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A ALDEIA DE AVEDEM

No documento Casta, tribo e conversão: os Gaudde de Goa (páginas 118-193)

A busca de uma essência unificadora, pura ou sincrética, para exprimir ou representar a identidade cultural de Goa, não pode se não resultar em fracasso. A experiência colonial gerou fracturas e hiatos demasiados profundos. Isto não significa, no entanto, que os goeses não se sintam intimamente participantes de uma mesma comunidade. Contudo, eles sentem-se goeses de modos e formas bastante diversas, até mesmo ambivalentes e em profunda transformação (Siqueira 2006: 164)

3. 1. Os ritmos e a paisagem diária da aldeia

A forma do estado de Goa assemelha-se a um triângulo e Avedem, uma das suas 359 aldeias, a um pentágono (Government of Goa 2006: i). Goa fica no Sul da Índia, a sudoeste, e Avedem no sul de Goa, na sua parte central. Num estado em que são precisos apenas 60 quilómetros para o percorrer de oeste a leste e 105 de norte a sul, num total de 3700 quilómetros quadrados148, Avedem é uma aldeia relativamente pequena, com 1639 habitantes

distribuídos por 227 hectares (vide supra, introdução), num dos onze taluka onde vive apenas 5 por cento da população de Goa e que ocupa 9 por cento da área geográfica total149.

A entrada na aldeia de Avedem faz-se normalmente pela ponte sobre o rio Kushawati, um rio que tanto separa como une realidades distintas. Separa duas cronologias históricas: antes da ponte, as Velhas Conquistas dos portugueses no século XVI, de maioria cristã, onde se situa a igreja matriz onde os católicos da aldeia vão à missa. Depois da ponte, as Novas Conquistas dos portugueses no século XVIII, de predominância hindu, onde fica Avedem. Na sua planície, entre Novas e Velhas Conquistas, fica Parwat (“montanha”, embora na verdade se trate de um monte) e o templo de Chandreshwar (de Chandra, Lua, e de ishwar, deus) no seu topo, onde todos os hindus da aldeia, bem como alguns católicos, se deslocam. Situa-se entre as Novas e Velhas Conquistas porque as aldeias próximas de Paroda, Molem e Shiroda foram cedidas pelo rei Sunda aos portugueses150, quarenta e seis anos antes do taluka de Quepem, a que a aldeia pertence, ser negociado em 1788, ou seja, exactamente há 221 anos (Boléo 1961: 342). O rio demarca então dois taluka – antes da ponte, Salcete e, depois, Quepem; duas aldeias – Paroda e Avedem; dois panchayat; duas comunidades; dois usos preferenciais de

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Para uma mais fácil comparação, vide a área do distrito de Leiria em Portugal (Feio 1979: 11).

149 Os taluka das Velhas Conquistas que se situam na costa (Bardez, Tiswadi, Mormugão e Salcete) concentram a

maioria da população, 58 por cento em 23 por cento do território de Goa.

150 Para fortificar o limite das Velhas Conquistas a sul de Salcete, através do monte e do rio, as suas barreiras

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transporte, os autocarros (que ligam a cidade municipal de Quepem a Margão, o centro do comércio de Goa) e as bicicletas e motorizadas (usadas na aldeia). O rio separa também o mar, que fica a uma hora de autocarro ou a 20 minutos de automóvel, o qual é visitado pela maioria das crianças da aldeia uma vez por ano, durante o Verão, normalmente por iniciativa das freiras que se ocupam da paróquia, havendo contudo habitantes que nunca o viram. Por isso, a Goa anunciada nos folhetos de turismo com as suas praias de sonho fica do outro lado do rio para a maioria das mulheres e crianças. Alguns jovens trabalham nos hotéis e restaurantes junto à costa como alternativa ao trabalho nos campos e é assim que esta realidade entra na aldeia. No início da minha estadia, os habitantes diziam-me que eu era a primeira turista da aldeia, já que esta nunca é visitada para fins de turismo. Esta realidade enquadra-se no restante território de Quepem, cujos campos de arroz e templos escapam aos olhares de turistas151.

