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profissionalização

“O que queres ser quando fores grande?”

Esta é, sem dúvida, uma das perguntas que mais ouvimos quando somos crianças. Pensamos sobre isso, nós que ainda não sabemos bem o que é “ser grande”, mas nem damos real valor. Simplesmente brincamos, interagimos com os outros e aprendemos. Quando penso na minha infância, várias imagens surgem, como se de um filme se tratasse, mas há uma que se destaca. Uma imagem de uma menina a brincar “às professoras” com um quadro de giz, com os nenucos alinhados em cima da cama. Essa menina era eu e estava a “dar-lhes aulas”, na realidade, segundo o que oiço dizer por parte da minha mãe, imitava tudo o que a minha professora dizia.

Os anos passaram e agora “já sou grande”, sou licenciada em educação básica e, embora não tenha escolhido ser professora, estou quase a tornar-me mestre em educação pré-escolar, a ser educadora de infância. Foi um longo percurso. Entrei na faculdade porque “gostava de crianças”, mas cedo me apercebi que esse não é motivo suficiente para se ser educador(a). Fui aprendendo com todos ao meu redor, a tornar- me educadora, pois, tal como afirma Sarmento (2012) citado por Pinto (2015) “a

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identidade profissional corresponde a uma construção inter e intra pessoal, não sendo por isso um processo isolado.” (p.53).

Um dos fatores que considero fundamental na construção da minha identidade profissional é a criança que fui e a infância que vivi. De facto, tal como suprarreferido, as memórias no espaço exterior são, para mim, das mais presentes e, consequentemente, das mais felizes. Assim, a minha identidade não se consegue dissociar da minha prática, por esse motivo, o fascínio que tenho pelo meio exterior acompanhou-me ao longo dos meus dois estágios: quer o de creche, quer o de jardim de infância. Neste sentido, a investigação de creche centrou-se nos materiais naturais ( “madeira, metal, pinhas, palha, areia, água…” como as crianças de creche brincam e aprendem com os materiais naturais?) enquanto que a investigação em JI se prendeu com a mudança do espaço exterior (“Eu gostava que o nosso jardim tivesse uma tenda” ou a (re)construção do jardim com a comunidade educativa). Em ambas as investigações refleti acerca do papel do jardim para a aprendizagem da criança, tendo sido um privilégio, para mim, poder (re)pensar este espaço com toda a comunidade educativa de ambas os estabelecimentos. No contexto de creche, apercebi-me que o que mais valorizo são as experiências e materiais que damos à criança de forma a que ela, por si mesma, tendo o/a educador/a como guia, vá aprendendo. Assim, compreendi que idealizo, para creche, uma educação centrada em materiais naturais não estruturados ou semiestruturados, ao invés de materiais “industrializados” e uma educação muito ligada à natureza e ao meio exterior como possibilidade para a ação. No estágio de JI além de poder refletir, pude alterar o espaço exterior. Neste sentido, sinto-me uma privilegiada, pois seriam poucos os locais de estágio a cooperar e a aceitar o desafio que lancei. Para mim, foi fantástico ver o progresso e as alterações que foram feitas bem como as interações das crianças após o inicio do projeto.

Assim, as PPSs, tanto de creche como de jardim de infância, foram mais uma etapa, mais um degrau que subi na construção da minha identidade profissional.

Uma vez que nunca tinha estado em contexto de creche, a PPS módulo I permitiu-me aprender com um grupo de 12-24 meses tendo sido, por isso, uma experiência bastante significativa na construção da minha identidade profissional. Ao longo do estágio, senti que não tinha “bases” deste contexto, pois, na minha opinião, a formação inicial em educação de infância ainda não prepara os/as educadores/as para este contexto. Neste sentido, após o estágio conclui que, após concluir o mestrado em

49 educação de infância, gostaria de realizar a especialização em creche para aprender mais.

Relativamente à PPS módulo II este começou por ser um caminho tortuoso, pois fui a única estagiária a realizar estágio nesta instituição. Estando “sozinha”, eram complicadas as horas de almoço e não ter ninguém com quem conversar, ninguém com quem partilhar receios e ansiedades, mas, aos poucos, fui estabelecendo uma relação de efetiva partilha, de efetiva reflexão, durante a hora de almoço, com todos os elementos da equipa. Assim, comecei a sentir-me parte do Colégio, a fazer parte “da grande família” o que foi para mim um privilégio, pois pude aprender com todos os elementos da equipa. De facto, esta permanente reflexão permitiu-me adotar estratégias, ponderar e inovar a minha prática.

Além da relação de estreita parceria com a equipa educativa pude estabelecer uma relação com todas as crianças do Colégio, pois, passava as horas de almoço ora com a equipa educativa, ora no recreio a observar e a brincar com as crianças. Assim, pude conhecer e dar-me a conhecer a todas as crianças e não só às crianças da sala onde estava a estagiar, pude aprender com elas.

Quando no 1º ano do mestrado na UC de Desenvolvimento, Aprendizagem e Currículo dos 0 aos 6 anos me pediram para definir os princípios educativos que iriam reger a minha prática afirmei que iria rege-la segundo o modelo MEM, pois, embora nunca tivesse estado numa sala MEM, identificava-me com as ideias do modelo. Assim, a PPS permitiu-me, uma vez que o Colégio segue o MEM, vivenciar estes princípios educativos, aprendendo a “pôr em prática”. Conclui que este poderá, aos olhos de muitos, parecer um modelo complexo, mas é simples, basta respeitar e valorizar a criança, aceitar as suas opiniões e sugestões, ouvi-la, considera-la como agente do processo educativo.

Embora esteja prestes a terminar o mestrado em educação pré-escolar e tenha, ao longo destes 5 anos, aprendido e construindo a minha identidade profissional sei e afirmo com todas as certezas que este caminho está longe de terminar, pois, mesmo quando for educadora de um grupo, pretendo continuar a refletir constantemente e a aprender, pois sei que ainda há muito mais para descobrir, para vivenciar. Sempre o disse e irei continuar a dize-lo “quando achar que já não tenho nada para aprender, irei estar morta.”

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