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CAMINHOS DE ANÁLISE

No documento 2018KarinadeAlmeidaRigo (páginas 86-90)

Segmento 12 ÔÔ PRÔ! Vai batÊ!

6.5 CAMINHOS DE ANÁLISE

Esta subseção integrante do capítulo referente ao percurso de pesquisa e aos procedimentos de análise incumbe-se de uma descrição mais pormenorizada das linhas de análise a serem seguidas no prosseguimento deste trabalho. Neste momento, há a confluência

de toda a elaboração da arquitetônica de pesquisa. Ou seja, este é o momento de coadunar os objetivos do trabalho aos princípios teórico-metodológicos mobilizados. Assim sendo, cabe a retomada dos objetivos que orientaram este empreendimento.

Em conformidade com o que foi apresentado ainda nos aspectos introdutórios, o

objetivo central que norteia a busca pela resposta à pergunta de pesquisa constitui-se em analisar as projeções do movimento responsivo do aluno em relação ao discurso do professor no texto falado em de sala de aula com vistas a apontar de que forma essa responsividade se configura e, consequentemente, influencia a interação no espaço escolar.

Esse objetivo-geral delineia três objetivos específicos, quais sejam: a) apreender e demonstrar o movimento responsivo do aluno em relação ao discurso do professor por meio das marcas verbais e não verbais constituintes do texto falado no espaço de sala de aula; b) descrever o grande arranjo tópico que dá forma à interação em sala de aula, estabelecendo regularidades derivadas da situação singular registrada; e c) no caso específico da turma observada, identificar a relação que há entre as marcas de responsividade do aluno e a organização discursiva no espaço escolar, levando em consideração, neste ponto, a possibilidade de tal organização revelar elementos discursivos relacionados às tensões decorrentes da interação professora-alunos.

Por efeito da imersão na sala de aula do 9º ano A da escola, os aspectos teórico- metodológicos e os objetivos da pesquisa ajustaram-se à percepção do desenrolar da interação no evento comunicativo concreto. Das mais de treze horas de acompanhamento, foram observados alguns pontos gerais da interação. Esses pontos, a exemplo da organização tópica, atualizaram, simultaneamente, as necessidades teóricas, a interrogação dos dados e a determinação de categorias analíticas – categorias que respeitassem a pretensão de uma unidade analítica entre as reflexões teóricas e conceituais de Bakhtin e as potencialidades de exame do texto falado, derivadas da análise conversação.

Tal processo de atualização simultânea originou o Quadro 3, quadro geral de orientação à análise, exposto na sequência.

Fonte: elaboração da pesquisadora.

Esse quadro tem por finalidade a representação de um fio condutor cujo papel é orientar, dentre uma gama de possibilidades a serem observadas, o foco do olhar analítico em função dos objetivos da pesquisa. Por meio do Quadro 3, é possível se estabelecer uma análise

preliminar dos constituintes globais do arranjo interacional da turma observada.Além disso, a

escolha, a disposição e a organização dos segmentos conversacionais selecionados do material gravado também são orientados por esse dispositivo.

São válidos, neste momento, apontamentos que podem vir a contribuir com a análise empreendida. O quadro responsável por iluminar a futura análise já é fruto de uma observação sistemática das particularidades da troca realizada na turma registrada. Pôde-se observar que, na interação, há a presença constante e recorrente do tópico formal (conversa institucionalizada) em função do controle, em geral, atualizado pela professora.

No decurso do tópico formal, cujo objetivo discursivo corresponde ao conteúdo de aula, os alunos respondem de uma maneira desengajada e desfocada. Em função desse baixo grau de envolvimento, os alunos tentam inserir tópicos de seus interesses (os tópicos paralelos, caracterizados pela conversa gratuita e espontânea). No decurso dos tópicos paralelos, cujos objetos de discurso são geralmente estabelecidos pelos próprios alunos, a resposta dos alunos revela aspectos de centração e alto nível de engajamento. A partir desta constatação global, há a possibilidade de desdobramentos e comprovações pormenorizadas dessa estrutura, serão os

casos dos segmentos, responsáveis por consolidar o quadro inicial de análise e demonstrar as possíveis leituras da interação.

Portanto, há dois momentos fundamentais para o encaminhamento do exame do corpus a ser constituído: primeiramente, a descrição do domínio autêntico interacional do espaço singular em que se realizaram os registros; e o desdobramento desse domínio em segmentos conversacionais a serem examinados, especialmente no que diz respeito às respostas (aqui no sentido bakhtiniano do termo) dos alunos constituídas no fio da interação, com vistas ao reforço do que foi estabelecido no primeiro momento de análise. Diante disso, a análise será assim delineada:

- descrição do evento de comunicação como domínio autêntico interacional no cenário e no quadro espaço-temporal em que se realizaram os registros com vistas a duas prioridades: i) expor do objeto concreto em termos de suas características contextuais extraverbais de acordo com o que foi observado nas 13 horas de filmagens; ii) delinear o grande arranjo tópico decorrente da conversação institucionalizada naquela esfera escolar, a ser pormenorizado no segundo momento de análise;

- desdobramento do domínio autêntico em segmentos conversacionais demonstrativos: transcrição dos segmentos conversacionais relacionados às questões estabelecidas no primeiro momento da análise e demonstração das maneiras pelas quais a professora e os alunos respondem em cada um desses segmentos. A partir do todo registrado e do quadro global de domínio autêntico, serão reconstituídos por meio de transcrição segmentos que dizem respeito, em linhas gerais, a: tópico formal; tópico paralelo; diferenciação do propósito em cada um dos tópicos em relação ao papel interacional (professor/aluno); diferenciação do propósito discursivo em cada um dos tópicos em relação às vozes sociais (professor/aluno); estratégias de negociação para a recuperação do controle e manutenção do tópico formal; estratégias de negociação para a cisão do tópico formal e inclusão do tópico paralelo.

Esse, portanto, é o desenho responsável por configurar a análise a ser abordada na sequência.

7 A RECONSTITUIÇÃO DO EVENTO E UMA LEITURA DO MOVIMENTO RESPONSIVO

Haja vista que o todo enunciativo da situação concreta não pode ser plenamente recuperado, há neste trabalho um esforço constante de reconstituição para fins de análise. Nos Quadros do capítulo anterior e no dispositivo de registro e interrogação do material (Apêndice A), já se preconcebem elementos analíticos. Neste capítulo, tais elementos, ressumados ao longo do percurso metodológico, recebem uma sequência. Serão dois os momentos de análise e um depende do outro precisamente à maneira que estão colocados. Em primeiro lugar, trata- se da leitura do cenário de domínio autêntico da interação; posteriormente, desenvolvem-se as leituras de 12 situações conversacionais transcritas. A ordem se dá dessa maneira uma vez que não se pode ocupar-se do(s) como(s) sem, anteriormente, apreender o quê.

No documento 2018KarinadeAlmeidaRigo (páginas 86-90)