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O Sistema Produtivo Agroecológico e a Renda da Agricultura

4 UM OLHAR AGROECOLÓGICO A PARTIR DA CARACTERIZAÇÃO

5.2.1 O Sistema Produtivo Agroecológico e a Renda da Agricultura

própria referência à agricultura familiar, isso antes mesmo da década de 1990, “uma vez que os termos usualmente utilizados para qualificar essas categorias sociais eram os de pequeno produtor, produtor de subsistência ou produtor de baixa renda” (SCHNEIDER; NIEDERLE, 2008, p.36).

As unidades de produção pertencentes e geridas pelos agricultores familiares sofrem também com a maneira que tem se dado as transferências de renda para os setores agroindustriais, comerciais e financeiros. Desta forma, os autores salientam que devem existir políticas que tenham uma forma econômica com base nas novas estratégias e táticas para assegurar a sobrevivência desses agricultores. Como, por exemplo, o uso apropriado dos meios de produção existentes: terra e mão de obra, como também a utilização de tecnologias apropriadas, que sejam de baixo custo, isso se mostra um caminho que a produção familiar não poderá fugir. Os autores também observaram que o uso adequado dos bens de produção será capaz até de maximizar a potencialidade em um conjunto de unidades familiares de produção, isso em formas organizacionais. Assim, para a competição por partes diferentes de mercado local e regional se dá pela organização em conduzir o desempenho de pequenas agroindústrias ou desenvolver a indústria caseira de alimentos. Isso tem revelado resultados significativos quanto ao progresso da renda dos agricultores familiares (CAPORAL; COSTABEBER 2004).

Podemos expor que a criação de um novo paradigma para se colocar no cenário do desenvolvimento rural dos municípios que geram produção é levar em conta a grande relevância da preservação dos recursos naturais, ou seja, através de políticas de cunho gerencial que coloca a prioridade nos recursos naturais, mas não podendo esquecer-se da segurança da forma de produção dos agricultores familiares, ou melhor, levando um nível de renda mais justo,

em consolidação simultânea com a preservação dos recursos naturais (CAMPOS, 2001).

Desta forma Caporal e Costabeber (2002) evidenciam em sua obra que corresponde a agroecologia conceitos e princípios da Agronomia, Antropologia, Ecologia, Sociologia, Economia Ecológica, Ciência da comunicação entre outras diversas áreas do conhecimento, no redesenho e também no manejo de agroecossistemas que almejasse serem mais sustentáveis através do tempo. Diz respeito a uma orientação nas quais as pretensões e contribuições perpassam os aspectos meramente tecnológicos ou agrônomos da produção agropecuária, introduzindo dimensões mais amplas e complexas, que abrangem variáveis econômicas, ecológicas e sociais, assim como variáveis culturais, éticas e políticas.

Mas Caporal (2008) ressalta que não se pode ter um ideal de que a agroecologia poderá resolver todos os males causados pelos resultados das ações humanas de um modelo de produção e de consumo, nem a salvadora das mazelas geradas por uma estrutura econômica globalizada e oligopolizada, basta entender simplesmente, conduzir ou orientar estratégias e ferramentas de desenvolvimento rural sustentável e a busca para a transição de um modelo de agricultura com um perfil mais sustentável, colocando em mente que existirá uma contribuição para as vidas atuais e para as futuras gerações neste mundo de recursos limitados.

Caporal (2008) defende que com os princípios da Agroecologia, se tem um grande potencial técnico-científico já conhecido e com esse é capaz de impulsionar uma mudança significativa no meio rural e principalmente na agricultura, desta forma, esse pode servir como base para reorientar ações de ensino, assessoria ou assistência técnica, pesquisa e extensão rural, num ponto de vista que garanta uma maior sustentabilidade socioambiental e econômica para os diversos agroecossistemas.

