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Ah! A senhora me pegô agora

No documento 2018KarinadeAlmeidaRigo (páginas 109-111)

Data do excerto: 05/05/17 (localização no dispositivo: vídeo 2 – 2’)

Circunstância: A professora iniciou o conteúdo referente à tipologia e gêneros textuais de uma maneira

diferente em comparação ao conteúdo de conjunções. Ela fazia perguntas aos alunos no decurso da explicação e não ficava parada em frente ao quadro, mas andando pelos corredores entre as fileiras dos alunos. Neste segmento, a professora se refere ao texto narrativo utilizado na prova – o texto da prova foi lido para a turma nos períodos utilizados para a correção.

Comentário O tópico formal já teve início e já se passou um minuto de fala.

Professora No texto que a gente trabalhou ali na prova ... tÁ ... que era um conTO ... né ...

Comentário Professora se dirige ao quadro para ilustrar a sua explicação.

A2 uma narração

Professora uma narração ... E o que que é gênero e o que que é tipo pensem um pouquinho ... ... ... é gênero narração ou o tipo que é narração?

A16 O TIPO QUE É NARRAÇÃO!

A2 o conto é gênero e o tipo é narração eu acho

Corpo A aluna A2 gesticula no ritmo da sua fala com a cabeça e o indicador direito, passando a impressão de que estava tentando entender cuidadosamente o que estava falando.

Professora o coonto é gênero e o tipo ...

A16 sim.

A2 ai professora tô ficando confusa

Professora e o tipo do texto é narraçÃo ... isso?! serÁ?! ... Alguém discorda?

A13 dou-lhe uma ...

Professora então gênero é contO ... o gênero conto ... isso?

A15 nãão é ao contrário!

Professora é o contrário?! sERÁ?

A2 sim professora ... que coisa! fala logo!

Professora só tô perguntando ...

A3 AAH ... a senhora me pegô agora ...

Comentário O aluno A3 fez o comentário em tom de ironia, o que fez com que grande parte da turma risse.

Professora e agoora? quem dá mais?

A9 eu acho que já sei o que é mas ... acho melhor não falá

Professora um dois dois é NÉ? não tem como não ser nem um e nem outro ...

Comentário Vários alunos falam ao mesmo tempo, inaudível com precisão. Professora o primeiro está certO? o gênero é conto e o tipo é uma narração?

A13 dou-lhe duas ...

Professora vocês estão certos dissO?!

A4 porque gênero de filme tipo comédia e terror essas coisa ... então tá certo o primeiro!

Corpo A aluna A4 fala com engajamento e aponta para o quadro onde estão as opções.

Professora oh escutem a A4 oh ...

A4 gênero de filme é tipo terror comédia suspense ... e gênero de livro é conto!

Professora tá certa a A4?!

A2 pela lógica deela agora parece certo

Professora mas então é isso mesmo?! ... é isso mesmo. Então olhem aqui pra mim ó ...

Comentário E a professora segue a explicação.

No Segmento 5, percebe-se uma mudança de abordagem por parte da professora. Houve um prolongamento do momento de inserções de indagações fazendo com que mais de um aluno respondesse. Ou seja, ela não se contentou apenas com a primeira resposta de cumprimento de alternância de turno. O assunto, perceptivelmente, também contribuiu para aumentar o nível de engajamento da turma em geral. O ritmo e a “temperatura” da troca é quase que oposto ao apresentado no Segmento 4. Entretanto, não se pode afirmar que esse quadro engajado de participação seja o retrato da voluntariedade ideal de um aprendiz. Essa constatação pode ser confirmada com uma situação exposta no próprio Segmento 5: a ironia de A3 e o engajamento dos demais alunos a essa ironia.

O tom de deboche de A3 foi nítido no momento do enunciado e pode ser comprovado na reconstituição com a imagem do riso dos alunos. Quando A3 fala “AAH ... a senhora me

pegô agora ...”, sua atitude permite compreender que ele não estava aderindo à estratégia da professora de suscitar uma maior participação quando tentou exagerar, forçosamente, a sua colaboração na alternância de turnos. Os seus pares, por óbvio, compreenderam na hora a sua intenção.

Situações de deboche, humor e gracinhas aconteciam algumas vezes nos períodos e essas situações precediam a intervenção da professora para a retomada da ordem na sala e, por vezes, do tópico formal, o que se pode perceber no Segmento 6.

Segmento 6: PESSOAL!

Participantes principais: Professora, A8, alunos em geral.

Data do excerto: 18/05/17 (localização no dispositivo: vídeo 3 – 20’20’’)

Circunstância: A professora está passando no quadro exercícios de revisão da matéria de conjunções enquanto

os alunos copiam e conversam bastante entre eles.

Professora PESSOAL! ... ... ... aquilo que eu falei sobre o interesse na revisão tá valendo!

A8 prô é mentira esse retardado tava viajando ...

Professora não eu não sei eu não ouvi e não quero nem ouvir ... isso aqui tá muita conversa! ... uma coisa é você conversar quando terminou a outra coisa é conversar enquanto os colegas tão trabalhando ... ... vamo se respeitar!

Comentário Depois dessa admoestação em tom firme, os alunos silenciaram por alguns minutos copiando os exercícios, até a próxima dispersão.

As estratégias de negociação tópica revelam que, raramente, há interação centrada no tópico formal por parte dos alunos. Além disso, o olhar às estratégias aponta para outra questão essencial de abordagem analítica na conversação entre professora e alunos: o propósito.

7.2.2 Da discrepância de propósitos e do acordo entre as partes

De acordo com o que se apresentou em 7.2.1, há dois níveis coexistentes de observância em relação à questão dos propósitos dos participantes (professora e alunos): o interacional e o social. Em nível de interação: a professora exerce o papel de contenção (a força centrípeta, de centração), afinal o objetivo interacional da professora (cumprimento do plano de aula) difere- se, em grande medida, daquele dos alunos (socialização, conversa informal); os alunos, por sua vez, exercem o papel de dispersão (a força centrífuga), afinal há a constante busca pela fuga do tópico formal. Em razão dessa larga discrepância de propósitos interacionais, há, portanto, uma tensão constante entre os estatutos sociais em cena. Contudo, em nível social, há um comum acordo: o propósito da professora é preparar os alunos para que eles estejam aptos a realizar a

No documento 2018KarinadeAlmeidaRigo (páginas 109-111)