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2.1 AGRICULTURA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

2.1.3 Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável

Lança no chão do planeta A semente de amor Lança e fica mais preta, que o bom lavrador Com o sol se levanta E com a lua da noite se deita Lança que o bom lavrador Não apressa a colheita (Lavrador - Moraes Moreira)

As discussões anteriores sinalizaram que a transformação da agricultura rumo à

sustentabilidade está intimamente atrelada aos processos agroecológicos.

Nesta conjuntura, o processo de construção de uma agricultura sustentável,

embora implique em mudanças, como por exemplo, a substituição dos insumos

químicos, não se resume a isso (MOREIRA; CARMO, 2004).

Para Altieri (2012), a Agroecologia é uma ciência que fornece os princípios

ecológicos para o estudo e tratamento dos agroecossistemas, tanto produtivos quanto

preservadores dos recursos naturais. Para tanto, preza-se por uma agricultura

culturalmente sensível, ambientalmente sana, socialmente justa e economicamente

viável.

Os princípios da Agroecologia vão de encontro a manejos naturais, que

respeitam as relações ecológicas do ambiente e também a adaptabilidade e a resiliência

dele (ALTIERI, 2004).

O termo Agroecologia, segundo Gliessman (2000), parece ter surgido na década

de 1930, como sinônimo de ecologia aplicada à agricultura. Embora a Agroecologia

tenha sido inicialmente concebida como uma disciplina específica que estuda os

agroecossistemas, na década de 1940, outras contribuições foram se somando a essa

Dessa forma, a Agroecologia utiliza os agroecossistemas como unidade de

estudo, mas ultrapassa a visão unidimensional, que enxerga a agricultura apenas com o

olhar da genética, da agronomia, da fisiologia, da morfologia, pois, inclui em seus

estudos as dimensões ecológicas, sociais, econômicas, políticas e culturais.

A Agroecologia se popularizou nos anos de 1980, a partir dos trabalhos de

Miguel Altieri e de Stefhen Gliessman. Posteriormente, veio a contribuição de outros

autores que fortaleceram o viés sociológico para a Agroecologia, como Eduardo

Sevilla-Guzmán e Manuel Gonzáles de Molina.

Para Guzmán e Molina (1993), a Agroecologia corresponde a um campo de

estudo que pretende o manejo ecológico dos recursos naturais, através de ações sociais

coletivas e participativas, com enfoque holísticos e sistêmico, que reconduza as ações

da agricultura e estanque as formas degradantes da natureza e da sociedade.

Dessa forma, a Agroecologia, por meio do enfoque sistêmico, adota o

agroecossistema para análise, com o propósito, de proporcionar bases científicas para

apoiar o processo de transição do atual modelo de agricultura convencional para estilos

de agriculturas sustentáveis (GUZMÁN CASADO et al., 2000).

Gliessman (2000) coloca que a aplicação dos princípios da Agroecologia,

permite alcançar estilos de agriculturas de base ecológica. Mas, para respeitar os seus

princípios e bases, estes estilos de agriculturas precisam: atender aos requisitos sociais;

considerar as dimensões culturais; preservar os recursos naturais; ser pautada na ação

participativa e política; ter fins de empoderamento dos seus atores sociais; além de

permitir resultados econômicos viáveis e favoráveis à sociedade, com o propósito de ser

Dessa forma, agricultura sustentável, para a Agroecologia, é aquela capaz de

atender aos seguintes critérios: a) baixa dependência de insumos comerciais; b) uso de

recursos renováveis localmente acessíveis; c) utilização dos impactos benéficos ou

benignos do meio ambiente local; d) aceitação e/ou tolerância das condições locais; e)

manutenção em longo prazo da capacidade produtiva; f) preservação da diversidade

biológica e cultural; e g) a utilização do conhecimento e da cultura da população

tradicional local (GLIESSMAN, 1990).

A Agroecologia reúne afinidades com outras ciências e outros campos do

conhecimento que também se identificam com as questões sociais, ambientais,

econômicas, políticas e educacionais que permeiam o campo.

