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2.7 PRINCIPAIS ATIVIDADES POLUIDORAS

2.7.2 Descrição das Principais Atividades Poluidoras

2.7.2.1 Agronegócio

As atividades da agropecuária são grandes responsáveis pelo desmatamento e pelas consequentes queimadas nas florestas existentes na região. Destacam-se, nessa atividade, a lavoura temporária, composta por arroz, feijão, milho e soja e a lavoura permanente, onde se cultiva, principalmente, banana, coco da Bahia e cacau. A pimenta do reino e a pecuária com rebanho expressivo, calculado em mais de 14 milhões de

cabeças de bovinos, representam posições de destaque no contexto da agricultura do estado do Pará. Atualmente, a área agrícola, com a predominância do cultivo de grãos, principalmente soja, e de pastagens, na região já denominada de “arco do desflorestamento”, encontra-se em crescente expansão, e palco para grandes preocupações, com relação ao seu potencial de causar impactos sobre o meio ambiente e à saúde humana.

Na agropecuária a prática da queima é o sistema de mais baixo custo, utilizado para limpar e preparar o solo para o plantio, controlar as pragas, renovar pastagens e facilitar, posteriormente, a atividade de colheita. Trata-se de uma ferramenta de grande utilização pelos agricultores, principalmente pela agricultura familiar, com grande variabilidade espacial e interanual.

A evolução de uma queimada compõe-se de cinco estágios: ignição, chamas (flaming), incandescente (glowing), brasas (smoldering), e extinção. A “ignição” depende do tipo e da umidade da biomassa, e de fatores ambientais, como temperatura, umidade relativa e vento. O estágio “chamas”, mais quente que o anterior, produz o carvão e libera o vapor d’água, monóxido (CO) e dióxido de carbono (CO2). O estágio mais frio é denominado “brasas”, no qual a produção de CO2 é reduzida, drasticamente, juntamente com um acréscimo significativo na liberação de compostos incompletamente oxidados, como o CO, além de uma rápida formação de partículas e acreção de partículas orgânicas de carbono. Esse estágio é o responsável pela emissão da maior parte do material particulado. A “extinção” pode ser alcançada, devido, por exemplo, ao resfriamento convectivo em função do entranhamento de ar mais frio, ao resfriamento radiativo e ao baixo suprimento de oxigênio em relação à densidade e tamanho da biomassa, além da diminuição da quantidade de biomassa disponível (FREITAS, 1999, apud WARD et al., 1992).

A quantidade de água pode determinar qual fase de chamas ou brasas, será mais significativa, definindo, por exemplo, às proporções de CO e CO2 emitidas. A quantidade de biomassa disponível para a queima é determinada pelo clima local e o tempo local, através da temperatura, precipitação, umidade e o vento, que determinam as condições necessárias para a ocorrência do fogo e seu comportamento, no que se refere à razão entre a combustão da fase de chamas para a fase de brasas (FREITAS, 1999). Pela Tabela 5 observa-se que o estágio flaming apresenta maiores quantidades de material emitido, enquanto o smoldering, maiores números de diferentes compostos emitidos (FREITAS, 1999).

Tabela 5– Principais compostos emitidos no processo de queimada da biomassa vegetal nos estágios flaming e smoldering.

Estágio ‘flaming’ Ambas os Estágios Estágio ‘smoldering’

---

C2H2, NCCN

CO

--- CH4 – Metano

CO2 Hidrocarbonetos não Metanos (NMHC3, PAH)4

NO, N2O, N2 NH3 (Amônia)

SO2 HCN Ácido Cianídrico ou Cianeto de Hidrogênio

Material Particulado (elevada concentração de carbono elementar – ‘black carbon5’)

CH3Cl (Cloreto de Metila), H2S (Ácido

Sulfúrico), COS6 e DMS

Fonte: Freitas (1999); Warnatz (1993).

