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1 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

1.2. Agricultura sustentável

A crise energética dos anos 70 e suas intensas repercussões na economia mundial, bem como as reações às crescentes externalidades ambientais, o uso irrefreável de recursos naturais e energéticos demandados pelo modelo de Revolução Verde, foram algumas das razões que ocasionaram a crise do padrão convencional da agricultura. Daí emergiu a necessidade de estilos alternativos nos sistemas produtivos agrícolas, com interação dos componentes socioculturais, técnico-agronômico, econômicos e ambientais, contando com o apoio político-institucional. Grande parte da literatura considera esses fatores básicos para se conseguir uma agricultura sustentável

Segundo EHLERS (1999), a expressão agricultura sustentável passa a ser empregada com maior freqüência, em meados dos anos 80, assumindo também dimensões econômicas e socioambientais, ainda que, o termo sustentável, com relação ao uso da terra, dos recursos bióticos, florestais e pesqueiros fosse usado desde décadas anteriores.

Segundo esse autor, as múltiplas definições literárias para definir a “agricultura sustentável” incorporam aspectos como:

- manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; - o mínimo de impactos adversos ao ambiente;

- retornos adequados aos produtores;

- otimização da produção das culturas com o mínimo de insumos químicos; - satisfação das necessidades humanas de alimentos e de rendas;

- atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades.

Com relação às práticas agrícolas e a utilização dos recursos naturais, grande parte da literatura inclui a redução do uso de pesticida, e de fertilizantes solúveis, o controle da erosão do solo, a rotação de culturas, a integração da produção animal e vegetal e a busca de novas fontes energéticas.

FLORES et al.(1994), consideram que os sistemas de produção agrícola obrigatoriamente terão que ser sustentáveis, embora as tecnologias não sejam soluções para todas as questões ambientais. Para este autor a agricultura sustentável só é viável com a obtenção de níveis econômico de produtividade, com sistemas produtivos viáveis em termos agronômicos, sociais e ecológicos, atendendo a demanda de curto e longo prazo, alcançando sustentabilidade e crescimento da produção como metas compatíveis, objetivando maior eficiência energética e conservação ambiental, além de considerar também a necessidade de desenvolver e empregar mas tecnologias. Já para ALMEIDA (1999), na agricultura sustentável é reservado um lugar importante à tecnologia, aos processos e métodos de produção, caracterizando o sistema alternativo pela auto- suficiência, a descentralização e a desconcentração presente neste sistema produtivo. Segundo ALTIERI (1999), o objetivo maior desta agricultura, a partir do enfoque agroecológico é a manutenção da produtividade agrícola com o mínimo possível de impactos ambientais e com retornos econômicos-financeiros adequados à meta de redução da pobreza.

Segundo ALMEIDA (1999), as noções de autonomia e autoconstrução (do meio, das identidades, etc) permitem aos interessados pela agricultura sustentável tomar consciência das possibilidades que permitirão a eles próprios construir seu futuro, seja no plano específico do trabalho ou em um nível sócio-econômico e cultural mais amplo. No aspecto técnico agronômico, de acordo com Holas (apud ALMEIDA, idem)

consideram a tecnologia como aquela “que vai na direção da harmonia entre o solo, a vida animal e a vida vegetal”.

Segundo DAROLT (2000), o ponto comum entre as correntes que busca um sistema de produção sustentável no tempo e no espaço, é o manejo e a proteção dos recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos agressivos à saúde humana e ao meio ambiente, mantendo o incremento da fertilidade e a vida do solo, a diversidade biológica e respeitando a integridade cultural dos agricultores.

Segundo PINHEIRO MACHADO (1998): “a agricultura sustentável esta inserida no desenvolvimento sustentável e deve implicar, conceitualmente, o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, onde os valores humanos se sobreponham aos objetivos de lucro e de simples reprodução do capital. Não se trata, pois, de gerar tecnologia para perpetuar as injustiças hoje vividas pela grande maioria da população do globo terrestre. A agricultura sustentável, como aqui é entendida, implica, previamente, na sustentabilidade do ser humano, isto é, ao exercício pleno da sua cidadania, o que se entende por dispor de trabalho, habitação, saúde, educação, cultura e lazer, como condições mínimas a serem atendidas.

A agricultura sustentável é assim um conjunto de técnicas que objetiva maximizar os benefícios sociais e econômicos da auto-sustentabilidade do processo produtivo, minimizar e mesmo eliminar a dependência de insumos provenientes de processos de síntese química e de proteger o ambiente, através da otimização do emprego dos recursos naturais e sócio-econômicos disponíveis na unidade de produção ou na região, para a produção de alimentos sadios, matérias primas, bens e utilidades de forma sustentável no tempo e no mesmo espaço físico, e que seja eficiente social, econômica, técnica, energética, ambiental e culturalmente, começando e o atendimento das necessidades básicas da cidadania do ator principal, o ser humano.

A discussão sobre a agricultura sustentável, por outro lado, está presente em vários setores da sociedade, por várias razões, entre elas a necessidade e o desejo crescente da população em obter alimentos “limpos” e viver em melhores condições ambientais, fatores esses positivos para a expansão desta agricultura.

No meio rural, em geral, e no Rio Grande do Sul em particular, essas experiências são restritas, pois desde o início foram mobilizadas por agricultores familiares, por técnicos e por organizações não governamentais, sem apoio de órgãos

públicos no processo de transição inicial, em 1999, se instala o atual governo estadual. No entanto, houve influências sociais e específicas na dinâmica sócio-política e econômica local que estimularam práticas orgânicas, atraindo outros agricultores. Poucos pesquisadores estiveram dispostos a superar os rumos e os desafios dessa produção.

No desenvolvimento da agricultura sustentável contribuíram: a fragilidade do padrão convencional, os problemas energéticos e os ambientais, além do interesse despertado por parte da população em relação aos métodos e os processos alternativos que, com o passar do tempo e com o desenvolvimento lento e gradativo da produção, vem comprovar o seu potencial inexplorado, como expressa EHLERS (1994),“a agricultura sustentável é vista como uma possibilidade de se promover transformações sociais, econômicas e ambientais em todo o sistema agro-alimentar, passando pelas pesquisas, pelos hábitos de consumo alimentar ou pela revisão das relações entre países do Norte e do Sul. Transformações que levam em conta a promoção da melhoria na qualidade de vida de centenas de milhões de habitantes”.

A visão desse autor pode ser considerada ambiciosa. No entanto, o tempo vem demostrando as vantagens que apresenta a produção sustentável, especialmente na recuperação e na sustentabilidade das pequenas unidades de produção, ao conhecer-se várias experiências produtivas, com ótima produtividade unida ao processo de proteção ambiental.

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