Mas o que o rio separa também une, como a ficção das duas cronologias históricas no quotidiano dos habitantes que se movimentam entre dois espaços culturais, históricos, rituais e geográficos. A paróquia de Paroda junta as aldeias contíguas de Avedem, Paroda, Cottombi e Assolda, integrando os taluka de Quepem e Salcete. Deste modo, a aldeia está ligada a outras povoações e em contacto com outras realidades, como a urbana, de onde as jovens vêm vestidas com calças de ganga e t-shirts ocidentais para, uma vez chegadas à aldeia, voltarem a usar o seu vistid (“vestido” em concani) ou saia e blusa ou salwar kamiz. Avedem é assim singular, pertence às chamadas Novas Conquistas, mas são velhas as suas negociações rituais, sociais e de poder, por se situar no limite das Conquistas que foram tomadas pelos portugueses dois séculos antes.

A passagem da ponte é feita, às vezes, em passo lento, como quando passa a procissão católica152 ou o palanquim hindu, outras, em passo rápido, quando diariamente os habitantes se deslocam para a paragem de autocarro. O andamento dos valores religiosos e rituais acompanha o ritmo lento, o que contrasta com a velocidade das exigências do mundo actual de consumismo. O papel das pessoas altera-se quando passam a ponte para as suas casas na aldeia,

151 De acordo com as estatísticas de 2006, não houve um único turista neste taluka (Government of Goa 2006:

110), mas esta realidade alterou-se em 2007, com a reabertura do Palácio do Deão na cidade de Quepem, o qual oferece vários atractivos, como o jardim que alberga várias plantas locais, especiarias e formas de artesanato; a arquitectura intacta do palácio; os programas culturais com grupos locais; e a cozinha goesa. Todavia, os turistas deslocam-se na via principal que liga Margão a Quepem, deixando por explorar as aldeias adjacentes como Avedem.

152 Andores que transportam a imagem de santos católicos, carregados normalmente por quatro pessoas, seguidos

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como se atravessassem realidades diferentes, embora seja apenas uma única, e, aqui, Avedem aproxima-se das outras aldeias.

Antes do sol começar a trepar Parwat, que envolve a aldeia a sul, as mulheres vão buscar água ao poço e varrem as casas à sua volta, juntando o lixo (que escapou à fome dos porcos caseiros que percorrem livremente os quintais) num monte para lhe ser ateado fogo. Como todos os produtos da vaca são sagrados, as casas hindus e cristãs mais pobres são bosteadas semanalmente (lavadas com água de excremento de vaca) para serem purificadas e refrescadas, bem com algumas varandas e pátios. Depois há que limpar a casa porque a crítica social é implacável para as donas de casa descuidadas e as famílias que não comem uma boa refeição, sendo esta uma pergunta de hábito diário, a que eu passei também a ter de responder quotidianamente: Tum jeulem? Quitem? (Já almoçaste? O quê?).

Às sete horas ouve-se o sino da igreja153 Nossa Senhora da Imaculada Conceição154 a chamar os católicos para a missa diária, para seguirem depois descansados para os seus trabalhos. As mulheres católicas atravessam o rio para a igreja com os seus vistid, ou saias e blusas, ou salwar kamiz ou ainda sari, enquanto as hindus nos seus saris apanham flores para o cabelo155 e para o puja (ritual de devoção) matinal do tulsi (planta de basílico156 colocada numa peanha e considerada sagrada pela sua associação a Vishnu e consequente protecção dos maridos157). Ambas estão preparadas para os seus trabalhos, mesmo que consistam em tratar da lida da casa e respectivos afazeres, como a preparação do caril com legumes e arroz para o almoço, que começa com o pilar do coco. Por esta altura, enquanto amarelece a linha do horizonte e o sol mostra os seus raios à aldeia, os passos e as vozes são os sons que se juntam às gralhas e aos macacos, porque as estradas alcatroadas que começam a substituir os caminhos de terra batida não os abafam e quase não passam carros, à excepção do único autocarro,

153 A igreja paroquial começou por ser uma capela fundada pelos jesuítas (desconhecendo-se a data), que viria a

ser remodelada em 1762. A pedra de fundação da nova igreja foi lançada em 1883 e a igreja ficou completa em 1886 (tendo sido novamente remodelada em 1994). Em 2000, o número de católicos era de 6230, englobando as aldeias de Paroda, Avedem, Assolda e Cottombi (Archdiocese of Goa and Daman 2000: 150). A igreja apresenta três oratórios dedicados a Nossa Senhora da Conceição, a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a Santo António. Entre as capelas da paróquia, duas são dedicadas a São José e São Sebastião e as restantes a diferentes formas de Nossa Senhora – do Livramento, Desamparados, Vailankanni, no resto da paróquia a Lurdes, Milagres e Piedade, notando-se, desde logo, a predominância do culto mariano.

