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ALENCAR, Mário de 4 maio 1916 p 89 2 ALENCAR, Mário de 27 jul 1916 p

colaboradores da Revista do Brasil

1. ALENCAR, Mário de 4 maio 1916 p 89 2 ALENCAR, Mário de 27 jul 1916 p

3. ALENCAR, Mário de. 10 ago. 1916. ... p. 92 4. ALENCAR, Mário de. 4 dez. 1916. ... p. 94 5. ALENCAR, Mário de. 31 dez. 1916. ... p. 96 6. ALENCAR, Mário de. 6 mar. 1917. ... p. 97 7. ALENCAR, Mário de. 10 abr. 1917. ... p. 101 8. ALENCAR, Mário de. 3 out. 1917. ... p. 103 9. ALENCAR, Mário de. 8 out. 1917. ... p. 104 10. ALENCAR, Mário de. 31 out. 1917. ... p. 105 11. ALENCAR, Mário de. 21 dez. 1917. ... p. 106 12. ALENCAR, Mário de. 5 jan. 1918. ... p. 102 13. ALENCAR, Mário de. 28 jan. 1918. ... p. 109 14. ALENCAR, Mário de. 14 fev. 1918. ... p. 111 15. ALENCAR, Mário de. 13 mar. 1918. ... p. 112 16. ALENCAR, Mário de. 22 abr. 1918. ... p. 113 17. ALENCAR, Mário de. 24 jun. 1918. ... p. 114 18. LESSA, Pedro. 11 dez. 1915. ... p. 116 19. LESSA, Pedro. 09 fev. 1916. ... p. 117 20. LESSA, Pedro. 02 out. 1916. ... p. 118 21. LESSA, Pedro. 15 out. 1916. ... p. 119 22. LESSA, Pedro. 18 dez. 1916. ... p. 120 23. LESSA, Pedro. 20 dez. 1916. ... p. 121 24. LESSA, Pedro. 08 mar. 1917. ... p. 122

87 25. LIMA, Alceu Amoroso. 10 jul. 1916. ... p. 123 26. LIMA, Alceu Amoroso. 17 jul. 1916. ... p. 124 27. LIMA, Alceu Amoroso. 23 jul. 1917. ... p. 125 28. LIMA, Alceu Amoroso. 8 ago. 1917. ... p. 126 29. LIMA, Manuel de Oliveira. 12 jan. 1917. ... p. 127 30. LIMA, Manuel de Oliveira. 14 jan. 1917. ... p. 128 31. LIMA, Manuel de Oliveira. 28 fev. 1917. ... p. 129 32. LIMA, Manuel de Oliveira. 23 mar. 1917. ... p. 130 33. LIMA, Manuel de Oliveira. 27 abr. 1917. ... p. 131 34. LIMA, Manuel de Oliveira. 14 jul. 1917. ... p. 132 35. LIMA, Manuel de Oliveira. 14 out. 1917. ... p. 133 36. LOBO, Hélio. 20 mar. 1916. ... p. 134 37. LOBO, Hélio. 25 jun. 1916. ... p. 135 38. MAGALHÃES, Basílio de. 23 fev. 1916. ... p. 136 39. MAGALHÃES, Basílio de. 16 fev. 1917. ... p. 137 40. OLIVEIRA, Alberto de. 14 dez. 1915. ... p. 138 41. OLIVEIRA, Alberto de. 2 fev. 1916. ... p. 139 42. OLIVEIRA, Alberto de. 14 fev. 1916. ... p. 141 43. ROQUETE-PINTO, Edgar. 14 jan. 1916. ... p. 142 44. ROQUETE-PINTO, Edgar. 12 fev. 1916. ... p. 143 45. SILVEIRA, Valdomiro. 27 dez. 1915. ... p. 144 46. SILVEIRA, Valdomiro. 13 jan. 1916. ... p. 145 47. SILVEIRA, Valdomiro. 15 jan. 1916. ... p. 146 48. SILVEIRA, Valdomiro. 19 jan. 1916. ... p. 147 49. SILVEIRA, Valdomiro. 12 maio 1916. ... p. 148 50. SILVEIRA, Valdomiro. 26 ago. 1916. ... p. 149

88 51. VIANA, Francisco José de Oliveira. 31 mar. 1917. ... p. 150 52. VIANA, Francisco José de Oliveira. 18 maio 1917. ... p. 151 53. VIANA, Francisco José de Oliveira. 11 jun. 1917. ... p. 152 54. VÍTOR, Nestor. 30 jan. 1916. ... p. 153

89 1. ALENCAR, Mário de1. 4 maio 1916.