A queima de biomassa emite uma mistura complexa de gases e particulados na atmosfera. Pauliquevis et al.(2008) descreveram que as queimadas são responsáveis por 75% das emissões brasileiras de carbono e de aerossóis na atmosfera. Seus estudos indicaram que as concentrações de material particulado encontradas nas regiões do “arco do desflorestamento” chegam a atingir valores da ordem de 400 a 600 μgm-3

. São também fontes significativas de gases de efeito estufa, como o CO2 e CH4 e dos gases precursores do ozônio, como o CO. Esses mesmos pesquisadores estudaram a abrangência da pluma dos gases e das partículas de aerossóis emitidas pelas queimadas antropogênicas da biomassa vegetal, e concluíram que a pluma chega a atingir amplas áreas do continente sul-americano, podendo ser transportada, em larga escala, por milhares de quilômetros devido à elevada predominância de partículas finas em sua composição granulométrica. Em suas pesquisas, Andreae (1991), Artaxo et al. (2002) e Andreae et al. (2004); também descreveram que as queimadas antropogênicas que ocorrem, majoritariamente, em áreas tropicais do Planeta, são fontes importantes de gases de efeito estufa, diversos tipos de aerossóis, gases primários tóxicos e/ou precursores de gases secundários nocivos à saúde.

Em 2006, através do componente de química atmosférica do projeto LBA (sigla em inglês para Experimento de Grande Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia)

3 Hidrocarbonetos não metano, compreendem os HC totais (THC) menos a parcela de metano (CH 4).

4 Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAPs) - constituem uma família de compostos caracterizada por

possuírem 2 ou mais anéis aromáticos condensados

5

O carbono elementar ou black carbon é um aerossol proveniente da queima incompleta de combustíveis fósseis e de biomassa. A determinação de sua concentração pode ser utilizada como traçador de fontes poluidoras.

6 COS - Sulfeto de Carbonila. DMS - Dimetilsulfeto (CH

3SCH3 ou DMS). São compostos reduzidos de

Enxofre.Fonte: Atmospheric Chemistry and Global Change – G.P. Brasseur, J.J. Orlando, G.S., Tyndall, Oxford University Press, 1999)

observou-se que o intenso processo de alteração no padrão de uso e ocupação do solo, através do elevado e acelerado processo de ocupação humana da região amazônica (NOBRE et al., 1991), tem provocado significativas emissões de gases traço e de partículas de aerossóis para a atmosfera, decorrentes das queimadas, tanto das áreas de pastagens, quanto de florestas primárias (ARTAXO et al., 2006).

Mais especificamente, Freitas et al. (2009) descreveram que na América do Sul, durante os meses de inverno, ocorreram centenas e milhares de focos de incêndio, principalmente em ecossistemas de cerrado e de florestas, estando em sua grande maioria associados a práticas agrícolas. Essas queimadas, segundo eles, ocorrem primariamente nas regiões amazônica e do Brasil Central, porém através do transporte atmosférico de suas emissões, produzem uma distribuição espacial de fumaça sobre uma extensa área, aproximadamente, ao redor de 4-5 milhões de Km2, em muito superior às áreas onde estão concentradas. Continuando, esses mesmos pesquisadores descrevem que durante a combustão de biomassa são emitidos, para a atmosfera, gases, incluindo alguns de efeito estufa e precursores do ozônio troposférico, e cerca de 3.940 Tg.ano-1 (ANDREAE, 1991) de partículas de aerossóis, com elevado potencial de interação com a radiação solar. Adicionalmente, às partículas de aerossóis, as queimadas produzem vapor d’água e CO2, sendo a maior fonte de outros componentes, tais como CO, compostos orgânicos voláteis, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos halogenados (ANDREAE e MERLET, 2001).

Com relação à substituição de áreas florestadas, com sistema radicular profundo por pastagens, Freitas et al. (2009) descreveram que com solos mais expostos e ventos mais intensos (o que se espera com a diminuição da rugosidade do terreno, ao trocar florestas por pastagens) ocorre um aumento significativo na produção e levantamento de poeira de solo, também com potencial de impactos significativos.