154 Depois do Concílio de Éfeso (ano 431 E. C.), a Igreja Católica proclamou a maternidade divina de Maria,

centrada na “Conceição” (concepção) virginal da mãe de Jesus, cuja proclamação ocorreu em 1854, no pontificado de Pio X. O rei D. João IV, em 1640, depois da vigência espanhola, consagrou Portugal (e as respectivas colónias como parte) e coroou a Imaculada Conceição como Rainha de Portugal (cf. Nazareth 1887).

155 Algumas Gauddeo cristãs também colocam flores no cabelo, o que é considerado um hábito das mulheres

hindus e revela a sua aproximação a esta realidade.

156 Também chamada manjerico.

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pontualmente às 7h15 da manhã. Os passos dos saris, vestid, dhotis158 e calças, símbolos de diferentes religiões e gerações, começam a juntar-se à vinda dos rapazes do leite (que, madrugadores, de bicicleta deixam as garrafas nas casas para o pequeno-almoço), e do padeiro, o qual, também na sua bicicleta, acorda a vizinhança com a sua buzina despertadora. Seguem- se os passos das peixeiras e das vendedoras de legumes da aldeia e das terras vizinhas, quando o sol já clareou tudo o que tinha a aclarar. As vendedoras, de sari ou de vistid com os cestos à cabeça, e o padeiro são católicos, os rapazes que distribuem o leite são hindus, todos vindos da base do sistema social. Quando o sol já empurrou o escuro da noite para outro lado, os saris, os vistid, os dhoti e as calças encontram-se também na escola da Imaculada Conceição, quando os pais vão lá deixar os filhos mais novos (que os mais velhos já dispensam a companhia paterna). Alunos e alunas usam farda, ambos de camisa castanho-clara e ténis e meias de um tom ligeiramente mais escuro, as raparigas com bibe castanho-escuro e os rapazes com calções da mesma cor, elas com duas tranças que caiem e são novamente atadas na cabeça e eles com o cabelo curto. Ao domingo as cores mudam, as mulheres vão muito aprumadas nos seus trajes à missa, com o cabelo negro apanhado em rabo-de-cavalo e cheias de ornamentos de ouro. Os homens vestem camisas e calças de algodão preto. As crianças levam os seus fatos com folhos e missangas a brilhar, de tafetá e fita de cetim atada abaixo da cintura, meias de renda nos sapatos de verniz. A todos as ventoinhas não salvam do calor e da humidade. As hindus levam o colorido dos saris semanalmente ao templo, geralmente às segundas, dia dedicado a Shiva.

As idas à loja ou à farmácia são também um pretexto para as donas de casa poderem trocar alguns dedos de conversa. Os homens desempregados, reformados ou assalariados do trabalho sazonal não precisam de pretexto para se juntarem e lerem o jornal, jogarem às cartas ou para se entreterem com o feni159, destilação da sura (seiva) do coco em aguardente, nas tabernas ou no mercado. Como em qualquer lugar, as tabernas são das melhores formas de conhecer um local; aqui são frequentadas apenas por homens, o que só por si já nos informa sobre questões de género. As instalações do mercado de peixe e legumes servem, deste modo, para o lazer dos homens, já que as vendedoras preferem sentar-se de cócoras com os seus cestos ao portão.

O sol radioso, depois de almoço, deixa a aldeia quase deserta, excepção feita às crianças que recebem, desde o ensino primário, explicações depois das aulas, dadas por alunas mais

158 Um pano sem costuras, atado nas cinturas dos homens, traçado no meio das pernas ou usado simplesmente

caído até aos joelhos.

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velhas ou por donas de casa. Não conheci nenhuma criança que não tivesse acesso a esta facilidade por motivos económicos, sendo as mais carenciadas ajudadas pelas Irmãs Apresentação, que fazem serviço social e religioso na paróquia de Paroda.