Rio de Janeiro, 4 de maio de 1916. Prezado confrade Dr. Plínio Barreto.

Não recebi da administração do Estado, sem dúvida por ignorarem o meu endereço, ordem de pagamento do artigo “Contraste das almas”2. Não sabendo a quem deva dirigir-me para esse efeito, tomo a liberdade de pedir-lhe o favor de promover a expedição da ordem à agência do Estado aqui no Rio.

Recebi o n. IV da Revista3; muito bom. Gostei de ver o crescente número de anúncios, sinal de confiança na publicação e base da sua prosperidade. A Biblioteca da Câmara recebeu também o n. IV e já recebera o n. III. Queira providenciar sobre a remessa dos dois primeiros fascículos e da conta da assinatura de um ano.

Disponha dos meus préstimos sem cerimônia. Seu admirador e amigo

Mário de Alencar.

Carta assinada “Mario de Alencar”; datada “Rio de Janeiro, 4 de Maio de 1916”; autógrafo a tinta preta; papel creme, pautado; 1 folha; 25,3 x 20,1 cm.

1 Mário Cochrane de Alencar (1872 - 1925), poeta, jornalista, contista, romancista, eleito em 1905 para Academia

Brasileira de Letras, fez parte da Comissão da Revista da Academia Brasileira de Letras em 1910, 1917 e 1919; filho de José de Alencar. Bacharel em direito, funcionário da Secretaria de Justiça e Negócios Interiores, diretor da biblioteca da Câmara de Deputados. Publicou, entre outros livros, Lágrimas, poesia (1888); Versos (1902); Ode

cívica ao Brasil, poesia (1903); O que tinha de ser, romance (1912); Se eu fosse político (1913); Contos e impressões (1920).

2 ALENCAR, Mário de. “Contraste das almas”. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 30 mar. 1916, p. 3. Neste artigo,

Mário de Alencar critica a atuação dos alemães na Primeira Guerra Mundial, procurando demonstrar como o movimento bélico pôde revelar o caráter de um povo: homens, antes vistos como defensores do humanismo, se converteram em seres desprezíveis, realizando atos atrozes.

3 Em janeiro 1916 foi editado o primeiro número da Revista do Brasil, mensário paulista que circulou

ininterruptamente até março de 1925 (primeira fase), revelando-se como a principal publicação de caráter cultural da República Velha. Devido à sua destinação comercial e ao projeto a que se propunha, acolheu em suas páginas um grupo heterogêneo de escritores, abarcando desde nomes consagrados até jovens promissores que então estreavam. A questão nacional mostra-se a principal temática dos 113 números da primeira fase da revista; buscava-se agregar todos os cidadãos em torno da Nação. A Revista do Brasil, fruto do momento em que o Estado de São Paulo se firmava econômica e politicamente e dos projetos do jornalista Júlio de Mesquita, é reflexo de um momento da vida cultural brasileira, no qual se vê a hegemonia de São Paulo como polo difusor de cultura. (Cof. LUCA, Tania Regina de. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação. São Paulo: Editora da Unesp, 1999).

90 2. ALENCAR, Mário de. 27 jul. 1916.

Rio de Janeiro, 27 de julho de 1916. Prezado Dr. Plínio Barreto

Tenho muito prazer em felicitá-lo pelo seu artigo “Leonor Telles”, que acabo de ler no último número da Revista, há pouco recebido4. É um trabalho excelente, em que tudo é admirável, mas para mim mais do que tudo o nobre sentimento que o inspirou. Julgado pelo senso dos maiores historiadores portugueses, parecia impossível que tentasse alguém reabilitar a memória dessa rainha de Portugal, nem era de crer que generalizados como norma humana a inércia de opinião, a indiferença moral e o gesto da maledicência, houvesse após alguns séculos da condenação uma curiosidade benigna, que reabrisse o julgamento para a defesa. O mero impulso para o ato de reparação histórica revela a compleição de um elevado espírito, e o cuidado da defesa, honra-o sobremaneira. Tanto quanto posso apreciar, penso que o seu esforço foi inteiramente acertado e feliz. O advogado habilíssimo teve a ajudá-lo o escritor primoroso.

