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A palavra agredir é composta pelos étimos latinos “ad”, que significa “para frente”, e “gradior”, que significa “um movimento”. Agredir, portanto, é um movimento que move o indivíduo para frente, protegendo-o contra os predadores externos.

No caso de uma patologia de evolução psíquica, o movimento de agredir se transforma em agressão destrutiva, podendo atingir os graus máximos de violência e crueldade.

O conflito psíquico, com maior ou menor violência, presente no plano intra-subjetivo de cada indivíduo ou no plano intersubjetivo, das relações entre as pessoas e os grupos, permeia toda a nossa vida de relações humanas.

As relações intersubjetivas são, em sua maior parte, uma reprodução e um prolongamento na realidade exterior que se processam no interior de cada sujeito, sempre levando em conta, é claro, que as novas experiências da vida real vão transformando e processando novas estruturas e modalidades de vínculos relacionais.

Focando no caso da violência doméstica e familiar contra a mulher, os agressores normalmente são homens de personalidade forte e que se sentem superiores às mulheres, achando-se no direito de bater nelas, feri-las e gritar com elas. Outros agridem mulheres por acharem isso normal, por terem vivenciado cenas de violência doméstica em seu âmbito familiar desde a infância.

4.1 O SUJEITO ATIVO NOS CRIMES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Há uma divergência doutrinária acerca de quem poderia figurar como pólo ativo nos crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher, existindo duas correntes.

A primeira corrente afirma que por se tratar de crime de gênero e por a Lei 11.340/2006 visar a proteção à mulher vítima de violência doméstica e familiar, com

vista a valorizá-la enquanto ser humano, o homem seria o sujeito ativo nos crimes de violência doméstica e, quando muito, a mulher que, na forma do parágrafo único deste artigo, mantenha uma relação homoafetiva com a vítima.

Já a segunda corrente defende que a ênfase principal da lei não é questão de gênero, tendo o legislador dado prioridade à criação de “mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica familiar contra a mulher”, sem importar o gênero do agressor, que pode tanto ser homem como mulher, desde que haja vínculo de relação doméstica, de relação familiar ou de afetividade. Esta corrente é a majoritária, sendo a opinião do jurista Luiz Flávio Gomes.23

Portanto, em relação ao sujeito passivo, a Lei 11.340/2006 elegeu apenas a mulher, apesar da recente decisão já tratada acima, enquanto no pólo ativo, encontra-se a priori o homem que com ela seja ou tenha sido casado, aquele que mantenha ou tenha mantido uma relação afetiva, bem como qualquer outro homem ou mulher que habite a mesma residência ou unidade domiciliar do grupo familiar a que pertença ou esteja integrada a vitima.

A lei 11.340/2006, então, não se destina, quanto ao pólo ativo, diretamente à questão de gênero, não impedindo que as mulheres que estejam nas mesmas condições dos homens e venham a praticar atos de violência doméstica e familiar contra outras mulheres, ou contra o próprio homem, por analogia, sejam alcançadas pelas suas regras.

O parágrafo único do artigo 5º da lei 11.340/2006 estabelece que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”. Isso demonstra que tal lei considera a realidade social e sua evolução, envolvendo e protegendo, também, relações entre pessoas do mesmo sexo e dos quais também podem derivar situações de violência doméstica e familiar iguais as verificadas tradicionalmente em relações entre pessoas de sexos diferentes.

A lei 11.340/2006 não esqueceu, ainda, as relações parentais cada vez mais comuns, principalmente por questões econômicas, onde convivem em um mesmo local parentes pertencentes a diferentes gerações e de graus os mais

23

GOMES, Luiz Flávio; BIANCHINI, Aline. Competência Criminal da Lei de Violência contra a Mulher

II. Disponível em: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20060904210631861&mode=print.

diversos, além daquelas pessoas agrupadas por relação de emprego, de amizade, dentre outras.

4.2 O PERFIL DO AGRESSOR

O agressor é, normalmente, um homem acima de qualquer suspeita, pois não demonstra nenhuma atitude violenta no seu ambiente social, nem no trabalho, fazendo com que os vizinhos desconfiem da veracidade dos pedidos de ajuda da mulher, já que é bem difícil associar a imagem de um agressor à de um homem responsável.

Segundo a psicóloga Ruth Gheler, homens que comentem o crime de violência doméstica e familiar contra a mulher são muito inseguros quanto a sua virilidade, ao papel masculino que representa, mostrando-se, portanto, agressivo e ciumento, tendo a mulher como um objeto de sua propriedade o qual pode manipular da forma como desejar, não agüentando perder o controle sobre a mulher. 24

Não existe um perfil padrão e imutável dos agressores, porém, E. W. GONDOLF traz em sua obra intitulada “ Who are these guys?Toward a behavioral typology of batterers. Violence and Victimis”, 1988, que 5 a 8% dos agressões possuem características de personalidade anti-social e tendência a praticar atos com extrema violência sexual e física; 30 a 40% dos agressores possuem características de personalidade anti-social com tendência a realizar atos com extrema violência física e verbal, porém, não sexual; e 52 a 65% dos agressores não possuem um perfil psicológico marcado, porém, mesmo que em graus menos severos, realizam abuso verbal e físico.

Apesar de não haver coincidência significativa em relação à idade, nível, social, educação, notando-se, portanto, que é um grupo homogêneo, nota-se, através dos estudos realizados, que o maior índice de agressores se detecta na classe média-baixa.

É notório, ainda, que a violência doméstica praticada pela mulher é praticamente inexpressiva, sendo inferior a 1% dos casos.

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O consumo de álcool é muito presente nos relatos das vítimas, constatando através de alguns estudos que em 60% dos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, o homem estava sobre o efeito de bebidas alcoólicas.

Estudos mostram, ainda, que o agressor normalmente é cônjuge, excônjuge, companheiro ou ex-companheiro da vítima, sendo, em sua maioria, alfabetizados, porém, sem muita instrução e com idade entre 18 e 60 anos, mas comum entre jovens. Na maioria dos casos são desempregados ou que exercem trabalhos eventuais.

Interessante notar que muitos autores de violência doméstica trazem que, normalmente, os agressores sofreram agressões físicas ou sexuais quando crianças. Esse é um dado muito preocupante, pois a pessoa que sofre de violência durante a infância não apenas tem uma maior tendência, quando adulto, a exercê-la contra a sua família, senão também, contra outros membros da sociedade.

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