O sentido das práticas agroecológicas é nortear e propor rupturas com: a

agricultura convencional; com o modelo hegemônico de desenvolvimento rural baseado

na monocultura, no latifúndio e no agronegócio; com a exploração dos recursos

naturais; com a exclusão social e; com os processos educativos de transferências de

conhecimentos pré-estabelecidos e de interesses economicistas.

A Agroecologia é uma ciência que emerge da busca por uma superação dos

conhecimentos fragmentados e cartesianos, em favor de uma abordagem integrada, que

compreenda o agroecossistema, no que tange ao funcionamento dos ciclos minerais, as

transformações de energias, os processos biológicos e as inúmeras relações sociais,

ecológicas e econômicas, através de análises sistêmicas dos processos que intervêm na

atividade agrícola (ALTIERI, 1989).

Para Gliessman (2001), essa ciência proporciona conhecimento e metodologia

altamente produtiva e economicamente viável. Valorizando o conhecimento tradicional

e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade.

A Agroecologia prima pela vida e pelo saber teórico e empírico dos agricultores,

tendo como base as diversas relações e interações que ocorrem em determinado

agroecossistema, e a partir desse conhecimento se busca maximizar as interações no

intuito de alcançar a estabilidade e a produtividade total da propriedade (GLIESSMAN,

2001).

A ligação entre sustentabilidade e Agroecologia é amarrada pelo uso racional

dos recursos naturais. Por meio de práticas agroecológicas se conseguirá um modelo de

desenvolvimento que vai culminar em um ambiente sustentável.

Na década de 1990, os movimentos sociais do campo, em especial aqueles

vinculados à Via Campesina, incorporam o debate agroecológico em suas agendas

políticas e passaram a dar contribuições importantes para a inclusão dessa temática no

contexto popular (GUBUR & TONÁ, 2013). Incluiu-se a Agroecologia nos debates

sobre desenvolvimento sustentável e processos educacionais no campo.

A questão da educação no campo deve ser pensada para além de garantir uma

escola pública próxima às residências rurais, mas englobando a inserção da vida e do

cotidiano rural no processo educacional. Na prática da Agroecologia identifica-se um

caminho para a valorização do saber do homem, da mulher, da criança e do idoso do

campo, por meio do resgate da produção de alimentos de forma tradicional e com a utilização de insumos “verdes”, alem de (re)valorizar formas de trabalho coletivo e participativo (DOSSIÊ ABRASCO, 2012).

A compreensão crítica da realidade do campo e da crise nele instaurada leva à

configura como proposta educativa transformadora, tornando-se imprescindível na luta

pela resistência e pela sustentabilidade.

Para o desenvolvimento sustentável, a Agroecologia orienta algumas práticas,

como: aproveitamento de energia solar; manejo do solo como um organismo vivo;

enriquecimento e manejo de processos ecológicos; cultivos múltiplos e sua associação

com espécies silvestres, de modo a elevar a biodiversidade; ciclagem de biomassa;

processos endógenos e autogestionados; resgate de saberes e práticas tradicionais de

povos originários; economia solidária e outros (GUBUR & TONÁ, 2013).

Os autores Gubur & Toná (2013), ressaltam que a Agroecologia vai além de

instrumentos metodológicos que simplesmente permitem uma melhor compreensão dos

sistemas agrários e soluções para problemas produtivos que a ciência agronômica

convencional não resolve, ou mesmo agrava. Nessa conjuntura, é que a questões sociais

ocupam papel relevante na Agroecologia. Ainda que se parta da dimensão técnica de

um agroecossistema, o que se pretende é a compreensão das múltiplas dimensões que

permeiam o agroecossistema, como por exemplo, as diferentes formas de dependência

dos agricultores na atual política e economia.

Assim, a Agroecologia não é apenas um conhecimento útil, passível de ser

aplicado e replicado, mas se configura como prática social, ação de manejo da

complexidade dos agroecossistemas particulares, inseridos em múltiplas relações

naturais e sociais (GUBUR & TONÁ, 2013).

Antes de aprofundar as discussões sobre as propostas educativas do ensino da

agroecologia, faz-se necessário à priori a compreensão de alguns elementos da educação