Felicito-o também pela prosperidade da Revista, cujo sucesso pode ser aquilatado pelo crescente número de colaboradores, e pela espontaneidade de muitos. É que já é vulgar a notícia da grande circulação do periódico, o que estimula os escritores desejosos de serem lidos e os leitores empenhados em ler cousa de valia.

Mandei-lhe hoje um trabalho do Dr. Samuel de Oliveira, meu cunhado5. É a introdução de um livro que vai entrar no prelo, sobre Sílvio Romero6. Gosto muito desse trabalho e peço- lhe, caso o aceite como espero, que não demore a sua publicação. Mandar-lhe-ei também, de

4 BARRETO, Plínio. “Leonor Telles”. Revista do Brasil, p. 262-271, jul. 1916. Crítica ao livro de Antero de

Figueiredo, Leonor Telles, publicado em 1916. No início do artigo, antes mesmo de avaliar a obra, Plínio Barreto busca construir a defesa de Leonor Telles, “uma das grandes condenadas da História”, demonstrando que esta não é a Lucrécia Bórgia portuguesa, definida por Herculano, nem a nova Cleópatra, “cortesã fria, impudica e sanguinária com ambições reais”, de Oliveira Martins. Ao realizar a defesa de Leonor Telles, Plínio comenta fragmentos do livro, criticando Figueiredo por não inocentar a rainha. Define o ensaio como “primorosamente escrito, brando de forma [que] é, no fundo, um tremendo libelo contra ela”, o que poderia ser confirmado porque o autor “aceita sem discussão tudo o que diz Fernão Lopes na Crônica de D. Fernando e na Crônica de D. João I”. Concluída a sua defesa, Plínio afirma: “O livro do ilustre escritor, tal qual saiu, é delicioso. O drama que nele se evoca é tecido com os fios de ouro de uma arte literária consumada e conserva alguma coisa da beleza dominadora da grande mulher que lhe deu o nome...”.

5Samuel de Oliveira, ao lado de Fausto Cardoso, Sílvio Romero, Felisbelo Freire, Gumercindo Bessa, Prado

Sampaio, Manoel Bonfim e Jackson de Figueiredo, representa a geração republicana de pensadores sergipanos.

6 OLIVEIRA, Samuel. “Sílvio Romero e a alma brasileira”. Revista do Brasil, p. 322-334, ago. 1916. Neste artigo,

Samuel de Oliveira elabora um levantamento biobibliográfico do crítico sergipano, com quem manteve laços de amizade. Tece comentários sobre a estrutura do livro que pretende focalizar Romero como filósofo, historiador, crítico, sociólogo e “brasileirista”. Justifica a exclusão do estudo do orador e do poeta: “como orador e poeta, Sílvio não atuou de modo nenhum no meio intelectual brasileiro, por uma razão muito simples: não era nem uma nem outra coisa. Nas suas poesias, o filósofo e o crítico falam pelo artista ausente; os seus raríssimos discursos não diferem dos seus escritos”.

91 presente para a Revista, um artigo inédito do Domício da Gama7, cujo original achei há dias entre papeis antigos8. Recebera-o em 1910 para a Revista da Academia, da qual o retirei por não se conformarem os meus confrades com a publicação na ortografia do autor, segundo era seu desejo.

Diga-me quando haverá espaço para mim9, e disponha dos meus préstimos para sua utilidade pessoal ou da Revista.

Seu admirador e amigo Mário de Alencar.

Carta assinada “Mario de Alencar”; datada “Rio, 27 de Julho de 1916”; autógrafo a tinta preta; papel creme, pautado; 1 folha; 25,3 x 20,1 cm.

7 Domício da Gama (1862 – 1925), jornalista, contista e diplomata; atou como auxiliar do Barão de Rio Branco nas

questões das Missões e do Amapá. Foi ministro de Relações Exteriores e embaixador em Washington.

