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Agricultura Familiar e a Importância para o Desenvolvimento Rural

4 UM OLHAR AGROECOLÓGICO A PARTIR DA CARACTERIZAÇÃO

4.2.3 Agricultura Familiar e a Importância para o Desenvolvimento Rural

A agricultura familiar pode ser descrita como o segmento da agricultura em que os gestores ou administradores das unidades rurais são os próprios trabalhadores rurais, ressaltando que é o maior seguimento em número de unidades rurais do país, tendo grande relevância econômica em várias cadeias produtivas (FLORES, 1998).

Assim, o Brasil experimentou um forte padrão de crescimento urbano nos últimos quinze anos, podendo se expressar um trunfo para a revitalização do meio rural. As unidades compostas por familiares no meio rural terão tanto mais sucesso quanto mais significativos forem às possibilidades de intensificação de suas ligações dinâmicas e diversificadas com as cidades, causadas por meio de políticas que impulsine esta ligação (ABRAMOVAY, 1999).

A discussão sobre a definição de rural é praticamente inesgotável, mas parece haver um certo consenso sobre os seguintes pontos: a) rural não é sinônimo de agrícola e nem tem exclusividade sobre este; b) o rural é multissetorial (pluriatividade) e multifuncional (funções produtiva, ambiental, ecológica, social); c) as áreas rurais têm densidade populacional relativamente baixa; d) não há um isolamento absoluto entre os espaços rurais e as áreas urbanas. Redes mercantis, sociais e institucionais se estabelecem entre o rural e as cidades e vilas adjacentes.

O mundo rural, em uma lógica universalmente integrada ao conjunto da sociedade brasileira e a contextualização das relações internacionais, considera-se que o espaço rural mantém seus aspectos históricos, sociais, culturais e ecológicos, que moldam como uma realidade própria, de onde fazem parte, inclusive, as próprias linhas de inserção na sociedade que o abrange (WANDERLEY, 2001).

E de forma contextualizada em âmbito das relações globais, o conceito de desenvolvimento tem se associado a outros conceitos que vem se complementando, como por exemplo, o “local” para denominar ou se referir ao “lugar” ou território, a identidade territorial dos atores sociais, como também o sentido e o objetivo da ação do desenvolvimento, e o conceito de “sustentabilidade” que aponta que o processo está efetivado de forma duradoura (SOUSA; OLIVEIRA; FREITAS, 2008).

Existe um crescente desafio no quadro da sustentabilidade agrícola, econômica e social para as instituições envolvidas com a problemática do desenvolvimento regional, pois, assumem um papel de grande importância como corresponsáveis pela viabilidade dos exercícios socioeconômicos que atendem aos interesses sociais, técnicos e econômicos, levando sempre em destaque o não comprometimento do ambiente (CAMPOS, 2001).

Wanderley (2001, p.33) trás a concepção de que o:

[...] continuum rural-urbano como uma relação que aproxima e integra dois pólos extremos. [...], a hipótese central é de que, mesmo ressaltando-se as semelhanças entre os dois extremos e a continuidade entre o rural e o urbano, as relações entre o campo e a cidade não destroem as particularidades dos dois pólos e, por conseguinte, não representam o fim do rural; o continuum se desenha entre um pólo urbano e um pólo rural,

distintos entre si e em intenso processo de mudança em suas relações.

O rural enquanto espaço integrado, com relação a afirmação da permanência do rural , se mostra como cenário específico e diferenciado, que se reforça quando se coloca as representações sociais a respeito do meio rural (WANDERLEY, 2001).

Desta forma, o agricultor pode entender que ele é também protagonista do seu desenvolvimento e do seu entorno, causador da equidade de gênero, construção étnica se tornando um agente do desenvolvimento humano em seus territórios, ou seja, sendo apoiador da elaboração de ferramentas que torna sujeitos sociais que estão comprometidos com os princípios democráticos e justos, que se insere dentro das organizações que tem se formado como exemplos e semente de uma sociedade, futura e sustentável (LEMOS, 2006).

No campo da agricultura familiar vem surgindo diversas abordagens e opções para o desenvolvimento rural. Com a participação de organizações que representam a sociedade civil, como também associações de base, desenvolvendo experiência e meios de produção de consumos alternativos, gerando ferramentas de cunho sustentável e de condições econômicas solidárias e participativas. Com destaque na temática da segurança e soberania alimentar e da agroecologia (BERGAMASCO; DELGADO, 2017). “A exploração desta nova dinâmica territorial supõe políticas públicas que estimulem a formulação descentralizada de projetos capazes de valorizar os atributos locais e regionais no processo de desenvolvimento” (ABRAMOVAY, 1999, p.2).

É de suma importância colocar que a intesificação das indústrias e o crescimento das cidades médias não leva, necessariamente, a uma medida benéfica que torna a distribuição de renda melhor, nem muito menos a redução do nivel da pobreza urbana. Importante destacar que no campo, encontram-se oportunidades ou entradas de geração de renda capazes de proporcionar melhor inter-relação das populações que ai vivem a dinamica urbana do que sua simples migração em direção às cidades. Transformar este cenário em

realidade depende da competência que, não somente o Estado, mas a reunião das ferramentas e forças interessadas na valorização do espaço rural terá de gerar e executar projetos e meios que intensifique e dinamizem às relações rural-urbano (ABRAMOVAY, 1999).

Kageyama (2008) comenta que em relação à diferença entre a categoria rural/urbano, o destaque para a economia do local/regional tem buscado descrever os diversos modelos de integração e trocas que possam se desenvolver entre o seus segmentos de espaços e setores de atividade, é por isso que a presença ou a ausência de centros urbanos de vários tamanhos demográficos numa região adquire relevância, mesmo que com isso não se constitua uma exigencia a priori que garanta um maior desenvolvimento rural.

Bagnasco (1997) apud Kageyama (2008) destaca ainda que nas cidades se tinham um tipo de articulação com o campo - que caracterizava uma estrutura social especifica a da família camponesa autônoma - que vizualisava um mercado de trabalho mais flexível. Desta forma, essas familias conseguiram combinar renda agrícola e a renda de atividades industriais, conseguindo assim acumular às vezes um capital que possibilitava a um filho abrirem seu próprio empreendimento artesanal ou até mesmo industrial, construindo assim um “campo urbanizado”.