada para a produção do blog/texto. Por último, o blog/lugar indica o domínio/endereço específico.

A aproximação entre blogs e jornalismo deu-se durante os atentados de 11 de setembro de 2001, e com o warblogs (blogs sobre guerra) da Guerra do Iraque de 2003, utilizado por pessoas que estavam no local que desejavam compartilhar as histórias e publicar a verdade. Os blogs, nesses casos, adquiriram relevância jornalística, pois traziam números ou relatos que foram usados na apuração jornalística em meio ao caos na busca de informações nos locais dos atentados (FOLETTO, 2011).

Entretanto, pode-se afirmar que os blogs como apropriação do jornalismo ocorreu com o surgimento do blog San José Mercury News, publicações jornalísticas especializadas em tecnologias dos Estados Unidos a exemplo de Christian Science

Monitor, Slate e American Prospect, que eram a transposição de colunas publicadas nos

veículos impressos que migraram para o formato online. A vantagem é que, no blog, não há limite de caracteres para o texto como no formato impresso.

Em meados de 2004, surgiu o Guardian Weblog, que objetivava levar a voz coletiva da publicação jornalística inglesa para o blog. Isso ficou evidenciado por meio das postagens, nos quais o tom objetivo e sóbrio eram predominantes, em contrapartida

ao estilo opinativo e mais livre dos blogs estadunidenses da época (FOLETTO, 2011, p. 8).

O início dos blogs foi visto de forma incrédula e contraditória pelas empresas jornalísticas. Prova disso é que em 2003, durante a cobertura da Guerra do Iraque pela CNN, o correspondente Kevin Sites foi intimado a fechar o blog que mantinha. Dois anos depois, a emissora lançou uma seção chamada Inside Politics, que dedicava quatro minutos a comentários de blogs sobre um determinado tema (PALACIOS, 2006; FOLETTO, 2011).

Com o passar do tempo, as empresas jornalísticas passaram a adotar o formato, o que proporcionou a expansão das funcionalidades do meio dentro do jornalismo. São criados blogs para as mais variadas funções: de versões online de colunas impressas – o uso mais comum – a blogs de editorias específicas; de blogs de charges jornalísticas aos dedicados a coberturas de eventos temporários; de notícias sobre regiões específicas aos de observatório de mídia.

O Diário de Bagdá, dos correspondentes internacionais da Folha de s.paulo, Sérgio Dávila e Juca Varella, representou um marco na história jornalística, visto que se tornou a primeira experiência oficial brasileira de cobertura jornalística realizada através de um blog. Deram-lhe o uso ao qual ainda era intimamente ligado à época: o de diário pessoal, porém com a diferença de que aquele diário tinha o compromisso de ser um relato sério e jornalístico do conflito - já que o blog estava vinculado a uma empresa jornalística tradicional (FOLETTO, 2011, p.10-1).

Em 2006, colunistas dos jornais O Globo, Folha de S.Paulo, JB Online e

Estadão começaram a utilizar o formato para publicar seus textos. Um dos mais

famosos é o blog do Noblat em O Globo. Nesses blogs, percebe-se que o texto continua mantendo em formato o jornalismo impresso, não há utilização de recursos multimídia, tampouco há convergência.

Paralelamente ao surgimento dos blogs jornalísticos ligados aos veículos tradicionais, os blogs jornalísticos independentes, criados por pesquisadores ou jornalistas, começam a ser difundidos. São criados normalmente por jornalista e/ou pesquisadores acadêmicos para a cobertura jornalística de uma área ou região específica.

Assim, o formato pode ser utilizado como espaço para análises mais aprofundadas sobre um determinado acontecimento sobre algo que pouco se vê no

jornalismo diário em decorrência das rotinas produtivas, do deadline, a depender do suporte no qual se trabalha.

Foletto (2011, p.13) considera que esse tipo de blog tem a potencialidade coletiva da blogosfera por meio do uso de links, do reaproveitamento do material jornalístico produzido pelo jornalismo online tradicional ou pelos próprios meios tradicionais onde muitas vezes os jornalistas que editam blogs trabalham (FOLETTO, 2011, p.13).

Partindo dessa afirmação, a ascensão dos blogs como novos pólos de emissão da informação jornalística no campo possibilita maior diversidade de assuntos e acontecimentos que poderão vir a ser classificados como notícias. Consequentemente, traz consigo uma diferença nos critérios de noticiabilidade.

O aumento de produção de notícias fora do campo jornalístico propicia também maior diversidade de informações noticiosas produzidas. Como consequência, é ampliada a percepção de que existem mais informações com valor noticioso do que a mídia hoje mostra. É o advento do chamado “jornalismo lateral” que traz novos fatos para o cidadão, acostumado com o jornalismo “horizontal” produzido pela mídia tradicional (FOLETTO, 2011, p.14).

Um conceito que pode ser aplicado para a compreensão do formato blog é o de remediação (BOLTER & GRUSIN, 2000). A ideia é que as novas mídias se apropriam de formas e da significação social dos meios de comunicação anteriores. Por exemplo, os sites noticiosos não acabaram com o jornal impresso, o rádio e a televisão; os remedeiam, acrescentando recursos novos na produção de conteúdo.

Uma categoria de blog jornalístico que surgiu em 2011 foi o Live Blogging (WELLS, 2011), do The Guardian que, de acordo com Wells (2011) é um formato digital, que evoluiu de tal maneira que passou a ser nativo à web. Tal recurso foi utilizado pelo The Guardian durante a cobertura do Conclave, no qual as informações mais recentes eram publicadas.

Figura 13 Blog do Estadão durante a cobertura do Conclave

As postagens do Live Blogging guiam o leitor aos princípios pontos de uma notícia. Caso um determinado acontecimento tenha centenas de comentários, curadoria e moderação são necessárias (WELLS, 2011, online). Para o editor de blogs e redes sociais do The Guardian, os elementos deontológicos do Live Blogging, como transparência com as fontes – desmistificam a ideia da previsão da morte do jornalismo. Ou seja, o Live Blogging é, certamente, uma das materializações do futuro do jornalismo.

O próximo capítulo será dedicado à descrição dos procedimentos metodológicos e à análise dos resultados, levando em conta não só a frequência do espalhamento das notícias publicadas nas redes sociais, mas também alguns itens, como procedência da matéria e tipos de enquadramentos.