8 Trata-se do artigo “O capítulo das viagens”, divulgado na Revista do Brasil, p. 315-321, dez. 1916.

9 No mês de maio desse ano, Mário de Alencar havia publicado dois poemas: “Cigarras” e “A vai-vem do vento”. A

92 3. ALENCAR, Mário de. 10 ago. 1916.

Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1916. Prezado Dr. Plínio Barreto,

mando-lhe o presente prometido – “O capítulo das viagens”, artigo inédito do Domício da Gama, e se tiver tempo copiarei para mandar-lhe uns versos meus. Quisera de preferência enviar- lhe ainda, mas ainda não achei vagar para concluir meu artigo “Período pronominal”10, começado há cerca de dois anos. Creio que interessará mais que os meus pobres versos.

Tenho pensado na incumbência que me deu de indicar-lhe um dos novos publicistas para a seção política da sua Revista. Não são muitos, mas no nosso meio, sob a ação da nossa política, é difícil achar quem possua o talento de escritor com a independência moral que se requer para a apreciação justa e descortinada da Política brasileira. Alberto Torres11 estaria no caso, se não fosse um doente de utopia; e segundo ouvi, está, como já esteve, em crise de enfermidade mais séria. É, além disso, derramado, e não saberia corrigir a sua prolixidade para a conveniência da

Revista. Alcides Gentil12, escritor novo, autor do opúsculo Os novos horizontes da política

nacional13 está, intelectualmente, nas condições desejadas; mas nada sei da pessoa dele. Tobias Monteiro deu a prova de que vale nas Cartas de Estevão14; tem talento, e é estudioso dos causos brasileiros, e especialmente da nossa história parlamentar. Estou que a sua colaboração efetiva seria de grande vantagem.

Quanto à sua escolha – à sua honrosa designação com que me penhorou de [ilegível], para crítico da Revista, permita-me, com a sua benevolência de amigo, que eu a recuso. Sinto-me incapaz de cumprir bem essa tarefa, que é difícil. Sem falsa modéstia afirmo-lhe que não acho em mim aptidão para a crítica. Falta-me ainda a saúde; escasseia-me o tempo; e eu não tenho a força de arrastar as suscetibilidades literárias, as malquerenças, os ódios, que são a inevitável consequência da crítica honesta. E que sacrifícios custa ela! O tempo, furtado em pura perda, à leitura dos velhos e grandes, autores, cuja companhia é necessária ao meu espírito, como apoio, lição, consolo e gozo meu! Esse encargo, que exige idoneidade moral, cultura, talento, gosto,

10 A pesquisa não localizou artigo com este título na Revista do Brasil do período.

11 Alberto de Seixas Martins Torres (1865 – 1917), jornalista carioca; deputado federal, ministro do Interior,

governador do Rio de Janeiro, ministro do Supremo Tribunal Federal; ideólogo político de direita.

12 Alcides Gentil, autor de Ideias de Alberto Torres (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1932) e de Ideias do

presidente Getúlio Vargas (Rio de Janeiro: José Olímpio, 1939).

13 A pesquisa não localizou referência a Os novos horizontes da política nacional.

14 Tobias do Rego Monteiro (1866-1952), jornalista e historiador potiguar. No livro Cartas sem título por João

Estevão (Rio de Janeiro: Tipografia Jornal do Comércio, Rodrigues & C, 1902) estão publicados artigos seus

assinados sob o pseudônimo João Estevão na seção Cartas Sem Título do Correio Paulistano de 28 fev. 1900 a 13 jun. 1901.

93 coragem, deve ser incumbido a um moço, no pleno andar da vocação; e com todas as qualidades tenho um amigo, cujo nome já o Sr. conhece de certo, Jackson de Figueiredo15, para o qual peço a incumbência que a sua bondade me quis dar. Tenho a convicção de servir bem à Revista indicando-lhe esse nome. É um espírito admirável, em cuja força confio muito; e a crítica parece- me ser o gênero literário mais apropriado à feição da sua inteligência friamente curiosa e aguda, e grandemente interessada na produção literária de seu tempo. Não sei de outro escritor novo com tanta aptidão para a análise e para a definição de fisionomia literária. Fica o meu pedido como uma compensação da minha recusa, ambos, pedido e recusa, obedecem ao desejo sincero de ser útil à Revista pela qual me interesso como se fosse minha.16

Agora uma pergunta, se não é indiscreta: quem é Yorik17, que eu leio sempre e admiro? A seu dispor, como amigo obrigado e admirador

Mário de Alencar.