Assim, Veiga (1998) Apud, Sousa; Oliveira, Freitas (2008, p. 69-70) destacam que:

[...] dois importantes aspectos devem ser considerados no âmbito do desenvolvimento rural sustentável: o primeiro é que ele se realiza nas comunidades rurais com as famílias e suas unidades produtivas, onde qualquer intervenção de mudança

requer muito cuidado e conhecimento da comunidade e de seus componentes; o segundo é identificar quais os componentes de renda das famílias. Embora a agricultura familiar represente a forma de organização mais apropriada para potencializar o desenvolvimento agrícola rural, é preciso que, no contexto do desenvolvimento de comunidades rurais, outros componentes da renda não oriunda da atividade agrícola sejam considerados.

5.2.2 A Composição do Fluxo de Caixa das Famílias Rurais: Renda Monetária e Não Monetária

“Qual a real importância da renda na agricultura familiar? As categorias econômicas como renda, capital e lucro, são inerentes a um sistema baseado no trabalho assalariado” (GRÍGOLO, 2008, p. 244). Na agricultura familiar seria inadequado utilizar a mesma lógica para o estudo da sua vida econômica. Assim refletindo, tem-se a relevância a outras categorias da economia, como o autoconsumo, como também tentar estabelecer relações entre: valor da produção, renda, custos, trabalho, uso da terra, ou seja, existir uma tentativa de colocar o desafio de superar o cenário economicista de renda, tendo como um dos pontos a geração de indicadores de sustentabilidade (GRÍGOLO, 2008).

De acordo Barbosa (2013) a obtenção de renda não-monetária é resultado não do recebimento de valores monetários (dinheiro), como também dos valores que são economizados pelo não gasto de recursos financeiros para aquisição de determinados produtos ou serviços que são necessários para o manejo de atividades produtivas agrícolas ou não-agrícola, assim como para produtos agrícolas e não-agrícolas que são consumidos pelas famílias rurais.

Os agricultores familiares têm como principal fator produtivo a força do seu trabalho que aparece em abundância, mas enquanto um núcleo familiar, trabalho e produção fazem parte de um todo inseparável em que as relações de sangue e parentesco atuam como base fortalecedora e fator de coesão do grupo social. Apesar de produzirem muitas vezes em excesso onde é destinado aos consumidores dos espaços urbanos com residências mais próximas ou até mesmo aos mercados que se encontram em áreas mais longínquas, as famílias de agricultores raramente abandonam a produção para o auto-aprovisionamento ou autoconsumo, onde lhe permite abrir um leque

permanente de venda, fazer trocas por outros produtos ou serviços, consumir, que é a predominância de sua autonomia cultural, social e econômica onde pode ser colocada de frente a sociedade capitalista em que estão inseridos (SCHNEIDER; NIEDERLE, 2008).

Santos; Rocha; Couto (2005) apontam que a forte produção realizada para o autoconsumo possibilita a diminuição dos custos referente às compras de alimentos, ao passo que potencializa a diversificação de produtos alimentares, que serão comercializados nos mercados. Diversos agricultores, agricultoras entre outros agentes desses caminhos em todo o Brasil demonstrando grande diversidade de raízes socioculturais como populações indígenas, caboclos, migrantes, quilombolas, negros, povos da floresta, do Pantanal, Cerrado, Semiárido, Faxinais, Ribeirinhos, Pampas e Pescadores.

O autor Barbosa (2013) explica que em relação à obtenção de renda monetária, a mesma está ligada diretamente ao recebimento de valores monetários (dinheiro) que são oriundos de transações comerciais entre os agentes econômicos envolvidos, no caso, o vendedor e consumidor, por meio da comercialização.

No cenário brasileiro, o qual é bastante heterogêneo, nota-se que os municípios que ficam no interior do país, têm a produção agrícola como o carro chefe da economia. Pode-se dizer que a dinâmica econômica do interior depende, essencialmente, do desenvolvimento da agricultura (HESPANHOL, 2008).

Desta forma, se parte da hipótese de que a agricultura familiar, não é literalmente camponesa, como também não é especificamente capitalista ou mercantilista. O modelo social médio de agricultor familiar a que compõe-se de uma família que trabalha em atividades agrícolas sob uma determinada área, que no geral não é muito grande e nem sempre é de sua propriedade legal. Este é um tipo de comando de trabalho em economia familiar que fornece uma produção agroalimentar que é utilizada para o auto abastecimento (autoconsumo) como também para comercialização (SCHNEIDER; CASSOL, 2017).