Lentamente, quando o sol já não pode ir mais alto, o quotidiano da rua volta a pertencer aos homens, aos seus copos de bebida, às suas cartas; aos rapazes que se divertem com o cricket e/ou futebol (ou a apanhar sapos durante as monções); às raparigas que se dedicam a passatempos como o jogo do elástico, andar de bicicleta ou simplesmente se juntam para partilhar confidências.

É também ao final da tarde a hora de os residentes voltarem a casa dos seus trabalhos, quando algumas palavras pronunciadas pelas casas vizinhas soam próximas, como se habitassem no mesmo espaço. As mulheres começam o rodopio calmo de recolher a lenha para aquecer a água dos banhos antes de jantar, para fazer ou aquecer o jantar e ainda há tempo para ir buscar água e lavar a roupa.

Pouco passa das dezanove horas, quando o Sol desaparece e as estrelas aclaram, à medida que se vão embora os últimos vestígios de cor, as vizinhas reúnem-se em grupos para trocar impressões antes do jantar, enchendo o céu com o eco das suas palavras. As hindus já fizeram o seu culto ao tulsi, mesmo em frente à porta das suas casas; as católicas preparam-se para rezar o terço de porta aberta. É então hora de saciar o estômago, de as mulheres visitarem as casas das vizinhas que têm televisão para assistirem às séries em hindi, de os homens beberem mais um copo nas tabernas, antes de se deitarem e de o silêncio voltar a habitar a aldeia.

Mas volto ao rio e à ponte que o atravessa (quando não é o rio que se sobrepõe a ela com a fúria das monções). A importância do Kushawati manteve-se inalterável ao longo dos tempos. Palco de disputas desde o século XVI, revela-se, actualmente, fundamental a nível económico e geográfico: disponibiliza água para lavar a roupa, para os campos de arroz e para os coqueiros, centralizando os pólos religiosos e habitacionais. É nas suas margens que se abrigam os deuses de família dos Gaudde hindus e foi pela sua água que os Kshatriya começaram a viver junto dele. É também a partir do Kushawati que a aldeia se desenha com a estrada principal de Avedem que a contorna.

Atravessando a ponte surge logo a escola da Imaculada Conceição ligada à Capela do Livramento. O branco da capela, com arestas azul-celeste, contrasta com a cor do cimento do prédio em frente, por acabar, mas onde se pode ligar do STD (telefone público), pedir à

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costureira para fazer alguns arranjos ou modelos novos para estrear, comer guloseimas ou consultar o médico; basta atravessar a estrada perpendicular para se poder ir à esteticista da aldeia. Tomando a estrada à direita, para leste, encontra-se o templo de Shantadurga160, escondido no meio dos coqueiros. Este templo veio da aldeia de Curtorim, situada na outra margem do rio Kushawati, a cinco quilómetros, mas pertencente a outro tempo histórico, Salcete e as Velhas Conquistas, onde os rituais “não-católicos” foram proibidos no século XVI e a imagem da deusa obrigada a atravessar o rio em direcção ao território vizinho de Avedem, no qual o seu culto não era proibido161. Apesar do templo da deusa estar na aldeia, a maioria

dos seus devotos não se fixou em Avedem, mas noutras povoações, sendo os seus antepassados devotos da deusa na aldeia de Curtorim, onde viviam anteriormente. No entanto, nos rituais hindus de maior envergadura, como o Zatra162 (peregrinação anual ao templo) e às segundas- feiras à noite, dia de Shiva, quando é oferecido jantar a todos os presentes, o templo é visitado por habitantes de Avedem, especialmente pelos da base do sistema social.

À volta do templo foi construída uma estrada por onde passam os católicos do vaddo que se segue, Padribhat, já que a deusa não gosta que pessoas que comem carne se passeiem pelo seu espaço. Em Padribhat estão moradores cujos antepassados eram supostamente hindus, (Kshatriya) de quem Shantadurga era “deusa de família”. Contudo, os seus antepassados, que tiveram de se converter ao catolicismo em Curtorim, com receio de infortúnios, como doenças motivadas pela ira da deusa com o seu afastamento, decidiram voltar a habitar junto dela, de modo a continuar a receber a sua protecção, mesmo já não partilhando publicamente a mesma religião.