P.S. Não seguem hoje o artigo nem os versos.

Carta assinada “Mario de Alencar”; datada “Rio, 10 de Agosto de 1916”; autógrafo a tinta preta; papel creme, pautado; 1 folha; 25,2 x 26,1 cm.

15 Jackson de Figueiredo Martins (1891 –1928), escritor, crítico literário e pensador nascido em Sergipe. De 1907 a

1918 dedicou-se às letras e à filosofia, sendo influenciado por Tobias Barreto. Converteu-se ao catolicismo em 1918 e empenhou-se em larga campanha a favor da recristianização da vida e da cultura, dedicando-se à política e à religião. Fundou em 1921 o Centro D. Vital e a revista A Ordem.

16 Os três nomes mencionados não compareceram, com artigos assinados, nas páginas da Revista do Brasil. Sobre o

tema ver cartas de Pedro Lessa de 2 e 15 out. 1916.

17A pesquisa não localizou o nome que se esconde sob o pseudônimo “Yorik”/”Yorick” na coluna Monólogos, na

seção Resenha do Mês. Suas colaborações são encontradas nos números de fevereiro, março, abril, maio, julho, agosto, setembro e novembro de 1916.

94 4. ALENCAR, Mário de. 4 dez. 1916.

Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1916. Prezado am° Dr. Plínio Barreto.

Apresso-me em dizer-lhe o meu pesar pela impressão que lhe deu a minha carta de 30 de novembro. Vejo que fui injusto na suposição de que o trabalho de Domício da Gama “Capítulo das viagens” não houvesse merecido o seu apreço, e por isso ia sendo a publicação dele adiada indefinidamente. Como desculpas só lhe posso afirmar que essa suposição eu a formulei com um pensamento menos convencido que aborrecido pela contrariedade de não ver em números sucessivos o artigo que eu, precipitado e leviano por ventura, havia afirmado a Domício seria publicado no número de maio. Dera-lhe notícias da Revista do Brasil como a melhor que temos, e de maior circulação, e pedira-lhe com empenho que me mandasse outros trabalhos. Presumia o efeito do meu estímulo e verifiquei-o na resposta há quinze dias recebida, em que ele me prometia para breve dois trabalhos e para depois outros que ia terminar. Tinha eu assim a satisfação de haver obtido para a Revista do Brasil um colaborador que a meu ver é dos mais ilustres escritores nossos, pelo gosto, pela cultura, pela delicadeza e pela sinceridade. Ora no tempo em que me vinha esse prazer e que o era, não só por forçar Domício a deixar o silêncio em que tem estado há tantos anos, como por ser útil à Revista – confirmava-se a minha decepção de não ver publicado o “Capítulo das viagens”. O meu aborrecimento insinuou aquela suposição injusta, de que me arrependo, e para desvanecê-la como eu quisera, não sei o que lhe possa dizer na medida do meu sentimento. Se ainda não devolveu o artigo, peço-lhe que não o faça, e publique-o, remetendo-me depois o autógrafo. Ainda no caso de já o haver devolvido, se me autorizar a isso, eu lho enviarei de novo. O meu empenho é provar-lhe a minha estima pessoal e a vontade de servir à Revista. Dói-me o ter-lhe dado um desgosto. Quanto aos meus versos afirmo-lhe com sinceridade que não foi o ressentimento de os não ver publicados que me determinou o desejo de [tolher?] a publicação. Foi somente o desgosto da minha própria produção, que eu sinto e julgo muito inferior à que idealizo. É uma crise de espírito que sofro e não pela primeira vez. No mesmo dia em que lhe escrevi, escrevi à redação do Jornal do

Comércio pedindo a devolução de um artigo meu.18 Para entender a minha consciência preciso afundar num longo silêncio, que faça esquecer quaisquer responsabilidades que impensadamente assumi com a publicação de trabalhos literários. Não confio em mim, é verdade que nunca tive

18 ALENCAR, Mário de. “Defesa nacional”. Jornal do Comércio, Rio de Janeiro, 23 dez. 1916 p. 23. V. carta de 31

95 confiança em minhas forças, mas venciam-me os estímulos de amigos; agora além da inclinação mórbida do espírito, tenho o corpo enfermo e cansado e incapaz de nenhum esforço. Para quê alimentar um engano de renome, que me é duramente penoso? Peço-lhe que veja nestas minhas palavras a expressão da minha simpatia e amizade e com os mesmos sentimentos me releve a mágoa que sem intenção lhe causei.

