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2. RELAÇÕES DISCURSIVAS E NÃO DISCURSIVAS ENVOLVIDAS NA PRODUÇÃO DE NOTÍCIAS

3.1 AGENDAMENTO E (IN)VISIBILIDADE

Como estratégia de aproximação do objeto de estudo, o discurso agroecológico na mídia jornalística, foi feito um levantamento da quantidade de matérias indexadas com a palavra Agroecologia e com a palavra agronegócio, nos veículos pesquisados. O levantamento da palavra agronegócio foi estabelecido porque as disputas discursivas que envolvem a temática agroecológica situam o agronegócio como antagônico aos pressupostos e objetivos sociais e ambientais da Agroecologia.

Este levantamento teve como objetivo observar a visibilidade do tema no contexto em que os discursos a serem analisados foram apresentados para o público. Em outras palavras, observar o agendamento mostrou-se útil para ter uma noção da visibilidade dada pelos sites estudados ao tema abordado em comparação com outro tema (agronegócio), que representa uma visão diferente da mesma atividade (agricultura). A visibilidade promovida pela mídia jornalística começa pela definição da pauta ou assunto a ser abordado. A teoria da agenda setting, é sintetizada por Mauro Wolf (1999) como o processo em que os meios de comunicação influenciam os assuntos a serem realçados ou negligenciados pela audiência, refletindo, também, a ênfase atribuída pelo público aos problemas, pessoas ou acontecimentos expostos.

A análise do agendamento não pressupõe nenhuma hipótese de persuasão ou análise da abordagem do tema, mas parte da concepção de que a mídia fornece ao público uma lista dos assuntos relevantes, definindo sobre o que é necessário falar ou ter opinião. Segundo Shaw, citado por Wolf (1999, p. 144) “[...] O pressuposto fundamental da agenda-setting é que a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos mass media”.

Este mesmo autor esclarece que a hipótese da agenda setting, considera que a imprensa nem sempre consegue influenciar o leitor sobre como pensar, mas que a mídia tem uma grande capacidade de definir quais temas devem ser pensados ou discutidos. As pesquisas empíricas da agenda setting, porém, são apresentadas por este autor como um campo bastante heterogêneo, com amplas possibilidades de pesquisa (COEN, 1963 apud WOLF, 1999).

O presente estudo, porém, não é uma pesquisa de agenda setting, mas analisa a posição da Agroecologia dentro dos veículos estudados, para apresentar uma pequena amostra da relevância atribuída ao assunto. O estudo constatou que, além da baixa visibilidade obtida pela temática agrícola, de pouco interesse para o público urbano, quando se fala de agricultura, fala-se muito mais de agronegócio que de Agroecologia.

A invisibilidade será o primeiro obstáculo à construção de uma imagem sobre Agroecologia pelo público destes veículos. A ‘Figura 4’ compara a quantidade de matérias que foram indexadas a partir das palavras ‘Agroecologia’ e ‘agronegócio’, em cada veículo pesquisado. Na mídia hegemônica, foram aferidos percentuais inferiores a 5% para a palavra Agroecologia.

Veículos Agroecologia Agronegócio Total % Agroecologia Jornalismo hegemônico

Folha de São Paulo 19 442 461 4,2%

O Globo 6 174 180 3,3% Gazeta Online 5 130 135 3,8% Estado de Minas 5 160 165 3,6% Jornalismo contra-hegemônico Carta Maior 37 130 167 22% Brasil de Fato 68 170 238 29% Século diário 19 21 40 48%

Rede Brasil Atual 25 180 205 12,2%

Figura 4: quantidade de matérias jornalísticas que utilizaram a palavra ‘Agroecologia’ entre 01/01/2016 e 31/12/2016. Elaboração própria.

A desproporção entre o ‘território jornalístico’ que contribui de alguma maneira para visibilizar o agronegócio ou a Agroecologia é maior que a desproporção observada na ocupação de terras no Brasil. A ocupação, pelo agronegócio, de mais de 95% do território jornalístico dedicado aos temas agrícolas reflete uma perspectiva homogênea, semelhante à monocultura, a monocultura da mídia.

A partir da metáfora de monocultura da mente, desenvolvida por Shiva (2003), que se refere ao pensamento que não se abre à diversidade e opera dentro de padronizações e controles semelhantes aos da agricultura industrial, pode-se pensar nos conteúdos veiculados pela mídia como uma grande monocultura.

Nos veículos contra-hegemônicos, pôde-se aferir uma média de 31,75% das pautas agrícolas direcionadas à Agroecologia. Porém, embora este percentual seja razoavelmente maior que o dos veículos hegemônicos, é importante lembrar que os sites contra-hegemônicos foram selecionados com base no agendamento do assunto, sendo assim, vários veículos alternativos ficaram de fora deste estudo justamente por não apresentarem matérias sobre Agroecologia ou por apresentá-las em uma quantidade bastante reduzida.

Sabe-se também, por meio de observação empírica, que as matérias publicadas no jornalismo contra-hegemônico sobre agronegócio, geralmente, contêm denúncias e críticas relacionadas aos agentes, pressupostos e ações. Observando-se os números, porém, percebe-se que, mesmos estes, oferecem visibilidade para o agronegócio, mesmo que seja por meio da veiculação de informações negativas.

Em relação ao tema Agroecologia, como foi feita também a análise qualitativa, foi possível perceber que o percentual de matérias que realmente abordam o tema variou bastante entre os veículos, mas no ‘Gazeta Online’ e no ‘Estado de Minas’ a incidência de temas realmente distintos foi muito alta, o que justifica, aqui, o registro do perfil das matérias indexadas pela palavra Agroecologia, para assim perceber que a invisibilidade do tema é ainda maior que a apresentada pelos números.

Estes dois veículos foram os que menos abordaram o tema, tanto em termos absolutos de quantidade de matérias, cinco por ano, em cada veículo; como nos percentuais entre 3,6 e 3,8% em comparação ao agronegócio. No ‘Gazeta Online’, das cinco matérias que utilizaram a palavra Agroecologia, quatro não abordam o assunto nem de passagem. A palavra foi incluída nos quatro textos apenas porque foi entrevistado o ‘gerente de agroecologia e produção vegetal’ da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag), o agrônomo Aureliano Nogueira da Costa. Nas quatro matérias, o entrevistado está falando da agricultura convencional. A única matéria que usa a palavra Agroecologia realmente se referindo ao tema é a que foi analisada nos

aspectos discursivos e, como será observado no tópico referente a esta análise, este não é o tema central da matéria.

No Estado de Minas, das cinco matérias publicadas, três se referem ao assassinato do estudante mineiro de Agroecologia, ocorrido no Pará. Duas matérias são sobre o Mercado Distrital e percebe-se que, em ambas, a pauta foi conquistada devido a organização de eventos.

Este levantamento quantitativo mostrou que o tema agronegócio recebe uma visibilidade muito maior que o tema Agroecologia, este levantamento, porém não considera a abordagem dada ao tema nem os atores envolvidos na notícia, no próximo tópico, a análise do perfil das fontes irá aproximar a análise do contexto social que envolve a produção das notícias.