160 O templo é normalmente chamado pelos devotos como o templo de Shantadurga, embora o seu nome exacto

seja Shri Saunsthan Shantadurga Chamundeshwari Kudtari Mahamaya: Shri é um vocábulo que indica respeito; Saunsthan, templo (de grandes dimensões); Shantadurga, o nome da deusa; Chamundeshwari, o nome do deus que acompanha a deusa; Kudtari, Curtorim; Mahamaya, literalmente a “grande ilusão”, remetendo para questões filosófico-religiosas; Saunsthan remete para a dimensão do templo. Há nomes diferentes para os diversos tamanhos dos templos, que vão desde matti, de uma a duas divisões, a deuvasthan, quando lhe somam algumas divisões, a Saunsthan, composto por vários pólos, onde há também albergues para os devotos que vêm de longe e precisam de pernoitar. A deusa Shantadurga é considerada pelos devotos como irmã de Chandreshwar (templo no monte a cerca de 2 kms.), pelo que está instalada perto do irmão. Todos os mahajan (administradores do templo) são de localidades exteriores a Avedem, como Margão ou Curtorim (Dessai 2003: 384-396) e, como tal, os devotos que se lhe dirigem vêm de outras aldeias ou cidades. Os devotos acreditam que a deusa Durga matou dois demónios, Chanda e Munda, daí a designação de Chamundesh, a junção do nome dos dois demónios sem a última sílaba, e de eshwari, “deus”. Os Charde dizem descender dos seus mahajan e alguns oferecem-lhe arroz e flores. Durante o ritual do Shigmo, o templo é visitado pelos Gaudde hindus para pedir a bênção da deusa.

161 Segundo os meus interlocutores, o templo localizava-se no espaço onde foi construída a igreja de Santo Aleixo

de Curtorim, situada na margem do rio Kushawati, oposta àquela onde se situa Avedem.

162 Peregrinação anual ao templo, sendo celebrado o aniversário da divindade tutelar, de acordo com o calendário

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Esta é uma das hipóteses para conhecer a aldeia a leste, no entanto, se não se seguir o caminho de terra batida, mas se se continuar na estrada alcatroada, chega-se ao centro do comércio da aldeia – às suas dukan ou posro, lojas (maioritariamente de hindus servidores do templo); às oficinas, uma de bicicletas e outra de motos; a uma farmácia (de hindus); à ourivesaria (hindu); ao ourives reformado que ainda exerce (hindu); aos dois barbeiros (católico e hindu); a outro STD; à capela; à sede do grupo desportivo da Imaculada Conceição, que organiza jogos de futebol entre aldeias, clube com nome católico onde jogam futebolistas católicos, mas também hindus; às padarias; aos gadde (transporte de madeira que serve de local de comércio), que vendem omeletas à tarde; às tabernas (maioritariamente de Shudra católicos)163; às “casas de chá”, em concani, chauienchedukan, espaços onde se bebe chá e refrigerantes e se consomem alguns alimentos; e vendedores ambulantes de pulseiras, plásticos, cestos de bambu, toalhas, lençóis de cama, e de muitas outras coisas.

Segue-se a norte para o panchayat, pela esquerda ou pela direita, já que as duas estradas vão lá ter, mas antes ainda há espaço para a Sociedade Cooperativa164 (que funciona também

como banco), para outros templos (afiliados às divindades principais da aldeia, Saptakoteshwar e Santeri), para a morada dos mortos de algumas famílias Dessai (designação dos Kshatriya hindus na aldeia, remetendo para os títulos de propriedades que receberam dos governantes no passado), para os bois e vacas que vão a pastar, servem para arar as várzeas e dão leite à aldeia e suas vizinhas, para casas de Kshatriya, Gaudde católicos e hindus, onde se descascam cocos, para a fábrica de descascar o arroz, para carpintarias, para a casa católica onde se compra carne de porco caseira e chouris (chouriços não fumados), que a carne de vaca só se pode comprar na cidade de Quepem, para mais capelas, para a loja de bebidas alcoólicas, onde também se podem tirar fotocópias, para a escola de ensino básico do governo em risco de encerrar devido à escassez de alunos, para o alambique onde a seiva do coco é destilada em feni (aguardente), para mais tabernas, costureiras, lojas, onde também se podem comprar artigos escolares ou prendas, outro padeiro, mulheres a dar explicações, poços, postos públicos de água onde homens e mulheres se abastecem, lavam a roupa e os homens a si próprios, casas em

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