Seu admirador e amigo grato Mário de Alencar.

Carta assinada “Mario de Alencar”; datada “Rio 4 de Dezembro de 1916”; autógrafo a tinta preta; papel creme, pautado; 1 folha; 25,5 x 20,1 cm.

96 5. ALENCAR, Mário de. 31 dez. 1916.

Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1916. Prezado amigo Dr. Plínio Barreto.

Boas festas, ano bom e que lhe seja inteiramente proveitosa a estação de Caxambu. Recebi o original do “Capítulo das viagens” e a sua amabilíssima carta. Recebi também o último fascículo da Revista do Brasil. Ótimo número, salvo na parte ocupada pelos meus versos19. Confirmou-se a minha impressão anterior, e para realçar-lhes a inferioridade ali estão ao lado os sonetos do Alberto de Oliveira20. Não lhe digo isso para ouvir-lhe a contestação ou por duvidar do seu juízo já declarado. Tenho a este na maior conta, e explico a diversidade de opiniões: a sua é ditada pela simpatia e pelo gesto de animar um desalentado, a minha pela consciência dos meus defeitos e pelo desprezo de emendá-los. A revisão acrescentou alguns: masete por maste, nós por nús, e alguns enganos de pontuação. Foi o que também aconteceu ao meu artigo “Defesa nacional”, publicado no Jornal do Comércio, quando eu já não desejava nem esperava que o publicassem.

Prometo-lhe para a Revista um inédito de meu Pai, uma carta política ao Imperador, quando solicitou a 1ª vez demissão do posto de Ministro da Justiça.21

Vou remeter ao Domício o número da Revista e espero receber dele os trabalhos anunciados.

Adeus. Um afetuoso aperto de mão do Amigo e admirador muito grato Mário de Alencar.

Carta assinada “Mario de Alencar”; datada “Rio, 31 de Dezembro de 1916”; autógrafo a tinta preta; papel creme, pautado; 1 folha; 25,5 x 20,1 cm.

19 No número de dezembro de 1916, a Revista do Brasil divulga os poemas “Sem par” e “A uma estátua” de Mário

de Alencar.

20 Os sonetos aqui referidos, publicados na sequência dos poemas de Mário de Alencar, são “Água lustral”; “Pobre

Luíza!”, “No álbum de um poeta” e “Leandro e Hero”.

21 Esta carta de José de Alencar não foi publicada no periódico. O primeiro inédito do escritor cearense na Revista

97 6. ALENCAR, Mário de. 6 mar. 1917.

Paquetá, 6 de março de 1917. Prezado amigo Dr. Plínio Barreto.

Quando recebi a sua carta escrita de Caxambu, estava eu em preparativos de mudança provisória para esta ilha; descontei os dias de sua viagem para terras de Minas e calculei que a minha resposta, demorado que fosse algum tempo, ainda lhe chegaria sem atraso e talvez antes do seu regresso a S. Paulo. Não considerei nos meus cálculos as surpresas ou as decepções dos meus versos.

Vinha para Paquetá como para um recanto de sossego, adequado ao meu restabelecimento e ao trabalho tranquilo. Trazia projetos, esboços, escritos começados, e entre as páginas a escrever o meu pensamento incluía algumas cartas, que eu desejava compor, não às pressas, senão com o cuidado a que me obriga o apreço dos destinatários, e com o vagar e o gesto de uma conversa de amigos. Entre essas cartas figurava esta resposta. Mas os contratempos começaram cedo; só a 20 de janeiro vim para aqui, e aqui, ao [saber?] do que esperava, não me senti bem. Os meus incômodos agravaram-se com o calor excessivo que fez em janeiro e princípios de fevereiro. Sabe o Sr. o que seja uma dispepsia22, que conta 10 anos? Dispepsia chamam-lhe os médicos: eu não sei como chamar-lhe devidamente, que é uma angústia sem