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2. RELAÇÕES DISCURSIVAS E NÃO DISCURSIVAS ENVOLVIDAS NA PRODUÇÃO DE NOTÍCIAS

2.5 CONCENTRAÇÃO DE PROPRIEDADE DA MÍDIA NO BRASIL

A propriedade e a audiência da mídia no Brasil são extremamente concentradas nas mãos de poucos grupos. Informações atualizadas sobre a propriedade dos meios de comunicação no Brasil foram publicadas no site da pesquisa Media Ownership Monitor

45 Disponível em: http://aba-agroecologia.org.br/wordpress/o-que-e-uma-semente-crioula-na-

comunicacao/. Acesso em 20/02/2018.

46 Disponível em: https://jornalistaslivres.org. Acesso em 20/02/2018. 47 Disponível em: http://midianinja.org. Acesso em 20/02/2018. 48 Disponível em: https://apublica.org. Acesso em 20/02/2018.

Brasil49 (MOM-Brasil, 2017), uma iniciativa da organização Repórteres Sem

Fronteiras50; o estudo de caso brasileiro foi realizado pelo Coletivo Intervozes51. O levantamento apontou que 70% da audiência está concentrada nos quatro maiores grupos de mídia, no caso da TV aberta. Sendo que o Grupo Globo alcança uma audiência maior que a soma do 2º, 3º, 4º e 5º maiores grupos brasileiros.

A propriedade cruzada de diferentes tipos de meios de comunicação, como TV, rádio, impresso e online é outro importante fator indicativo da concentração da propriedade. Neste item, A Rede Globo também se apresenta como líder em concentração, com TV aberta, TV paga, o maior portal de notícias brasileiro, o ‘Globo.com’, rádios, mídia impressa, além de atuar no mercado fonográfico, cinematográfico e editorial. Esta tendência a cumular diversos veículos também se percebe em outros grupos, a pesquisa destaca, o Grupo Record, que além de possuir diferentes meios é controlado por uma igreja; e o Grupo RBS, que conta com uma afiliada da TV Globo e concentra a propriedade de veículos como rádios e jornais impressos, entre outros .

O relatório contextualiza como histórica a concentração da propriedade dos meios de comunicação no Brasil, beneficiada por uma legislação tímida para barrar o monopólio; e argumenta que esta concentração coloca em risco os fundamentos da democracia. O site lembra que o golpe de 1964 foi apoiado pelos principais veículos de comunicação e que os sucessivos governos militares fomentaram, com recursos públicos, a formação de grandes redes nacionais de comunicação. A televisão, de grande interesse dos governos militares para execução do projeto de integração nacional, ainda não era um veículo de massa no Brasil dos anos 1960 e os governos militares instalaram ampla estrutura de comunicação em todo território nacional, ampliando o alcance das redes nacionais de televisão.

Esta estrutura serviu para dar visibilidade à narrativa do ‘milagre econômico’ nos anos 1960 e 1970, período de maior repressão por parte do regime e quando o governo contraiu elevada dívida externa. O modelo de concentração não foi alterado após o regime militar, pelo contrário, foi fortalecido pelo contexto do neoliberalismo

49 Em português: Monitor de Propriedade de Mídia. Relatório disponível em:

http://brazil.mom-rsf.org/br/. Acesso em 26/01/2018.

50 Disponível em: https://rsf.org. Acesso em 26/01/2018.

econômico e pela privatização de várias estatais nos governos Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

Atualmente, cinco grupos de mídia concentram mais da metade dos cinquenta veículos de maior audiência analisados pela pesquisa. O relatório afirma, ainda, que grande parte desses grupos pertencem a famílias, que transmitem os negócios e as concessões públicas, no caso de TV e rádio, para as gerações seguintes. Entre os políticos do poder legislativo federal, trinta e dois deputados federais e oito senadores da atual legislatura são donos de emissoras52. A participação religiosa na mídia brasileira também tem sido crescente desde os anos 1980. Nove dos cinquenta veículos pesquisados pertencem a lideranças religiosas.

A publicidade estatal representa importante parcela do faturamento dos veículos de comunicação e, logicamente, é alvo de disputas. A verba publicitária do governo federal foi reduzida em 24%, em 2015, no governo Dilma Rousseff53. Com a chegada ao poder do atual presidente Michel Temer, várias denúncias relatam casos de negociação das verbas publicitárias federais em troca de apoio às reformas planejadas.

O relatório MOM-Brasil denuncia que, em maio de 2016, foi fechado o Instituto para Acompanhamento de Publicidade (IAP), entidade ligada à Secretaria de Comunicação (Secom), que dava acesso público às informações referentes à destinação das verbas publicitárias do governo federal.

Logo após chegar ao poder, o governo Temer cortou a verba de publicidade dos veículos classificados por este governo como petistas. Matéria publicada no ‘Estado de São Paulo’54 informa que o governo bloqueou R$ 8 milhões, dos R$ 11 milhões previstos para estes sites em 2016. Paulo Nogueira, criador do ‘Diário do Centro do Mundo’, um dos veículos atingidos pelo corte, defende que a soma da verba

52 Disponível em: http://www.intervozes.org.br/direitoacomunicacao/?p=29753, acessado em

28/01/18.

53 Disponível em:

http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2016/05/09/verba-de-midia-do- governo-federal-diminui-24-em-2015.html . Acessado em 28/01/18.

54Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,planalto-corta-pelo-menos-r-8-

publicitária de todos as mídias classificadas como petistas representa 0,5% do orçamento publicitário da Secom, enquanto que a TV Globo, recebe anualmente R$ 600 milhões da Secom, ou seja, 60 vezes mais que todos os sites classificados por ele como progressistas e que tiveram as verbas cortadas55.

Grande parte dos grupos de mídia analisados na pesquisa MOM-Brasil possuem negócios em outros setores da economia, pincipalmente, educação, saúde, mercado financeiro, mercado imobiliário e agronegócio. O site cita várias empresas e suas ligações com os grupos de mídia. No agronegócio, apresenta a ligação de vários grupos com os negócios rurais, entre eles o Grupo Mix de Comunicação / Grupo Objetivo, classificado pelo site como um dos maiores conglomerados de educação privada do país, tem fazendas de gado Nelore entre seus negócios. São citados também os donos de TVs em Uberlândia-MG e Goiânia-GO e o Grupo Alfa, dono da Agropalma, empresa de extração de óleo de palma. A família Marinho, proprietária da Rede Globo, possui fazendas e empresas de produção agrícola. Em um contexto histórico, o grupo Folha da Manhã, que deu origem ao atual Grupo Folha, teve entre seus proprietários membros da oligarquia rural paulista.

Utilizou-se neste tópico informações predominantemente provenientes do site Media Ownership Monitor Brasil pelo seu foco na propriedade destes meios, informação que esclarece alguns dos interesses comerciais e políticos envolvidos na formatação dessas empresas. A atualidade da pesquisa e o perfil profissional e democrático da equipe e do conselho de especialistas justificou a escolha deste relatório como suporte informativo para apresentar este breve panorama dos grandes conglomerados de mídia no Brasil. Não se pretende aqui esgotar um assunto rico em informações atuais e históricas, mas apenas apresentar informações eloquentes sobre o monopólio da mídia no Brasil e os interesses econômicos que estes representam.

55 Disponível em: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/temer-corta-publicidade-de-